Music

Arnaldo Antunes + Vitor Araújo

Oito motivos para você não perder a chance de ver ao vivo o show em conjunto do cantor e compositor paulista e o pianista pernambucano

Texto por Abonico Smith

Foto: Divulgação

Fevereiro de 2020. Mês de lançamento do décimo segundo álbum de estúdio de Arnaldo Antunes. O Real Resiste, como diz o próprio título (além dos versos que compõem a letra da faixa que o batizou, servia como um contraponto para o autor. Sob um clima de meia-luz, harmonizando teclas e cordas e dispensando a parte rítmica de percussão e bateria, era um pretexto para uma retomada de ar de toda a loucura na qual o país mergulhara no ano anterior, com todos os bichos escrtos que saíram dos esgotos sob o comando do inominável presidente.

Mas eis que veio a pandemia da covid e o Brasil parou. O mundo parou. Isolamento radical e a mais completa falta de possibilidade de seguir em frente no meio artístico e cultural. Arnaldo foi pego em cheio por este tsunami planetário. Estava preparado para estrear a turnê que divulgaria e espalharia por diversas cidades o disco novo. Ainda mais porque a empreitada traria uma novidade: em vez de estar acompanhado por uma banda no palco, haveria apenas um músico ao seu lado. E não qualquer músico. O escolhido havia sido o pernambucano Vitor Araújo, enfant terrible dos pianos, que alguns anos atrás despontara como uma grande revelação da música brasileira ao se propor a experimentar novos caminhos e sonoridades em seu instrumento, indo além da convencional exploração das teclas pretas e brancas com os pedais.

O novo show virou apenas lives (Sesc Pompeia, Inhotim) e gravação para documentários (Arnaldo 60). O entrosamento estava tão grande, porém, que Arnaldo voltou para o mesmo estúdio situado em uma fazenda do interior de São Paulo, levando Vitor para criar mais um disco. De lá saíram nove faixas (algumas inéditas, outras já lançadas antes por Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Itamar Assumpção, Titãs e o próprio Arnaldo em carreira solo) registradas  no período de uma semana. A temática compreende  as instabilidades emocionais tão pertinentes àqueles dias (distanciamento, saudade, comunicação ruidosa, fim de relacionamento) e a participação do jovem pernambucano não se limita à condição de mero coadjuvante musical. Vitor revela-se tão intérprete quanto Arnaldo, desdobrando o seu piano em muitas camadas e climas, dando a impressão de estar se ouvindo mais gente colocada ali no aquário do estúdio durante a gravação.

Aos poucos, depois do lançamento do álbum Lágrimas no Mar em setembro de 2021 (portanto, ainda naquele clima de incertezas vivido pelo lento arrefecimento do lockdown), Arnaldo e Vitor vão levando à estrada o show que a pandemia insistiu em adiar, agora com um repertório de canções ainda maior por conta do trabalho em conjunto. Nesta sexta, 17 de maio, é a vez de Florianópolis (clique aqui para mais informações sobre local, horário e ingressos). No sábado, a dupla se apresenta em Curitiba (clique aqui para mais informações sobre local, horário e ingressos). E o Mondo Bacana preparou abaixo oito motivos para você não perder a chance de assistir ao perfeito entrosamento entre Arnaldo Antunes e Vitor Araújo ao vivo.

Som do silêncio

Uma das ideias de Arnaldo ao apostar no formato de piano e voz ao vivo – ainda mais com as intervenções autorais de Vitor Araujo – foi justamente chamar a atenção para o momento das pausas. O intervalo, o interim, o pequeno espaço entre um som e outro, seja a sua voz ou de algum instrumento. Então, fazer a audiência poder desfrutar dos curtos instantes de silêncio também passa a ser um requinte que poder realçar o valor de uma canção – algo que seria quase impossível se estivesse ali com o vocalista uma banda inteira.

Piano autoral

A presença de um nome como Vitor Araújo significa perceber as canções – do próprio Arnaldo ou as releituras – de uma outra forma. O pernambucano assina o arranjo de todas as músicas para seu instrumento e se multiplica de uma forma pouco vista no terreno da música pop. Também apresenta ao gênero o piano preparado, que consiste na montagem de peças introduzidas entre as cordas, de modo que quando a pressão das teclas as fazem ressoar sejam produzidos efeitos sonoros inusitados e diferentes. Henry Cowell e John Cage são os principais nomes desta técnica.

Spoken word

Além da música, Arnaldo sempre foi bastante ligado ao mundo da poesia, chegando a fazer instalações e brincadeiras visuais com palavras e letras de canções para algumas exposições. Quase despido da instrumentação convencional da música pop, encontra um terreno ideal para injetar a leitura de alguns poemas entre uma música e outra do set list. Mas não espere que haja só a declamação por meio de sua voz. Vitor o acompanha criando efeitos e sonoridades que transforma tudo em um breve happening, tão visceral quanto o momento das harmonias e melodias.

