No último dia 25 de abril, uma terça-feira, a região da Grande Florianópolis recebeu uma das maiores lendas do rock mundial. O Kiss apresentou-se pela última vez no Brasil, depois de trazer para cá (pela terceira vez) sua turnê de despedida (batizada End Of The Road) e passar (desta vez) por outros quatro pontos do país (Manaus, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo).
Alocado estrategicamente do lado direito do palco montado no Hard Rock Live (na cidade catarinense de São José), cheguei diretamente do trabalho para poder cobrir este que deve ser o último concerto do quarteto pelas terras de Machado de Assis ou, melhor falando, do poeta Cruz e Sousa. Incrivelmente dez minutos antes do horário previsto (21h), os quatro cavaleiros do apocalipse já desciam por enormes plataformas para chegar próximo de nós, meros mortais, entoando a seminal “Detroit Rock City”. A essa altura, meu amigo, a audiência era um verdadeiro delírio musical, com homens e mulheres de todas as idades cantando a plenos pulmões toda a música. E todas as que estariam por vir. A plateia era composta, em maioria, por muitas famílias, onde era nítido o amor geracional pelo rock e pela banda destes quatro senhores. Algo lindo e épico demais.
Diferente da última passagem da banda por este sul do sul do mundo, no ano de 2015, desta vez sim tivemos o espetáculo completo, recheado de trajes extravagantes, maquiagens marcantes, plataformas levadiças, efeitos visuais, pirotecnia, fogo, sangue, luz e demais elementos que tornam o show do grupo algo único, simplesmente o maior espetáculo da terra. Também foi nítido que, desde o início da perfoirmance, o Kiss demonstrou toda a sua energia e paixão pelo rock, coisa pouco vista em vários shows de pessoas que possuem a metade de idade de Paul Stanley, Gene Simmons, Eric Singer e Tommy Thayer.
Sobre as músicas, nenhuma surpresa. O set list cravou só clássicos da banda, que há meio século percorre o mundo tocando “I Was Made For Lovin’ You”, “Calling Dr Love”, “I Love It Loud”, “Deuce”, “Psycho Circus”, “Love Gun”, “God Of Thunder”, “Black Diamond”, “Do You Love Me” e “Rock And Roll All Nite”, entre outras. Esta última, inclusive, foi a que fechou a noite histórica, com aquela tradicional chuva de confetes, fogo e loucuras que precedem a saída de cena da banda – e, neste caso, o fim da passagem física do Kiss pelo Brasil, iniciada já exatos 40 anos, lá em 1983, no Maracanã.
Em resumo: se de fato foi a última vez, será épico ter vivenciado ao vivo e em cores um verdadeiro espetáculo de rock’n roll. Deixará saudades em todos os fãs brasileiros e marcará a história catarinense para sempre.
Set List: “Detroit Rock City”, “Shout It Out Loud”, “Deuce”, “War Machine”, “Heaven’s On Fire”, “I Love It Loud”, “Say Yeah”, “Cold Gin”, “Lick It Up”, “Makin’ Love”, “Calling Dr Love”, “Psycho Circus”, “God Of Thunder”, “Love Gun”, “I Was Made For Lovin’ You” e “Black Diamond”. Bis: “Beth”, “Do You Love Me” e “Rock And Roll All Nite”.
Série sobre a história de uma banda fictícia inspirada no Fleetwood Mac dos anos 1970 mistura ficção e sentimentos reais de forma mesmerizante
Texto por Taís Zago
Foto: Amazon Prime/Divulgação
Histórias de bandas fictícias/montadas por um casting em forma (ou não) de mockumentary – suposto documentário ficcional cheio de fatos falsos e/ou deboche – ou narradas em voice over por jornalistas e integrantes não é, de maneira alguma, novidade no universo cinematográfico. Tudo iniciou como formato musical com o fake documentário A Hard Day’s Night (1964) dos Beatles, que acabou inspirando o surgimento dosMonkees logo depois e ganhou força no final da década com musicais como Tommy (1969), da banda real The Who, e Spinal Tap (1984), tendo nova força nos anos 1990-2000 com obras mais dramáticas como Velvet Goldmine (1998), Quase Famosos (2000), Hedwig And The Angry Inch (2001) ou Dreamgirls (2006), para citar apenas alguns. A lista do estilo, portanto, é imensa. O que nos leva à pergunta: qual história ainda não foi contada?
