Movies

Hamlet

Projeto documental acompanha uma das lideranças das ocupações realizadas por estudantes gaúchos durante o ano de 2016

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Galo de Briga Fimes/Divulgação

Em 2016, centenas de escolas de ensino médio foram ocupadas ao redor do Brasil. Nossa modesta Primavera Árabe, aquela chamada Primavera Secundarista, inseriu-se no contexto arisco da defesa da presidente Dilma Rousseff contra o golpe que sofria por parte do Congresso Nacional, de Michel Temer e demais setores dos três poderes – “Com o Supremo, com tudo”, como imortalizou Romero Jucá.

Nesse contexto, mas também reivindicando mais atenção às políticas públicas de educação, o Brasil foi tomado pelo breve protagonismo da juventude. Se o corajoso movimento não rendeu muitos frutos, afinal a democracia atual se encontra sob ataques muito mais graves que o neoliberalismo do governo Temer, ainda nos propicia uma série de reflexões.

Observando de perto a movimentação das ocupações gaúchas, Hamlet (Brasil, 2022 – Galo de Briga Filmes) é um projeto documental que acompanha Fredericco Restori, uma das lideranças dos ocupantes de uma grande escola de Porto Alegre. A narrativa dispersa é muito mais uma coleção de momentos – plenárias, assembleias, reuniões entre ocupantes, palestras e até a hora do videogame – que uma representação ampla e didática do período da ocupação.

Num primeiro momento, a câmera errática dirigida por Zeca Brito parece incerta do que quer filmar. O registro histórico se inicia numa grande plenária, em que já desponta a presença de Fredericco. Embora este seja nosso protagonista desde a primeira cena do longa-metragem, Brito parece muito mais interessado na coletividade dos ocupantes do colégio, um conjunto de sem nomes que insiste na “horizontalidade democrática”, por assim dizer, e nunca é gravada só. 

O foco constantemente desregulado, a princípio, parece sintoma de uma operação de câmera ansiosa em capturar a essencialidade do momento, mas logo se denuncia em seu exagero: ao compor as sequências cotidianas da ocupação, assim como suas seções mais dialógicas, Zeca Brito escancara seu próprio processo de formalização, ainda que busque escondê-lo sob um fino véu de naturalismo. Partimos do “parece ser” para o “quer parecer ser”, um movimento que não é ruim em si mesmo, mas interessante por nos lembrar que documentário não é realidade – é cinema.

Num segundo momento, esteticamente mais interessante, Hamlet assume seu discurso mais narrativo que repórter, utilizando ligações telefônicas de Fredericco como meio para a exposição de seu conflito interno, que também é refletido em sequências subjetivas. A bem da verdade, esse estatuto da obra sempre esteve presente, já que o filme se inicia, antes do registro histórico das ocupações, com uma conversa entre Fredericco e um homem mais velho tecendo comparações entre sua condição de liderança e a dúvida central de Hamlet: “ser ou não ser, eis a questão”.

Se o filme não esconde a condição de líder que caracteriza Fredericco, sua ideologia juvenil, a princípio, recusa-se a aceitá-la. Ao longo de Hamlet, sua posição vai de “precisamos manter a horizontalidade para não tornar este um movimento fascista” para “eu queria ser líder, e era líder, mas não tinha coragem de admitir”. A ingenuidade da mobilização secundarista permeia todos os acontecimentos do filme – desde a rusga desmobilizada com entidades de base da categoria, como a UBES e a UNE, até a escuta atenta aos ensinamentos do grande crítico e cineasta brasileiro Jean-Claude Bernadet sobre a conjuntura política. 

Justamente por essa inerente ingenuidade, alguns dos momentos aqui retratados conferem ao filme um curioso frescor: um “vai chorar” que vaza na captação sonora durante um protesto; o canto “Bololo ha ha, quero ver desocupar”, eco da relação entre política e cultura que é muito única a cada geração que a vive; a incessante descoordenação da massa durante momentos de tensão, em que o silêncio é um episódio raro que, quando acontece, é muito efêmero.

Contudo, se esses momentos evocam no espectador não mais que a curiosidade e, quando muito, um sorriso de canto de boca, igualmente não se sente o peso que se propõe em Fredericco. A deslocada comparação com Hamlet, que pretende dar tom ao filme, só se dá com clareza na última cena, numa fraca articulação entre o concreto (a ocupação) e o abstrato (as conjecturas posteriores sobre a relação entre vida e arte) que não oferece material suficiente para se realizar. De fato, às vezes a vida imita a arte, assim como a arte imita a vida. Mas nem sempre.