Duas vezes Titãs

Claro que aqui não poderia deixar de ter a presença de faixas assinadas por Arnaldo para o repertório de sua ex-banda. A tensão da harmonia de “O Pulso” combinada à lista quase declamada de doenças e distorções do corpo e da mente é um dos momentos mais vibrantes do show. O arranjo elaborado por Vitor dá um novo gás à canção que sempre foi uma das favoritas dos fãs dos Titãs e foi muito bem recebida no resgate da recente turnê de reunião de seus integrantes da formação clássica. Já “Saia de Mim” tem as dissonâncias harmônicas das teclas de Araújo muito bem casadas com o vocal raivoso e gritado de Arnaldo, que parece expelir, na hora de cantar, as excreções corporais relacionadas em sua letra (suor, peido, vômito, escarro, espirro, pus, porra, sangue, lágrima, catarro). Tudo para chegar ao fim com a exclamação “saia de mim a verdade”.

“Fim de Festa”

Na releitura deste blues de pura fossa de Itamar Assumpção, Arnaldo e Vitor injetam um certo ar soturno, com a exploração de timbres graves (a linha contínua do baixo mais o vocal-tenor quase falado do paulista) e uma repetição mântrica propícia para o pernambucano criar alguns barulhos estranhos no arranjo, manipulando diretamente as cordas do piano no interior da cauda. Vale lembrar que o resgate da canção é mais uma referência ao período da pandemia, quando vários casamentos e namoros chegaram ao fim por conta justamente da incompatibilidade de gênios, modos e pensamentos reforçada pela intimidade extrema do isolamento social. Outra curiosidade: a gravação original veio outro disco criado em parceria entre São Paulo (Itamar) e Pernambuco (Naná Vasconcelos), lançado em 2004, um ano após a morte do cantor e compositor. O videoclipe oficial da faixa registrada em Lágrimas no Mar tem Rubi, neta de Itamar, fazendo a performance de dança.

“Manhãs de Love”

Composta por Arnaldo Antunes e Erasmo Carlos gravada pelo Gigante Gentil no álbum que leva justamente seu segundo apelido como título, em 2014. Faz parte do renascimento artístico do Tremendão, com uma sucessão de álbuns nos quais ele abriu seu leque de parceiros, indo bem além do costumeiro amigo de fé e irmão camarada Roberto Carlos. Este movimento fez com que o artista se aproximasse de uma nova geração de fãs, algo que continuou até a sua morte há dois anos. Faz dupla com “Fim de Festa” na cota de momento bluesy de dor-de-cotovelo neste trabalho parceira com Vitor Araújo. O piano, executado de modo mais tradicional, acentua a melancolia da letra.

Como 2 e 2

Composta por Caetano Veloso, gravada originalmente por Roberto Carlos e também bastante conhecida na voz de Gal Costa, a canção foi recriada por Vitor e Arnaldo para o álbum Lágrimas no Mar. Feita durante o período de maior repressão da ditadura militar no Brasil, sua letra expressa, recorrendo à matemática e alterando metaforicamente as suas certezas (e, claro, fazendo referência direta ao estado totalitário imaginado por George Orwell para o clássico livro 1984), a imprevisibilidade das coisas, seja na expressão dos sentimentos de qualquer pessoa ou mesmo na vida perante a uma sociedade que muitas vezes se transfigura no horror ao qual não desejamos para a gente. A manipulação da verdade – aqui, no caso de somar dois e dois e dar cinco como resultado – anda bastante em voga hoje em dia, em um mundo cheio de distorções provocadas por uma enxurrada diária de fake news, grande imprensa bastante tendenciosa e um bando de políticos que agem e dizem tudo de acordo com seus interesses e conveniências.

O Real Resiste

“Autoritarismo não existe/ Sectarismo não existe/ Xenofobia não existe/ Fanatismo não existe/ Bruxa, fantasma, bicho papão/ O real resiste/ É só pesadelo depois passa/ Na fumaça de um rojão/ É só ilusão, não, não/ Deve ser ilusão, não, não/ É só ilusão, não, não/ Só pode ser ilusão/ Miliciano não existe/ Torturador não existe/ Fundamentalista não existe/ Terraplanista não existe/ Monstro, vampiro, assombração/ O real resiste/ É só pesadelo depois passa/ Múmia, zumbi, medo/ Depressão, não, não/ Não, não/ Não, não, não, não/ Não, não, não, não/ Trabalho escravo não existe/ Desmatamento não existe/ Homofobia não existe/Extermínio não existe/ Mula sem cabeça, demônio, dragão/ O real resiste/ É só pesadelo depois passa/ Com um estrondo de um trovão/ É só ilusão, não, não/ Deve ser ilusão, não, não/ É só ilusão, não, não/ Só pode ser ilusão/ Esquadrão da morte não existe/ Ku Klux Klan não existe/ Neonazismo não existe/ O inferno não existe/ Tirania eleita pela multidão/ O real resiste/ É só pesadelo depois passa/ Lobisomem, horror/ Opressão, não, não/ Não, não/ Não, não, não, não/ Não, não, não, não”. Esta é a letra toda da canção criada durante o primeiro ano de desgoverno do inominável. É preciso dizer mais alguma coisa depois disso tudo?