A resposta é simples: nenhuma. Chegamos a um ponto onde arcos e enredos como pano de fundo de empreitadas musicais já se esgotaram. Adentramos, portanto, uma nova época. Uma época em que o importante não são mais as repetições de dramas, conflitos e situações engraçadas, mas sim o trabalho estético, o esmero dos atores e a riqueza dos diálogos. Assim chegamos no seriado de streaming que estreou em março chamado Daisy Jones & The Six (EUA, 2022 – Amazon Prime). O best-seller homônimo de 2019 da escritora Taylor Jenkins Reid, conta, em formato de entrevista com os envolvidos e membros da banda, as desavenças e os conflitos de mais um combo movido a sexo, drogas, soft rock e muito drama. Reid admitiu abertamente que a banda que a inspirou para o esqueleto do livro foi a mundialmente famosa Fleetwood Mac. O grupo subiu à apoteose musical ao vender mais de 40 milhões de cópias doálbum Rumours (1977) por todo o mundo, o 6º disco mais vendido nos anos 1970 e o 12º mais vendido de todos os tempos. Aos mitos e “rumores” envolvendo as conturbadas gravações do disco, viraram parte do folclore musical. O Fleetwood Macacabou se tornou sinônimo do estilo de vida rock’n’roll abastecido com entorpecentes, sofrimento e loucura. Os integrantes trabalhavam suas diferenças, amores e decepções em suas canções e o planeta assistia a tudo isso hipnotizado enquanto eles derramavam o conteúdo intenso de seus corações no palco em apresentações inesquecíveis até hoje.
Após ler o livro, pensei: tudo bem, trata-se aqui de mais um apanhado de clichês onde frontman e a frontwoman carregam a banda nas costas com sua relação conturbada. Pensei na hora, claro, em Stevie Nicks e Lindsey Buckingham; em Agnetha e Björn mais Benny e Anni-Frid, do Abba; em Ike e Tina Turner, ou em qualquer outro casal que trouxe a público suas desavenças e dores afetivas. Mas também vi o potencial cinematográfico de um enredo que sempre vai encontrar um nicho – a magia da liberdade conquistada nos anos 1970, a transgressão de valores conservadores, a atmosfera envolvente dos tempos pré e pós-hippie, um casal de protagonistas lindos, talentosos e extremamente carismáticos vivendo um amor torturado e nunca satisfatoriamente consumado. Era apenas uma questão de tempo até uma adaptação para as telas ser feita.
Os criadores Scott Neustadter e Michael H. Weber não perderam tempo, adaptaram o livro de Reid e chamaram James Ponsoldt (Master Of None) e Nzingha Stewart (Little Fires Everywhere) para assumir a direção da maioria dos dez episódios totais da série, que, adequadamente, recebem o título de tracks 1 a 10. Para o elenco, buscaram atores que sabiam tocar instrumentos e cantar – sim, isso faz uma diferença enorme quando assistimos a qualquer tipo de biopic (mesmo que fake) de algum artista musical. E aqui a escolha foi mais que acertada. Para o papel de Daisy, foi escolhida Riley Keough (Neta de Elvis, filha de Lisa Marie Presley). A atriz incorpora o papel de uma forma mesmerizante. Traz profundidade, complexidade e uma intensidade maior do que a Daisy do livro de Reid nos apresenta. Seu “par romântico” é interpretado pelo sensacional Sam Claflin, que também não nos deixa nada a desejar ao nos mostrar um Billy contraditório, por vezes estrito e sisudo e em outras completamente entregue à sua paixão pela música.
A química entre os dois atores é inegável e palpável. É ela a força-motriz por trás de todos os episódios da série. É um clássico embate de egos, um vai-vem de sedução e tortura emocional que nos mantém vidrados todas as vezes que aparecem em cena. Uma queda de braço entre os opostos que se atraem irresistivelmente e que precisam desesperadamente um do outro para trazer à flor da pele a genialidade das composições e interpretações da banda. Perto da dupla, compreensivelmente, o resto do elenco meio que desaparece, apesar de suas performances também serem bem fortes.
Entre os coadjuvantes temos Suki Waterhouse como a tecladista Karen, que, em certo momento, forma um par romântico com o irmão de Billy, o guitarrista Graham, interpretado por Will Harrison. Também uma apologia ao outro casal polêmico do Fleetwood Mac (John e Christine McVie). Nabiyah Be merece uma menção honrosa pelo papel de Simone Jackson, a melhor amiga de Daisy, uma dancing queen da era disco e suporte emocional da cantora. Apesar de seu personagem não aparecer em vários capítulos Timothy Olyphant está sensacional como Rod Reyes, tour manager da trupe, assim como Tom Wright, que interpreta Teddy Price, produtor dos The Six e figura paterna de Billy.
O elenco, que já tinha certa experiência musical, passou por uma preparação para seus papéis que durou um ano inteiro, ao final do qual se apresentaram para os executivos da série. O resultado superou em muito o esperado e Daisy Jones & The Six realmente se transformou em uma banda real. E isso é o ponto alto de uma produção que não nos traz muitas surpresas em suas reviravoltas. O caminho de ascensão-queda-autorreflexão da banda só se torna mais verossímil ao percebemos que nada ali foi dublado e nem fingido. Os sentimentos irradiados são os sentimentos reais dos atores, seus movimentos, seus trejeitos. Cada um criou sua persona no palco e isso funcionou espetacularmente, quando poderia ser apenas mediano.
