Music

Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá

Oito motivos para não perder a turnê que celebra os emblemáticos álbuns As Quatro Estações e V, da Legião Urbana

Texto por Abonico Smith

Foto: Divulgação

Há oito anos dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá voltaram a se encontrar em um mesmo palco. O motivo era nobre: comemorar os trinta anos de lançamento do primeiro disco, homônimo, da Legião Urbana. Juntaram mais alguns amigos para a banda de apoio e chamaram o ator e cantor André Frateschi para comandar os vocais. Não puderam, por questões judiciais, utilizar o nome da banda. Mas isso não impediu nem o sucesso nem a possibilidade de reconexão com novos e velhos fãs dos tempos de Renato Russo. A ideia inicial era fazer apenas vinte shows pelo país, mas os convites vieram e o total de apresentações teve de aumentar.

E a primeira turnê gerou, anos depois, a segunda, dedicada ao repertório dos dois álbuns seguintes: Dois (1986) e Que País é Este 1978/1987 (1988). Agora, depois da interrupção na área cultural provocada pela pandemia, chega a vez de uma nova empreitada. Neste ano, Dado, Bonfá, Frateschi e os mesmos músicos embarcam no projeto As V Estações, que reúne canções gravadas no quarto e no quinto álbum da discografia do grupo, então devidamente formatado como trio na época. Até omês de dezembro, a agenda de apresentações e viagens está cheia (informações sobre as cidades e dias você encontra clicando aqui). Neste fim de semana, dias 25 e 26 de agosto, a escala é em Curitiba, no Teatro Guaíra (ingressos e horários aqui).

Mondo Bacana dá a você oito motivos para você não perder esta terceira reunião celebratória dos músicos ainda vivos da formação fonográfica da Legião Urbana.

André Frateschi

Detratores podem até reclamar que tocar ao vivo as canções da Legião Urbana sem Renato Russo nunca será a mesma coisa. Bom, a mesma coisa não será mesmo, afinal o vocalista e letrista morreu em 1996. Só que também querer limitar a banda à existência de Renato é um pouco demais. Dado e Bonfá não só participavam também de todo o processo criativo das composições como também têm todo o direito de excursionar tocando o material de uma carreira que também a eles pertence. Então, o eterno fã confesso da Legião André Frateschi caiu como uma luva na posição. Ótimo cantor, ele está lá à frente dos músicos não para imitar Renato, mas para cantar e performar do seu jeito, sem deixar nada a dever tanto nos vocais quanto  nas performances.

As Quatro Estações

O quarto álbum da discografia foi concebido em um momento bastante delicado para a banda. Não bastasse toda a confusão ocorrida durante o show interrompido no Mané Garrincha, em Brasília, ainda havia as dificuldades internas: o rompimento com o baixista Renato Rocha, o bloqueio criativo de Renato Russo e a pressão da gravadora para, enfim, ter um material de composições após o estrelato repentino. Quando saiu, porém, As Quatro Estações foi o disco de libertação da Legião, a tal virada de página definitiva do underground. Emplacou diversos hits nas rádios e consolidou de vez a banda como um trio de sonoridade mais diversificada que a aquela banda lá do início ainda nem tão distante assim.

“Há Tempos”

Faixa inicial de As Quatro Estações e a música que também abre a atual turnê. É um petardo direto e sem refrão, na qual Renato aborda tematicamente o lado escuro da aids, que muito abalou a juventude dos anos 1980 e viria, nos anos seguintes, a debilitar a sua saúde também. Com versos sombrios como “Parece cocaína mas é só tristeza” e “Há tempos são os jovens que adoecem”. Escutá-la, mesmo passados mais de trinta anos, tem o efeito de receber um feroz sopapo na cara em pouco mais de três minutos.

“Meninos e Meninas”

Em um disco com letras repletas de metáforas e códigos, talvez esta seja a canção mais objetiva escrita por Renato sobre a sexualidade. Se em títulos anteriores como “Daniel na Cova dos Leões” e “Soldados” faziam referências veladas sobre o fato de ser gay, aqui ele vai direto ao ponto: “acho que gosto de São Paulo, gosto de São João, gosto de São Francisco e São Sebastião/ E eu gosto de meninos e meninas”. Se hoje a música brasileira celebra a diversidade sexual (inclusive com Jão batizando uma música sua também como “Meninos e Meninas”), muito disso se deve a esta faixa, lançada em um período em que a juventude do país ainda estava bem distante para falar sobre sexo.

“Monte  Castelo”

Liturgia travestida de canção pop, com a Epístola de Paulo aos Coríntios se misturando ao soneto 11 de Luis de Camões e título que homenageia os pracinhas brasileiros que lutaram contra os nazistas na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Com o arranjo levado por pandeiro, violão e teclado, a faixa fica estrategicamente colocada ao final do set list, encerrando o show com leveza sonora e veia literária. Enfim, uma canção sobre o amor em um disco que versa, basicamente, sobre o amor em suas mais diversas formas.

“1965 (Duas Tribos)”

‘É o bem contra o mal/ E você de que lado está?”. De uma certa forma estes versos previram o us and them que dominou o território nacional durante o último desgoverno desses últimos anos. Só que esta canção chamava o Brasil, ironicamente, de “o país do futuro”, remetendo ao slogan da ditadura miltar e remoendo toda a herança de violência e podridão social que os militares queriam varrer para debaixo do tapete para enganar a população com falsos ordem e progresso. Não chegou a tocar na rádio após o lançamento do disco, mas tornou-se uma pérola escondida e uma das poucas faixas que vão bem além da temática do amor.

V

Quinto álbum da carreira, lançado em 1991, reflete o período mais barra-pesada vivido nos bastidores da banda. No final do ano anterior, a internação do vocalista e a descoberta de ser HIV positivo. O desgosto sociopolítico da Era Collor também respingava um gosto amargo no canto da boca. Por isso este não foi um álbum fácil. De compor, de gravar e depois de ser escutado. Faixas de longa duração, andamento lento, melancolia explícita. “O Teatro dos Vampiros”, “Vento no Litoral”, “Sereníssima” e “Metal Contra as Nuvens” são os destaques do repertório e estão no set list desta turnê.

Pentagrama

Este foi o símbolo escolhido para nortear a criação desse novo projeto. Frateschi explica: “os quatro elementos coordenados pelo espírito, uma linha contínua com cinco vetores, contam essa história: I AR (confissão, entrega, espelho), II ÁGUA  (amor, relacionamento, self), III TERRA  (superhits), IV  FOGO  (política, Brasil, luta, mudanças) e V ESPÍRITO  (Só o amor salva). Vivemos um momento de construção de novos caminhos, o amor como conselheiro, a integração do meio com o ambiente, o empenho em adiar o fim do mundo. Uma utópica quinta estação que trará novos e melhores dias”.

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