Music

Sepultura – ao vivo

Grandiosidade da turnê de despedida e de comemoração dos 40 anos da mais famosa banda de metal do Brasil deixa Curitiba em êxtase

Texto e fotos por Rodrigo Juste Duarte

O Sepultura tem vários shows históricos em sua trajetória. Só em Curitiba podemos citar quatro ocasiões: o de 1994, na Pedreira Paulo Leminski, com Ramones, Raimundos e Viper; o de 1999, quando a banda lotou o Studio 1250 em uma das primeiras apresentações com Derrick Green nos vocais (muita gente aguardava com curiosidade para conferir a nova formação ao vivo!); e o de 2006, quando trouxe para a capital paranaense seu próprio evento, o Sepulfest (com abertura de Korzus, Massacration, Sad Theory e Children of Flames). Sem contar quando veio tocar na Ópera de Arame, durante a turnê do álbum Quadra em 2023.

A apresentação que rolou na Live Curitiba na noite de 22 de março deste ano também pode muito bem entrar nessa lista. Aliás, todos os shows que o Sepultura realizou e virá a realizar neste ano e no seguinte são históricos, em qualquer lugar do mundo. Eles fazem parte da tour Celebrating Life Through Death, que comemora os 40 anos de banda ao mesmo tempo que é a despedida do grupo dos palcos. Depois de sete datas iniciais pelo Brasil em março de 2024, a banda seguiu excursionando neste mês de abril por oito países das Américas Central e do Sul. Em setembro, será a vez de São Paulo, com três noites (duas delas já com ingressos esgotados!). Entre outubro e novembro serão 22 na Europa. E ainda vem muito mais por aí!

O horário marcado para começar na Live Curitiba era o das 21 horas, mas o show só teve início cerca de uma hora depois – provavelmente para dar tempo de todo o público entrar na casa, que recebeu mais de 3 mil pessoas naquela noite. A fila praticamente dava a volta na quadra. Enquanto se aguardava o momento de adentrar no recinto, era possível contabilizar mais de uma centena de estampas diferentes do Sepultura nas camisetas usadas pelos fãs: tinha de praticamente todos os álbuns, nas mais diversas fases do grupo (seja no thrash, death ou groove metal), incluindo as opções oficiais comemorativas de 20 e 40 anos de banda, inspiradas nos uniformes da seleção brasileira de futebol, atiçando boas lembranças de quem viveu estes mais diversos momentos. Claro que tinha quem vestisse camisetas de outros inúmeros artistas do rock e do metal, inclusive dos irmãos Cavalera e do Slipknot (seria uma provocação?). Havia até fã com camiseta do Sonic Youth. Mas isso é perfeitamente condizente (continue lendo e você saberá o porquê).

Já dentro da casa, o público aguardava ansiosamente pela subida ao palco de Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (vocais), Paulo Xisto (baixo) e do novo integrante Greyson Nekrutman (bateria), chamado para substituir Eloy Casagrande às pressas, poucos dias antes do início da turnê (leia mais sobre isso aqui). Estavam presentes de bangers de carteirinha a famílias inteiras. De roqueiros veteranos com cabelos ou barbas grisalhas (isso quanto aos que ainda têm cabelo), até jovens de vinte e poucos anos, entre homens e mulheres, de pele clara ou escura, que compunham uma diversidade bonita de se ver, mostrando uma plateia fiel há décadas mas que também passou por renovações. No som mecânico, clássicos do metal animavam o público até a hora de entrar “Polícia”, dos Titãs, em volume mais alto, anunciando que o show começaria. Essa música, que já foi regravada pelo Sepultura, antecede suas apresentações há pelo menos meia década. 

Em seguida veio uma intro com um mix de vários samples usados em músicas de toda a trajetória do Sepultura, até chegar no som da batida de coração de Zyon (filho de Max Cavalera) ainda no ventre materno, que anunciava “Refuse/Resist”, música de abertura que incendiou o público e deu o pontapé inicial em um espetáculo grandioso, Não só pela seleção sonora, mas pelo impacto visual: havia enormes paineis verticais de led (deviam ter 6 metros de altura) de cada lado do palco, além de cubos de led de cerca de 2 metros sobre o palco e outros telões acima e abaixo da bateria (que ficava elevada a uma altura considerável) exibindo imagens criadas para acompanhar cada música, intercaladas com cenas captadas ao vivo lá no show. Uma produção de grande magnitude, digna de uma banda com o cacife do Sepultura.

O repertório seguiu com mais duas de Chaos A.D., um dos álbuns de maior sucesso da banda: “Territory” e “Slave New World”, que mantiveram a adrenalina em alta na plateia. “Phanton Self”, do disco Machine Messiah veio em seguida, comprovando que as músicas mais novas não devem nada às lançadas em seus primeiros anos, quando Max Cavalera estava no grupo. O show foi se alternando entre clássicos e faixas mais recentes. Vieram na sequência: “Dusted”, “Attitude” e “Kairos”. A oitava, “Means To An End”, foi uma das provas de fogo para Greyson Nekrutman, pois se trata de uma música de Quadra, que possui linhas de bateria complexas, compostas por muitas partes. O garoto mandou bem, não somente nesta, mas em todas as demais do repertório.

“Cut-Throat” foi uma das cinco selecionadas do disco Roots, o voo mais alto que o Sepultura já teve em sua carreira. “Guardians Of Earth” veio logo depois, trazendo no telão imagens de povos indígenas brasileiros e de paisagens de seus habitats, tal como no belo videoclipe dirigido pelo curitibano Raul Machado, um dos maiores e mais produtivos “clipmakers” do Brasil. Em “Mind War” (do injustiçado trabalho Roorback) os telões traziam grafismos hipnóticos para acompanhar a música (assim como em “Kairos”, que também ganhou um acompanhamento visual chapante). 