Music

Gilberto Gil – ao vivo

Por que, aos 80 anos, ele é o artista mais necessário da música brasileira nestes tensos, conturbados e delicados tempos vividos no país

Texto por Abonico Smith

Foro: Priscila Oliveira (CWB Live)

“Tudo que tem um começo também tem um fim”. Assim disse Gilberto Gil um pouco depois de iniciado seu segundo concerto em Curitiba, onde esteve tocando nos últimos dias 27 e 28 de outubro. Logo depois, regeu o primeiro de quatro coros com o nome de Lula entoados pela plateia. Não era mais preciso muita coisa para se ter uma certeza naquela noite: o cantor e compositor baiano é o artista certo e na hora certa, o principal nome da música brasileira para representar e personificar, através de palavras, letras, melodias e harmonias o momento extremamente delicado que o país viveu nestes últimos dias de outubro.

Gil completou oito décadas de idade em 26 de julho. Está em plena vitalidade fisica, cantando (mesmo estando com a voz um tanto rouca desse dia na capital paranaense) e dançando com plena desenvoltura, empunhando e tocando sua guitarra no palco do Teatro Positivo. Tanto que nos últimos meses fez uma turnê de quinze datas por cidades europeias e ainda se apresentou em três conceituados festivais nacionais (Coala, MITA, Rock in Rio). Em todos os shows trazendo alguns familiares (filhos, netos) para integrar a sua banda de apoio. Também veio à capital paranaense para iniciar uma série de apresentações por cidades nacionais com a turnê Gil 80 Anos. Sorte nossa, sorte de quem estava na plateia – inclusive trinta convidados que representavam o MST em cada noite. Como visto recentemente no reality show Em Casa com os Gil, disponível para streaming na Amazon Prime, Gil é aquele avô carinhoso, amável, que desperta não só encantamento em quem está por perto com ainda provoca aquela sensação de calma e bem-estar em decorrência de seus conselhos, comentários e tudo aquilo que diz de maneira curta e rápida.

Foi assim no Positivo durante cerca de uma hora e meia de apresentação. Volta e meia, fosse no intervalo entre as canções ou mesmo durante elas (através de versos certeiros). Começou com as estrofes e refrão de “Tempo Rei”: “Água mole, pedra dura/ Tanto bate que não restará nem pensamento/ Tempo rei, ó tempo rei, ó tempo rei/ Transformai as velhas formas do viver/ […] Mães zelosas, pais corujas/ Vejam como as águas de repente ficam sujas/ Não se iludam, não me iludo/ Tudo agora mesmo pode estar por um segundo”. Na terceira música, unindo sua versão em português e o original em inglês de Bob Marley, decretou em “Não Chores Mais” que “Se Deus quiser/ Tudo, tudo, tudo vai dar pé”.

Mais pro miolo do set iniciou uma série de canções mais lentas. Menos dançantes e um pouco mais reflexivas. “Mais suaves”, como declarou ao microfone. Contudo, a suavidade também desconcerta. Mesmo passados quarenta anos é impossível não se emocionar com “Drão” (“O amor da gente é como um grão/ Uma semente de ilusão/ Tem que morrer pra germinar/ Plantar em algum lugar/ Ressuscitar no chão nossa semeadura”). Para Gil, esta é “uma canção da crença e da fé absoluta no amor eterno”. OK, ela foi composta em um momento de bastante intimidade, o da separação do cantor e da sua então esposa Sandra Gadelha (mãe de Preta, Maria e o falecido Pedro). Contudo, pode servir também em um espectro mais abrangente, com uma leitura mais pro macro voltada ao nosso tão sofrido dia a dia do país, repleto de imoralidades e absurdos que serviram como morte para o nosso amor e a nossa fé.

Antes de iniciar “A Paz”, Gil prossegue com seus ensinamentos: “ela fala sobre a revitalização da vida que se contrapõe a tudo o que tenta destruí-la. “Já para anunciar “Estrela”, recorre a lembranças pessoais e confidencia ao público ter composto os versos inspirado por “uma menina” da cidade que “viu” nascer. No caso, Estrela, a filha mais nova de seu amigo Paulo Leminski. “Éramos jovens e andávamos de noite pelas ruas de Curitiba eu, Paulo e Helinho [Pimentel, fundador da mítica rádio Estação Primeira e hoje administrador do complexo que envolve os palcos e as áreas para entretenimento da Ópera de Arame e da Pedreira… Paulo Leminski!]. Eu vi esta menina nascer e então esta música tem uma semente curitibana”.

