Music

Black Crowes – ao vivo

Maduros, os irmãos Robinson voltam ao Brasil depois de 27 anos e mostram que seguem precisos como relógios suíços

Texto por Fabio Soares

Foto: Rafael Strabelli/Divulgação

A São Paulo de 2023 está muito diferente daquela que os irmãos Chris e Rich Robinson encontraram 27 anos atrás. Em janeiro de 1996, eles tocaram num sábado com Pacaembu lotado na mesma noite em que Jimmy Page e Robert Plant foram as atrações principais na derradeira edição do (posteriormente extinto) festival Hollywood Rock, um dos únicos benefícios que o consumo de cigarros trouxe ao Brasil. Hoje, o Pacaembu já não mais existe como estádio de futebol, destruído pela iniciativa privada, e a capital paulista está abandonada sob o “comando” de um prefeito tão fantasma que se ele entrar num elevador ninguém na cabine o verá.

Mas corta pra 2023! Os Robinson estão de volta para a turnê comemorativa de 30 anos do álbum de estreia dos corvos, Shake Your Money Maker, de 1990, atrasada em dois anos por conta da pandemia. O Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas) não estava com sua lotação completa naquela noite de terça-feira 14 de março – o que foi ótimo porque cerca de quatro a cinco mil privilegiados poderiam ter sua festinha particular. E acabou que foi muito mais que isso.

Pontualmente às 21h30 os primeiros acordes da gravação de “Are You Ready”, do Grand Funk Railroad, deram as caras nos autofalantes, enquanto o grupo adentrava o palco para suas posições. Brian Griffin na bateria, Sven Pipien no baixo, Erick Deutsch e Joel Robinow nos teclados e os Robinson, então, iniciaram a execução da íntegra de Shake Your Money Maker com “Twice as Hard” e o inevitável acontecendo: a péssima equalização de som do Espaço Unimed! A dificuldade de se desfrutar um show com boa qualidade técnica no Brasil beira a incredulidade. Passada a frustração da canção de abertura, a segunda pôs a pista inteira para dançar: “Jealous Again” permanece maravilhosa mesmo após 33 anos de seu lançamento. Banda afiadíssima sentindo-se em casa, visivelmente se divertindo e com a plateia entoando os versos a plenos pulmões. Que momento!

“Sister Luck”, “Could I’ve Been So Blind” e “Seeing Things”, escancaram as influências da banda: blues rock embebecido em álcool e setentismo. O simples que muitos insistem em complicar. Sem firulas, sem telões, sem luzinhas piscando.

O balanço da cover de “Hard To Handle” também merece destaque: a canção de Otis Redding permanece viva, atemporal e transformaria um cemitério numa festa-baile. Aquecimento mais que especial ao ponto alto de Shake Your Money Maker – “She Talks To Angels” é o emocionante bálsamo que precisávamos trazendo um importantíssimo aspecto: a voz de Chris Robinson permanece impecável! Muito bom constatar que os excessos cometidos pelo cantor nos anos 1990 (e atire a primeira pedra quem também não os cometeu) não afetaram seu principal instrumento de trabalho. Nessa música, mais uma vez, o refrão foi cantado em uníssono pelo público. 

A arrasa-quarteirão “Stare It Cold”, encerrou a execução da íntegra do primeiro disco e o entrosamento da banda impressionava sob o comando de seu capitão. Ao contrário do despojamento do vocalista, Rich Robinson empunhava sua guitarra como um sagrado ofício a ser executado. Nada de sorrisos, apenas a forma precisa de riffs poderosos que alçaram a banda ao panteão da história do rock.

Abrindo a segunda parte da apresentação, dedicada ao restante do repertório, um particular soco em meu estômago. “Sometimes Salvation” (que não havia sido tocada nas mais recentes apresentações da turnê) possui um dos videoclipes mais perturbadores da história, sobretudo a quem foi dependente de drogas nos anos 1990 (este que vos escreve, incluso). Por isso, sua execução nesta noite será algo que guardarei na memória por muito tempo. Chris esgoelando-se à frente da banda a executando como um ato episcopal foi algo que explodiu corações dos presentes. O show poderia muito bem ter acabado ali mas faltava algo.

Com sua inconfundível introdução, “Thorn In My Pride” segue estremecendo sistemas nervosos a granel: redonda, coesa, sem sustos e fazendo a cama perfeita para “Remedy”. O maior hit da banda fez brotar uma cambada de red pills na pista (sim, eles existem!). Destaque às backing vocals, assim como no clipe, assim como no disco, assim como sempre!

“Virtueand Vice”, faixa que fecha o álbum By Your Side, de 1999, também encerrou os trabalhos da noite. Noventa minutos sem cenários tridimensionais, tendo apenas a música como pano de fundo. Mesmo com os problemas técnicos, os Black Crowes personificaram naquela terça a expressão “trator sonoro”. Ainda bem! Só tomara que este trator não mais demore quase três décadas para retornar ao Brasil.

Set list: “Twice As Hard”, “Jealous Again”, “Sister Luck”, “Could I’ve Been So Blind”, “Seeing Things”, “Hard To Handle”, “Thick n’ Thin”, “She Talks To Angels”, “Struttin’ Blues”, “Stare It Cold”, “Sometimes Salvation”, “WIser Time”, “Thorn In My Pride”, “Sting Me” e “Remedy”. Bis: “Virtue And Vice”.

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Lollapalooza Brasil 2022 – ao vivo

Oito motivos para celebrar o retorno do festival cantando os versos “olê olê olá! Lolla! Lolla!”

Planet Hemp

Textos por Abonico Smith

Fotos: Lolla BR/Camila Cara/Divulgação

Enfim, a música está definitivamente de volta aos palcos no Brasil. E os festivais de música também. Depois de dois anos de muito isolamento, distanciamento e congelamento de eventos artísticos provocados pela pandemia, com os números em queda e o gradativo relaxamento das regras sociais, a grade de grandes eventos pode ser retomada em 2022. No terreno da música pop, tudo começou no último final de semana, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, com os quatro palcos e três dias do Lollapalooza Brasil, que, entre 25 e 27 de março, retomou um pouco daquela programação que estava sendo esperada para 2020, mas com várias alterações sendo feitas a cada cancelamento, até mesmo nas últimas semanas com a desistência de duas bandas internacionais por conta de gente diagnosticada com a covid-19. Surpresas que se prolongaram até a véspera do domingo, com o mundo sendo pego de surpresa pela notícia da inesperada morte de Taylor Hawkins, o carismático baterista do Foo Fighters, o último dos três headliners, horas antes de um show em outro festival na Colômbia.

Mondo Bacana lista oito motivos que vão fazer você se lembrar para sempre desta edição um tanto confusa e atabalhoada mas extremamente importante para ajudar a recolocar os grandes festivais e eventos musicais no eixo em território brasileiro.

