Music

Coolio

Oito motivos para lembrar sempre o rapper californiano que estourou no mundo todo em 1995 com o hit “Gangsta’s Paradise”

Texto por Abonico Smith

Foto: Reprodução

Já era tarde da noite do dia 28 de setembro no Brasil quando chegou a notícia da morte do rapper Coolio. Postada por seu empresário em redes sociais, a nota não dizia a causa mortis mas contava que o artista fora achado desacordado em Los Angeles, no banheiro da casa de um amigo, que chamou, sem muito sucesso, os paramédicos.

Coolio tinha 59 anos de idade e deixa seis filhos. Ele continuava na ativa, fazendo shows e gravando esporadicamente. Sua discografia tem três álbuns, sendo o período de maior sucesso os meados dos anos 1990, quando estourou nas rádios e MTVs do planeta todo com o hit “Gangsta’s Paradise”. Contemporâneo de grandes e populares nomes do hip hop – como Dr Dre, Ice Cube, 2pac Shakur, Notorious BIG, MC Hammer e vanilla Ice – foi justamente com este com quem fizera sua última apresentação ao vivo, uma semana antes. Seu pseudônimo, segundo reza a lenda, veio de uma tentativa mal sucedida de cantar em um evento uma música gravada pelo cantor romântico espanhol Julio Iglesias. Daí veio o apelido, dado por amigos, de Coolio Iglesias.

O Mondo Bacana homenageia este grande rapper – que também foi ator bissexto – com oito bons motivos para lembrar-se sempre dele.

Cria de Compton

Quem conhece a história do grupo de hip hop NWA sabe muito bem a barra pesada que é viver nesse bairro negro de Los Angeles. Algumas das letras de suas canções e a história contada na cinebiografia mostram toda a dor e sofrimento do dia a dia na pobreza aliada a uma grande violência interna, muito disso alimentado por intervenções da polícia. Coolio também veio de lá. Nascido Artis Leon Ivey Jr, ele é contemporâneo do pessoal do NWA. Mas antes de se estabilizar na carreira artística trabalhou como segurança do aeroporto de LA e ainda alistou-se como bombeiro voluntário para combater as queimadas que assolam a região regularmente quando chegam as altas temperaturas. Ralou bastante para ganhar grana até ver a fama chegar por meio da música.

Tommy Boy

Uma das marcas de excelência no hip hop norte-americano dos anos 1980 e 1990 é da gravadora Tommy Boy Records. Selo fundado em 1981 por um judeu nova-iorquino de nome Tom Silverman, a iniciativa formou anos depois uma parceria com a major Warner e fez decolar a carreira de um monte de gente bacana e importante de seu elenco. Só para citar alguns nomes: Stetsasonic, Force MDs, Afrika Bambaataa, Queen Latifah, De La Soul, Digital Underground, Naughty By Nature, House Of Pain e Coolio. Este assinou contrato em 1994, dando início à carreira solo após alguns anos participando do grupo WC & The Maad Circle. Por lá gravou e lançou três álbuns, justamente sua fase de maior popularidade e sucesso comercial.

Stevie Wonder

Songs in the Key of Life, de 1976, é uma das obras mais aclamadas do cantor e compositor revelado pelo icônico selo Tamla-Motown. Décimo oitavo álbum de estúdio da carreira, esse disco representou uma fase bastante prolífica de Stevie. Ele jorrava tanta criatividade na época que não parava de compor para o disco. Tanto que gravou (e chegou a tocar quase todos os instrumentos no estúdio) 21 faixas, que foram todas lançadas de um modo nada usual: 17 entraram num vinil duplo e as restantes ficaram para um compacto de 7 polegadas que vinha acompanhando o álbum. A terceira faixa do lado B do primeiro disco, Pastime Paradise, é a grande responsável pelo estouro da carreira de Coolio. Uma das primeiras músicas a usar um sintetizador Yamaxa GX-1 soando como toda uma orquestra de cordas, a canção faz reflexões sobre materialismo e egocentrismo, falando em um tal de “paraíso de passatempo”. Sampleada com a voz e a letra reescrita por Coolio, virou “Gangsta’s Paradise”. Incialmente Wonder não havia visto a ideia dos novas versos com bons olhos, mas depois de pedir para reescrever alguns trechos mais pesados e tirar os palavrões, deu a liberação para o lançamento da faixa. E até cantou com Coolio e LV (que faz os vocais dos trechos mais melódicos da letra) numa apresentação ao vivo durante a cerimônia do Billboard Awards.