Só que Gil impacta ainda por aquilo que não diz, mas também pelo que está implícito em suas músicas. Na primeira parte do concerto, por exemplo, lançou mão de uma sequência de poderosas canções nordestinas. A intenção ali não era apenas saudar a rica cultura musical da região brasileira da qual veio e relembrar um pouco de gêneros que lhe exerceram fascínio e influência desde cedo, como o xote, o baião e o forró. Também era um recado sobre a fortaleza daquele povo um tanto sofrido mas que não só nunca se entrega como também faz valer a sua voz e a sua (força de) vontade. Que elege um presidente que o representa e diz um sonoro não a outro que o despreza. Como dizia Luiz Gonzaga, a ordem agora é “já ir” respeitando os oito baixos!

Ainda tendo como referência seu DNA nordestino, neste show ele voltou a lembrar os tempos de Tropicália e promover assombrosas fusões musicais com gêneros de além-fronteira. No trecho com “Esperando na Janela”, “respeita Januário”, “O Xote das Meninas” e “Eu Só Quero um Xodó” os clássicos surgem emendados por um mesmo padrão de percussão eletrônica. Mestrinho, sanfoneiro e backing de sua banda, abrilhanta os arranjos de reggae de “Não Chores Mais”/“No Woman No Cry” e “Esotérico” com um refinado lamento extraído de seu acordeon. “Realce” e “Palco”, quase meio século depois, ainda arrastam todo mundo para dançar fora de suas cadeiras com a batida disco mesclada à fusão entre rock, jazz e sintetizadores). Por falar em rock, na hora de relembrar com muito peso “Get Back” (devidamente colada à versão em português “De Leve”, assinada e gravada em disco ao vivo de 1977 por Gil e Rita Lee, durante provocativa turnê conjunta para “relançar” ambas as carreiras meses depois de ambos serem detidos por porte de drogas) mostrou o quanto os Beatles foram decisivos na sua carreira.

À parte final do repertório não foram reservados apenas alguns clássicos infalíveis como “Aquele Abraço” (alô, torcida do tricampeão Flamengo!), “Andar com Fé” e “Toda Menina Baiana”. Teve espaço também mais reflexões provocativas de Gil. “Nos Barracos da Cidade” discute sem papas na língua a hipocrisia e a estupidez dos políticos governantes de nosso país (e que em certos casos chegam a “confundir”, na maldade, moradores da favela com ladrões). “Punk da Periferia” é uma ode a tudo aquilo que, embora considerado nojento e fora dos padrões do centrão, confronta o status quo das elites de nossa sociedade. Não à toa, naquela sexta-feira, um monte de gente curitibana, de bem e bem vestida, reagiu com indignação à execução da mesma se levantando das cadeiras e se dirigindo para fora do teatro mesmo antes do fim do espetáculo.

Gil também retomou nesta parte o mode on sabedoria infinita do alto de seus 80 anos de vida. Repetiu várias vezes que devemos “andar com fé porque a fé não costuma falhar”. A poucas horas da eleição mais importante, versos como estes mostraram-se mais do que reconfortantes para quem nunca deixou de crer que o amanhã será um lindo dia da mais louca alegria.

Por fim deu ainda para incendiar mais um pouco a plateia terminados os acordes e batidas na derradeira canção do set list. O eterno doce bárbaro desejou a todos de Curitiba, terra da lava jato e com altíssima adesão bolsonarista, uma “explosiva eleição”. E saiu do palco fazendo com as mãos o sinal do L. Nem foi preciso ter bis do artista mais do que necessário para este nosso conturbado ano de 2022. O concerto todo, extenso, com 21 canções e muitos códigos cifrados em discursos cantados, falados e mostrados, deixou toda aquela noite, às vésperas de toda a tensão no ar da semana anterior ao domingo de votação do segundo turno da mais importante eleição presidencial da História do Brasil, nada mais do que histórica. E confortável.

