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Kamasi Washington – ao vivo

Ícone do jazz contemporâneo volta a Curitiba para coroar o novo formato da Ópera de Arame e levar o público rumo ao espaço

Texto e foto por Leonardo Andreiko

A Ópera de Arame já não é mais a mesma. Se, ao pensar no colosso curitibano de aço e vidro você relembra apresentações em que esteve sentada ou sentado na cadeira (quando muito de pé em frente a ela), vai tomar um baque quando retornar. Agora, o que era o auditório se tornou o pano de fundo de um novo palco e de uma pista, construídos acima do palco original do local. O resultado combina a estrutura imersiva com uma maior abertura aos shows em que se quer dançar, como o de Marina Sena ou, por que não, do ícone do jazz contemporâneo Kamasi Washington.

Os portões se abriram por volta das 18h naquela noite dominical de 29 de maio de 2022. Os curitibanos que foram presenciar um dos maiores saxofonistas da atualidade não ficaram desamparados no início: a discotecagem de Sik & Lady Daphne atiçou o público com foco nas brasilidades do século passado, remixando MPB4, Milton Nascimento, Chico Buarque e outros nomes mais. Um ótimo começo para uma experiência que, certamente, marcou a Ópera de Arame. Mas logo chegou a hora do artista principal entrar no palco. A partir desse momento, o tempo se suspendeu e Kamasi Washington, com suas longas vestes de estampa colorida e um arsenal de joias nas mãos e pescoço, prometeu: “vamos para o espaço”.

Composta por Kamasi, seu pai Rickey Washington (flauta e clarinete), Dontae Winslow (trompete), Brandon Coleman (teclados), Miles Mosley (baixo), Tony Austin (bateria), Ronald Bruner Jr (bateria) e Patrice Quinn (vocais), a banda demonstrou sua imensa sinergia ao convidar a plateia curitibana não somente para assistir mas também sentir-se parte da jam, como se músicos deste calibre se encontrassem num clube de jazz para trocar uma ideia. Cada um dos componentes teve seu holofote e fez bonito. Todos conduzidos por Kamasi, que até convidou o público para cantar “Street Fighter Mas” em conjunto com a estelar Patrice Quinn.

Embalados por sucessos como “Truth”, “Fists Of Fury” e a mais recente “Sun Kissed Child”, os presentes aproveitaram mais de cem minutos de um jazz energético, melódico e muito, mas muito potente. Kamasi consegue surpreender com sua proeza musical, mas também presentear a plateia com uma atitude tão despretensiosa que eleva a apresentação a uma memória a se agarrar. Cada um dos músicos, extremamente competentes por sinal, parece tão compenetrado em seu trabalho e também à vontade. Principalmente, eles deixam claro que estão se divertindo.

Mas Kamasi e sua banda não tocaram sozinhos. Pelo contrário, a forte chuva de Curitiba se fez presente tanto com seus relâmpagos acendendo a Ópera de Arame por trás da performance. Uma mescla perfeita com a iluminação do palco, preenchendo as vagas entre músicas com o forte ruído das gotas batendo contra a estrutura do prédio. Durante os solos, naipes e coros, no entanto, deu espaço para os músicos convidados estrelarem.

Assim, é seguro dizer que o retorno de Kamasi Washington aos palcos curitibanos coroou o novo formato da Ópera de Arame. Junto à sua banda, uma discotecagem e ambientação fenomenais mais e a chuva tradicional de Curitiba (naquela noite em quantidade bem maior do que a de costume), fez o que prometeu. Levou-nos ao espaço.

Set List: “The Garden Path”, “Street Foghter Mas”, “Sun Kissed Child”, “Hub-Tones”, “Truth”, “Mutha Afrika” e “Fists Of Fury”. 

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