Aula de como não fazer cinema, filme estrelado por Maísa contribui para o estigma comercial de que “o Brasil não faz filme bom”
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Galeria Distribuidora/Divulgação
Todos já conhecemos Cinderela. Além da animação clássica de Walt Disney, diversos filmes recontam a história da princesa, como O Sapatinho e a Rosa, A Nova Cinderela, Sapatinho de Cristal, Para Sempre Cinderela e até o infame Cinderela Baiana. Ainda assim, o cinema comercial é como coração de mãe – nunca falta espaço para mais uma ou duas adaptações desnecessárias. Nasce, então, Cinderela Pop (Brasil, 2019 – Galeria Distribuidora).
Adaptado do livro de Paula Pimenta, o filme conta a história de Cintia Dorella (Maísa), uma adolescente que não acredita no amor por conta da traição de seu pai e sonha em ser DJ. Paralelamente, a trama acompanha o sucesso da internet Freddy Prince (Filipe Bragança) e suas “músicas melosas”. Na festa de aniversário das filhas da terrível madrasta (Fernanda Paes Leme), os dois se encontram enquanto Cintia (como DJ Cinderela, sua identidade secreta) remixa uma música de Freddy. Amor à primeira vista, é claro. O resto da história é Cinderela no Século 21, sem qualquer alteração – com exceção da tia de Cintia, Helena (Elisa Pinheiro), que faz as vezes de fada madrinha.
O infame roteiro de Bruno Garotti (também diretor do filme), Flávia Lins e Silva e Marcelo Saback não contém um diálogo convincente. Construção de personagens? Não há. Garotti, que já trabalhou com Maísa em Tudo Por Um Popstar, parece ter faltado às aulas de enquadramento na faculdade de cinema. Elementos fílmicos, como plongées e contras, contraste entre closes e planos gerais, não existem em Cinderela Pop.
Mais um ponto baixo são as desleixadas edição e mixagem de som. A absurdidade chega ao ponto de ouvirmos a música aumentar drasticamente entre planos de Maísa fingindo ser DJ e retornar à intensidade original quanso o plano retorna àquele primeiro. As aparentes dublagens do filme, presentes em mais cenas do que se espera, também estragam a experiência.
Com a terrível atuação de todo o elenco, em especial de Maísa, é duvidável que até sua fanbase contribua para o sucesso da obra. Ainda assim, se o ingresso fosse um tanto mais barato, Cinderela Pop seria extremamente útil para roteiristas e diretores de primeira viagem. Neste filme, aprende-se como não fazer um filme. Infelizmente, este não é tão absurdo quanto o clássico trash brasileiro Cinderela Baiana, com dançarina e apresentadora Carla Perez como a protagonista e a trilha sonora do É o Tchan. Este aqui, no caso, é só ruim mesmo.