Novo festival da capital catarinense reuniu mais de 30 atrações e contou com um enorme atraso para o início do show de Erykah Badu

Erykah Badu
Texto por Frederico Di Lullo e Luciano Vitor
Fotos: Frederico Di Lullo
Sábado, 28 de janeiro, Hard Rock Café, continente da Grande Florianópolis. Um line up com mais de 30 artistas e bandas. Uma pergunta: quem aguentaria essa maratona debaixo de um calor insano, com tantos shows e o custo absurdo das bebidas?
Antes de começar a falar das bandas, merece um destaque o preço das bebidas no Floripa Eco Summer Festival. Uma garrafa de água saía a 12 reais. Uma lata de Heineken era 16. Já um combo com três delas, 42. Com os shows começando no início da tarde, era praticamente uma insanidade chegar às 3 ou 4 horas da manhã sem beber algo, fossem algumas latinhas de cerveja ou bastante água. Nesse caso, tudo foi proibitivo. Mas vamos aos shows que conseguimos cobrir. Que são o que interessa…
O calor estava na faixa de 34 graus quando chegamos ao Floripa Eco, onde já estava no palco a Jovem Dionisio, encarregada de abrir esta edição do incrível festival realizado na cidade de São José. Num clima de verão, literalmente, a banda desfilou todo o repertório de Acorda, Pedrinho, seu álbum de estreia lançado em 2022. Como não poderia ser diferente, a faixa quase homônima (o título, desta vez, não traz a vírgula e é grafado em maiúsculas), com mais de 85 milhões de plays no Spotify, foi a escolhida para encerrar o show. A plateia, tímida e composta majoritariamente por jovens adolescentes, cantou o hit em uníssono com o quinteto indie de Curitiba.
Maneva é um quinteto que como muitos outros mescla pop e reggae. Até ai, nada demais. Boa banda, pegada nova. Para esse que vos escreve, a mistura dos gêneros vai muito além do que faz um Natiruts, já bem conhecido, por exemplo. O problema é que foi um show curto, três covers. O famoso bordão “Toca Raul” nem precisou ser gritado aqui, pois teve cover do eterno Maluco Beleza. Maneva é uma boa banda. O problema é jogar para a galera e não focar no repertório próprio. Isso faz uma diferença enorme, mas para aqueles que não têm medo de errar.
O calor não dava trégua, mas o festival começava a lotar, fazendo milhares de jovens se espremer próximo da grade para assistir a Maria Rita. Com boa interação do público, a dona de um talento que já vem no sangue interpretou antigos e novos sucessos de sua carreira, além de clássicos da música brasileira. Com uma performance por demais agradável, o fim de tarde virou uma grande roda de samba comandada por uma das musas contemporâneas da MPB. Foi, com certeza, um dos momentos mais legais deste Eco de verão.
Depois vieram os Raimundos. Desde a saída de Rodolfo a banda não saiu do lugar. Continua com o mesmo set list, variando o formato, ora para o rock mais pesado, ora para releituras das mesmas faixas com uma pegada praiana, como foi o caso agora. As canções são atemporais, ok. Querendo ou não, mesmo após 20 ou 30 anos, a força de cada música permanece. Por isso, os 50% da formação original que permaneceram tocando o projeto (leia-se o baixista Canisso e o guitarrista e agora também vocalista Digão) vão levando a banda adiante. É crime? Não, mas com um viés praiano o repertório não deixou de ser mais do mesmo. É ruim? Não, é diversão garantida para todas as idades, seja os fãs do tempo durante ou pós-Rodolfo. É um show remissivo, previsível e bacana. Mas não me espantaria ver o que restou da banda gravar algum outro trabalho, por exemplo, com versões das mesmas músicas em inglês ou espanhol para algum projeto futuro, no melhor estilo caça-níquel.

