Music, Videos

Clipe: Arctic Monkeys – Tranquility Base Hotel & Casino

Artista: Arctic Monkeys

Música: Tranquility Base Hotel & Casino

Álbum: Tranquility Base Hotel & Casino (2017)

Por que assistir: No dia 11 de maio, sem ter lançado qualquer single prévio (algo bastante comum no mercado fonográfico de hoje), o grupo lançou seu mais novo álbum, assombrando meio mundo. O Arctic Monkeys tal qual conhecíamos e de quem aprendemos a gostar surgia radicalmente modificado em sua sonoridade. Mais sofisticado, mais enigmático e menos urgente, com acenos para os lados do soul e do glam e remetendo de vez seu frontman e compositor Alex Turner à condição de gênio camaleônico da atual geração de música pop mundial, o principal candidato a ocupar o lugar vago com a morte de David Bowie. Dois dias depois surgiu o primeiro videoclipe deste álbum, da faixa “Four Out Of Five”. Se a rebuscada letra remetia a uma sinopse publicitária do tal hotel-cassino que batiza o álbum, o clipe apontava por caminhos ainda mais suntuosos. Com cenas filmadas em um castelo na cidade natal do quarteto, Yorkshire, e em uma futurista estação de metrô em Munique, a história coloca Alex no papel de um excêntrico diretor de cinema que dirige o que será filmado, coordena a equipe de produção e ainda se diverte com a banda e sentado sozinho em um piano. Na verdade, serve como uma coleção de referências aos gostos e influências visuais do vocalista para a concepção deste novo disco. Pouco mais de dois meses depois desembarcou nos canais oficiais o segundo vídeo deste álbum. Fica bem nítida a reverência a Stanley Kubrick e filmes clássicos do cineasta e roteirista como O Iluminado, Laranja Mecânica e 2001: Uma Odisseia no Espaço. Dirigido pela mesma dupla que assinou o anterior (Aaron Brown e Ben Chappell, este último já tendo trabalhado com Turner na banda paralela dele, Last Shadow Puppets), o clipe da faixa-título, lançado em 23 de julho, parece uma continuação do anterior, só que em outra localidade. Segue a mesma estética (cores berrantes, cortes secos na imagem, passeio por vários ambientes, o repetitivo e misterioso ruído que interrompe a música em “Four Out Of Five”, a absurda estação de metrô laranja deste clipe) e mostra o vocalista passeando por vários espaços internos do Tranquility Base. A letra, mais uma vez, faz referências a sensações, empregados, atividades e descrições do hotel-cassino. Difícil é assistir e não chapar tanto no visual quanto na música. Tanto em um clipe quanto no outro.

Texto por Abonico R. Smith

Music, Videos

Clipe: Noel Gallagher’s High Flying Birds – If Love Is The Law

Artista: Noel Gallagher’s High Flying Birds

Música: If Love Is The Law

Álbum: Who Built The Moon? (2017)

Por que assistir: Na semana em que Liam Gallagher deu declarações explícitas através da imprensa britânica de que quer esquecer a briga com o irmão e recolocar o Oasis nos trilhos uma década depois da suspensão de suas atividades, Noel mandou mais um sinal de que parece estar nem aí para uma possível retomada da banda. Na estrada com a turnê referente ao terceiro álbum solo da carreira (gravado sob a alcunha Noel Gallagher’s High Flying Birds), o mais velho da dupla e principal compositor do Oasis, solta mais um videoclipe de primeira, o quarto extraído deste disco não menos bombástico. Em Who Built The Moon?, Noel escancara um leque de influências que até então não haviam aparecido com tanto destaque nos seus tempos de cérebro musical daquela que foi a banda mais importante e popular do britpop ninetie. Neste trabalho tem muito glam, psicodelismo e folk, talvez intencionalmente para apagar aquele ranço de compositor classic rock expert em hits de arena, daqueles que fazem todo mundo cantar junto os refrãos com as mãos para cima mas soam sempre como algo extremamente quadrado, óbvio e comodamente formulaico. Em “If Love Is The Law” Noel vai buscar influências no interior norte-americano disfarçando o pezinho country com uma banda mais encorpada e de verve rocker – não à tôa entre os “pássaros” atuais do Gallagher primogênito estão o baterista Chris Sharrock e o guitarrista Gem Archer, dois instrumentistas da última formação do Oasis e que vieram exatamente da segunda banda do caçula Liam, o Beady Eye. Para completar a porrada que é o novo videoclipe, além da bela cinematografia e a sacada de colocar a banda performatizando no amplo cenário de aridez do deserto, o diretor e o roteirista Mike Bruce insere cenas de seu novo longa-metragem Stranded On The Earth. Nesta justaposição de clipe e trailer do filme, Bruce aproveita a letra cinematográfica escrita por Noel para contar a história de um rapaz e uma moça, que, assim como fizeram os mitológicos Bonnie e Clyde, saíam pelo país cometendo delitos e realizando assaltos entre beijos, abraços e declarações de amor, afeto e carinho. Não por acaso, aliás, os dois ostentam tatuagens dos “antepassados no crime”. Entre flashbacks do roteiro e cenas que brilham os olhos, mostra-se que tudo tem um fim, até mesmo o amor do jovem casal fora-da-lei. E outrora magnânimo Oasis também.