Gangsta’s Paradise

Single lançado no primeiro dia de agosto de 1995 para ser o chamariz do filme Mentes Perigosas, que chegou às telas dez dias depois. Os versos escritos por Coolio, LV e o produtor Doug Rasheed fazem menção ao duro cotidiano de um jovem na periferia negra de Los Angeles, sem muita perspectiva de longevidade na vida e cercado de violência por todos os lados. O que, certamente, quase vinte anos depois, traz uma evolução de sentidos e significados para o que Stevie Wonder cantava em “Pastime Paradise”. Mantendo a dramaticidade das cordas e mantendo a dinâmica crescente do coro gospel também registrado na faixa original, a gravação caiu como uma luva para ser a música-tema do filme. Não à toa foi o single mais vendido daquele ano nos EUA, conquistando depois muitos prêmios, inclusive o Grammy. Na Europa, liderou a parada de diversos países. No videoclipe, dirigido por Antoine Fuqua (que começou assinando clipes e depois passou para longas-metragens e episódios de seriados), Pfeiffer faz participação especial.

Mentes Perigosas

Drama protagonizado por Michelle Pfeiffer e produzido pela mesma dupla responsável por blockbusters como FlashdanceUm Tira da Pesada e Top Gun: Ases Indomáveis,  que mostra a difícil relação entre uma professora branca e seus alunos adolescentes em uma escola situada no subúrbio latino e afro-americano da Califórnia. Os garotos, todos de classe média baixa, envolvidos com gangues e o tráfico e consumo de drogas, aos poucos vão sendo conquistados pela doçura e habilidade da mestra em usar poesia, música, Bob Dylan e muito afeto, muito carinho. Assim ela vai trazendo-os para seu lado pouco a pouco. O principal problema é um aluno chamado Emilio Ramirez, cuja vida corre sérios riscos. Entretanto, é justamente em torno do que vai acontecendo com ele que vai se desenrolando boa parte da trama e das reviravoltas.

Fantastic Voyage

Um ano antes do estrelato obtido com “Gangsta’s Paradise”, Coolio lançou seu primeiro álbum, batizado It Takes a Thief. O single de maior sucesso deste disco foi o terceiro, “Fantastic Voyage”. O clipe – que traz uma ponta de B-Real, do Cypress Hill – traz uma história surreal: gira em torno de uma viagem do vocalista e sua trupe a bordo de um Impala conversível de 1965 que era uma bicicleta azul e depois volta a sê-la.

C U When U Get There

Último grande hit de Coolio durante seu tempo na Tommy Boy. A faixa, de 1997, foi construída em cima de uma melodia-base do alemão Johann Pachelbel, compositor barroco que viveu no século 17. Seu “Canon em Ré Maior” foi criado originalmente para três violinos, baixo contínuo e uma giga (dança barroca popular na Inglaterra e na França). Coolio, através de seu canto falado de versos emocionantes colocado em uma batida eletrônica lenta e entremeados por um refrão intenso com direito a coro gospel.

Kurt Cobain

Como muitos rappers norte-americanos, Coolio era louco pelo líder do Nirvana. Ao ver o clipe de “Heart-Shaped Box”, ele botou na cabeça de querer fazer, um dia, uma colaboração com Kurt. Contudo, não houve muito tempo para alimentar o sonho, com a morte do ídolo em abril de 1994. Para o site da revista Spin, em uma entrevista realizada em 2014, Coolio comentou sobre o peso que as drogas fazem na pessoa deprimida e o péssimo hábito de família e sociedade não dares a mínima para isso no momento que estas pessoas mais precisam de ajuda. E ainda se colocou no lugar do Kurt justamente por ter, em um passado não muito distante, mergulhado no uso de cocaína.