Daisy Jones & The Six completa com louvor a tarefa de mimetizar a realidade ao misturar sentimentos reais e ficção de uma forma envolvente e convincente. É um grande banquete para olhos e para os ouvidos que volta e meia ainda divagam sobre os loucos anos 1970 e a exploração dos limites da liberdade.
Darren Aronofosky volta a incomodar com um espetacular Brendan Fraser como um professor em desenfreada busca pela não existência
Texto por Taís Zago
Foto: Califórnia Filmes/Divulgação
Samuel D. Hunter escreveu A Baleia tendo sua própria vida e trajetória como inspiração. Nascido em Moscow, Idaho, ele foi compelido a se assumir gay já na adolescência, sofreu com a homofobia provinciana e suas mazelas emocionais refletiram em um ganho rápido de peso durante os anos de universidade. Então, Samuel cria em A Baleia um “e se…” caso ele tivesse continuado o caminho que estava posto diante de si. Darren Aronofsky assistiu à peça em uma de suas muitas apresentações e rapidamente vislumbrou no roteiro material rico para um longa-metragem.
Para os que estão familiarizados com a obra cinematográfica de Aronofsky não é segredo algum que o diretor, roteirista e produtor se expressa, não raramente, usando os extremos dos comportamentos humanos. Ora aborda o vício em drogas em obras como A Vida Não É Um Sonho (2000), ora as profundezas da alma humana como em Cisne Negro (2010). Também não é raro em seu oeuvre uma jornada de modificação corporal baseada na busca de aceitação e fama que acaba por deteriorar lentamente seus personagens, como em O Lutador (2008). O ponto convergente de sua obra é uma visão desiludida do humano, o que não raramente nos arrasta a lugares incômodos e quase insuportáveis dentro de nossas cabeças.
Em A Baleia (The Whale, Estados Unidos, 2022 – Califórnia FIlmes), Aronofsky e Hunter trabalharam juntos para transpor dos palcos para o cinema toda a gama de sentimentos de Charlie, interpretado brilhantemente por Brendan Fraser, um homem solitário que vem seguindo um caminho sem volta de deterioração física, emocional e psicológica desde a perda de seu grande amor e companheiro de vida. Charlie é um excelente professor universitário de ensaios literários, ministra suas aulas via EAD, mas nunca permitiu a seus alunos que o vissem pela câmera. Há muito tempo Charlie não sai de casa, não cuida da saúde, não vê muitas pessoas. Uma de suas grandes dores foi o seu afastamento compulsório da filha, na época com 8 anos de idade, por ele ter assumido uma relação homoafetiva com um de seus estudantes. Tudo em Charlie é machucado. Apesar do foco em sua aparência como alegoria para a ruína, a parte mais evidente da tremenda dor que carrega é revelada pelos olhos e pela voz. Ao seu lado, tem a fiel amiga Liz (Hong Chau), uma enfermeira que o acompanha e tenta fazer os seus dias o mais confortável possível sem criticar com clichês e sem esmiuçar os motivos. Liz os conhece bem, mesmo que no fundo ela não queira aceitar o caminho escolhido por ele.
O filme, mesmo antes de ser lançado, gerou uma onda de críticas em relação à patologização da obesidade e do uso das chamadas fat suits (trajes de gordura) que os atores vestem para interpretar pessoas gordas e que muitas vezes já contribuiu para o estigma do grupo com representações em filmes de gosto duvidoso – como O Professor Aloprado (1996), com Eddie Murphy interpretando diversos personagens usando fat suits como uma característica depreciativa, ou em comédias românticas como O Amor É Cego (2001) com Gwyneth Paltrow, onde, bem, o titulo em português é autoexplicativo. Não foram raras as alegações de crueldade e de voyeurismo da obesidade. Aronofsky não é famoso pela sobriedade de suas representações. Ele procura sempre o limite, o que, às vezes, pode beirar uma caricatura de mau gosto. Tanto que A Baleia foi classificada como uma espécie de fat horror por uma ala da crítica.
Sabendo isso de antemão, apelei para um artifício ao assistir A Baleia – reduzi a luminosidade da minha tela, diminuindo assim a importância e o impacto da apelação visual e concentrando apenas nas vozes, e, algumas vezes, nos olhares. E só pude chegar a uma única conclusão: Brendan Fraser é espetacular. Desconectando a caracterização, o que nos resta é uma alma partida de alguém que perdeu completamente o interesse de continuar vivendo. O que sentimos é um ser humano em rota de colisão irremediável e desesperançada. E nesse caminho pouco importa o figurino, a maquiagem ou o método escolhido para se alcançar o objetivo, quer seja ele por meio de drogas, comida, ausência de comida, sexo ou qualquer outra forma de se obter o resultado desejado – a não existência.
