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Vice

Atuação de Christian Bale é o ponto alto desta cinebiografia do vice-presidente de George W. Bush com muito humor e crítica política

vicebale2018

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Imagem Filmes/Divulgação

Um dos filmes mais comentados nesta temporada de premiações, acumulando indicações e desenvolvendo um hype de Oscar, é Vice (EUA, 2018 – Imagem Filmes). O filme de Adam McKay (que em 2015 já mexera em outra grande ferida recente de seu país em A Grande Aposta) conta a trajetória de Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo de Bush Filho (2001- 2009), desde sua origem em Wyoming até os dias atuais. E será que toda a repercussão da obra vale o ingresso?

A trama retrata as nuances do poder adquirido por Cheney, brilhantemente interpretado por Christian Bale, que repete a parceria com McKay. Aqui, Bale também passa por transformações físicas para seu protagonista, sendo que o ponto alto de sua atuação é o detalhe. Cada trejeito do político americano é cuidadosamente arquitetado por seu ator. O elenco de apoio também não deixa a desejar mas poderia ser melhor aproveitado. Como Amy Adams, que interpreta sua esposa, Lynne Cheney, demonstrando seu inegável talento com seus momentos de brilhantismo; e Steve Carell, que orbita entre o drama sádico e a inconveniência humorística como o secretário de defesa Donald Rumsfeld.

McKay constrói o filme de maneira equivalente a seu laureado antecessor, repetindo seu estilo de narração com traços de documentário investigativo com o acréscimo da maturidade no tom. A seriedade da trama privilegia o humor fortemente visual da obra, que se aproveita da estética cinematográfica para preencher suas duas horas com momentos genuinamente engraçados. Grande mérito de Viceé  a utilização de metalinguagem, que presenteia o espectador com as melhores piadas do filme.

Numa outra camada de metalinguagem, o filme alterna suas razões de aspecto e cria uma formidável confusão, na qual não entendemos se as imagens mostradas são mesmo reais ou gravadas para esta produção. Essa estranha sensação amplifica as consequências das decisões de Cheney e sua equipe, o que torna o filme particularmente denso, sem abandonar a leveza com que McKay trata suas cenas.

A fotografia é simples, ressaltando a narrativa visual do roteiro e criando a tênue margem entre realidade e ficção que dança ao longo do filme. Os planos abertos e posicionamentos simples da obra são bem montados, numa alternância de ritmo entre os momentos mais tensos e calmos, sem que deixemos de enxergar o poder nas mãos de Cheney. Ainda assim, quando a trama embarca em seus episódios sérios, não poupa esforços. Cenas fortes preenchem a tela, além de críticas (sutis e óbvias) à política da direita estadunidense. Trump e seus eleitores têm uma especial participação porque Vice mescla humor à crueza da vida política de uma das nações mais poderosas do mundo.

McKay consegue demonstrar seu lado “humano” presente em relações pessoais. Com uma iconografia que traça paralelos entre o personagem de Bale e o icônico Winston Churchill, a obra quase faz o espectador sentir empatia pelo vice-presidente de George W. Bush. Ainda assim, o roteiro e a camada de realidade que permeia o filme o vilanizam sem a necessidade de iluminação nefasta e revelação de planos malignos do político. Escancarando seus erros e as consequências deles, Vice nunca te deixa esquecer que seu protagonista é Dick Cheney.

[Nota do editor: Na noite de 7 de janeiro, ao receber o Globo de Ouro da categoria de melhor ator em comédia ou musical, Christian Bale agradeceu a satanás pela inspiração ao papel de uma pessoa sem qualquer carisma.]

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