Logo após ouviram-se as sirenes que pareciam ser da música “Born Stuborn”, de Roots, mas na verdade eram de “False”, de Dante XXI, álbum conceitual inspirado na obra literária A Divina Comédia, de Dante Alighieri. “Choke” trouxe lembranças do início da fase Derrick, sendo o primeiro hit de Against, de 1998. A nostalgia foi mais fundo com “Escape To The Void”, única de Schizophrenia, o segundo rebento da banda, que marcou a estreia de Andreas Kisser na formação mineira. 

De repente, os telões exibiam imagens de 1995, do Sepultura gravando com uma tribo xavante. Era o prenúncio de “Kaiowas”, primeira composição com temática indígena da banda. Nesta ocasião, dois sortudos subiram ao palco para tocar percussão e violão em uma verdadeira jam session tribal. Eles foram escolhidos entre o público pela equipe do canal Do Lado Direito do Palco, que acompanhou todos os shows desta primeira perna da turnê. Com certeza foi muito empolgante aos convidados que tiveram essa oportunidade, mas eu destacaria a fã que tocou no show de Porto Alegre (procure pelo vídeo dela no perfil do Instagram do canal, pois sua reação é digna de ilustrar a palavra “emoção” no dicionário).

Algumas pérolas que nem sempre são lembradas ganharam destaque no set, como o hino “Sepulnation”, a hardcore “Biotech Is Godzilla” e a contemplativa “Agony Of Defeat”, que deu um respiro antes dos cinco megaclássicos guardados para o final. “Troops Of Doom”, do álbum de estreia, proporcionou rodas de pogo na pista. O agito continuou intenso com “Inner Self” (introduzida no repertório, corrigindo uma ausência sentida nos primeiros shows da turnê), seguida da brutal “Arise”, um dos melhores exemplos do thrash metal de todos os tempos.

A banda saiu do palco, deu tchau para o público, mas todos sabiam que haveria um bis. Só que em Curitiba já sabemos do comportamento das pessoas em shows, que demoram pra pedir pra banda voltar, ficam moscando por dois ou três minutos… Até que alguém começou a puxar o grito com o nome da banda. Então, o Sepultura retornou para as duas músicas finais, ambas do consagrado Roots. A primeira foi “Ratamahatta”, que colocou todos para pular com palavras em português, como biboca, garagem, e favela, e exaltando nomes como Zé do Caixão, Zumbi e Lampião. 

Por fim, a apresentação encerrou-se magistralmente com “Roots Bloody Roots”, primeiro hit de uma obra revolucionária, que levou uma banda de metal vinda do Brasil a fazer enorme sucesso em todo o planeta, mostrando suas raízes e identidade nacional para o mundo e arriscando sonoridades até então nunca praticada no gênero. Um exemplo são os solos de guitarra justamente desta música “Roots Bloody Roots”, com apenas duas notas e com muita microfonia, deixando clara uma influência da clássica banda indie Sonic Youth, declarada em entrevistas – além de outras referências a artistas dos mais variados estilos, dos quais os músicos do grupo mineiro beberam e absorveram sonoridades diversas de forma rica e criativa. O Sepultura era uma banda que não se prendia às amarras e dogmas do metal, inovou o estilo e continuou muito influente. 

Após o fim da apresentação, a sensação era de êxtase e de satisfação do público presente. Alguns tentavam pegar baquetas, palhetas e set lists distribuídos pela banda e pela equipe de palco. Assim como havia uma música dos Titãs em som mecânico antecedendo os shows dessa turnê, também há uma canção oficial pós-show: “Easy Lover”, de Phill Collins, algo um tanto inesperado para uma banda de metal, mas adequado quando esta banda é o Sepultura, que tem integrantes com gostos bem ecléticos. Assim encerrou-se este que pode ter sido o último (e não menos histórico) concerto do Sepultura em Curitiba.

Set list:  “Refuse/Resist”, “Territory”, “Slave New World”, “Phantom Self”, “Dusted”, “Attitude”, “Kairos”, “Means To An End”, “Cut-Throat”, “Guardians Of Earth”, “Mind War”, “False”, “Choke”, “Escape To The Void”, “Kaiowas”, “Sepulnation”, “Biotech Is Godzilla”, “Agony Of Defeat”, “Troops of Doom”, “Inner Self” e “Arise”. Bis: “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”.

Music

Exodus

Oito motivos para não perder o show pelo do grupo americano que criou e consolidou o thrash metal ao lado de Anthrax, Slayer, Megadeth e Metallica

Texto por Daniela Farah

Foto: Tayva Martinez/Divulgação

Comecinho dos anos 1980. Se de um lado os britânicos jorravam bandas para uma nova onda no oceano de camisetas pretas, a tal da new wave of the british heavy metal, na costa oeste americana um bando de garotos empunhavam a bandeira de uma ousada e agressiva vertente metaleira. A mistura era de elementos como a velocidade e a potência do Motörhead, a atitude furiosa dos Sex Pistols e a complexidade de contemporâneos vindos do outro lado do Atlântico, tais quais o Iron Maiden e o Judas Priest. Assim, moleques que atendiam pela alcunha grupal de Metallica, Megadeth, Slayer, Anthrax e Exodus comandavam uma guinada radicalmente oposta a tudo o que apontava para uma bem sucedida popularização (financeira, claro!) dos sons pesados.