Wombats

Este trio liverpludiano de nome de marsupial australiano e carreira sólida no circuito indie rock europeu merecia ter sorte melhor em sua primeira vinda (tardia, já que a discografia aponta cinco trabalhos em 15 anos) ao Brasil. Mal havia começado seu set e do nada veio um toró danado, com muitos raios e ventos, o que forçou a organização a cancelar tudo imediatamente e evacuar palco e plateia pelo risco de acidentes próximos a instalações metálicas. Foram só cinco músicas, mas o suficiente para ver que o vocalista Matthew Murphy e seus comparsas tinham muita lenha para queimar naquela tarde de sexta-feira. Misturando guitarras e grooves e com hits poderosos como “Moving To New York” e “Techno Fan”, lá do início da carreira, estrategicamente colocados no pontapé inicial para incendiar tudo. Só que aí veio o inesperado. A chuvarada veio impiedosamente para apagar todo o fogo da banda. Pelo menos restou a suspeita de que ano que vem eles deverão estar de volta por aí para compensar o “pocket show forçado”.

Strokes

Muita gente pode achar sem sentido a escalação do Strokes como headliner de um grande festival, justificando que o quinteto nova-iorquino está longe de seu auge criativo. Pura bobagem! Se bandas como Red Hot Chili Peppers e Guns N’Roses vivem desembarcando aqui no Brasil com o mesmo status, porque a trupe de Julian Casablancas não poderia também? OK, as vendagens podem não ter sido tão grandiosas se comparadas a estes nomes, mas a importância e a significância para tal ponto. Afinal, ajudaram a consolidar uma nova linguagem do rock, tão suja e underground quanto seus antecessores que consolidaram o punk e o alternativo no subsolo norte-americano. E, bem, musicalmente continuam muito bons. Simples, direto ao ponto, sem firulas (até mesmo nos solos). Julian Casablancas continua cantando cinicamente desanimado, como um “tô nem aí para nada”, agarrado no pedestal, de óculos escuros e na maior pose antipopstar. Aliás o foda-se desta vez estendeu-se também à escolha do repertório. O grupo ousou ao eliminar escolhas óbvias para festivais como de hits (como “Someday” e sobretudo “Last Nite”), pegar lados B dos dois primeiros álbuns (“Under Control”, “Trying Your Luck”, “Take It Or Leave It”, “New York City Cops”) e bancar um terço do set list (cinco de quinze) com faixas do álbum mais recente, lançado logo depois do lockdown mundial provocado pelo decreto da pandemia. Gran finale da primeira noite!

Emicida

Há muito tempo que, em se tratando de peso e atitude, o rap é o novo rock aqui no Brasil. Depois de uma série de discos acachapantes, Emicida veio para este Lollapalooza disposto a provar que, sim, pelo menos em se tratando de festivais de música a revolução pode ser televisionada em nosso país. AmarElo, o show, é uma porrada na cara, um soco no estômago, um tapa do Will Smith em todos os sentidos. Banda afiada, com duas guitarras poderosas, baixista-maestro, percussão dando peso às batidas do DJ. Com versos de forte conteúdo racial, social, político e (por quê não?) de relacionamentos pessoais – a ponto de levar a um festival pop o pastor Henrique Vieira para mandar um sermão contagiante no final com “Principia”. Antes, porém, uma trinca matadora com participações especiais: Rael em “Levanta e Anda”, Drik Barbosa em “Luz” e Majur em “AmarElo”(aquela na qual o sample com o refrão gravado originalmente na voz de Belchor vira transe coletivo).

Miley Cyrus

Às vésperas de completar 30 anos de idade, a ex-Hannah Montana libertou-se de todas as amarras imagéticas que ainda poderiam estar assombrando seus trabalhos anteriores. Sonoramente, lançou-se fundo no rock, com muitas timbragens e elementos oitentistas sem abandonar a veia pop dos arranjos. Visualmente, toda de preto e cabelo platinado no melhor estilo femme fatale eternizado por Madonna também nos anos 1980. De quebra, ainda chamou a amiga Anitta ao palco para celebrar “a brasileira número um mundial do Spotify” e mandar – rebolando bastante, claro – um feat do novo hit dela “Boys Don’t Cry”. Só que nem tudo é perfeito. Para os millennials, Miley pde ser o máximo, impactante, de causar arrepios. Só que quem tem mais idade e já viu muito mais coisa no rock’n’roll sabe que tudo nao passa de um pastiche. Bem produzido mas um pastiche. Rola um déjà-vu atrás do outro, com lembranças que vão de Bon Jovi a… Madonna! Isso sem falar no amontoado de covers sem sentido (já que ela é uma headliner com carreira já longa e consolidada) que deformam Pixies (“Where Is My Mind?”), Blondie (“Heart Of Glass”) e Nancy Sinatra (“Bang Bang”). Ah, sim, teve toda a encenação do choro pela morte do grande amigo pessoal Taylor Hawkins no meio do show (quando ela cantou “Angles Like You” sentada em uma cadeira agarrada a uma bolsa de grife da qual tirou um lencinho para enxugar as lágrimas sem borrar o make). Por falar em grife, o que dizer do enorme casaco de inverno verde que ela teve de vestir e cantar por uns dois minutos usando durante a primeira música. Contratos de parceira publicitária? Muito rock’n’roll isso, né? No telão ao fundo, a frase “sell out to sell out”(em bom português, “vender-se para se vender”). Pose dez, atitude duvidosa no fim das contas. Será que é disso que o mundo necessita mesmo?

Idles

Já faz alguns anos que as terras britânicas vem exportando ao mundo uma série de novas bandas excitantes. Muitas delas, inclusive, com inspiração clara nos bons sons alternativos norte-americanos dos anos 1990. O Idles é um destes exemplos. Formado na cidade de Bristol, o quinteto vem concebendo álbuns maravilhosos em série (foram quatro desde 2017) e é nos concertos em grande escala que vem fazendo sua fama expandir ainda mais. Se a sonoridade já era brutal em pequenos espaços, quando o palco ganha proporções gigantescas – como é o caso dos festivais a céu aberto – parece que a banda também se agiganta com facilidade extrema. Aqui no Brasil, tocando pela primeira vez, não foi diferente. Com um pezinho naquela mistura entre o punk rock, o hardcore e o industrial e lembrando bandas clássicas de selos como Touch and Go (de Chicago) e Alternative Tentacles (criado por Jello Biafra em San Francisco). O quinteto insano jorrou em pouco menos de uma hora treze músicas praticamente coladas uma na outra – com claro destaque para o segundo álbum, Joy As An Act Of Resistance, de onde vieram sete delas). Ao vivo, parece que cada músico dispara para um lugar separado, tanto nas notas musicais como na performance cênica individual. A somatória desta coisa toda aparentemente difusa acaba atordoando, formando um conjunto monolítico com altos graus de ironia e sarcasmo – nas danças ora patéticas ora intensas dos músicos, na verborragia cuspida pelo vocalista Joe Talbot, na pancadaria rítmica da e bateria, nas distorções e microfonias incessantes formadas por toneladas de pedais ligados ao baixo e às duas guitarras. Nunca um fim de tarde de domingo soou tão longe de ser modorrento.