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Popload Festival 2022

Oito motivos para não deixar de assistir ao evento, que volta após a pandemia e estreia uma nova sede em São Paulo em outubro

Jack White

Texto por Camila Lima e Abonico Smith

Fotos: Divulgação/David James Swanson (Jack White) e Divulgação/Travis Shinn (Pixies)

Este ano o Popload Festival traz duas grandes novidades. Primeiro, uma alteração de data. Habitualmente realizado no dia da proclamação da república (15 de novembro), o evento agora muda o mês do calendário e passa para outro feriado nacional: 12 de outubro (Dia de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do país). A segunda mudança é a do local: agora os shows se darão no Centro Esportivo Tietê, parue na região central da cidade de São Paulo. O que não muda é sua escalação afiada, que junta grandes nomes do indie (seja o pop, seja o rock) internacional. O line-up de 2022 conta com sete atrações no total: Jack White, Pixies, Cat Power, Years & Years, Chet Faker, a cantora brasileira Jup do Bairro e a banda argentina Perota Chingó. Mais informações sobre ingressos, local e outras particularidades do festival você encontra clicando aqui.

Mondo Bacana manda agora oito (bons) motivos pelos quais você não deve perder, de jeito nenhum, a volta do festival após dois anos em suspensão por causa da pandemia da covid-19.

Line-up de peso

Badalado festival de música indie pop do Brasil, o Popload sempre entrega no que diz respeito ao line-up. Desde sua edição de estreia em 2013, que contou com a apresentação do trio inglês XX, o evento já trouxe nomes como Iggy Pop, Blondie, Patti Smith, MGMT, Raconteurs, Lorde, Belle & Sebastian, Spoon, Wilco, Hot Chip, Libertines, PJ Harvey, Metronomy, Tame Impala e Little Simz, além de grandes artistas nacionais como Céu, Liniker, Boogarins, Rodrigo Amarante, Emicida, CSS e Letrux. Neste ano não poderia ser diferente: os lendários Pixies e o gigante Jack White seguram, ambos, a função de headliner do dia. 

guitar hero Jack White

Após ter marcado a cena do rock no início dos anos 2000 com o White Stripes ao lado da ex-esposa e “falsa irmã” Meg White, o americano se tornou um dos grandes guitarristas da atualidade. Em uma época onde as seis cordas pareciam ter caído em desgraça no rock, sendo preteridas por picapes, computadores e sintetizadores, virando símbolo de um formato sonoro tido com decadente. Entretanto, Jack White sempre teve seus trunfos guardados na manga. A faceta hard rock é apenas uma de suas múltiplas armas, já que sempre investiu em elementos como o blues e o country nos discos gravados como o frontman da dupla.

Jack analógico forever

Após o fim da banda, em 2011, o artista focou sua trajetória musical na carreira solo, agora trocando o vermelho como cor base da estética para o azul. De lá para cá já lançou cinco bons álbuns, sendo dois somente neste ano (Fear Of The Dawn e Entering Heaven Alive), todos através pelo seu próprio selo. Aliás, como o grande chefe da Thrd Man Records, vem proporcionando um grande deleite auditivo e visual para pesquisadores, curiosos e amantes da boa música alternatuva. Apaixonado que é pelo analógico, produz documentários interessantes sobre guitarra e questões técnicas de gravação antigas e um tanto quanto demodé. Lança discos muitos artistas alternativos, obscuros e resgatados do limbo fonográfico. Grava todos os shows que faz em turnê e disponibiliza o áudio oficialmente. E ainda ostenta na sede de sua “corporação” uma voice-o-graph restaurada. Datada de 1947, esta cabine permite que a pessoa entre lá; cante, fale e toque qualquer coisa; e já saia com um compacto em vinil prensado com o resultado sonoro de segundos atrás. Algo eatamente do tipo que fez Sam Phillips, dono da Sun Records, descobrir um desconhecido garoto de nome Elvis Presley em janeiro de 1955. Ah, sim! Jack ainda ativa de vez em quando seus grupos bissextos Dead Wheather (onde toca bateria, para Alison Mosshart, do Kills, assumir os vocais) e Racounteurs (no qual dividie guitarras e vocais e composições com Brendan Benson).

