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João de Deus – O Silêncio é Uma Prece

Documentário sobre médium goiano derrapa ao apostar no formato “programa de televisão estendido”

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Paris Filmes/Divulgação

Por cinco anos o cineasta Candé Salles frequentou a Casa Dom Inácio de Loyola, na cidade goiana de Abadiânia. Lá ele acompanhou as sessões de atendimento do médium que é o objeto central do documentário que chega agora às telas de cinema de todo o país.

João de Deus – O Silêncio é Uma Prece (Brasil, 2018 – Paris Filmes) procura enfocar a vida e a obra de João Teixeira de Faria neste período em que Candé esteve com frequência em Abadiânia. São mostrados os atendimentos espirituais e aqueles que exigem algum tipo de incisão controlada pelas “entidades”, a visita de gente famosa (como a atriz Camila Pitanga) e muitos estrangeiros de outros continentes. O diretor também revela um pouco da vida de João de Deus, seus amigos locais de longa data, a história de seus amores, o dia a dia tranquilo da fazenda onde ele mora. Tudo no melhor modo observativo, sem interferir quando não está colhendo depoimentos e entrevistas, levando ao espectador a impressão de se sentir no próprio local, seja no banco do passageiro do carro do médium, sentado na varanda de sua casa ou dentro da casa de atendimento, misturado a tantos outros consulentes.

Uma coisa que chama a atenção na narrativa impressa pela edição é a constante preocupação em contrapor ciência e fé no trabalho realizado em Abadiânia. Não que haja a necessidade de afastar qualquer sinal de charlatanice. Aliás, nem é este o caso, já que João de Deus realiza há muito este trabalho e nunca houve qualquer desconfiança em relação a isso. Mas Candé ainda tem o cuidado de entrevistar vários médicos que, a pedido de João, acompanham as incisões cirúrgicas que não provocam qualquer tipo de dor ou efeitos colaterais posteriores. Estes médicos atestam o que viram, inclusive o que foi feito com familiares. Pacientes também dão seus relatos sobre os problemas que tinham antes das intervenções das entidades e como passaram a ser suas vidas logo após. Mais para o final, segue João em sua ida para São Paulo, para fazer tratamento e cirurgia em um hospital da metrópole, recorrendo justamente à medicina tradicional, sempre ressalta no decorrer do documentário.

Então este acaba sendo justamente o grande problema de O Silêncio é Uma Prece. Pouco ousa em seu formato, acaba parecendo ou um trabalho de um admirador de João de Deus (o que o diretor assume depois de tê-lo conhecido in loco) ou um grande vídeo institucional da Casa Dom Inácio de Loyola. Ou então um episódio estendido do programa Andar Com Fé, da GNT, que trata sobre espiritualidade e a diversidade da religiosidade – inclusive com a indefectível narração da atriz Cissa Guimarães (que também costura o programa do canal por assinatura) e o irresistível encerramento com a canção “Se Eu Quiser Falar Com Deus”, de Gilberto Gil.

Aliás, o ritmo do documentário é praticamente o mesmo do programa. Por ter o triplo da duração, acaba ficando com o ritmo arrastado, o que, em um determinado momento, chega a provocar certo desinteresse em quem não é muito chegado a estes assuntos (mediunidade, fé, cirurgias espirituais, medicina tradicional versus medicina alternativa) justamente pelo fato de não se arriscar a ir além do que já fora mostrado antes.

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