Este último é uma das atrações da edição 2024 do festival Summer Breeze Brasil, marcado para São Paulo entre 26 e 28 de abril (clique aqui para ler tudo sobre o evento). Antes, porém, o Exodus dá uma breve passadinha em outras duas capitais, tocando pela quinta vez em Curitiba no dia 22 (mais informações sobre local, horário e ingressos você tem clicando aqui) e chegando no dia 24 ao principal celeiro thrash nacional, Belo Horizonte (mais informações sobre local, horário e ingressos você tem clicando aqui). A atração de abertura é a Eskröta, banda do interior paulista (com formação dividida entre as cidades de Rio Claro e São Carlos) que vem ganhando destaque na cena com suas letras sobre resistência, feminismo e antifascismo.

Mondo Bacana preparou oito motivos pelos quais você não pode deixar de ver em ação a uma das referências máximas vindas da música de peso made in Califórnia.

Bay Area

Havia algo na água da baía de São Francisco, disso ninguém duvida. Exodus, Metallica, Slayer, Anthrax, Megadeth, Testament, são todos da mesma área e revolucionaram a música nos anos 1980. A facilidade do mundo do streaming permite que com um clique você escute ou até veja algum show dessas lendas. Mas nada se compara a participar de um concerto! Uma das belezas de ser audiência em uma noite é fazer parte daquele momento, in loco. E se você não pode beber a água direto da baía de São Francisco, o Exodus a traz na porta de casa.

Good, Friendly, Violent, Fun

Apesar de uma imensa discussão pairar sobre a primeira onda do thrash metal (quem a criou e quem fazia parte dela), é fato que Kill’ Em All, début do Metallica em 1983, é considerado o marco oficial. O Exodus também entra nessa “briga, já que a banda teve seu embrião formado anos antes, em 1979, por Kirk Hammett guitarra) e Tom Hunting (bateria). Ele só não entra no tão temido big four porque seu álbum só foi lançado em 1985, mediante uma estratégia da gravadora, que preferiu esperar até que o thrash estivesse consolidado. Segundo o guitarrista Gary Holt, integrante desde 1982, o lema do Exodus é Good, Friendly, Violent, Fun (ou, em tradução para a língua portuguesa, Bom, Cordial, VIolento, Engraçado). Em 1991 eles transformaram o slogan no título do primeiro álbum gravado ao vivo.

Gary Holt

Ele era apenas um roadie quando começou a se envolver com o Exodus. Aprendeu guitarra com Kirk Hammett (há tempos no Metallica) e na primeira oportunidade que surgiu, com a saída de Tim Agnello, veio para a banda em 1982. Holt não só passou a fazer parte, mas ele também se tornou a mente criativa por trás dos trabalhos autorais do Exodus, que começaram um ano antes. Mostrando que de poser ele nunca teve nada, Gary vive a cena até hoje, inclusive ouvindo novas bandas que surgem, apesar de se considerar um “vovô metal”. O guitarrista também tocou no Slayer, quando substituiu Jeff Hanneman, que contraíra fasceíte necrosante, segundo ele, por uma picada de aranha. A substituição seria coisa rápida, mas durou 10 anos (!!!). Tudo isso faz de Gary Holt uma lenda viva da primeira onda thrash.

Tom Hunting

O baterista foi um dos fundadores oficiais do Exodus. Ele tocou nos álbuns Bonded By Blood (1985), Pleasures Of The Flesh (1987) e Fabulous Disaster (1989), antes de sair por motivos de saúde e ser substituído por John Tempesta – nisso, ele foi e voltou algumas vezes. Tom se destaca como um componente essencial da paisagem sonora do Exodus, por sua precisão, velocidade implacável e volume ensurdecedor. Curou-se de um câncer recentemente e tem comemorado sua vitória tocando para os fãs. A verdade é que não dá pra perder de um músico desse naipe.

Bonded By Blood

Lançado em 1985, foi eleito um dos melhores álbuns de metal do mundo. Como o Exodus era uma banda muito conhecida pelos seus shows na época, o primeiro disco não foi novidade – e ainda reza a lenda que muita gente já tinha uma cópia pirata dele. Hoje a obra se tornou histórica, não pode faltar na coleção de qualquer thrasher que se preze (a não ser que seja um poser!). O melhor é que a faixa-título junto sempre aparece nos set lists, ao lado da clássica aula “A Lesson in Violence”.

“Toxic Waltz”

A faixa faz parte de Fabulous Disaster, segundo álbum do Exodus, lançado em 1989. Quando a compôs, Gary Holt queria uma música que representasse “o que os fãs fazem nos shows”. “Aqui está uma nova dança maníaca que está varrendo a nação/ Chama-se valsa tóxica e está causando devastação”. O responsável pela letra foi o vocalista Steve “Zetro” Souza (que também vem agora ao Brasil) e ele quis fazer uma brincadeira, uma paródia com essa coisa das bandas dos anos 1960 venderem novas modas na época. Mas Gary adorou isso e o público também! Então, ela se tornou uma música que o Exodus não pode ficar sem tocar ao vivo.