Libertines

Depois do Idles, no mesmo palco principal do Lolla vieram os Libertines, atração praticamente acertada de última hora, já que duas semanas antes do festival o Jane’s Addiction cancelou a vinda por conta de casos de covid em sua equipe. E, olha, nunca uma escolha poderia ter sido tão acertada e oportuna quanto esta. Afinal, lá atrás, quando estiveram pela primeira vez no país também em um grande festival, a banda estava no seu auge mas se encontrava temporariamente sem um de seus frontmen, o guitarrista e vocalista Pete Doherty estava temporariamente afastado de suas funções em virtude de uma sentença judicial que o levou à cadeia. E Carl Bârat sem Pete é como Piu-Piu sem Frajola, Buchecha sem Claudinho. Agora, Pete e Carl ficaram lado a lado, alternando-se nos vocais no típico repertório “banda de bar” que fez a fama do quarteto lá na primeira metade dos anos 2000 – o set list contou com treze faixas extraídas dos dois primeiros e mais famosos álbuns. Com a poderosa ajuda do experiente baterista Gary Powell (que, dez anos mais velho que os dois e negro, ainda insere com extrema competência elementos de jazzblues e soul nos arranjos). Tudo bem que a idade já começa a pesar nos ombros. Com 43 anos de idade, não são mais aqueles likely lads que promoviam performances anárquicas em pequenos palcos nas gigs em Londres e arredores. Pelo menos estão vivos e esperneando, sempre prontos para mandar clássicos do indie rock do século 21 como “What Became Of The Likely Lads”, “What Katie Did”, “Boys In The Band”, “Time For Heroes” e “Can’t Stand Me Now”. Sorte nossa, mesmo que muita gente mais jovem que estava in loco no Lolla não tenha dado a mínima por achar que rock é o que menos importa na música de um festival.

Mano Brown

O rap é o novo rock

Perto da meia-noite de sexta para sábado (horário de Brasília) chega a notícia bombástica: horas antes de se apresentar em um festival na Colômbia, o baterista do Foo Fighters Taylor Hawkins morre no hotel. Mais um problema – e que problemão – de última hora para a escalação do festival: como resolver em questão de menos de dois dias a substituição da banda para encerrar a programação do palco principal no domingo? A solução estava bem perto e, de certa forma, vinda de um lado inesperado para muita gente: ela respondia por Emicida. Admirador da banda de Dave Grohl, assim como a guitarrista de sua banda, Michele Cordeiro, ele recorreu a um punhado de amigos rappers e resolveu prontamente o problema de logística: montou um show tão longo quanto, juntando um monte de artista que nas últimas três décadas ajudou a cristalizar o hip hop como um dos gêneros musicais mais populares do país. Deste jeito, o concerto improvisado – anunciado como uma homenagem a Taylor Hawkins sem, contudo, prender-se ao modelo chato de tributo de execução das principais músicas gravadas pelo homenageado – foi dividido em duas partes. Na primeira, os DJs Nyack e KL Jay deram o suporte soltando as bases para nomes como Emicida, Rael, Criolo, Bivolt, Drik Barbosa, Djonga, Ice Blue e Mano Brown mandarem algumas das principais composições de suas carreiras (…). A metralhadora verborrágica da turma revelou-se tudo aquilo que anda em falta nas bandas mais tradicionais de rock: sagacidade, rebeldia e periculosidade intelectual. Na segunda, os DJs e MCs individuais cederam o palco ao Planet Hemp, que veio do Rio de Janeiro para mostrar que a produção do festival cometeu um grande erro ao não escalá-lo. Com a banda afiadíssima e misturando hardcore, psicodelia, samba e jazz ao canto falado de Marcelo D2 e BNegão, o PH é uma das poucas bandas brasileiras de rock realmente avassaladoras ao vivo hoje em dia. Peso, contundência e, claro, aquela chama capaz de nunca se apagar. Tanto uma metade quanto a outra pode ser definida como uma oportunidade para celebrar o amor, a música e a possibilidade de se estar junto àquelas pessoas que amamos. E não bastasse esses lados A e B do novo concerto, houve ainda um “prefácio” tocante com Michele e Mônica Agena dedilhando lentamente suas guitarras e tornando “My Hero” ainda mais emocionante. No fim, depois do Planet Hemp, mais uma homenagem direta a Hawkins. O Ego Kill Talent, banda brasileira escalada para abrir a última turnê brasileira do FF em 2018, encerrou as atividades com duas músicas: uma autoral mais “Everlong”, a primeira cover tocada pelo quinteto durante toda a sua trajetória de shows. Se em um primeiro momento tudo parecia triste, perdido e arrasado para o encerramento de domingo do Lolla, depois dessa turma toda ninguém mais teve dúvida de que valeu muito a pena ter ido ao Autódromo ou ficar vendo pela TV toda aquela competente gambiarra improvisada horas antes.

#ForaBolsonaro

Sabe aquele tiro que sai pela culatra? Pois foi bem o que aconteceu neste Lollapalooza. Na sexta-feira, um fã deu a Pabllo Vittar uma bandeira com a cara e o nome de Lula e ela saiu correndo com o objeto, tremulando-o ao vento, em disparada pelo corredor que separa uma metade da outra do público. A foto saiu estampada em todos os portais de notícias. Em outro palco, a cantora galesa Marina Diamandis mandou, em alto e bom português, um “#ForaBolsonaro”. Os Strokes saíram do palco usando o microfone para falar a mesma coisa. Foi o que bastou para Jair Bolsonaro ficar nervosinho e, disfarçando sob a assinatura de seu novo partido, pedir judicialmente a reativaçãoo da censura a artistas, proibindo-os de expressar suas opiniões travestidas de, segundo suas palavras, “campanha para presidente antes do período determinado pela lei”. Só que ele pode e sempre faz isso. E o pior: o mesmo ministro do TSE Raul Araújo que endossou o pedido e faz voltar a valer a censura neste país foi aquele que, semanas antes negara pedido de retirada de outdoors irregulares fazendo campanha para Bolsonaro em uma cidade de Mato Grosso do Sul. Mas de nada adiantou esse passo rumo ao retrocesso. Depois de sábado, quando a notícia estourou pelos bastidores, foi um tal de “cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu” (como disse Lulu Santos ao adentrar o palco do Fresno para uma participação especial). No mesmo dia, Silva puxou o coro do incentivo para que jovens entre 16 e 18 anos (faixa etária para a qual o voto é facultativo) tirassem seu título de eleitor para poderem ir às urnas em outubro próximo. O grupo gaúcho também mandou um #ForaBolsonaro no telão. Logo depois, Gloria Groove entrou com uma blusa semelhante a um uniforme de time de futebol, tendo escrito atrás seu nome e o número 13. Emicida, tanto no sábado quanto no domingo, reforçou que o amor vale mais que o ódio e também mandou a hashtag mais famosa destes últimos quatro anos no país. Criolo não disse nada, apenas vestiu uma camiseta com a urna eletrônica na frente, mais um título de eleitor atrás. Bivolt demonstrou toda a sua insatsifação com o atual desgoverno federal no rap freestyle. Mas, claro, a maior vociferação contra a absurda ação autocrata veio de Marcelo D2. “Não, hoje #EleNão. Hoje #EleNão vai fazer a narrativa. A gente vai fazer a narrativa. Isso aqui é sobre amor. É sobre Taylor Hawkins. Sobre Chorão. Sobre Chico Science. Sobre Sabotage. Sobre Speedfreaks e Skunk.”, mandou logo ao entrar com o Planet Hemp, lembrando os nomes de amigos e ídolos já falecidos, sendo os dois últimos um ex-colaborador e um dos fundadores do PH. Aí mandou a letra de “Banditismo Por Uma Questão de Classe”, manifesto antinarrativa de direita da Nação Zumbi. Depois emendou “Distopia”, música inédita “sobre esperança” com base jazzy que estará no disco da banda que será lançado do próximo semestre. O refrão trazia um jogo de palavras hipnótico (“Desobedeço o obedeça/ Obedeço o desobedeça”) enquanto o telão repetia outra parte da letra (“Repense Reflita Resista Recuse”). Em “Dig Dig Dig” reviveu o canto de Zumbi eternizado por Jorge Ben (“Zumbi é o Senhor das Guerras/ Zumbi é o Senhor das Demandas/ Quando Zumbi chega/ É Zumbi é quem manda”). Antes de “queimar tudo até a últimaponta”, aproveitou para xingar diretamente Bolsonaro. Depois, lembrou que a musica “Zerovinteum”, há quase trinta anos, já falava sobre o problema das milícias no Rio de Janeiro – e ainda atestou estarem presentes sempre os assassinados Marielle e Anderson. Também levou um improvável hino do Ratos de Porão ao palco do grande festival mainstream com a cover de “Crise Geral” e antecipou a execução de “Contexto” dizedo que de nada adianta acreditar em um salvador da pátria e só fazer algo ao ir lá votar no dia da eleição. Ah, sim: não deixou de entoar a famosa musiquinha adaptando-a para homenagear o festival: “olê olê olá! Lolla, Lolla!”. Os artistas sambaram bonito em cima da cara do “é melhor Jair embora de uma vez”. Em tempo: o festival não foi notificado pela justiça porque o pedido de censura foi tão incompetente que nenhum dos dois CNPJs informados ali batiam com os responsáveis pelo evento. Em tempo 2: na segunda-feira, quando não adiantava mais nada porque tudo já acabara no domingo, Araújo suspendeu as manifestações políticas no Lolla afirmando que o texto da solicitação do PL o havia induzido a erro. A emenda ficou, de vez, pior que o soneto…