A dor de Charlie é profunda demais para ser remediada. O luto diário que mantém pelo seu amor perdido de forma violenta é insuperável, a ausência da filha e a culpa que o ronda de forma repetitiva o oprimem. Charlie tanto ruminou suas dores que se entregou a elas. O ponto de retorno já foi há muito abandonado. A depressão retirou a luz quase que completamente de sua rotina. E é exatamente nessa reta final de sua jornada que ele faz um último esforço desesperado para reatar o contato com sua filha Ellie (Sadie Sink), uma adolescente, que segundo as palavras da própria mãe (Samantha Morton, em aparição relâmpago) é simplesmente uma menina má. Charlie se nega a acreditar nisso. Mesmo em toda a escuridão em que vive, ele ainda nutre a esperança na luz de Ellie. Da mesma forma acolhe Thomas (Ty Simpkins), jovem que escolheu pregar a palavra de Deus como sendo a forma irrefutável da salvação humana.
A Baleia, em parte por ser uma dramaturgia adaptada do teatro, é encenada com poucos personagens, tendo como única locação a casa de Charlie e, na maioria das cenas, apenas sua sala de estar. A fotografia é escura em quase sua totalidade, em parte para cooperar com os esforços de tornar a caracterização física mais verídica, mas também como alegoria da profunda depressão do protagonista. A música segue o mesmo caminho, assim como a edição. Tudo nos conduz para a melancolia e para a desesperança. Aronofsky sendo Aronofsky, portanto.
A Baleia é uma tragédia humana real sendo arrastada para o macabro, uma câmara de vácuo e ausência de luminosidade, um palco trágico, uma jornada de redenção e purificação por meio do sofrimento e do sacrifício. Poderia não ser assim, como aponta Samuel ao falar de seu roteiro, mas foi. Brendan Fraser recebeu o merecidíssimo Oscar de melhor ator, preenchendo todos os requisitos que Hollywood busca: um protagonista que retorna das cinzas após ser massacrado e abandonado pela indústria cinematográfica; um roteiro tenso, teatral e dramático; e um personagem que requer modificações físicas complexas da parte do ator para ser interpretado.
Oito motivos para não perder um dos shows do cantor, ator e ex-integrante do One Direction durante sua passagem pelo Brasil em dezembro
Texto por Janaina Monteiro
Foto: Divulgação
Quantos ex-integrantes de boy band você se recorda de terem feito tanto sucesso ao se lançar em carreira solo? Robbie Williams? Ricky Martin? Pois o ex-One Direction Harry Styles entra para esse seleto rol com a diferença de que ele é um sujeito que pelo menos tenta atravessar as fronteiras do óbvio. Por conta disso vem sendo chamado de David Bowie da nova geração. Soa um pouco pretensioso? Será mesmo?
Fato é que os dois primeiros e premiadíssimos álbuns de Styles (o homônimo, de 2017, e Fine Line, de 2019) prestam uma clara homenagem a Bowie, além de Joni Mitchell. E essa inspiração do Camaleão é facilmente detectada em seu visual andrógino carregado de propósito, para romper as barreiras da discriminação. Aliás, essa estética versátil e híbrida ressoa nas suas composições em que ele aproveita para homenagear os ídolos com sua voz de barítono.
Harry flerta com gêneros e décadas diversas (pop, rock, funk, disco), o que, para muitos, pode beirar ao pastiche justamente devido à enxurrada de referências encontradas nas faixas. Por isso, pode-se considerar que Styles é um artista que, sim, já conquistou um espaço entre tantos cômodos de uma mansão, mas ainda segue em busca de sua essência.
Só que uma coisa é certa: ao se aventurar pelo ecletismo, o britânico não tem receio de dar a cara pra bater, dançar fora do ritmo, vestir paetês, usar camisetas kitsch e, ainda, atuar como ativista. Ou seja, se tinha uma única direção até pouco tempo atrás (com o perdão do trocadilho), agora ele aponta para vários horizontes: uma carreira de sucesso na música, no cinema e na moda. O artista é modelo para a garotada da Geração Z ou mesmo um alento para os que nasceram nas décadas passadas, que curtiam bandas como New Kids On The Block, Backstreet Boys e outros conterrâneos de Styles (Take That e Westlife) e podem reviver essa fase da vida em que os hormônios regem os gritos.