Set list: “Tempo Rei”, “A Novidade”, “Não Chores Mais”/”No Woman No Cry”, “Vamos Fugir”, “Esperando na Janela”, “Respeita Januário”, “O Xote das Meninas”, “Eu Só Quero um Xodó”, “Drão”, “A Paz”, “Estrela”, “Esotérico”, “Palco”, “Aquele Abraço”, “Andar Com Fé”, “De Leve”/”Get Back”, “Nos Barracos da Cidade”, “Realce” “Punk da Periferia”, “Maracatu Atômico” e “Toda Menina Baiana”. 

festival, Music

Popload Festival 2022 – ao vivo

Depois de dois anos suspenso pela pandemia, evento retorna em novo local e com encerramento monstruoso feito por Jack White e Pixies

Jack White

Texto por Fábio Soares

Fotos: Camila Cara/Divulgação/Popload Festival

Até parece que foi ontem! Há longinquos três anos, Patti Smith encerrava a última edição do Popload Festival com a frase “Até 2020!’ nos telões laterais do palco principal. Ainda realizado no Memorial da América Latina, o festival indie realizado pelo site Popload iniciava ali sua parceria com a gigante produtora T4F. O mundo, porém, seria virado de cabeça para baixo em pouco mais de quatro meses depois daquele 15 de novembro de 2019. A pandemia da covid-19 colocou os festivais em xeque, a cultura em xeque, o entretenimento em xeque. Para chancelas como o Popload, o futuro era cada vez mais nebuloso e incerto.

Trinta e cinco meses após sua última edição, o Popload Festival apostou suas fichas num novo local em um novo feriado nacional (12 de outubro). Em um terreno desapropriado pela prefeitura de São Paulo e anteriormente pertencente ao Clube de Regatas Tietê, surgiu um centro esportivo de mesmo nome. Relativamente próximo ao metrô, o novo espaço revelou-se estrategicamente viável. Para a edição de 2022, um line-up de respeito: Chan Marshall (também conhecida como Cat Power), o australiano Nicholas James Murphy (que também atende pela alcunha de Chet Faker), Jack White e os LENDÁRIOS Pixies, voltando ao Brasil oito anos depois de sua participação no Lollapalooza 2014 (e que, neste ano, debutou em terras cariocas – leia a resenha aqui)

Cat Power

Um público estimado em 14 mil pessoas se deslocou ao Centro Esportivo Tietê. Um palco secundário patrocinado por uma marca de cerveja foi montado para shows menores, só que este que vos escreve gato escaldado em festivais e sua avançada idade o impede de comparecer a tais eventos cedo demais. Sendo assim, cheguei a tempo de presenciar a apresentação de Cat Power desde seu início. A artista possui histórico de apresentações irregulares (para não dizer sofríveis) na capital paulista. Com habitual postura blasé e acompanhada por um trio de músicos, Chan Marshall optou por um repertório “porto seguro”, repleto de covers. Desde Frank Ocean (“Bad Religion”) a Lana Del Rey (“White Mustang”), passando pela manjadíssima “New York, New York”, eternizada por Frank Sinatra, a cantora foi pragmática. Não inventou nada e finalizou sua apresentação de pouco mais de 50 minutos com a maravilhosamente atemporal “The Greatest”.

O clima lounge de Cat Power deu lugar à apresentação do australiano Chet Faker. Absolutamente só no palco, o artista procurou compensar com efeitos visuais no telão calcados numa base eletrônica pré-programada e dançante. Foram 15 canções em exatos 60 minutos. Se não conseguiu arregimentar novos adeptos, Murphy provou que possui uma fiel base de aficionados que conhece seu repertório de cor e salteado. Será figura fácil em futuros festivais brasileiros, com certeza.

Chet Faker

O momento catártico da noite viria a seguir. Gigantesca era a expectativa para o show solo de Jack White. Afinal foram dois álbuns lançados apenas neste ano: o acústico e etéreo Entering Heaven Alive e o explosivo Fear Of The Down, uma ode ao rock de garagem composta por 12 petardos. Já estava escuro quando o mais bem sucedido multi-instrumentista de sua geração pisou no palco principal do festival executando os primeiros acordes de “Taking Me Back” sob uma azulada iluminação monocromática. Visivelmente à vontade, Jack surfou com segurança sobre seu set list apoiado por um espetacular quinteto com performance crua, calculada e pesadíssima.