Persona Non Grata

Saindo de um hiato de sete anos, Exodus lançou recentemente finalmente um novo álbum, para a alegria dos seus fãs. Persona Non Grata chegou ao público em 19 de novembro de 2021 e a banda mostrou que ainda tem muita lenha para queimar em seu décimo primeiro álbum. “Prescribing Horror”, “The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)”, e “R.E.M.F.” vem sendo executadas nos últimos set lists da turnê. Qual delas chega por aqui?

Summer Breeze Brasil

Uma das razões para o Exodus vir novamente ao Brasil é porque o grupo faz parte do line up da versão tupiniquim do famoso festival alemão. O evento será realizado no próximo fim de semana em São Paulo, mas algumas bandas resolveram agradar aos fãs e agendaram outros shows no país. Assim, Curitiba e Belo Horizonte foram as locações escolhidas para esse show “solo” tão especial. Será a quinta passagem pela capital paranaense, o que mostra um grande apreço do Exodus pelo seu público daqui. E BH, bem… dá para dizer que lá foi o grande celeiro de bandas brasileiras adeptas do thrash metal, por causa do selo Cogumelo e do início fonográfico arrasador do Sepultura.

Music

Placebo

Oito motivos para não perder o único show que será feito em março no Brasil durante a nova turnê de Brian Molko e Stefan Olsdal

Texto por Abonico Smith

Foto: Divulgação

Demorou quase uma década mas, enfim, terminou o tempo de espera. Faltam poucos dias para o Placebo voltar a pisar e tocar no Brasil. Brian Molko e Stefan Olsdal – acompanhados por quatro músicos como apoio no palco, inclusive pelo baixista e tecladista Bill Lloyd, que acompanha a banda desde a os primeiros anos de carreira, também já tendo feito as vezes de tour manager e empresário – chegam por aqui em um momento muito especial. Afinal, em 2024 comemoram os trinta anos de uma carreira sólida e consistente, repleta de hits e marcada pela conquista de uma legião mundial de fãs bastante fiéis.

A nova passagem por aqui será um único show, marcado para São Paulo. Portanto, há apenas uma oportunidade para não perder o encontro com o grupo que, embora tenha sonoridade mais pesada e nem tão retrô quanto alguns de seus contemporâneos mais famosos, foi revelado no bojo da explosão do britpop nos meados dos anos 1990.

Por isso, o Mondo Bacana dispara aqui oito motivos pelos quais você precisa estar presente no Espaço Unimed na noite de 17 março vindouro (endereço, horários, ingressos e demais informações oficiais sobre o evento você pode ter clicando aqui).

Dupla dinâmica

Eles se conhecem desde a infância, quando estudavam simultaneamente (mas não interagiam, já que a diferença de idade de ambos é de dois anos) na Escola Internacional de Luxemburgo. O belga Brian Molko (guitarra, violão, teclados e vocais) e o sueco Stefan Olsdal (baixo, guitarra, violão, teclados e backings ao vivo) só passaram a trocar ideias mesmo quando, já bem crescidos e residindo em Londres, encontraram-se em uma estação de metrô. Conversa vai e conversa vem, não se separaram mais. Passaram a compartilhar o gosto em comum pela música, especialmente bandas alternativas norte-americanas como Nirvana, Sonic Youth e Pixies. Fundaram o Placebo em 1994 e já no ano seguinte apresentaram o primeiro single, com a canção “Bruise Pristine”. Ela foi incluída no álbum de estreia, que veio à luz meses depois. “Teenage Angst”, “Come Home”, “36 Degrees” e “Nancy Boy” também ganharam singles e se tornaram outros sucessos iniciais do então trio – revezavam-se nas baquetas o também sueco Robert Schultzberg e o inglês Steve Hewitt, que tornou-se membro fixo de Placebo (1996) até Meds (2006), quando foi “ejetado” por ter a relação com a dupla desgastada em demasia durante as gravações em estúdio.

Desajuste social

Se você não se sente inserido em padrões da sociedade, seja sexual, comportamental ou mesmo referente a questões da saúde mental, as letras escritas por Brian Molko certamente te representam. A cada disco, o vocalista parece ampliar ainda mais o leque de temáticas sobre distúrbios e a incapacidade de sentir uma pessoa “normal” e não sofrer, de alguma maneira, por isso. Talvez seja este, então, o grande segredo de sucesso e longevidade do Placebo. Afinal, a figura sempre andrógina do próprio Molko é a representação visual de seus versos, o que vem facilitando uma identificação muito rápida de novos fãs nestas três décadas de trajetória da banda.

Selected

Boa parte destas letras das canções foi compilada pelo próprio autor delas para o livro Selected, que recentemente teve disponibilizada a sua segunda edição (em capa dura) em comemoração pelos 30 anos de carreira da banda. São 156 páginas que incluem ainda uma foto, prefácio escrito pelo próprio Brian Molko e 18 novas faixas adicionadas à leva original, totalizando 92. Você tinha três opções de modelos para comprar: não  autografado, autografado (à mão) e personalizado para você (sim, com nominho e tudo escrito também à mão por Molko). Entretanto, as duas últimas opções já estão esgotadas. Custa 25 libras e a aquisição é diretamente pelo site oficial do Placebo (clique aqui).