Texto por Abonico R. Smith

Music

Riviera Gaz – ao vivo

Trio formado por músicos que já tocaram com Forgotten Boys, Pitty e Sonic Youth faz show intenso na cidade de Maringá

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Texto por Ricardo Michels

Foto de Renata Molina

Em uma noite de celebração do rock independente, a cidade paranaense de Maringá recebeu a banda Riviera Gaz para o primeiro Indie Storm Session, realizada na quinta-feira 7 de julho. O evento foi promovido pela rádio Mundo Livre FM Maringá, que transmite o programa Indie Storm, todas as sextas, às 23h.

Formado inicialmente como um projeto de Gustavo Riviera, fundador do grupo Forgotten Boys, o Riviera Gaz teve início em 2013. Com algumas músicas já compostas, em 2015, Gustavo convidou o músico Paulo Kishimoto (Forgotten Boys e Pitty) e o americano Steve Shelley (Sonic Youth) para integrarem o projeto.  No ano seguinte, a banda gravou o primeiro EP (chamado Pere Ubu, com quatro músicas) e fez shows pelo Brasil, Argentina e Uruguai. Em 2018, o grupo lançou o primeiro álbum, Connection, pela gravadora paulista HBB, em CD, LP, K7 e nas principais plataformas digitais.

Depois de um coletivo de músicos da cidade pé vermelha formado por artistas das bandas Foolish, Soundscapes e Kicking Bullets aquecer o público com sons autorais e covers de clássicos de Pixies, Jesus And Mary Chain e Yo La Tengo, o Riviera Gaz subiu ao palco do MPB Bar. Com um som que traz influências seventies, com o glam rock e psychedelic folk, o Riviera fez um show intenso.

Gustavo, Paulo e Steve apresentam suas canções com uma energia por vezes soturna, por vezes festiva, em músicas que possuem uma força impressionante que se torna ainda maior ao vivo. A presença de palco do trio traz um vigor natural, que se impõe ao longo da apresentação sem a necessidade de grandes movimentos ou qualquer afetação. Som cru e melódico ao mesmo tempo, algo honesto que reverbera diferentes influências diversas, de Ramones a Lou Reed.  As músicas de Connection, aliás, trazem esta atmosfera. O set ainda contou com covers de Neil Young e Velvet Underground, encerrando a apresentação com o palco tomado pelo público em uma noite inesquecível.

Esta foi apenas a primeira iniciativa do programa Indie Storm, especializado em rock alternativo e independente. Foi apenas o começo, muita coisa legal vem por aí.

Books

Lourenço Mutarelli

Novo romance une ficção científica, uma garota supostamente reptiliana, nomes iguais, o mal e um grande desprezo por Nova York

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Texto e fotos de Abonico R. Smith (Lourenço) + Divulgação (capa do livro)

Curitiba está tão intrinsicamente ligada à alma de Lourenço Mutarelli que não tem mais jeito: ele já perdeu as contas de quantas vezes esteve na cidade. Uma coisa, porém, é certa: a cada novidade sua que chega às prateleiras das livrarias e lojas especializadas em quadrinhos a capital paranaense é sempre brindada com sua presença, algumas vezes, antes mesmo que a São Paulo onde ele mora. “Amo muito Curitiba e até passei férias por aqui. É a única cidade de fora do estado paulista que sempre faço questão de vir para lançar algo”, atesta.