Ecos do espetacular disco Lazaretto, de 2014, foram escutados. Além da faixa-título, “That Black Bat Licorice” deu as cartas. Os projetos “em conjunto” do artista não ficaram de fora: o Dead Weather foi ‘homenageado” com “I Cut Like a Buffalo”; os Raconteurs com “You Don’t Understand Me” e o megahit “Steady As She Goes”; e, claro, alguns clássicos em vermelho, preto e branco dos White Stripes. Com a plateia entregue a uma apresentação com volume altíssimo, “Dead Leaves and The Dirty Ground”, “Cannon” e “Icky Thump” desceram como água. Músico extraordinário, White preenche como poucos todos os espaços do palco cumprindo com maestria a expectativa em torno da apresentação. Eram pouco mais de 20h quando os mastodônticos acordes de “Seven Nation Army” foram ouvidos na Zona Norte da capital. O hino cujo refrão é grito de guerra de torcidas de futebol em ¾ do planeta segue gigantesco após quase 20 anos de seu lançamento. As 14 mil vozes da plateia entoaram-no em uníssono num apoteótico encerramento. Foi, disparadamente, a melhor apresentação da noite. O que já era esperado. 

Pixies

Quando digo o termo “esperado” é porque sabemos que um show dos Pixies pode ser imprevisível: em 2014, a apresentação da banda no Lollapalooza foi PÉSSIMA (contrastando com o SWU de 2010 e a HISTÓRICA passagem por Curitiba, em 2004),  acentuada pelo habitual mau humor de Black Francis e a então insegurança da baixista Paz Lenchantin, recém-saída do A Perfect Circle para substituir Kim Shattuck (que viria a falecer em 2019). Os Pixies em 2022, estão mais maduros, mais seguros e mais monossilábicos também. Pontualmente à 20h45, os acordes de “Gouge Away” espalharam-se pela nova Arena Popload como um rastilho de pólvora em mato seco. Como previsto, a interação com o público foi zero. Mas o set foi INACREDITÁVEL! Além de faixas do recentíssimo álbum Doggerel (lançado dias antes da chegada ao Brasil), b-sides também deram as cartas. Nesta galeria estiveram a já manjada (mas não menos maravilhosa) “Head On” (cover de Jesus & Mary Chain) “Cecilia Ann” (cover do Undertones), “Ana” e “Cactus”. Também teve tempo para os clássicos “Debaser”, “Gigantic”, “Here Comes Your Man” e “Hey”. No total, foram 24 canções emendadas quase sem interrupção.

Os Pixies são um dos raros casos em que o repertório é maior que o artista. Após 18 anos de sua primeira apresentação no Brasil, a banda sabe muito bem que a devoção de seu fãs baseia-se no DNA do grupo: uma explosiva mistura de folksurf music, punk, pós-punk e rock ‘n roll em sua enésima potência. Nem as duas vezes em que “Wave of Mutilation” foi executada (a primeira versão, eletrificada; a segunda, acústica) causaram estranheza. O fechamento com “Winterlong” (cover de Neil Young) coroou uma ímpar cápsula “espaço-tempo”.

A celebração indie daquele 12 de outubro então chegava ao fim com um público satisfeito e extasiado pelo simples fato de ESTAR VIVO após mais alguns anos de um pesadelo que, se ainda não acabou, fez-nos mais fortes por amor à música. E que continue assim!

Music

Michael Bublé

Oito motivos para não perder a passagem da nova turnê do crooner canadense pelo Brasil

Texto por Janaina Monteiro

Foto: Divulgação

Se existe uma palavra que define tanto a vida quanto a carreira de Michael Bublé é perseverança. Hoje famoso mundialmente, o canadense de Burnaby sofreu no início para provar que não era apenas um rostinho bonito com uma voz afinada.  Tanto é que chegou a ouvir do empresário de uma major: “por que eu investiria em você se já existe Frank Sinatra?”. Oras, simplesmente porque o Frank Sinatra já morreu. Assim respondeu o cantor, que segue uma linhagem praticamente em extinção: a de crooner.