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Elza Soares

Cantora, morta aos 91 anos, não hesitava em mostrar sua fome de botar a boca no mundo para exorcizar todos os problemas do passado

Textos por Abonico Smith e Fabio Soares 

Fotos: Divulgaçao/Deckdisc (Elza) e Reprodução (Elza e Garrincha)

No fim da tarde desta quinta-feira, 20 de janeiro de 2022, a conta oficial de Elza Soares no Instagram fez o anúncio de seu falecimento. Com mais de seis décadas de carreira, ela morreu em casa, no Rio de Janeiro, às 15h45, de causas naturais. Tinha 91 anos de idade.

De trajetória profissional longeva, Elza celebrava nos últimos anos não apenas seu renascimento artístico com também o auge de sua carreira. Contando com o apoio e adoração de novas gerações de músicos e fãs, ela ganhou Grammy, apresentou-se no Rock In Rio, desfilou no carnaval carioca como enredo da escola de samba de seu bairro e do coração, lançou álbuns badaladíssimos pela crítica (como A Mulher do Fim do Mundo, em 2015 e o primeiro após oito anos de intervalo, e Deus é Mulher, em 2018). A receita do sucesso – que vinha sempre em dobradinha com o poder arrasador de sua voz rouca, capaz de transformá-la em um vulcão ativo em cima de um palco – ela nunca escondia em suas entrevistas: a simpatia extrema, a veia afiada para críticas (sociais, políticas, de gênero) e, acima de tudo, o fato de manter sempre a cabeça aberta para as novidades do mundo. Sempre em defesa das mulheres, dos negros, dos pobres, do universo LGBTQIA+.

Elza não gostava de falar muito de seu passado, embora o fizesse sempre que necessário. Preferia sempre celebrar o presente e projetar o futuro. Por isso, passou longe de se tornar uma mera caricatura daquela genial Elza sambista que o brasil e o mundo vieram a conhecer nos anos 1960. Ligou-se a novidades musicais, novos timbres, roupagens eletrônicas e criou uma nova Elza tão genial quanto aquela da História (embora ainda possa haver discordâncias quanto a isso, como você pode ler no texto final desta matéria). Inclusive parou em fazer “discos cheios” (os famosos álbuns) em 2019 e desde então vinha focando seus lançamentos em “faixas soltas”, distribuídas apenas digitalmente por meio das plataformas de streaming musical entre elas singles em parceria com os Titãs (“Comida”) e o rapper Flavio Renegado (“Negão Negra” e “Divino, Maravilhoso”, o clássico de Caetano e Gil). Aliás, seguiu cantando até o fim: dois dias antes de morrer, gravara, sem plateia, um DVD no Theatro Municipal de São Paulo.

Para homenagear esta que foi uma das maiores cantoras de toda a música brasileira, o Mondo Bacana publica abaixo dois textos. O primeiro reproduz uma entrevista dada em setembro de 2019 ao criador e editor deste site, Abonico Smith, publicada originalmente no portal RicMais naquela época. Na ocasião, Elza Soares havia acabado de lançar seu último álbum, Planeta Fome. O outro, assinado por Fabio Soares, relembra sua vida difícil, marcada por sofrimento e luta e também pela famosa relação dela com um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, tanto do Brasil quanto do planeta. Aliás, uma curiosidade: Elza, 39 anos depois, faleceu no mesmo dia 20 de janeiro de seu amado Mané Garricha. (AS)

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Nem bem Elza Soares lançou um álbum bastante celebrado por crítica e público no ano passado e, agora, apenas dezesseis meses depois, volta com mais uma pancada tão forte e impactante quanto. Mais uma coleção de faixas, entre inéditas e regravações, todas escolhidas a dedo e formando um repertório que tem um poder devastador sem igual para o enorme guarda-chuva sonoro que convencionou-se chamar de música popular brasileira.

Na verdade o que Elza fez com Deus é Mulher em 2018 volta a repetir com Planeta Fome é algo que não vem sendo comum no mercado fonográfico: chama-se misturar ousadia com a coragem de erguer a voz sobre todas as intempéries para protestar e se expressar. Já faz um bom tempo que a grande fatia do mainstream da música brasileira – isto é, as duas grandes gravadoras mundiais que restaram depois da revolução digital, das estações de rádio de grande audiência, das emissoras de TV que insistem em produzir programas musicais e de auditório, da lista das músicas mais executadas em plataformas de streaming – aninhou-se na acomodação. Sempre reciclagem de mais do mesmo, fórmulas batidas, elementos já conhecidos, ingredientes que funcionam para hipnotizar um povo cujos ouvidos também se acostumaram a rejeitar o novo, o diferente, o inusitado.

Isso não funciona com Elza Soares. Mesmo. “Eu canto o que estou vendo neste país. Vou ouvindo aqui e ali, muitas músicas novas que me apresentam e que de uma certa forma contam o que anda acontecendo por aí. Aí vou formando a dedo o repertório de cada um destes discos”, diz a cantora, em entrevista por telefone.

