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Rodrigo Amarante

Oito motivos para não perder Drama, a nova turnê do cantor e compositor que passará pelo Brasil em setembro

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Julia Brokaw/Divulgação

Rodrigo Amarante está de volta ao Brasil após o hiato pandêmico no mundo dos shows ao vivo. O ruivo volta ao país natal pela primeira vez depois da turnê de 2019 com o quarteto que o revelou, Los Hermanos. Morando em Los Angeles há muitos anos, ele já produziu dois discos em solo estadunidense. O mais recente lançamento, o álbum Drama (2021), já foi levado para a América do Norte e a Europa. Agora em setembro, o show passará, entre os dias 9 e 23, pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza (mais informações sobre locais, datas, horários e ingressos você pode ter clicando aqui).

Por conta disso, o Mondo Bacana preparou oito motivos para não perder o retorno de Amarante aos palcos tupiniquins e, principalmente, a estreia de “Drama” por aqui.

Eterno hermano

Los Hermanos é uma das maiores bandas brasileiras deste século 21, que mesmo sendo tocada há anos no piloto automático, sem discos e somente com turnês esporádicas, solidificou sua importância e influência no rock independente do país ao longo das duas primeiras décadas. Passado é passado, é verdade, mas essa é uma distinta marca na carreira de seus membros que não pode ser ignorada. Ao lado dos outros barbudos, Amarante compôs alguns de seus maiores sucessos. Embora priorize suas canções autorais desde o lançamento do álbum anterior Cavalo, é de se esperar que revisite em solo brasileiro marcos como “Condicional”. Canção, aliás, que rearranjou na turnê em que trouxe Cavalo para cá em formato voz e violão. 

Cavalo

É justamente o primeiro álbum solo da carreira de Amarante, um dos maiores motivos para acompanhar a vinda do artista ao Brasil. São músicas como “The Ribbon” e “Irene” que escancaram a maturidade de sua composição, enquanto “Hourglass” e “Mon Nom” são atestados de sua inventividade e verdadeira dedicação às artes. Agora, oito anos após o lançamento do debut, Amarante explora outras facetas e timbres para temas que marcam sua expressão e se permite alçar vôos distintos sem perder de vista o estilo que marcou Cavalo.

‘Drama’ recalcado

O violão branco é o mesmo, o sotaque carioca também, mas algo de muito importante mudou nos sete anos que distanciam Cavalo de seu sucessor Drama. Ele, que sempre abraçou o onírico em suas obras, alça aqui a subjetividade a uma luz muito mais solar, mas não por isso menos sóbria. “Tango” e “Maré” entregam um frescor mais expansivo, gostoso de dançar à obra, sem perder a melancolia em “I Can’t Wait” e “Um Milhão”, que já era conhecida por suas versões ao vivo. E se o experimentalismo em três (mas pode-se considerar quatro) línguas do debut pareceria constranger Drama, que só conta com composições em português e inglês, essa parece uma forma mais madura e autorrealizada do artista. O disco, que irrompe como “resposta a um corte de cabelo de trinta anos atrás”, é uma jornada lírica de raízes muito mais estabelecidas que o cosmopolitismo de Cavalo. Interessado em montar o álbum com a estrutura de um drama narrativo, Amarante arquiteta um jogo formal que revela sua multiplicidade lírica de maneira muito rica. O resultado, então, é uma obra menos introspectiva e muito, mas muito mais ancorada no arranjo de uma banda.

Banda completa

Não à toa, Rodrigo Amarante não virá em seu formato acústico, em que o músico se apresenta acompanhado pelo violão e, quando muito, um piano. Ao contrário: sua turnê contará com bateria, percussão, baixo, guitarra, piano e violoncelo, num encontro de seis musicistas contando com o protagonista da noite. Músicas como “Sky Beneath” e “Eu Com Você” dependem de uma formação completa de banda para imprimir o tom vivaz que têm em Drama. De Cavalo, os elementos de samba de “Maná” não seriam os mesmos sem bateria e percussão somadas. Tocarão com Rodrigo Amarante os músicos Nana Carneiro da Cunha (piano e cello), Pedro Sá (guitarra), Alberto Continentino (Baixo) e Daniel Castanheira (percussão). Completa o time uma presença um tanto ilustre. Rodrigo Barba, ex-companheiro de Los Hermanos, conduz a bateria para o amigo, assim como fizera na turnê que trouxe Cavalo para o Brasil.