Além de Sinatra – que foi a grande inspiração de Bublé – podemos elencar vários intérpretes de canções de diferentes gêneros, do jazz ao pop clássico. Nat King Cole, Bobby Darin, Paul Anka, Bing Crosby, Tony Bennett e Harry Connick Jr são apenas alguns nomes da lista dos melhores crooners de todos os tempos. Gostem ou não, Bublé já figura ao lado desses monstros sagrados e é considerado o guardião dos clássicos americanos. Para provar seu talento, insistiu, insistiu até ser contratado por uma grande gravadora e virar um hitmaker

Desde seu álbum homônimo de estreia, lançado em 2003, ele coleciona prêmios tanto na vida profissional como na pessoal. Uma dessas conquistas foi ver o filho se recuperar de um câncer no fígado, diagnosticado há cerca de cinco anos. Para se dedicar a ele, na época, Bublé deu uma pausa na carreira e se mudou com a família para Vancouver. Hoje, o garoto está com 8 anos e se recuperando bem. Por isso, quem sobe aos palcos hoje é muito mais que um artista ou um sex symbol, mas um pai vencedor, que carrega no DNA a herança dos crooners do mundo do entretenimento e que nunca deixou as adversidades da vida abalarem seu bom-humor.

O Mondo Bacana te dá oito motivos para não perder a apresentação desse astro – cafona para uns, encantador para outros – na turnê An Evening With Michael Bublé, que passa pelo Brasil em quatro datas. As três primeiras serão no Rio de Janeiro (Jeneusse Arena, dia 3) e em São Paulo (5 e 6, Allianz Parque – Arena Palmeiras; a segunda noite está com ingressos esgotados). A última, em Curitiba (8, estádio do Athletico Paranaense). Mais informações sobre os concertos e como comprar as entradas você pode ter clicando aqui).

Artista premiado

Bublé vendeu mais de 60 milhões de álbuns em todo o mundo ao longo de sua carreira. Teve muitos singles no topo das paradas. Realizou sete especiais da NBC. Ganhou quatro Grammy Awards e vários Juno Awards como intérprete e compositor.

Artista certificado

Bublé é um dos grandes nomes da música internacional, tanto que conquistou o certificado de multiplatina e seu álbum mais recente, Love (de 2018), alcançou o primeiro lugar na Billboard Top 200. O astro ostenta ainda a impressionante marca de 12 bilhões de streams globais, sendo 217 milhões deles somente no Brasil. Seu primeiro disco homônimo já foi um sucesso na sua terra natal, tendo alcançado o Top 10. 

Álbuns de sucesso

Nos Estados Unidos, ele conseguiu sucesso comercial com o álbum It ‘s Time (2005), que trouxe o hit “Home”. Seu terceiro trabalho, Call Me Irresponsible (2007) chegou ao topo da Billboard, assim como o posterior Crazy Love (2009). Até 2019, ele havia vendido 60 milhões de álbuns ao redor do mundo.

Disco de Natal

Assim como as inesquecíveis canções natalinas que se tornaram um clássico na voz de Sinatra, Bublé seguiu a linha do ídolo e lançou em 2011 o álbum Christmas, que vendeu nada menos que seis milhões de cópias em apenas dois meses e foi relançado recentemente. Christmas se tornou um marco e transformou seu intérprete em uma referência nas festas de fim de ano. Na época, Bublé afirmou que receava que a obra o transformasse somente no “Cara do Natal”, tamanho o sucesso do trabalho. Mas o tempo provou que o canadense era muito mais que isso. 

Clássicos

Aliás, isso não faltará no set list da atual turnê. Se você é como eu e não consegue conter a ansiedade e ama xeretar o repertório dos últimos shows, sabe que vêm por aí muitos clássicos. Como a onipresente “Feeling Good, Sway” e algumas canções românticas que ficaram famosas na voz de Elvis. Ou seja, será difícil não se emocionar na plateia.

Primeira vez

O cantor já esteve excursionando por terra brasilis, mas esta é a primeiríssima vez que Bublé se apresenta na capital paranaense. E em um estádio da Copa do mundo. O cantor gosta muito de se apresentar por aqui e curte muito o nosso futebol, mesmo sendo casado com uma atriz argentina.  

An Evening With Michael Bublé

Suspensa em 2020 por conta da pandemia, a turnê já era uma das mais bem sucedidas turnês internacionais do ano. Só nos EUA ela foi vista em 82 cidades por mais de meio milhão de pessoas e 27 datas extra tiveram de ser agendadas para atender ao público.

Ginga canadense

Não poderíamos ficar de fora aqui o jeito Bublé de ser, que reúne versatilidade, carisma e bom humor em cima do palco. Aliás, na esteira de sua participação no programa de TV Dancing With The Stars, podemos esperar ainda novos passos de dança, como o artista adiantou nas suas redes sociais.