Pixies

Pixies old school

Foram apenas cinco anos (entre 1987 e 1992), mas tempo suficiente para o grupo enfileirar quatro álbuns e um EP poderosos e se transofrmar em um nome dos mais influentes do indie rock norte-americano dos anos 1980. Suas letras um tanto quanto surreais, muitas delas inspiradas por passagens da Bíblia ou da mitologia embaladas por um quê de surf music e arranjos que alternavam calmaria (estrofes) e explosões (refrão) conquistaram muito fãs que acompanharam a solidificação do cirucito alternativo de selos, college radios e shows pequenos ao redor das cidades universitárias. Kurt Cobain gostava tanto que levou ao Nirvana o esquema de estruturação de sequências entre estrofes e refrão na hora de conceber o todo-poderoso álbum Nevermind. O Pixies interrompeu as atividades em 1993, por decisão de seu mentor e vocalista Black Francis, só voltando a subir nos palcos em 2004. De lá para cá, o repertório mágico desta primeira fase compõe a ampla maioria de qualquer set list. Para delírio dos fãs.

Pixies hoje em dia

Muita gente pode dizer a banda nào é a mesma sem o carisma da baixista original Kim Deal (que optou por sair do grupo para cuidar de sua mãe doente). Ledo engano. A atual integrante, a argentina Paz Lenchantin (que já tocou no A Perfect Circe e no Zwan, grupos alternativos alternativos comandados respectivamente pelos vocalistas do Tool e do smashing Pumpkins), é uma excelente multi-instrumentista e possui tanto carisma quanto a antecessora – diferentemente do desleixo cool de Kim, ela é superestilosa nas roupas e ainda se encaixou com perfeição na distribuição de vocais com Francis. Muita gente também pode sair por aí afirmando que os ábuns criados e lancados nesta segnda fase (também são quatro, entre 2014 e 2022) nem de longe batem os outros mais clássicos. O que não é verdade em termos. Tudo bem, não há um Surfer Rosa(1988) ou um Doolittle (1989) aqui, mas muita faixa mais recente honra com dignidade o passado quase perfeito dos Pixis. O mais recente, Doggerel, sairá agora em outubro: pirtanto, o timing perfeito para se conhecer em “quase primeira mão” alguma faixa que venha a pintar no palco do festival.

Cat Power

Chan Marshall já tem trinta longos anos de carreira. Destacou-se no meio indie americano nos anos 1990, já utlizando o pseudônimo de Cat Power e lançando bons discos pelo badalado selo Matador. Depois, diversificou sua sonoridade de guitarra se violões gravando The Greatest (2006) um álbum bastante influenciado pelo soul e contando, na banda de apoio, com renomados músicos da velha guarda de Memphis, Tennessee (cidade da famosa rua boêmia Beale Street, frequentada pela comunidade negra dos arredores). Durante todo este tepo também cristalizou a fama de artista errática em suas performances ao vivo. Tudo depende de como estáo humor e seu estado mental no dia: a apresentação pode variar do sofrível ou regojizo memorável. Quando esteve em uma edição passada do Popload, Chan levou a plateia ao delírio, sentada ao piano. Espera-se bastante que repita a good vibe de sua estreia no evento. 

A volta de Chet Faker

O músico Nick Murphy alcançou a fama em meados de 2011, quando ainda era conhecido pelo pseudônimo Chet Faker. Sua releitura de “No Diggity” conquistou a internet, ao lado de hits como “I’m Into you” e “Love and feeling”. Seu primeiro álbum, Built on Glass, lançado em 2014, contou com uma ótima recepção da crítica.  Em 2016, decidiu abandonar o alterego e passou a assinar seus trabalhos com o próprio nome, mantendo esse projeto até hoje. Seu mais recente lançamento enquanto Nick Murphy é o álbum Take In The Roses, de 2021. Para nossa sorte, no entanto, 2021 também foi o ano no qual o artista decidiu reviver a velha alcunha com a produção de outro álbum, Hotel Surrender. E é como Chet Faker que ele se apresentará no palco do Popload Festival. Então, virá muita coisa boa no repertório.