Como na maioria das boy bands, há sempre um integrante que se destaca mais. No caso do One Direction, foi Harry Styles. Por isso, o Mondo Bacana lista oito motivos para você conferir a nova turnê desse furacão britânico, que promete trazer muito amor e good vibes para o Brasil, onde ele passa em dezembro (de 6 a 14) e se apresenta em São Paulo (com direito a duas sessões extras), Rio de Janeiro e Curitiba – clique aqui para saber mais sobre locais, datas e ingressos ainda disponíveis).
One Direction
Assim como outros artistas (vide os brasileiros Supercombo e Roberta Sá), Harry Styles é exemplo de que não é preciso ganhar um concurso de televisão para se tornar superstar. No caso do britânico, participar do reality foi o suficiente para o One Direction ganhar a atenção de Simon Cowell. O pequeno Harry, inclusive, já mostrava uma forte inclinação para as artes quando cantava nos karaokês, seu divertimento favorito. Então, em 2010, ele, Liam Payne, Louis Tomlinson, Zayn Malik e o irlandês Niall Horan se juntaram para participar da sétima temporada do The X Factor UK. Mesmo não saindo vitoriosos da competição, o sucesso deles foi estrondoso, com cinco álbuns de estúdio lançados, turnês arrebatadoras, uma avalanche de prêmios e fãs espalhados pelos quatro cantos do mundo, febre comparada à beatlemania. Foram esses fãs, chamados de stylers, que passaram a noite na fila para comprar o ingresso desta turnê de HS, antes mesmo de ele lançar o ótimo álbum Harry’s House. Portanto, pelo menos “What Makes You Beautiful”, do One Direction, deve ser hit presente no set list. Caso contrário, seu séquito irá chiar.
Colecionador de prêmios
Desde que se lançou como artista solo, HS vem acumulando prêmios. Em 2017, seu primeiro single solo, “Sign Of The Times”, já ganhou o título de canção do ano pela Rolling Stone. O álbum de estreia também foi #1 na Billboard 200. O segundo álbum, Fine Line, levou o Grammy de melhor disco de 2019. Duplamente platinado, Fine Line entrou para a História ao liderar as paradas em mais de 20 países, acumulando um total de 5 bilhões de streams em todo o mundo, e recentemente foi nomeado um dos 500 melhores discos de todos os tempos pela Rolling Stone. Com “Watermelon Sugar”, o cantor ganhou o Grammy de Melhor Performance Pop Solo e o Brit Award de 2021 de Melhor Single Britânico. Três meses depois de seu lançamento, o terceiro, Harry ‘s House, já abocanhava o título de melhor álbum do ano pela MTV, consagrando o hit “As It Was” como melhor clipe do ano. Seus videoclipes, aliás, merecem atenção à parte, como no surreal “Adore You”, no qual ele vira “amigo” de um peixe.
Harry’s House
Com melodia que lembra o melhor do synth pop dos anos 1980, o sucesso “As It Was” se transformou rapidamente no hit de 2022, sendo capaz de grudar nos ouvidos como o melhor chiclete Ploc da sua vida. E o disco todo (cuja capa lembra o do rapper brasileiro TETO) traz novamente a parceria com Tyler Johnson e Thomas Hull (aka Kid Harpoon) e revela uma incrível coesão entre as canções, que convidam o ouvinte a dançar, pular, chorar e rir. Nas composições, transparece o misto de emoções que contornaram a vida do artista nos últimos anos, sempre com a figura feminina no spotlight. HS lembra o rompimento de um casamento até o encontro de um novo amor – tanto é que ele considera este álbum como o mais intimista dos três. E se temos de agradecer a alguém, esse alguém se chama Olivia Wilde, a atriz, diretora de cinema e obviamente a musa inspiradora de canções como “Cinema”. O novo trabalho, aliás, deixa evidente a evolução em comparação com os dois anteriores e o rumo a um som mais genuíno. No disco de estreia, por exemplo, é possível perceber influências um tanto explícitas a Beatles em “Sweet Creatures” (que lembra “Blackbird”), ecos de Rolling Stones em “Angel” (que, por sinal, é também o nome de uma música dos roqueiros britânicos) e “Woman”, cuja introdução é Elton John na veia.
Galã de Hollywood
O presidente da New Line Cinema não precisa ter bola de cristal para prever que o futuro de HS é no cinema. Por outro lado, alguns críticos ainda não se convenceram de suas atuações. Aliás, seu mais recente trabalho, My Policeman, acabou de ser lançado na Amazon Prime cercado de polêmicas e acusações de queerbaiting – logo contra um ator que levanta a bandeira da liberdade de gênero. Isso porque Styles faz um policial conservador e enrustido, que vive um romance com o funcionário de um museu. A trama se passa na Inglaterra dos anos 1950, quando ser homossexual era considerado crime e, portanto, era preciso manter as aparências. Este é o terceiro longa de HS, cujo début já aconteceu em 2017 em Dunkirk, dirigido por ninguém menos que Christopher Nolan e indicado ao Oscar. Portanto, Harry se tornou o primeiro artista britânico com um single, um álbum e um filme de estreia em primeiro lugar no mesmo ano. Recentemente, ele também estrelou Não Se Preocupe, Querida, thriller psicológico dirigido por sua atual mulher Olivia Wilde. Além da sua presença cinematográfica, o cantor também já apresentou o tradicional humorístico da TV norte-americana Saturday Night Live.