O título Planeta Fome, segundo ela explica, não precisa ser necessariamente subentendido ao pé de letra. “Não só é comida não, apesar deste ser um período em que o brasileiro precisa de muita força também. Mas também é fome de saúde, de respeito, de cultura, de leitura. Queremos e precisamos de tudo isso.”

Já a arte da capa, assinada pela cartunista Laerte Coutinho, ilustra toda esta diversidade de fomes “do bem” que podem existir em um planeta. “A ideia de todas as ilustrações foi dela”, complemente Elza, a respeito do trabalho gráfico que ainda traz uma boa curiosidade nas entrelinhas: é tanta informação a ser buscada pelos olhos de quem a vê que lembra antigos trabalhos de designers especializados em capas de discos de vinil. Aliás, muito provavelmente em breve deve sair uma fornada de long-plays, já que a fábrica da Polysom pertence à mesma gravadora de Elza, a Deckdisc. Sendo assim, a arte de Laerte vai ficar ainda mais brilhante no mesmo tamanho do bolachão.

Quanto ao caldeirão sonoro, Elza apresenta, orgulhosamente, uma grande mistura sonora. Tem melodias melancólicas (“Tradição”, “Lírio Rosa”) e a fúria verborrágica do hip hop da vertente funky representada pelo Dream Team do Passinho Rafael Mike e do rock com riffs pesados de guitarra de BNegão (“Não Tá Mais de Graça” e “Blá Blá Blá”). Tem batidas dançantes com elementos eletrônicos (“Não Recomendado”) e uma vinheta quase a capella e que puxa pro afoxé (“Menino”). Tem um míssil do BaianaSystem com Virgínia Rodrigues e Orkestra Rumpilezz (“Libertação”) e o resgate de duas canções mais obscuras do repertório autoral de Gonzaguinha (“Pequena Memória Para um Tempo Sem Memória”, “Comportamento Geral”). Tem versos celebrando a necessidade atual da resistência tanto coletiva (“País do Sonho”) quanto individual (“Virei o Jogo”). Tem também citações e referências espalhadas por todo o álbum e que vão de Titãs (“Comida”) a Chico Buarque (“Geni e o Zepelim”), de Tim Maia (“Me Dê Motivo”) a uma canção de Seu Jorge eternizada na voz da própria Elza (“A Carne”). “Canto sempre aquilo que me dá vontade de cantar. Estas duas músicas do Gonzaguinha são demais. Dizem bem o que está acontecendo no Brasil hoje. Ele escrevia para o futuro. Cazuza é outro que também fazia isso.”

As letras das doze faixas, de uma certa forma, fazem um grande coro de descontentamento e indignação de Elza com a situação apresentada há alguns anos no Brasil. Social, econômica e sobretudo politicamente falando. “Esta nova geração está dormindo muito. O que será que aconteceu com a juventude? Está um silêncio profundo por aí… Não vemos mais os estudantes na rua, como já vimos antes. Gente que brigava e buscava alguma coisa. O que colocaram na água do brasileiro, meu Deus? Anda todo mundo amedrontado, só na internet. Parece que não se dá mais liberdade para o povo”, queixa-se a cantora, sem, porém, ousar esconder o brado de insatisfação com a apatia geral de adolescentes e jovens adultos.

Elza reclama e também está longe de querer ficar parada, esperando algo acontecer. Por isso, está sempre ligada ao quem está vindo aí no seu futuro, sem querer muitas amarras com o que já foi. “Vem o filme com a Taís Araújo no papel de Elza Soares. Também vou ser homenageada no carnaval carioca no ano que vem. Serei o tema da minha escola de coração, a Mocidade Independente de Padre Miguel. Vou cantar no Rock In Rio no fim deste mês. Já lancei três discos de 2015 para cá. Aliás agradeço a Deus por ter dois produtores tão carinhosos e competentes como o Juliano Almeida e o Pedro Loureiro. Eles vão atrás, agilizam tudo, fazem as coisas acontecerem. Pedro ainda canta, toca, compõe. Ele se envolve na questão na criação. Pena que só chegaram agora há pouco na minha vida.”

Antes tarde do que nunca. Porque, afinal, com Elza o negócio é sempre falar, gritar, botar a boca no mundo. “Blá blá blá é comigo mesmo”, brinca. (AS)

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Elza Soares tinha 53 anos no dia 20 de Janeiro de 1983 quando Garrincha, seu companheiro por 17 anos, sucumbiu a complicações decorrentes do alcoolismo.

Aliás, a palavra “fácil” jamais caminhou lado a lado na vida de Elza Gomes da Conceição. Nascida em 1930 no bairro de Padre Miguel, no Rio de Janeiro, foi molestada aos 12 e obrigada, pelo pai, a casar com seu abusador. Aos 14, deu à luz o primeiro filho. Viu seu segundo filho morrer de fome como o primogênito. Trabalhou num manicômio onde conseguia, ao menos, realizar uma refeição por dia. Aos 20, teve uma filha recém-nascida sequestrada em 1950 e conviveu com esta angústia por três décadas. Reencontrou sua Dilma em 1980, que não sabia que era filha da cantora. Devido ao tempo decorrido, o casal responsável pelo crime fora beneficiado com a prescrição da pena.

Em 1953, Elza apresentou-se no programa de Ary Barroso, chamado Calouros em Desfile, na Rádio Tupi, no Rio de Janeiro. O episódio é dissecado na biografia Elza, escrita por Zeca Camargo e lançada em 2018. “Cantar ali era o sonho de muitos cantores e cantoras aspirantes, um caminho para o estrelato. ‘Entrei segurando minha roupa para ela não desmontar e arrastando uma sandália muito vagabunda, que era a única que eu tinha, e o Ary logo me olhou com aquela cara de quem ia aprontar alguma comigo’, lembra a cantora.”

As gargalhadas só cresciam e com elas o apresentador se sentiu ainda mais à vontade para ironizar a candidata ‘fresquinha’. ‘O que você veio fazer aqui?’, perguntou, impiedoso. ‘Vim cantar’, respondeu Elza, achando que era melhor não ceder às brincadeiras. Ele dobrou então a provocação: ‘E quem disse que você canta?’ Outra resposta curta: ‘Eu, seu Ary.’ Apesar da aparência risível, parecia uma caloura difícil de ‘quebrar’ com qualquer piada. Por isso, talvez, a próxima pergunta tinha beirado a grosseria: ‘Então, agora, me responda, menina, de que planeta você veio?’ Elza: ‘Do seu planeta, seu Ary!’ O apresentador, já perdendo a paciência, insistiu: ‘E posso perguntar que planeta é esse?’ Parecia que a resposta já estava na ponta da língua: ‘Do planeta fome.’

