Paulo Gustavo volta a interpretar Dona Hermínia em filme que parece não ter sido feito para ser exibido nos cinemas
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Downtown Filmes/Divulgação
Há certos tipos de filme que não têm seu lugar no cinema. Não me entenda mal, este não é um juízo de valor – um filme não é feito para o cinema simplesmente por ser ruim (ou é ruim e, portanto, não é adequado para os cinemas). Este, inclusive, é o caso de Minha Mãe É Uma Peça 3 (Brasil, 2019 – Downtown). Um filme que não é ruim, porém nem por um segundo é adequado para as telonas.
O longa dirigido por Susana Garcia é uma série de esquetes, escritas e protagonizadas por Paulo Gustavo. Interpretando uma personagem fortemente inspirada em sua mãe, ele encarna uma desbocada e desaforada senhora, mãe de três, que descobre que será avó e, ainda por cima, seu filho gay (que, por sua vez, é inspirado no próprio protagonista) irá se casar. É uma série de esquetes que, de fato, acabam por estruturar-se desta forma. Classifico desta maneira pela falta de coesão na passagem de uma cena a outra. Não há “cola” que una o filme, além de um fiapo de história que se estende demais.
Desta forma, tal como seus antecessores, Minha Mãe É Uma Peça 3 é um compilado de eventos cômicos de Dona Hermínia. Logo, é evidente que o longa depende fortemente da atuação de Paulo Gustavo, que entrega muito bem suas melhores piadas. Há, no entanto, momentos fracos, e até mesmo entediantes, sequências inteiras que poderiam ser descartadas e, com isso, nada na trama mudaria.
Só que Minha Mãe É Uma Peça 3 é completamente desinteressado em sua trama. Sua intenção é, e isto está claro desde o início, o puro entretenimento esquetista e barato. Os punchlines. Este é um fator importantíssimo ao analisar um filme como este. Dentro do que se propõe, o longa opera contundentemente. É ciente de suas lacunas mais cinemáticas, por assim dizer, mas traz consigo uma vontade (do público) completamente diferente da de um filme “comum”. O espectador deste longa está interessado em encontrar as semelhanças de suas mães e avós com Dona Hermínia e suas colegas.
Outro ponto que deixa clara a inaptidão deste filme para as telonas é a fotografia. Dante Belluti, fotógrafo da série Coisa Mais Linda, entrega um quadro completamente plano na maioria das vezes. Utilizando clássicas estratégias de iluminação novelesca, ele, aqui, anula todo o potencial de linguagem que a fotografia fílmica carrega. Adiciona-se a isto a mais cafona das trilhas sonoras, que entra nos momentos mais telegrafáveis possíveis, para construir um perfeito filme de fim de tarde de domingo – mas um desastre para os cinemas.
Minha Mãe É Uma Peça 3 entretem o público, tira boas risadas, até mesmo gargalhadas. Contudo, não traz consigo nenhum valor além do mais barato entretenimento, esquecível. Por tudo isso, é mais adequado à telinha que à telona.