Covers
Além do repertório próprio, quem acompanha a carreira de Styles sabe que ele é chegado em uma cover, sobretudo para revistar aquelas baladas e canções que de certa forma marcaram a sua vida e evocam memórias afetivas. No festival Coachella deste ano, por exemplo, o britânico convidou a rainha do country pop Shania Twain, que fez enorme sucesso nos anos 1990 com suas baladas melosas. Os dois fizeram dueto nas músicas “Man! I Feel Like a Woman” e “You’re Still The One”. Nesta, inclusive, Styles escorregou um pouquinho e deu uma desafinada, não sendo perdoado pelos youtubers mais críticos. Em show recente na Califórnia, ele cantou “Hopelessly Devoted To You”, composição do australiano John Farrar, que ficou famosa na voz de Olivia Newton-John (falecida em agosto último), no musical Grease. HS também já se aventurou a fazer releituras de outros ícones no palco e em estúdio, como Fleetwood Mac, Lizzo, e Ariana Grande.
O ativista que veste Gucci
Com um sobrenome desses, o artista não poderia deixar de se aventurar no mundo fashion e da cosmética (sim, ele tem uma marca chamada Pleasing). Tanto é que a marca considerada a mais popular do mundo, encontrou em HS uma oportunidade de expandir ainda mais a sua presença – se não no armário, pelo menos no imaginário dos pobres mortais – ao lançar a coleção batizada de HA HA HA e assinada pelo diretor criativo da grife, Alessandro Michele, com o britânico durante a última Semana de Moda Masculina de Milão. Ao todo, são 25 peças inspiradas no estilo vintage, mesclando alfaiataria anos 1970 com estampas descontraídas e coloridas. Inclusive, na sua recente turnê por Nova York, Harry esbanjou glamour nas suas performances, desfilando macacões setentistas com muitas listras. Já dos anos 1980, ele costuma resgatar os paetês. Mas uma peça que ele abandonou (pelo menos por enquanto) foi o seu tênis Adidas x Gucci. Isso por conta da polêmica envolvendo o rapper Ye (aka Kanye West) e suas recentes declarações antissemitas. No final de outubro, HS foi visto usando tênis vermelhos da marca Vans. Os stylers logo perceberam essa troca de figurino e deduziram que essa era uma forma de protesto. Aliás, o cantor tem um histórico de ativismo e, em 2015, quando ainda fazia parte do One Direction, chegou a pedir aos fãs que deixassem de ir ao parque Sea World, que naquele período estava sendo acusado de maltratar animais.
A casa de Harry
Como o terceiro álbum do artista foi concebido durante a pandemia, nada mais plausível do que chamá-lo de Harry´s House. Na verdade, a quarentena serviu para dar um respiro desde que a carreira começou em 2010. Tanto é que, nas letras, há várias alusões a detalhes caseiros como a cozinha, o jardim e até o maple syrup de suas panquecas. Em entrevista à Better Homes & Gardens, a quarta revista mais vendida nos Estados Unidos, ele chegou a fazer um paralelo entre sua residência e sua mente. “Eu acho, às vezes, tomando a terapia como exemplo, que você pode abrir um monte de portas na sua casa que você nem sabia que existia. Você encontra todos esses cômodos que existem para explorar”, disse. Ah, só para constar: a mansão em Los Angeles, onde o astro britânico morou até 2019, foi colocada à venda por quase 8 milhões de dólares, segundo o Hollywood Reporter.
Estrutura especial
Para a Love on Tour, o público pode esperar um palco diferentão, em formato de um círculo, por onde o astro se desloca de uma extremidade a outra com piruetas, fazendo com que todos os setores do estádio possam ter uma boa visão do show. Só não vale arremessar nuggets no cantor, que é vegetariano. Pior que isso de fato aconteceu em uma apresentação em Nova York. E, no melhor estilo Harry Styles, ele tirou de letra.