Discos ao vivo

Depois de ficar um bom tempo sem fazer turnês, foi só cair na estrada de volta para trazer uma bela novidade aos fãs. O vinil branco transparente duplo Collapse Into Never: Placebo Live In Europe 2023 é, de fato, o primeiro disco gravado ao vivo por Brian e Stefan, capturando a atmosfera de palco da banda – a única experiência fonográfica anterior foi extraída de um especial Acústico MTV produzido especialmente para a filial europeia da emissora de televisão norte-americana. Traz, de cabo a rabo, a apresentação realizada em um festival espanhol no início do ano passado. Só que este álbum não é a única novidade vinda em dezembro agora. Placebo Live é um box formado por mais outros dois registros ao vivo, além de Collapse Into Never. Editado no formato blu-ray, This Is What You Wanted também veio da atual turnê – desta vez durante a passagem de Molko e Olsdal pela Cidade do México, também ocorrida em 2023. Já o terceiro, o CD Live From The White Room, saiu de faixas do último álbum executadas pela banda no Studio One do complexo de estúdios para audiovisual que fica em Twickenham, subúrbio do sudoeste de Londres (estes vídeos estão sendo utilizados pela banda como clipes oficiais, aliás). Então, quem não se importa com spoilers e gosta de saber com antecedência o que deverá encontrar no momento de assistir ao show aqui no Brasil, então, tem a chance de mergulhar fundo na antecipação e não se deparar com surpresas.

Never Let Me Go

O Placebo é uma banda metódica com relação a discos e turnês. Grava um novo álbum e sempre reserva um bom tempo para viajar divulgando as novidades – e por causa disso boa parte do repertório sempre vem da safra mais recente de canções. Molko e Olsdal não são muito de manter a banda na ativa com concertos sem pensar nos fãs e em dar novidades a eles. Lançado em 2022 e fruto do isolamento social antecedente, Never Let Me Go interrompeu o maior hiato entre uma obra e outra do grupo. Foram nove anos passados desde o título anterior. Reflexos de medos e inseguranças que vieram com a pandemia refletiram numa sonoridade bem mais pesada e pungente do que a apresentada em Loud Like Love (2013). E isso também se reflete na execução ao vivo. Por isso, a presença de oito ou nove faixas novas no set list deve ser celebrada e bem aproveitada. Quatro delas foram lançadas como singles: “Beautiful James”, “Sorrounded By Spies”, “Try Better Next Time” e “Happy Birthday In The Sky”.

Tears For Fears

Pragmatismo também faz parte da personalidade do Placebo. Quem acompanha a banda faz tempo sabe bem que em seus shows sempre aparecem covers bem interessantes – a ponto de dez deles terem sido compilados em um disco de mesmo nome lançado em 2023. A releitura preparada para a atual turnê homenageia outra dupla, o Tears For Fears. Sempre que voltam para o bis, Brian e Stefan entoam um dos hinos do pop britânico dos anos 1980. “Shout” começa com o disparo de uma percussão eletrônica similar à da gravação original de Roland Orzabal e Curt Smith. Em virtude da característica mântrica da canção, que repete várias vezes o curto e poderoso refrão, também faz com que o restante do arranjo também não seja tão diferente assim. A grande novidade fica no timbre peculiar da voz de Molko comandando a letra.

Kate Bush

“Running Up That Hill (A Deal With God)” foi gravada para ser a faixa de abertura do álbum Covers, que pinçava outras releituras extraídas de lados B de singles e DVDs, trilhas sonoras de filmes e alguns-tributos. A faixa, transformada em synthpop intimista, também foi lançada em compacto e também aparece no disco duplo A Place For Us To Dream (2016), com 36 das músicas mais conhecidas e celebradas do repertório do Placebo. Detalhe: tudo isso bem antes da série Stranger Things utilizar a clássica versão original de Kate Bush em sua trilha sonora e fazer a cantora virar febre, capas de revistas e número um das paradas nos EUA pela primeira vez na vida. O que já era cultuado na versão sussurrada por Molko, então, virou uma boa peça para a renovação de público e atrair como fãs uma horda de nerds mais novos espalhada pelos quatro cantos do planeta. Muitos deles que sequer tinham ouvido a banda anteriormente. E, claro, esta cover também está incluída no bis dessa turnê.

Big Special

Não é nada grande, não é nada especial. O antislogan utilizado por esta banda de abertura serve bem para ilustrar o bom humor desta dupla inglesa, escolhida a dedo pelo Placebo para fazer os concertos de abertura das escalas sul-americanas da atual turnê. E as performances são bastante cruas: contam só com o vocalista Joe Hicklin e o baterista Callum Moloney, também responsável pelos backings e pelo disparo das bases pré-gravadas com baixos distorcidos, guitarras e sintetizadores que completam o arranjo das músicas. A sonoridade percorre a crueza a visceralidade do punk com toques de spoken word. PostIndustrial Hometown Blues é o nome do álbum de estreia recém-lançado. No que depender de faixas como “This Here Ain’t Water”, “Shithouse” e “Desperate Breakfast” não tem como não sair impactado pela performance.