Jorge Ben Jor
Daí veio uma espera fora do normal – entre o mais recente show do palco ao lado e o início do da norte americana passou fácil mais de uma hora. Mesmo com toda a apoteose para abrir de fato o concerto, o que levou mais 3 ou 4 minutos, nada justificava o atraso de Erykah Badu (poderiam ter realocado outras atrações ou soltar um comunicado ao público). Ela é uma diva? Sim, mas dentro de uma estrutura com mais de três dezenas de apresentações, o atraso ocasiona gastos maiores por conta do público e daí lá se repete a ladainha do início do texto: cerveja nada barata, combos nada amigáveis em termos de preços. Enfim, uma tremenda falta de respeito! Eu me pergunto o que o público diria de um atraso de um artista nacional, voltando ao atraso absurdo.
Falando da performance dela, foi algo seguro, com os maneirismos vocais da cantora e uma cozinha rítmica impecável. Só que, ao contrário dos seus pares de palco no Eco, Badu faz um show muito mais experimental. Totalmente fora dos padrões do evento. Não é ruim, talvez depois sejam trazidos outros artistas dessa vertente em atrações futuras do Floripa Eco. O som é um r&b mais atualizado, com mix de jazz, funk e soul com sobras de experimental. Isso soa bom pra caramba, só que sem a dosagem certa acaba cansado. Embora os vídeos de fundo de palco mostrem muito da influência da cantora, nada afasta a sua vertente alternativa e apegada ao desvio do mainstream. No frigir dos shows, foi um bom show, mas que deixou a desejar pelo atraso absurdo. Daí me peguei desejando ver o Jorge Ben Jor subindo logo ao palco…
Com a apresentação da Erykah Baduh seguindo aquele script, partimos para outro show, o da prata da casa, o Dazaranha. Tinha a participação do Di Ferrero (ele mesmo, do NX Zero), mas chegamos no meio de “O Mané” conhecida canção da banda ilhéu. Público conectado, energia a milhão, e muita, mas muita gente mesmo, muito mais interessada em Dazaranha do que em atração gringa. Isso é bom porque abre a opção de outras bandas locais estarem no palco, dentro de um evento de nível nacional, não apenas dividindo mas complementando o line up.
Daí veio Marcelo Falcão ou o que sobrou do Rappa, há algum tempo tentando manter a carreira solo. Desde o fim da banda, que encerrou as atividades após vários problemas entre ele e os demais integrantes, o carioca lançou um álbum em 2019, Viver (Mais Leve Que o Ar), e vem batalhando para emplacar um novo grande sucesso pós-Rappa Infelizmente, vem seguindo uma carreira errática. Como mostrou esse show. Das três primeiras músicas, duas eram do Rappa e logo na terceira chamou Maria Rita para um auxílio luxuoso, em “Rodo Cotidiano”. Ele continua sendo um baita crooner mas sem uma banda para chamar de sua carece de respaldo para levar uma carreira consistente. Possui boas músicas de sua carreira solo, porém sem o chamariz do Rappa. Esperamos que deixe seu rosebud para trás e encontre um álbum arrasa-quarteirão, daqueles para esquecer o passado. Pois para quem pediu a um ex-companheiro de banda que abrisse mão de royalties referentes às músicas que o mesmo escreveu, Falcão continua agarrado ao passado.
Aí, sim, chegou a vez daquele senhor que não deixa ninguém ficar parado: o sempre incrível, a lenda-viva da música brasileira de nome Jorge Ben Jor. E o show dele você já sabe: é sempre uma festa! Acompanhado sempre por músicas de exímia qualidade, o morador mais importante do Copacabana Palace colocou todos os presentes para dançar ao som de hinos. Teve “Take It Easy My Brother Charles”, “Oba, Lá Vem Ela”, “Menina Mulher de Pele Preta”, “Chove Chuva”, “Mas Que Nada”, “Taj Mahal” e “W/Brasil”. Bom, a lista é interminável, assim como a energia que este homem emana no auge dos seus 83 anos. Encerrou o Eco com mais um concerto memorável para a lista, parceiro!