E nesta sábado, 21 de julho de 2018, Lourenço se prepara para bater ponto no cartão fidelidade de convidado especial da Itiban Comic Shop Às 16h ele participa de um bate-papo seguido de sessão de autógrafos de O Filho Mais Velho de Deus e/ou Livro IV (Companhia das Letras, 336 páginas). Mais informações sobre este evento você encontra aqui.

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Oitavo romance de sua carreira, o livro faz parte da coleção Amores Expressos. A Companhia das Letras teve a ideia de mandar 17 escritores para 17 cidades diferentes ao redor do planeta, com o compromisso de que fosse escrito, no retorno, um romance que tivesse conexões e inspirações com o que foi visto e vivido pelos autores durante as semanas em solo estrangeiro. Mutarelli foi enviado a Nova York em 2007 por um único: ele era o único desta turma que ainda não conhecia a cidade. “Se eu pudesse ter escolhido, preferia ter ido ao Alentejo, em Portugal, onde já havia estado antes e tivesse uma experiência enriquecedora naquela região.”

Só que Lourenço odiou a experiência em Nova York. “Para começar eu peguei um outono quente, seco, de quase trinta graus diários. E também o meu inglês é o meu inglês. Entendo pouco, não falo nada. Eu até que me virei bem por conta disso, afinal, no desespero, você sempre acha um jeito de se virar. Chegou uma hora lá que eu estava em local e solicitaram gentilmente que o segurança acompanhasse ‘aquele senhor ali com problemas mentais’”, relata, rindo da própria experiência. Ainda me colocaram no Brooklyn, em um lugar onde o taxista parava dez quadras antes e me mandava completar o percurso andando. Você olhava os moradores e via todos eles iguais ao pessoal do GTA [sigla que virou a referência ao videogame Grand Theft Audio, considerado um dos mais violentos de todos os tempos]. Na rua só tinha latinos e negros com cara de maus e aquelas bandanas na cabeça”. Ao voltar ao Brasil, Lourenço passou a nutrir um profundo desprezo pela maior metrópole mundial. “Tudo o que me irrita profundamente estava ali. Os hipsters, o politicamente correto, essa geração saudável, o hábito de não fumar”, exclama.

Do período malfadado passado em Nova York ao lançamento do livro passaram-se onze longos anos. Primeiro o autor foi acometido de um longo período sem inspiração para desenvolver uma história, que foi sendo deixada de lado gradativamente. Quatro anos atrás entregou aos editores uma obra pronta. Recusada, ela acabou sendo tão remexida por ele na sequência que acabou sendo considerada desfigurada e acarretou em uma nova postergação do projeto. Até que chegou outra nova ideia, que resultou na obra que está sendo mostrada ao seus leitores.

“Para começar eu fiz questão que quase tudo acontecesse em Nova York e houvesse um protagonista oriundo do próprio Estados Unidos mas que não suportasse viver em Nova York. Quis que ele fosse alguém bem mediano, do tipo que se orgulha de ter estudado junto com o ator mais medíocre que eu conheço. A pessoa em questão é Richard Dean Anderson, o cara que faz o MacGyver da série de TV. Então um monte de referências tem a ver com a vida do ator, que é do Minnesota assim como o personagem.”

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A história de Charles (ou George ou Albert, porque o cara tem três nomes ao longo dos dez anos em que tudo se passa) possui altas doses de brincadeira com o universo da ficção científica – não à tôa um dos agradecimentos vai ao escritor americano Kurt Vonnegut, forte inspiração deste livro por ter feitos obras de tom semelhante. O disco-voador, que aparece na colagem fotográfica que compõe capa e contracapa, indica ainda uma possível vinda de seres de outro planeta. “É a garota por quem o protagonista é apaixonado. Ela também tem mais de um nome: chama-se Trudi e Sarah. Ele tem uma forte suspeita de que ela seja reptiliana mas quem for ler só saberá se é ou não no final do livro.”

Outro detalhe marcante na trama tem a ver com o seu primeiro título. O filho mais velho de Deus, no caso, segundo as escrituras, é Lucifer. “Falo sobre o mal enquanto essência. A gente precisa entender o mal. O personagem, assim como eu, acha que o bem não tem nada a ver a gente”. Em sua teoria sobre a maldade estar bem mais próxima da humanidade, Mutarelli vai mais além. “Faço uma analogia com o big bang. No começo a gente vivia tudo juntinho. Era tudo muito quente, muito bom. Mas o atrito de estar junto foi tão grande que isso explodiu. A partícula do bem foi jogada para muito longe, é indiferente e não vai mais olhar para trás. Já a do mal veio mais abaixo da gente, mais perto. E o mal também precisa bastante da gente para subir mais pouquinho”. E ele revela também uma curiosidade: os nomes de quase todos os personagens foram retirados da Murderpedia (isto é, uma Wikipedia dedicada somente a serial killers).