Music

Men At Work – ao vivo

Colin Hay traz a Curitiba a nova formação da histórica banda para saciar a sede de nostalgia de muitos fãs, inclusive de quem não viveu aquela época

Texto por Daniela Farah e Abonico Smith

Foto de Janaina Monteiro

A chuva copiosa que caiu na capital paranaense na noite desta última terça-feira, dia 20 de fevereiro, não foi impeditivo para a rua Itajubá ficar intransitável. Muita gente andando, ambulantes, carros, havia de tudo um pouco. Era o efeito Men At Work, que mobilizou um público ansioso por um punhado de clássicos. Com o mercado de shows ainda aquecido após a pandemia, o público, afinal, tem feito muito bem a sua parte, sobretudo quando se trata de apresentações de artistas internacionais.

A partir das 21h o palco da Live Curitiba ficou tomado por uma aura de classic rock. Mais precisamente um pop misturado com tons de reggae e pós-punk. Ou seja, aquela beleza do comecinho dos anos 1980. O guitarrista e vocalista Colin Hay, o australiano que naquela época tomou de assalto as paradas dos Estados Unidos – e consequentemente do resto do mundo – é o único remanescente do grupo original. O tecladista, saxofonista e flautista falecido em 2012, Greg Ham, era seu fiel escudeiro. Foi com ele que foi retomada a trajetória do grupo após a primeira parada, em 1985. Com ele que Colin fez algumas idas e vindas e mantinha, de tempos em tempos, a chama do MAW acesa.

A mais recente empreitada ocorreu em 2019, um pouco antes da covid-19 paralisar o planeta por um bom tempo. Agora, pela primeira vez, a nova formação embarcou para uma turnê sul-americana, com três paradas pelo Brasil (Rio, Curitiba, Sampa). Quem acompanha o frontman agora é um time tecnicamente de peso. A começar pela carismática cantora peruana Cecilia Noël, que dividia as comunicações com público e até, de certa forma, incentivava Hay. Scheila Gonzalez, multiinstrumentista californiana e ganhadora de um Grammy, brilhou nos solos de saxofone. Tem ainda três cubanos: o baterista Jimmy Branly, que já tocou com uma longa lista de gente boa, incluindo Michael Bublé; o guitarrista premiado e parte da nova geração do Buena Vista Social Club, San Miguel Perez; e o baixista Yosmel Montejo, que também já tocou com muita gente talentosa, incluindo a nova lenda do jazz Kamasi Washington.

“Can’t Take This Town”, a quarta da lista, era uma das canções mais esperadas da noite, mesmo tendo sido pinçada da carreira solo de Hay, iniciada logo após a dissolução do MAW. Pouco tempo depois, “Everything I Need” foi uma grata surpresa, muito bem recebida pelo público, que filmou, cantou e fez coro. Como ela não esteve no show anterior, realizado no Rio de Janeiro, as expectativas para que ela – a única faixa do terceiro e último álbum de carreira do MAW, de 1985, época em que as relações internas já estavam desmoronando – aqui estivesse, em Curitiba, eram baixas. Na sequência, “Blue For You” trouxe um clima dançante e leve. A próxima não empolgou muito e “I Can See It In Your Eyes” foi a escolhida para pegar bebidas, ir ao banheiro e, claro, atualizar as redes sociais. Já na metade do set list, “Dr. Heckyll & Mr. Jive” dividiu opiniões no local. Mas mesmo quem não a conhecia parou para prestar atenção assim que Colin dedicou a música a Greg Ham.

A comunicação era frequente, só que cada comentário, fosse do Colin ou da Cecília (que estava muito comunicativa, especialmente pela proximidade do português com o espanhol), tinha seu som anulado pela emoção dos fãs. Aliás, falando neles, o público era bem eclético. Pessoas de todas as idades e estilos estavam lá sedentas por nostalgia, a maioria daquilo que não viveu ou nem chegou a presenciar direito. “Muito obrigado!”, disparou o fundador da banda, abafado por gritos e aplausos, logo após “No Sign Of Yesterday”.

Uns minutos de escuridão antecederam um dos picos da noite. O público ficou em silêncio até se explodir em gritos com os primeiros acordes de “Who Can It Be Now?”. A luz acendeu para que a banda pudesse ver todo mundo cantando o refrão. Três outros grandes hits do MAW acabariam ficando lá para o final e numa sequência só. Seria esta, então, a hora da plateia se deliciar com “Overkill”, “It’s A Mistake” e “Down Under”.

Eles agradeceram e saíram do palco. Voltaram e dessa vez cantando parabéns para os sortudos que estavam fazendo aniversário, inclusive o produtor que trouxe o show às três cidades brasileiras. Ainda faltava hit na manga, um deles vindo da carreira solo pós-MAW. “Into My Life” levou todo mundo a dançar, junto com “Be Good Johnny”, que Colin adora tocar por fazê-lo lembrar bastante, novamente, do amigo falecido. Os músicos agradeceram, tiraram aquela tradicional foto e saíram. E para valer. Restou a quem ficou por lá curtir mais nostalgia. Desta vez, a do show recém-visto.

Set list: “Touching The Untouchables”, “No Restrictions”, “Come Tumblin’ Down”, “Can’t Take This Town”, “Down By The Sea”, “Everything I Need”, “Blue For You”, “I Can See It in Your Eyes”, “Dr. Heckyll & Mr. Jive”, “No Sign Of Yesterday”, “Who Can It Be Now?”,  “Underground”, “Catch A Star”, “Upstairs In My House”, “Overkill”, “It’s A Mistake” e “Down Under”. Bis: “Into My Life” e “Be Good Johnny”.