Em 1962, iniciou um romance com Garrincha logo após a conquista do bicampeonato mundial no Chile. O craque, casado, recebeu um ultimato: ou a assumiria ou a perderia. Garrincha desquitou-se da esposa mas o público não reagiu bem ao fato. Acusada de ser “destruidora de lares”, Elza era hostilizada por onde passava. Entretanto, em artigo publicado na Folha de S.Paulo em 20 de Janeiro de 2013, o gigante Ruy Castro, desconstrói esta história. “Para os desinformados, ela ajudou a destruí-lo. A verdade é o contrário: sem Elza, Garrincha teria ido muito mais cedo para o buraco. Quando ela o conheceu (em fins de 1961, e não em meados de 1962, durante a Copa do Chile, como até hoje se escreve), Elza estava em seu apogeu como estrela do samba, do rádio e do disco. E ninguém imaginava que Garrincha, logo depois de vencer aquela Copa praticamente sozinho, logo deixaria de ser Garrincha. Ninguém, em termos. Os médicos e preparadores físicos do Botafogo sabiam que Garrincha, com o joelho cronicamente em pandarecos (e agravado pela bebida), estava no limite. Mas ele não se permitia ser operado – só confiava nas rezadeiras de sua cidade, Pau Grande. O que Garrincha fez na Copa foi um milagre. Mas, assim que voltou do Chile, os problemas se agravaram. Um outro Garrincha (gordo, inchado, bebendo às claras ou às escondidas) incapaz de repetir seus dribles e arranques pela direita continuou se arrastando pelos campos, vestindo camisas ilustres (do próprio Botafogo, do Corinthians, do Flamengo, do Olaria e da seleção) por mais inacreditáveis dez anos, até o famoso Jogo da Gratidão, organizado por Elza Soares. Foi sua despedida oficial, a 19 de dezembro de 1973, com um Maracanã inundado de amor”.

Artisticamente falando, os últimos trabalhos de Elza Soares foram um calvário a céu aberto a quem quisesse ver. Nestes sete anos, discos sofríveis foram lançados. A Mulher do Fim do Mundo (2015), Deus é Mulher (2018) e Planeta Fome (2019) nem um pouco lembraram o assombro de genialidade de álbuns como Com a Bola Branca (1966) e o espetacular trabalho com Wilson das Neves, de 1968. Tempo quando estava com Garrincha, aliás.

Seja como for, com muito mais genialidade que erros, o nome de Elza Soares ecoará pela eternidade fazendo não só fazendo jus ao título de Voz do Milênio, concedido em 1999 pela BBC, de Londres. Para sempre reinará absoluta no panteão de nossa cultura brasileira. (FS)

Movies

O Esquadrão Suicida

Sob o comando do diretor James Gunn, franquia ganha reboot e volta psicodélica às telas e repleta de criaturas bizarras

Texto por Andrizy Bento

Foto: Warner/Divulgação 

A DC é falha na construção de um universo cinematográfico estruturado e compartilhado nas telas, sendo pouco eficiente ao tentar conectar suas tramas devido à falta de unidade entre os filmes que compõem o DCEU (termo não oficial utilizado para se referir, em inglês, ao Universo Estendido DC). Em contrapartida, ganha do rival, o MCU (Universo Cinematográfico da Marvel), em estilo e por apostar em abordagens mais autorais em seus longas, distanciando-se do formulaico e da zona de conforto da Marvel Studios. A longeva parceria entre a DC e os estúdios Warner Bros investe em produtos ousados e se mostra mais disposta a correr riscos que, por vezes, acabam por condenar seus filmes nas bilheterias.

Portanto, ninguém pode dizer que a DC não tenta. Abraçar propostas diferenciadas, ainda que se trate de um negócio arriscado, é louvável. Enquanto as realizações do bem-sucedido MCU são o que chamamos de filmes de produtor ou de estúdio, é visível que os cineastas por trás dos longas-metragens da DC buscam imprimir seu estilo e assinatura nas aventuras que levam às telas protagonizadas pelos heróis da marca. Assim, temos filmes mais sérios, sombrios e empolados como O Homem de Aço (2013) e Batman Vs Superman: A Origem da Justiça (2016), propostas que o público, em sua maioria, rejeitou; entretenimentos de fim de semana direcionados à toda família, que se aproximam mais da identidade de filmes de super-heróis que o público se acostumou a ver nas telas, dosando bem elementos como ação, comédia e romance, que é o caso dos dois longas da Mulher-Maravilha (2017 e 2020) e Aquaman (2018); um longa que aposta em uma atmosfera despretensiosa e infanto-juvenil a fim de capturar o interesse dos mais jovens pelos filmes da casa, apostando na reinvenção e modernização de um herói old school, como Shazam! (2019); um híbrido entre a gravidade de Snyder e o cartunesco de Joss Whedon, que sofreu na transição de diretores devido aos problemas de ordem pessoal que o primeiro enfrentou, que é o caso de Liga da Justiça (2017); e até alguns com atmosferas mais experimentais e narrativas tresloucadas, como Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (2020) e este novo O Esquadrão Suicida (2021).

O marginalizado grupo que surgiu nas páginas dos quadrinhos em setembro de 1959, integrado por delinquentes altamente perigosos que topam se aventurar em missões sigilosas e suicidas em busca de de liberdade – ou ao menos da redução de suas penas na prisão – tem sua segunda chance nos cinemas após o fiasco de 2016. Dirigido por David Ayer, Esquadrão Suicida (sem o artigo na frente do nome), foi detonado por público e crítica. Dessa vez, dirigido por James Gunn, cineasta que assinou os dois longas dos Guardiões da GaláxiaO Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, EUA/Canadá/Reino Unido, 2021 – Warner) manteve poucos nomes do primeiro filme. Obviamente, Margot Robbie (uma das poucas escolhas que deram certo) reprisa seu papel como Arlequina, desta vez ainda mais insana. A ótima Viola Davis ressurge como a moralmente ambígua Amanda Waller, mentora do Esquadrão, uma das escalações mais eficientes. Joel Kinnaman é outro que reaparece, interpretando Rick Flag. Sem grande destaque, Jai Courtney também repete seu papel como Capitão Bumerangue.

O grupo desajustado de vilões ainda se beneficia de acréscimos ao elenco, que é o caso de Idris Elba interpretando DuBois, o Sanguinário; John Cena, na pele do Pacificador; Sylvester Stallone, emprestando sua voz para o Tubarão-Rei Nanaue; David Dastmalchian, como Abner Krill , o Homem-Bolinha; Daniela Melchior, vivendo Cleo, a Caça-Ratos 2, com direito a um rato de estimação chamado Sebastian (dublado por Dee Bradley Baker); Peter Capaldi, assustadoramente brilhante como Pensador; e Alice Braga na pele de Sol Soria, a líder de uma facção rebelde.

“Típicos americanos. Mal chegam e já vão atirando”

A abertura frenética introduz uma equipe descartável que faz jus ao título de O Esquadrão Suicida, utilizada como mera distração enquanto a equipe original executa sua missão. Como se tratam de personagens com pouco tempo de tela, isso impede que o espectador chegue a se afeiçoar a algum deles. Contudo, essa amostra visceral de carnificina durante a introdução já dá uma ideia ao espectador do que serão as próximas duas horas de filme: alto teor de sangue, violência gráfica e humor corrosivo que tomam conta da tela. O novo Esquadrão Suicida ainda alia a narrativa sombria a uma estética psicodélica, lançando mão de uma cartela cromática intensamente colorida porém funcional e injetando doses cavalares de acidez em seu texto.