>> Leia aqui e aqui, respectivamente, para ler as resenhas de Não se Preocupe, Querida e Meu Policial, os dois filmes protagonizados por Harry Styles em 2022
Oito motivos para não perder o novo show do artista, estrela de vários festivais no Brasil em 2022 e que acaba de voltar de turnê pela Europa
Texto por Abonico Smith
Foto: Fernando Young/Divulgação
Ele tem em Abelardo Barbosa, o Chacrinha, celebridade citada em uma das famosas músicas suas, a clássica “Aquele Abraço”. Contudo, quem está com tudo e não está prosa é o próprio Gilberto Gil, que está com a agenda cheia nesta temporada em que acabou completar 80 anos de idade.
Gil acaba de voltar de uma bem-sucedida turnê pela Europa, onde foi acompanhado por alguns de seus descendentes no palco. Também acaba de estrear em streaming o reality show Em Casa com os Gil, onde é o protagonista ao lado de toda a sua família. Participou de grandes festivais brasileiros (MITA, Coala, Rock in Rio), com shows concorridos de público e bastante incensados pela crítica. Também percorre o país apresentando-se aqui e ali, em grandes e importantes cidades, com sua banda de apoio, formada majoriamente por gente que carrega o talento e o sobrenome Gil em seu DNA.
Por estar bastante incensado que todos os ingressos para a sua passagem por Curitiba (Teatro Positivo, dias 27 e 28 de outubro), depois de cinco anos sem cantar na capital paranaense, estão esgotados. Quem sabe alguma mágica acontece e, se você não comprou a sua entrada, algum bilhete “premiado” aparece disponível voando por aí?
De qualquer maneira, aí vão oito motivos para não perder (pode não ser um destes mas que seja algum próximo) um concerto de Gilbert. Gil bem à sua frente
Tropicália
Ao lado do amigo e conterrâneo Caetano Veloso, Gil bolou todos os conceitos, preceitos e possibilidades sonoras do movimento que abalou as estruturas da música brasileira no biênio 1967-1968, provocou muita polêmica e desde então vem, década após década, vem rendendo frutos e discípulos maravilhosos para nossos ouvidos escutarem e os olhos verem em ação nos palcos da vida. Expandindo toda e qualquer fronteira, sempre observando e absorvendo tudo o que pudesse, adentrando as várias regiões do país ou mesmo pegando coisas boas lá de fora. Se não fosse a ação feita pela Tropicália lá atrás, que sacodiu a poeira da estagnação da bossa nova e projetou um belo futuro, onde vieram a se encaixar nomes como Sérgio Sampaio, Walter Franco, Chico Science & Nação Zumbi, Paralamas do Sucesso, Los Hermanos, Ana Cañas, Francisco El Hombre, Charme Chulo e Johnny Hooker, por exemplo.
Família no palco
Com 80 anos de idade completados em 26 de junho e dono uma carreira musical ímpar, Gil agora desfila nos palcos toda a sua generosidade em ceder espaço para seus descendentes (filha/os, neta/os, nora) como integrantes de sua banda de apoio. Aliás, quase todo mundo que o acompanha carrega no DNA traços da família Gil – o que faz pensar o quanto os tentáculos deste sobrenome poderoso de três letrinhas se alastraram pelo Rio de Janeiro e que, de uma ou outra maneira, cada profissional da música que esteja radicado na Cidade Maravilhosa está de uma ou outra maneira, até no máximo seis graus de separação (quando muito isso, olha lá!) de Gilberto Passos Gil Moreira. O mais recente membro do clube com o branding Gil é a neta Flor, de apenas 13 anos, com quem chegou a dividir recentemente os vocais principais, no Rock In Rio, em uma versão bilíngue de “Garota de Ipanema”.
Reality show
Por falar em família, se você tem acesso ao streaming da Amazon Prime não deixe de assistir Em Casa com os Gil, reality show criado pela Conspiração Filmes para documentar – da criação à realização de uma turnê de quinze datas feita meses atrás por alguns países europeus, passando por várias reuniões com a participação de todos os membros do clã, que, de uma ou outra maneira, aparecem em cena passando pelo sítio do artista em Araras, onde ele se isolou durante a pandemia da covid-19. Tem até a bisneta Sol de Maria. É interessante ver toda a dinâmica familiar regida por Gil e a esposa Flora, que coordena não só a carreira do artista como também organiza e rege tudo o que envolve os encontros familiares.
Repertório clássico
Não faz muito tempo que Gil deu uma declaração tão polêmica quanto provocativa: ela passara a gravar pouco ou quase nada porque, de uma forma ou de outra, todas as músicas já haviam sido compostas e registradas. Claro que isso é uma hipérbole, mas não deixa de ser algo que faz pensar. Afinal, quanto mais oferta há de obras e artistas neste oceano que é a internet com suas plataformas de comunicação e divulgação, menos chance de se ter tanto um lugar verdadeiramente ao sol como ainda alcançar uma popularidade que tenha a mesma eficácia ou impacto de outrora. Portanto, nada mais natural também que o repertório da atual turnê de Gil seja um belo passeio por clássicos de várias fases de sua extensa trajetória. Afinal, se Gil conseguiu enfileirar hit atrás de hit nos tempos em que as rádios ainda tocavam a boa música brasileira do presente ou pelo menos algumas belezas não muito conhecidas pela massa, tudo o que menos se precisa enfiar em um show seria um punhado de faixas recentes que quase ninguém conhece ou já ouviu, só pela obrigação de se divulgar um disco novo e a justificativa de fazer (mais) uma turnê.