Toda esta questão a respeito do mal e de Lucifer remete a outra obra inspiradora do livro: a música do grupo britânico Current 93, considerado por muitos como “portador de mensagens satanistas”. O que, para Lourenço, não passa de uma grande besteira. “Às vezes até minha mulher reclama e pede para eu parar de ouvir. Mas o vocalista e criador do grupo já se declarou até cristão”, reflete, a respeito de David Tibet, na ativa desde o início dos anos 1980, seja explorando formas experimentais do folkno Current 93, fazendo parcerias com outros artistas alternativos (Björk, Anohni, Andrew WK, Will Oldham, Nick Cave) ou ainda apostando em coisas ainda mais doidas ao acompanhar a lenda do rock industrial Genesis P-Orridge em sua banda Psychic TV. “Mas o que eu posso fazer? Gosto de coisa minimalista, de música do capeta”, brinca.

Para finalizar, Mutarelli esclarece uma das dúvidas centrais de todo o seu novo livro: o porquê do título – e também cada capítulo – ter a possibilidade de ter dois nomes. Todo mundo no mundo tem um homônimo, até eu tenho. Os personagens têm mais de um nome também. Os capítulos também. O livro também”. A respeito do batismo do romance, aliás, ele entrega uma história curiosa. “Meu título original era Livro IV e/ou O Filho Mais Velho de Deus. Meu editor não gostou a primeira opção e propôs cortar. Eu bati o pé e acabamos chegamos à decisão de colocar na ordem inversa”. Mas, afinal, o que seria o tal Livro IV, já que este é o oitavo romance do autor? “Esta é uma forte questão mítica que eu tenho. De cara, noto que o número IV já está incluído na própria palavra “livro”. Gosto muito disso.

Mas eu também tenho outras crenças. Como, por exemplo, manter em um caderno a Igreja de um Homem Só, da qual só eu faço parte. Mas também isso não me rende dinheiro nenhum porque ninguém pode se juntar a ela para pagar o dízimo”. E o romance anterior, O Grifo de Abdera, já conta um pouco da história de como uma moeda antiga comprada em uma feira de antiguidades acabou se tornando um grande amuleto, transformado em anel e que nunca sai do dedo dele.

>> Leia aqui a matéria sobre o lançamento do romance O Grifo de Abdera, publicada em 2015

>> Leia aqui a matéria sobre o lançamento do romance A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, publicada em 2008

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Clipe: Prodigy – Need Some1

Artista: Prodigy

Música: Need Some1

Álbum: No Tourists (2018)

Por que assistir: No dia de hoje, o Prodigy anunciou para novembro próximo o lançamento do sétimo álbum da carreira. O título escolhido, No Tourists, é um recado direto para quem quiser se aventurar nas duas temáticas centrais do trabalho: escapismo e a constante vontade/necessidade de sermos descarrilados na vida. “Mas é sempre melhor não ser um turista, já que existe sempre mais perigo e excitação se você se desvia do caminho anteriormente definido”, diz o grupo no comunicado oficial feito horas atrás. Aproveitando a deixa, o Prodigy soltou também o clipe oficial de uma destas faixas novas, “Need Some1”. As imagens trazem os perigos e excitações vividas do lado de dentro de um squat londrino, com direito a muita briga, violência, imagens fortes e, claro, gangues juvenis. A direção é assinada por Paco Raterta, que entre 2009 e 2014 trabalhou como editor de curtas, séries e documentários. Isso explica o ritmo frenético das imagens ao som da euforia quase toda instrumental composta pelo cérebro musical do trio, Liam Howlett. Há apenas algumas vozes meio indecifráveis no techno-big beatda banda, mas não a participação dos outros dois integrantes, o vocalista Keith Flint e o rapper Maxim. Estes, aliás, figuras marcantes nos shows, não costumam marcar presença em todas as faixas dos discos do Prodigy.

Texto por Abonico R. Smith