Years & YearsO vocalista da banda inglesa é uma importante influência dentro da comunidade LGBTQIA+ – e não apenas por ser um ícone pop. Além de músico, performer e ator (estrela da série It’s a Sin, da HBO), Olly Allexander é conhecido por levantar debates para a conscientização acerca de temas como saúde mental, sexo seguro e distúrbios alimentares. Um dos grandes ícones do indie pop dos últimos anos, também é responsável por apresentações empolgantes em cima de um palco.

Movies

Não se Preocupe, Querida

Thriller psicológico com Florence Pugh e Harry Styles e sobre o american way life nos anos 1950 naufraga com roteiro raso e final insatisfatório

Texto por Carolina Genez

Foto: Warner/Divulgação

Tudo se passa nos anos 1950, quando acompanhamos  Alice Chambers (Florence Pugh), uma dona de casa que vive em uma comunidade experimental cercada por um deserto. Enquanto os homens da vizinhança saem para trabalhar no misterioso Projeto Vitória, também responsável pela região, as mulheres conversam, limpam a casa e cozinham vivendo uma vida previsível. Os dias passam até que Alice passa a se questionar sobre o local onde mora e com o que o marido Jack (Harry Styles) trabalha.

A história de Não se Preocupe, Querida (Don’t Worry Darling, EUA, 2022 – Warner) começa interessante, mostrando como é a vida de Alice. Imersa em um verdadeiro American Way of Life, faz café e se despede de Jack, arruma a casa, depois vai até a cidade fazer uma aula de balé e, por fim, volta para preparar o jantar e receber o marido. Apesar de pacata, essa vidinha a faz feliz: o marido a trata bem, ela tem amigas com quem conversa e fofoca constantemente, mora numa bonita e organizada residência enquanto Jack está na concorrência para uma nova promoção em seu trabalho. 

As coisas, porém, começam a desandar quando uma antiga amiga de Alice, Margaret (KIKI Layne) vai ao deserto, onde os moradores são constantemente alertados a não entrar. Lá ela também tece questionamento sobre a comunidade experimental e principalmente sobre o chefe do marido, Frank (Chris Pine). A partir dos alertas de Margaret, Alice observa mais aquela comunidade e vai percebendo que as coisas não são o que parecem.

A parte de terror da trama é muito bem executada, deixando o espectador sentir todo o nervosismo passado por Alice, já que ela não só indaga a comunidade como também passa a ser taxada como lunática pelos moradores. As cenas de tensão são muito bem dirigidas e planejadas de fato sufocando os espectadores. Parte disso acontece muito por conta da trilha sonora, que além de contar com músicas da época faz com que os sons incidentais transmitam aquela sensação estranha quando colocados no contexto certo. Aqui ainda há a composição de John Powell, que remete a sons de respiração justamente ajudando a aumentar o sufoco vivido por Alice.

O filme tinha muito potencial. Sua ambientação é maravilhosa e imersiva, de fato jogando os espectadores para 1950 com os figurinos e penteados da época e também mostrando um subúrbio colorido e alegre, similar a um conto de fadas, ao estilo das propagandas de revista do american way of life. Parte disso acontece graças à maravilhosa fotografia de Matthew Libatique ,que se aproveita das paisagens para criar bonitos planos e ainda dos aspectos coloridos dos cenários. Tudo isso para a sensação de vida perfeita.

Porém, Não se Preocupe, Querida não consegue atingir seu propósito como um todo. O roteiro é um dos grandes vilões, entregando uma narrativa que acaba decepcionado com resoluções nada satisfatórias e explorando o mínimo boa parte dos personagens. Apesar do público conseguir se conectar com Alice, até por seguir e ir descobrindo a trama junto com ela, todos os outros são muito mal aproveitados, já que não são exploradas as motivações deles, soando caricatos e desinteressantes. 

