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Loucos Por Justiça

Premissa da vingança deixa a violência de lado e aposta em cenas que exploram reflexões e abordagens psicológicas

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Synapse/Divulgação

O pôster acinzentado com um Mads Mikkelsen trajando roupas escuras e armas pesadas remete a filmes de vingança e perseguição, como Busca Implacável. Erro gravíssimo. Loucos Por Justiça (Retfærdighedens Ryttere, Dinamarca/ Suécia/ Finlândia, 2020 – Synapse) é um thriller dramático que aborda o tema trauma de diversas maneiras diferentes permeando a comédia e a seriedade sem apelar para tropos batidos ou humor cafona.

Markus (Mads Mikkelsen) é um militar de poucas palavras que é levado ao extremo quando sua mulher morre em um trágico acidente de trem. Vendo-se sozinho com sua filha adolescente, Mathilde (Andrea Heick Gadeberg) e sem saber lidar com os sentimentos naufragantes do luto, embarca de cabeça em uma trama de vingança. 

Acompanhado dos nerds Otto (Nikolaj Lie Kaas), Lennart (Lars Brygmann) e  Emmenthaler (Nicolas Bro), Markus tenta buscar justiça pela falecida esposa. O improvável grupo tem algo em comum: traumas e feridas mal resolvidos. O objetivo em comum deles é catártico: todos podem se enxergar na dor do outro e a sede por justiça passa a ser sede por mudança.

A audiência está cansada de filmes violentos sobre vingança. Os tiros e a pancadaria gratuita nas telas se repetem de maneira cansativa e a ponto de que fica fácil adivinhar o roteiro. Loucos por Justiça vai na contramão desse subgênero de ação e prefere abordar o psicológico da tragédia, mas, claro, sem deixar de lado boas cenas de intensidade.

O filme surpreende a cada minuto, como se a cada acontecimento uma nova camada fosse desbloqueada. A maioria das informações vem apresentada sem rodeios, surpreendendo e adicionando mais complexidade para cada personagem. Todos eles são muito bem trabalhados e tem arcos bem definidos, o que para um filme de ação é bem incomum. 

A dinâmica na casa de Markus é a melhor parte do filme. Os diálogos e as ações que ocorrem no cenário limitado apresentam-se ricos, ora profundos, ora divertidos. O filme sabe dosar o que os momentos reflexivos e a descontração sem deixar um clima pesado ou fazer o espectador esquecer do que trata o enredo. As cenas de ação também são bem pontuadas e de fato agregam a história. 

Loucos por Justiça revela-se uma agulha em um imenso palheiro. A premissa vingança, tão desgastada nas últimas duas décadas, ganha ares maduros. O tema família é discutido para além da honra em uma trama interessante que prende a atenção. Se ao ver o pôster automaticamente é formada uma ideia, ao final do filme esse paradigma é quebrado por completo. 

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