A ação ocorre no fictício Corto Maltese, pequeno país insular próximo à costa da América do Sul. O objetivo da equipe é se infiltrar em Jotunheim, instalação científica que abriga o Projeto Estrela-do-Mar, um misterioso experimento criado durante a 2ª Guerra Mundial e que, segundo as fontes confiáveis que abastecem Waller de informações, tem procedência extraterrestre. Nas mãos erradas, porém, ela oferece risco de catástrofe global. Waller, então, recruta novos integrantes para seu Esquadrão e cabe ao grupo destruir todos os vestígios do projeto.

A trama resgata e utiliza personagens bizarros e obscuros das HQs, que só poderiam ter a oportunidade de brilhar e fazer alguma diferença nas telas em um filme da estirpe de O Esquadrão Suicida, onde o tom autorreferente e autossatírico impera. A produção é repleta de sequências de ação inverossímeis, passagens indigestas e uma overdose de cenas absurdas temperadas com sangue, recheadas de mutilações e que culminam em uma tremenda sinfonia de caos e destruição. Ainda investe em tiradas cômicas bem pontuadas que conseguem arrancar risadas genuínas do público, muitas delas vindas da personagem de Margot Robbie. A cinematografia elegante compõe planos engenhosos, com movimentos de câmera inteligentes e certeiros, garantindo um visual arrojado capaz de surpreender o espectador. Destaque para uma determinada sequência de luta que é visível através do reflexo de um capacete – sem dúvida, uma das mais memoráveis do ano.

É fato que nem tudo funciona. Boa parte da passagem que elucida o drama da Caça Ratos 2, uma cena constrangedora na pista de dança e a sequência com timing arrastado em que Nanaue faz “novos amigos estúpidos” (bem em meio ao clímax do longa), poderiam ter sido cortadas na ilha de edição, pois são momentos que soam deslocados na trama. Sem contar os excessos da trilha sonora e o quanto alguns personagens parecem guardar ecos das figuras apresentadas em Guardiões da Galáxia (não é difícil se pegar fazendo associações entre Nanaue e Groot, por exemplo). Porém, seus méritos mais do que compensam essas e outras falhas.

Com um roteiro objetivo, extremamente simples, mas bem costurado, reserva espaço considerável em meio ao humor e às sequências de ação, para tecer uma crítica afiada à hipocrisia e hegemonia norte-americana em situações de guerra, O governo americano aparece, como de praxe, pregando uma falsa ideia de paz que se trata de pura estética, revestindo-se de uma aura pacifista para encobrir sua participação em esquemas de corrupção e atos bárbaros. Nesse sentido, é no personagem do Pacificador que o texto alcança um simbolismo perfeito. James Gunn foi a escolha ideal para fazer o reboot desta franquia nos cinemas. O diretor já havia mostrado que era bom em conduzir tramas fantásticas, repleta de criaturas bizarras, com muito bom-humor, mas conferindo humanidade aos personagens e plausibilidade ao enredo – como é possível observar nos longas dos Guardiões da Galáxia. Aqui, além de dosar de maneira assertiva os elementos dramáticos, Gunn parece ter tido mais autonomia no que confere tanto às escolhas narrativas quanto visuais, fazendo prevalecer sua assinatura. O resultado é um filme psicodélico, inventivo, experimental, ousado e altamente divertido. A chance que o Esquadrão Suicida merecia na telona.

Music

Ranking Roger (1963 – 2019)

Toaster do grupo Beat, expoente do movimento Two Tone, foi um símbolo dos descendentes caribenhos na música pop britânica

ranking roger

Texto por Emmanuel do Valle (Célula Pop)

Foto: Reprodução

Figura de proa no movimento Two Tone, que aglutinou de vez o ska jamaicano ao som pop britânico da virada dos anos 70 para os 80, Ranking Roger morreu aos 56 anos no último dia 26 de março. Alçado à popularidade como um dos frontmen do Beat – banda fundamental do período, também conhecida como English Beat nos Estados Unidos – ao lado do vocalista e guitarrista Dave Wakeling, Roger se destacava pelo toasting, estilo de canto falado próprio dos ritmos da ilha do Caribe. Mais ainda: era um dos símbolos de uma geração de descendentes dos imigrantes afro-caribenhos que aportaram no Reino Unido entre o fim dos anos 1940 e começo dos anos 1970, impactando decisivamente no cenário cultural do país.

Nascido Roger Charlery, em Birmingham (segunda cidade mais populosa do Reino Unido), em 21 de fevereiro de 1963, era filho de um casal que imigrou da ilha caribenha de Santa Lúcia. Na adolescência, tornou-se fã do então nascente punk rock, passando a tocar bateria num grupo chamado Nam Nam Boys. Nos encontros da cena local, fez amizade com os integrantes de um grupo de ska, o Beat, dando uma canja nos shows com sua performance no toasting. Logo estava convidado a se juntar de vez à banda, que não demoraria muito a estourar.

No finzinho de 1979, a formação lançou seu primeiro compacto contendo uma regravação quicante para “Tears Of A Clown” (imortalizada pelo mestre do soul Smokey Robinson) e, do outro lado, “Ranking Full Stop”, na qual Roger comandava o microfone. Único lançamento do grupo pelo selo Two Tone – que batizou o movimento e divulgou novos e importantes nomes como os Specials, o Madness e o Selecter –, o disquinho chegou ao sexto posto da parada britânica em janeiro do ano seguinte e levou o Beat a tocar pela primeira vez no Top Of The Pops, o mais famoso programa musical de TV da BBC.

O grupo era um sexteto racialmente miscigenado: três ingleses brancos oriundos da classe operária de Birmingham (o já citado Dave Wakeling, o guitarrista Andy Cox e o baixista David Steele) e três negros de origem caribenha: além de Ranking Roger (então com apenas 16 anos), havia o baterista Everett Morton e o veterano saxofonista Lionel Augustus Martin, o Saxa, já beirando os 50 anos, e que ao longo da carreira havia acompanhado nomes históricos do ska como Laurel Aitken, Desmond Dekker e Prince Buster. Era um símbolo de que não só a influência como também a presença negra na música pop britânica havia chegado para ficar.

O dado negro na música e na cultura pop britânicas é relativamente recente em comparação com suas correspondentes norte-americanas. A explicação é simples, mas vem de longe. Como matriz colonial, o Reino Unido utilizou mão de obra escrava de africanos majoritariamente em suas colônias (entre elas os Estados Unidos), e não em seu próprio território – a escravidão foi legalmente abolida dentro do país em 1772, embora tenha continuado na prática, de forma sub-reptícia, ainda por quase um século.

Desta forma, até a Segunda Guerra Mundial, a população afrodescendente no Reino Unido não passava de 1% do total, ou pouco mais de 10 mil. Com o país em ruínas ao fim do conflito após os bombardeios alemães, além das expressivas perdas humanas, havia a necessidade urgente de se reconstruir. O governo britânico então passou a incentivar a imigração de habitantes das colônias, inclusive concedendo cidadania do país por meio do British Nationality Act, de 1948.

Em 22 de junho do mesmo ano, o navio HMT Empire Windrush desembarcou no porto de Tilbury, perto de Londres, com cerca de 800 imigrantes oriundos das chamadas Índias Ocidentais (ou o conjunto de colônias do Caribe). O nome da embarcação virou símbolo do fluxo que se estendeu até o início dos anos 1970, já em meio ao processo de descolonização do antigo Império Britânico: os imigrantes afro-caribenhos do período – entre eles, o teórico cultural jamaicano Stuart Hall e os próprios pais de Ranking Roger – ficaram conhecidos como “geração Windrush”.