Laços com o reggae
Um dos destaques do repertório clássico de Gil é a sua forte conexão com o reggae. No disco Realce, de 1979, ele verteu português o clássico “No Woman No Cry”, de Bob Marley (Gil tinha acabado de assinar com a recém-inaugurada filial Warner, que era dirigida pelo seu ex-diretor na Phillips, o já falecido André Midani; Bob Marley era um dos grandes nomes do selo Island, representado em nosso país pela Warner, que inclusive chegou a trazer o artista jamaicano para cá). Vinte anos atrás ele chegou a gravar um álbum (Kaya N’Gan Daya) dedicado só ao gênero, com um monte de releitura de Marley inclusive. E em uma ou outra música tocada ao vivo sua o arranjo traz traços de reggae.
Fase pop
Depois de assinar com a Warner, Gil também passou a desenvolver uma fase tão pop quanto polêmica. Sem deixar de lado a música brasileira, empunhou a guitarra e soube misturar o popular com o pop. Muitos críticos passaram a torcer o nariz para o Gil dos anos 1980, mas não há dúvida de que dali saiu muita coisa boa que ainda levou o artista a ganhar um público mais abrangente que o das rádios FM voltadas à elite cultural. São desta época pérolas dançantes (como “Palco”, “Toda Menina Baiana”, “Realce”, “A Gente Precisa Ver o Luar”, “Andar Com Fé”, “Vamos Fugir”, “Extra”, “Punk da Periferia”, “Extra II”, “Pessoa Nefasta”, “Nos Barracos da Cidade” e “Não Chores Mais”) e baladas de arrepiar (como “Drão”, “Tempo Rei”, “Super-Homem, a Canção” e “Se Eu Quiser Falar Com Deus”.) Ainda tem obras compostas por ele e gravadoras originalmente por outros artistas na época ( “A Paz”, “Um Trem Pras Estrelas”, “A Novidade”). Muitas destas citadas aí são presença constante no repertório dos concertos mais recentes.
Ex-ministro da cultura
Entre 2003 e 2008, nos dois mandatos presidenciais de Lula, Gil esteve à frente do Ministério da Cultura, rebaixado à condição de secretaria durante o (des)governo de Jair Bolsonaro. Esta não fora a primeira incursão do cantor e compositor na política. Em 1988, então filiado ao PMDB, elegeu-se vereador em sua cidade natal, Salvador. Em Brasília, porém, driblou desconfiança de colegas do meio artístico como os atores Marco Nanini e Paulo Autran, para realizar um bom trabalho na Esplanada dos Ministérios. Afastado dos palcos pero no mucho (como ministro, em seu primeiro ano de atuação, botou as Nações Unidas para dançar durante o Show da Paz na Assembleia Geral da ONU), implementou uma série de políticas públicas voltadas à difusão cultural, em um tempo onde o governo federal ainda se preocupava, de fato, com o desenvolvimento e o avanço da arte. Em tempos onde a cultura brasileira anda tão combalida e arrasada, nada melhor do que uma nova mudança de governo e um novo ministro como fora Gilberto Gil para reerguer toda essa riqueza de volta.
Imortal da ABL
Em novembro de 2021, Gil foi eleito para uma vaga na Academia Brasileira de Letras, por meio de 21 votos, para ocupar a cadeira de número 20. Sua inclusão no quadro de imortais da ABL se deu uma semana depois da de Fernanda Montenegro. Uma mostra não apenas de que a instituição (que em julho último celebrou 125 anos de existência) mostra estar se abrindo para textos não formais da literatura tupiniquim como também mais uma faceta pública de Gilberto Gil que vai além dos palcos, instrumentos e microfones. E ele merece, também. Primeiro porque nas últimas décadas revelou-se um dos mais hábeis autores musicais de nosso país. E também porque já demonstrava uma certa queda para o fardão já na capa de seu álbum de estreia, de 1968, quando posou, com olhar matreiro, para as lentes do fotógrafo David Drew Zingg como um dos personagens daquele projeto gráfico. Portanto, mais de meio século antes e ainda no auge da Tropicália, Gil – cuja posse na instituição ocorreu em 8 de abril de 2022 – já revelava sua paixão para as letras e antecipava aquilo que ocorreria às vésperas de chegar à oitava década na idade.