Em relação às atuações, o elenco pode não impressionar mas ainda assim consegue convencer o público com performances medianas. Uma das grandes perdas é o não aproveitamento de Chris Pine: seu personagem parece ser interessante, mas acaba sendo mal utilizado, servindo apenas para sorrisos falsos e ameaças passivo agressivas. Gemma Chan também não agrega muito. Já Harry Styles, um dos grandes chamativos de público do filme, é ok. 

A maravilha fica por conta de Florence Pugh, que vem de uma sequência de impecáveis performances com Midsommar e Adoráveis Mulheres. Em Não se Preocupe, Querida não é diferente. Novamente mostrando ser uma das grandes promessas de Hollywood, a atriz entrega uma humana e muito realista com sua dona de casa que passa por diversas sensações de horror e pânico e que vai ganhando confiança conforme o filme se desenvolve. Na pele de Alice, consegue passar com perfeição toda sua angústia e agonia, de maneira que se torna extremamente fácil do lado de cá da tela torcer por ela. Pugh tem presença marcante e puxa a atenção em qualquer cena que participe. Comunica-se com o espectador apenas com olhares e expressões corporais. Talvez sua performance a leve a algumas indicações ou prêmios da temporada.

O roteiro se prolonga em aspectos desnecessários, complicando mais ainda a narrativa. Pior é quando chega a autossabotagem lá pelo meio, quando uma reviravolta fraca e previsível não condiz com os primeiros 40 minutos. Até há a tentativa de trazer críticas sobre o machismo e a própria vida que as mulheres do filme vivem, porém estas são colocadas de forma rasa e acabam se perdendo no meio das muitas informações presentes. Aí tudo chega ao final de forma aberta, anticlimática.

Dirigido por Olivia Wilde, esse foi um dos títulos mais aguardados e também polêmicos de 2022 (por conta de diversas tretas e brigas nos bastidores). As expectativas estavam altas pela promessa de thriller psicológico com um mistério conduzido pelo estranhamento. Entretanto, apesar de ambicioso e de parecer original à primeira vista, não consegue suprir as expectativas conquistadas em seu desenrolar. Talvez por isso mesmo venha agora, com sua chegada às telas, uma enorme desilusão. 

>> Leia aqui a resenha de Meu Policial, o outro filme protagonizado por Harry Styles em 2022

>> Leia aqui oito motivos para não perder um dos concertos da turnê de Harry Styles, que passa pelo Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba) neste início de dezembro

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Fervo Saravá

Evento retorna a Florianópolis neste sábado trazendo uma escalação mais enxuta mas sem deixar de lado a nata da música brasileira atual

Jovem Dionísio

Texto por Frederico Di Lullo e Luciano Vitor

Fotos: Divulgação (Jovem Dionísio) e Divulgação/Fabio Setti/Tamara dos Santos (Mulamba)

Passados três meses de uma edição com shows históricos, o Festival Saravá, um dos melhores de Florianópolis, retorna com cinco atrações da cena independente nacional. O número até pode parecer pouco, mas justifica-se pela nova dinâmica: após trabalhar com muitas bandas em junho, o line-up fica mais enxuto (por isso, o novo apelido de Fervo Saravá!) sem perder a essência, deixar de proporcionar boa música, ter preço justo de ingressos e ser uma noite antenada ao mesclar artistas emergentes e consagrados.

Abaixo, o Mondo Bacana lista oito motivos para não perder o evento marcado para este sábado, 24 de setembro. Bora?

Life Club

Relativamente próximo ao centro de Florianópolis, o local é de fácil acesso, com recuo para estacionamento, comportando facilmente mais de cinco mil pessoas. Com uma estrutura de arena de shows e palco com visão de praticamente todo o complexo, a Life abriga os mais diversos estilos musicais. E tornou-se a casa do festival em junho, com direito a concertos memoráveis (leia sobre a escalação aqui). Bebidas ainda serão a preços módicos.