A chegada massiva de imigrantes começou aos poucos, a partir dos anos 1960, a se fazer notar na cultura britânica. Incorporado ao mainstream da música pop mundial só em meados dos anos 1970, o reggae já marcava presença nas paradas do Reino Unido mesmo em plena Swingin’ London. Antes disso, outros gêneros como o ska e o rocksteady já haviam sido incorporados ao repertório dos mods – tribo urbana juvenil oriunda da classe operária, que ganhou notoriedade no país naquela década – ao lado do soul e do rhythm & blues norte-americanos.

Em abril de 1969, o astro jamaicano do ska Desmond Dekker chegou ao topo da parada britânica de singles com seu clássico “Israelites”. No ano seguinte, ele arrastou multidões de jovens como a principal atração de um festival de música caribenha realizado no estádio de Wembley. Enquanto isso, em 1971, o censo britânico apontava uma população de cerca de 304 mil habitantes de origem afro-caribenha no país, trinta vezes mais do que os números praticamente estáveis das quatro primeiras décadas do século.

Previsivelmente, houve forte reação das alas conservadoras da política e da sociedade britânicas. Ainda em abril de 1968, o parlamentar conservador Enoch Powell fez um inflamado discurso anti-imigração que ficou conhecido informalmente como “Rivers Of Blood” (“Rios de Sangue”) e entrou para a História do país. Citando uma conversa que havia tido com trabalhador de meia-idade pouco tempo antes, Powell afirmava que, caso os fluxos migratórios não fossem contidos, “neste país, dentro de 15 ou 20 anos, o negro terá o domínio sobre o branco”.

Dez anos antes, os distúrbios raciais ocorridos no bairro de Notting Hill marcaram o primeiro grande tumulto deste tipo no país. Ao longo da década de 1970, eles se tornariam mais frequentes, graças ao crescimento de grupos de extrema-direita com matizes neonazistas, como o National Front e o British Movement, que organizavam passeatas e ataques a áreas urbanas com grande concentração de imigrantes, como na chamada Batalha de Lewisham, que envolveu milhares de pessoas no bairro do sudoeste de Londres em agosto de 1977.

Dentro deste contexto, era previsível que o componente sociopolítico se tornasse marcante nos grupos do movimento Two Tone, que revigoraria o skae o reggae, fundindo-os à chamada new wave, que despontava na música britânica no fim dos anos 1970. Em maio de 1980, quando o Beat lançou seu álbum de estreia, I Just Can’t Stop It, as canções sobre relacionamentos e os tributos aos velhos mestres do som jamaicano dividiam espaço com afiadas crônicas sociais (“Mirror In The Bathroom”, “Big Shot”) e políticas (“Stand Down Margaret”, que exigia a saída da primeira-ministra conservadora britânica, eleita um ano antes).

O som enérgico do Beat conquistou a molecada e chegou a reverberar até mesmo deste lado do Atlântico: o grupo foi uma das grandes inspirações no som dos primeiros discos dos Paralamas do Sucesso, até mais do que o Police, com o qual se costuma associar o trio liderado por Herbert Vianna. Everett Morton, por exemplo, era influência declarada do baterista João Barone. E o hit paralâmico “Óculos”, de 1984, “pegava emprestado” o riff de marimba de “Hands Off, She’s Mine”, segundo compacto do Beat, que chegou ao nono lugar da parada britânica em março de 1980 – além de ter sido o primeiro lançamento do selo próprio da banda, o Go Feet.

Lançado no ano seguinte, o segundo disco do grupo, Wha’ppen, era mais lento e sombrio, refletindo o momento calamitoso vivido pelo país naqueles primeiros anos de Thatcherismo, com profunda recessão econômica e desemprego recorde, além da série de novos conflitos raciais deflagrados em várias das principais cidades do país entre abril e julho. Apesar disso – e embora tenha sido recebido com maior frieza pelo público –, o álbum ainda oferecia momentos sublimes, como a emocionante “Doors Of Your Heart”, que ganhou um clipe maravilhoso, gravado em plena euforia do carnaval de rua afrocaribenho de Portobello Road.

O terceiro ábum, Special Beat Service, lançado em outubro de 1982, ampliava ainda mais a paleta sonora do grupo: “Save It For Later” – considerada por Pete Townshend uma de suas canções favoritas da vida – puxava mais para um estilo guitar band, enquanto a funkeada “I Confess” remetia aos grupos new romantic. Ambas foram lançadas em single. Mas o grande momento de Ranking Roger era a canção na qual ele apresentava um certo toaster novato chamado Pato Banton, “Pato And Roger A Go Talk”.

Aquele seria o último disco de estúdio da banda, que se despediria no ano seguinte com a coletânea What Is Beat? e uma turnê que incluiu uma participação antológica no US Festival, na Califórnia, em maio de 1983. O grupo se desintegrou aos pares: enquanto Andy Cox e David Steele formaram o Fine Young Cannibals recrutando o vocalista Roland Gift, Everett Morton e Saxa, os mais experientes do grupo, passaram a acompanhar outros artistas, antes de formarem o International Beat, que seguiria na ativa até a década de 1990.

A dupla de frente, Ranking Roger e Dave Wakeling, por sua vez, seguiu junta no projeto seguinte, o General Public, que lançou dois álbuns e teve sucesso com a canção “Tenderness”, de 1984, que volta e meia aparece em coletâneas de flashback de sons oitentistas. Com o fim de mais esta empreitada, Roger lançou um disco solo, formou o Special Beat, com ex-integrantes dos Specials e gravou com Sting e com o Smash Mouth Até trazer o Beat de volta à ativa nos anos 2000 – ou melhor, um dos Beats, já que Wakeling, agora residindo nos Estados Unidos, também fez shows pelo país com o nome da banda. Nunca houve, porém, qualquer animosidade.

A formação que tinha Ranking Roger à frente, da qual também fazia parte seu filho Ranking Junior, chegou a gravar dois álbuns de inéditas: Bounce, de 2016, e Public Confidential, que saiu em janeiro deste ano, na mesma época em que o cantor anunciou pelas redes sociais que havia sido operado de dois tumores no cérebro, além de passar por tratamento contra um câncer no pulmão – antes, em agosto, já havia sofrido um infarto. “Ele lutou & lutou & lutou. Roger era um lutador”, disse o comunicado que anunciou sua morte no perfil oficial do Beat no Facebook, antes de revelar que o cantor falecera “em paz em sua casa, rodeado por sua família”.

Também pelas redes sociais, amigos de bandas contemporâneas como Neville Staple (Specials), Pauline Black (Selecter), Billy Bragg e o UB40 lamentaram a morte de Ranking Roger, que se torna a segunda perda na formação clássica do Beat, após o falecimento de Saxa em maio de 2017, aos 87 anos. O cantor havia recentemente acabado de escrever sua autobiografia, que leva o mesmo nome do primeiro álbum do grupo, I Just Can’t Stop It, e deve ser publicada em breve.