Reencontro com Barba

Contudo, a turnê de Cavalo não foi a última apresentação da dupla, que viajou o Brasil e passou por Buenos Aires com o Los Hermanos 2019. O reencontro mais recente do quarteto deixou um gostinho de quero mais com a performance dos clássicos e o lançamento de apenas uma nova faixa, “Corre Corre”. A sinergia alegre e despreocupada do grupo deixou os fãs com a esperança de mais lançamentos, mas a expectativa não se concretizou até agora. No entanto, a parceria de longa data não se desfez e três anos (e uma pandemia) depois os Rodrigos sobem juntos ao palco. 

Little Joy e Orquestra Imperial

Engana-se quem pensa que a trajetória musical de Rodrigo Amarante se resume à carreira solo e à caminhada com os Hermanos. Além de colaborações estelares com nomes como Marisa Monte, Norah Jones e Gal Costa, o artista participou da big band de gafieira Orquestra Imperial e, já nos Estados Unidos, do Little Joy, banda formada com Fabrizio Moretti (baterista dos Strokes, também nascido no Rio de Janeiro) e Binki Shapiro. E essas jornadas costumam dar as caras nos shows de Rodrigo. Entre elas, foram performadas recentemente a contemplativa “Evaporar” (Little Joy) e o samba “Pode Ser” (Orquestra Imperial). Na ocasião, sem banda completa, embora estas presenças nos repertórios deste ano seja um bom prenúncio.

Músicas inéditas

Amarante também é conhecido por tocar versões iniciais de futuros lançamentos em suas apresentações ao vivo. O exemplo mais emblemático pode ser “Um Milhão”, que teve sua estreia ainda nos palcos do Los Hermanos, em 2012. De lá pra cá, a canção estourou e foi tocada em múltiplas ocasiões, mas só pudemos ouvir uma versão de estúdio com o lançamento de Drama. Este também é o caso de “Tara”, que foi gravada ao vivo assim como “Carta”, e “The End”, uma nova abordagem à demo “That Old Dream Of Ours”. Já nos shows, Amarante tocava “Maré” antes mesmo da pandemia de Covid-19. Ainda é cedo, já que Drama tem pouco mais de um ano, mas será que podemos esperar uma palhinha do que virá logo mais?

Uma noite de poesiaEmbora os sete motivos anteriores apelem aos fãs e entusiastas de Rodrigo Amarante, não se pode deixar de estender um convite a quem ainda não tem tamanha familiaridade com sua carreira autoral. Se há uma certeza de como a turnê, que está prestes a começar, vai se dar, ela é a de uma boa noite para quem gosta de música. É comum que Amarante interaja com a plateia em seus shows no Brasil, assim como é comum que sua plateia grite, converse e aproveite muito suas apresentações. Sua maleabilidade rítmica e também poética garante uma apresentação dinâmica, repleta de grandes canções e mudanças de dinâmica entre elas – esta pode ser a oportunidade perfeita para conhecer ou se aprofundar na obra de um músico. Reouvir músicas pouco escutadas ou até mesmo tê-las reveladas pela primeira vez aos seus ouvidos é uma experiência singular, que deve ser aproveitada sempre que possível. Então, sendo um dos que aguardam ansiosos a volta de Amarante aos palcos brasileiros ou sabendo muito pouco do que esperar, a promessa é de que será uma noite ímpar, com muita poesia nas letras e arranjos deste que, cada vez mais, desponta como um dos maiores nomes da música brasileira em atividade.

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