Manifestações artísticas

Além das apresentações musicais, o Saravá é conhecido por abrir espaço para outras manifestações artísticas, como grafite, pintura facial ritualística e exposição visual, além de danças urbanas e performance com fogo. Para esta edição, as intervenções também farão parte da programação.

Mulamba

Metá Metá

O nome é oriundo do iorubá: metá que significa três, em português. Por isso, o Metá Metá é formado por três musicistas (e dos bons!): Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França. Eles fundem de maneira ímpar jazz, MPB, afrobeat, ritmos de matriz africana, rock e experimentalismo e cantam letras de beleza e impacto impares. Formada por três álbuns mais singles, EPs e trabalhos paralelos dos integrantes, a discografia comprova o porquê da banda paulista  ser considerada um dos maiores expoentes da música brasileira recente.

Bike

Dona de show acachapante, a Bike é uma das bandas mais representativas da psicodelia brasileira dos últimos anos. Com um novo trabalho, Força Bruta, saindo do forno e programado para ser lançado em 2023, os também paulistanos – que já fizeram algumas turnês fora do Brasil – vêm matar as saudades do público de Floripa, tocando em mais uma edição do Saravá.

Maglore

O quarteto baiano de rock alternativo e fortes influências de MPB está na ativa desde 2009. Agora volta para a Ilha da Magia com V embaixo do braço. Sim, tem show de lançamento desta pérola que, além de rock, passeia por estilos que vão da bossa nova ao reggae. Aclamado pela crítica, o repertório do quinto álbum de estúdio (daí o título V) promete colocar todo mundo pra dançar na noite do Saravá, misturado a clássicos que marcam o já longo tempo de carreira e 15 milhões de plays mensais no Spotify.

Mulamba

Nome emergente da nova MPB, a banda formada em Curitiba habita diferentes territórios em sua criação. Cantando críticas ácidas até letras poéticas, a trupe reúne a sensibilidade e a potência de suas seis integrantes como se fosse um coro uníssono. Agora, amplia seus horizontes com o lançamento de Será Só Aos Ares, um trabalho diferenciado que apresenta diversas facetas musicais. Sim, é isso mesmo que você leu: a Mulamba vem com concerto de novas músicas e novo álbum, já disponível nas plataformas de streaming.

Jovem Dionísio

Versatilidade, irreverência, peculiaridade e hits. Desta maneira, a também curitibana Jovem Dionísio vem conquistando cada canto do país (e Portugal!) com uma linguagem moderna e sonoridade que passeia entre o pop, o eletrônico e o rap. Uma verdadeira banda de amigos de colégio e de boteco de sinuca, com uma música que bate na alma de um público fiel e cada vez maior.

Acorda, Pedrinho!

É por isso que que neste sábado, todos os caminhos levam ao Fervo Saravá 2022. Serão, ao todo, dez horas de evento, cinco bandas maravilhosas e três lançamentos de discos recentes na ilha. Alguém quer ficar de fora disso? Mais informações oficiais sobre o evento (localização, acesso PCD, transporte, preços, horários, outras atrações artísticas, comprovante de vacinação) você tem ao clicar aqui.

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Guns N’Roses – ao vivo

Sem fôlego e sem voz, um megacaricato Axl é carregado nas costas pelos colegas de banda para evitar constrangimento ainda maior no palco

Texto por Iná Hernandez

Foto: Multishow/Reprodução

REM, Rush, Daft Punk são alguns dos exemplos de bandas que poderiam continuar na ativa mas resolveram se aposentar. O Kiss também roda o mundo com a derradeira turnê. Aliás, até o Coldplay, que está no auge da carreira, atraindo um público gigantesco show após show, também divulgou que dará um tempo depois dessa megaturnê mundial. Brigas entre os integrantes, exaustão física e mental, falta de inspiração e vontade de continuar gravando e excursionando: não importa o motivo, a decisão foi tomada e ponto final.

Ou seja, tudo tem uma hora para acontecer. Tudo tem uma hora pra acabar. Para algumas pessoas, entretanto, dizer não ou dizer basta é uma atitude difícil. E a procrastinação supera a humilhação, ainda mais quando há fãs pagando ingressos caríssimos e quando seus colegas de grupo ainda continuam com vitalidade a todo vapor. 

O caso do Guns N’Roses entra nessa segunda categoria: a das bandas que insistem, insistem, insistem e não param. Há quem diga, aliás, que eles se aposentaram há 29 anos e não se deram conta disso. Por isso, a apresentação dos californianos nesta edição pós-pandemia do Rock in Rio 2022 foi a grande prova disso. 

A bem da verdade, o show da trupe de Axl já havia deixado a desejar na edição do RIR de 2017, quando o vocalista subiu aos palcos fora de forma e com muita dificuldade de sustentar a voz. Foi um choque! Cinco anos depois, claro, não daria para esperar outra coisa. Ou daria, sim: coisa pior. Agora Axl mostrou desde o início que não consegue mais acompanhar o desempenho de seus colegas Slash e Duff McKagan.

Antes de seguir neste texto, é preciso, sim, considerar que não é fácil chegar à terceira idade com maestria e o gogó impecável depois de ter cometido tantos abusos durante o auge da carreira. Sim, precisamos também lembrar a importância do GN’R para a história do rock. Amem ou odeiem, os caras foram responsáveis por criar um dos riffs mais conhecidos do mundo, que faz parte da playlist de geração após geração. Afinal, até artistas como Manic Street Preachers, Luna e Sheryl Crow fizeram cover de “Sweet Child O´Mine”. 

Enfim, para quem assistiu ao show da Guns N’Roses We Are F’N’ Back Tour no RiR 2022 no sofá de casa (como foi o meu caso), a aflição foi enorme. Cadê a voz? Cadê o fôlego até para sustentar o grudento assovio de “Patience”? Minha vontade era abaixar o som para evitar o constrangimento. Relatos de quem viu o concerto in loco deram conta que Axl só conseguiu sustentar a voz até a oitava canção. Depois, só no falsete. 

Tentando lembrar a vitalidade de outrora, Axl também se movimentou bastante no palco, arriscou as famosas dancinhas e trocou de figurino mais vezes que a Katy Perry e a Lady Gaga juntas. Inclusive, na cover de Bob Dylan, usou um duvidoso conjunto de cartola e camiseta, ambas com a bandeira britânica estampada, para homenagear a rainha Elizabeth II horas depois do anúncio oficial de que ela batera na porta do céu.

Quem salvou a performance daquele último dia 8 de setembro foram Slash e Duff, que continuam, sim, carregando a banda durante um set list imenso, com 28 músicas – apesar de deixarem estampado na cara que já estão de saco cheio de tocar tudo isso. Por isso, depois de percorrer várias capitais pelo Brasil, resta esperar que Axl pelo menos dê o ar da graça em Curitiba neste próximo dia 21, no penúltimo show da turnê brasileira e cuja produção, aliás, negou o credenciamento da imprensa ao evento. Mas, pelo menos, esta mesma imprensa aqui ainda tem voz. E podem até não deixar a gente fazer o nosso trabalho. Mesmo assim, em respeito a vocês, leitores, o Mondo Bacana cumpre o dever profissional e escreve sobre como o quão constrangedor é, hoje em dia, o GN’R no palco.

Set list: “It’s So Easy”, “Mr. Brownstone”, “Chinese Democracy”, “Slither”, “Welcome To The Jungle”, “Better”, “Double Talkin’ Jive”, “Live and Let Die”, “Estranged”, “Rocket Queen”, “You Could Be Mine”, “Attitude”, “Absurd”, “Hard Skool”, “Civil War”, solo de guitarra de Slash, “Sweet Child O’Mine”, “November Rain”, “Wichita Lineman”, “Knockin’ On Heaven’s Door” e “Nightrain”. Bis: “Patience”, “Don’t Cry” e “Paradise City”.