Pela terceira vez no país em cinco anos, o eterno beatle pilota seu “carro automático” mais uma vez e leva ao delírio o público em São Paulo
Texto e foto por Fábio Soares
>> O Mondo Bacana negou-se a cobrir o show de Paul McCartney em Curitiba pelo fato de ter sido negado o seu credenciamento para fotografia, em detrimento de outros veículos menores, bem mais recentes e com muito menos importância para o jornalismo cultural produzido na capital paranaense. Sem mais.
Você presencia o show de um beatle pela terceira vez e o que mais lhe chama a atenção? Ele está mais leve, absorto e sereno. Com mais de três quartos de século de idade nas costas sabe que, a esta altura da vida, caminhar por atalhos é o melhor caminho a se fazer. Paul McCartney desembarcou mais uma vez no Brasil, para começar em São Paulo com sua Freshen Up Tour, que em quase nada se difere de suas co-irmãs anteriores mostradas recentemente por aqui (One On One, em 2017, e Out There!, de 2014). E o que faz de seu show, praticamente imutável há décadas, ser sucesso de público e crítica mesmo sem praticamente apresentar novidades?
Simples: a espinha dorsal de seu repertório. Paul sabe dar exatamente aquilo que sua audiência espera. É aquele dono de restaurante que, de tão renomado que é, pode se dar ao luxo de cometer um erro aqui e outro ali em algum prato. E sabe que, praticamente, ninguém perceberá. A noite de 27 de março de 2019 teve clima de um jogo de volta em torneio mata-mata no Allianz Parque, com o time da casa podendo perder por oito gols de diferença que, mesmo assim, se classificaria. E com o triunfo garantido, o anfitrião deu-se o direito de fazer algumas (pequenas) alterações no set list em relação à noite anterior, no mesmo estádio: sai “Save Us”, entra “Junior’s Farm”; sai “All My Loving” entra “Can’t Buy Me Love”. A plateia, entregue, parecia gritar em uníssono à lenda septuagenária: “Toque qualquer coisa, Paul! Aceitamos até ‘Parabéns a Você'”.
Mas não foi por isso… E teve mesmo! Na data em que seu tecladista, Paul Wickens, completava mais uma primavera de vida, um “Happy Birthday To You” ecoou pela audiência (compreendendo todas as faixas etárias) de mais de 40 mil pessoas. Clichê? Lógico! Alguém reclamou? Claro que não!
Com relação à banda de apoio, Paul tem a sorte (e privilégio) de ter fiéis escudeiros dignos de nota há um par de dezenas de anos: Rusty Anderson (guitarras), Brian Ray (violão e contrabaixo), Abe Laboriel Jr (bateria) e o já citado Wickens formam um time de funcionários que jamais trará dores de cabeça ao patrão. O baterista, aliás, é carismático à enésima potência e consegue transformar a execução da insossa “Dance Tonight” num show à parte com sua performance de dançarino, sendo humamente impossível não se deixar envolver com sua onipresente performance nos telões da arena. Diversão garantida nas três recentes turnês por aqui. Mudar pra quê?
A grande novidade em relação aos shows de 2014 e 2017 foi a presença de um naipe de metais, o que deu às execuções de “Letting Go”, dos Wings; “Let Me Roll It” com citação de “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix e em “Let’Em In”, um frescor suingado muito bem vindo às novas (porém, nem tanto) roupagens destas canções. Os “coringas” do set listtambém cumpriram seu papel com maestria. “I’ve Got A Feeling”, “From Me To You” e a levanta-defunto “Lady Madonna” carregaram o piano sem deixar a peteca cair, preparando o terreno para o leque de arrasa-quarteiroēs obrigatório e incontestável. “Eleanor Rigby” não perde sua monstruosidade mesmo com uma tentativa de simplificar seu arranjo. Com “Something” foi o mesmo: introdução com ukulele e restante da execução transformado num tsunami emocional capaz de derreter o mais duro coração de pedra presente. Fechando a primeira parte, a tríade que ninguém no mundo pode se dar ao luxo de possuir: “Let It Be”, “Live And Let Die” (com sua indefectível pirotecnia no palco) e “Hey Jude”, que nem a irritante distribuição de cartazes com a inscrição “Na Na” promovida pela marca de cerveja patrocinadora da apresentação foi capaz de derrubar.
No “bis”, peso para fechar a noite. A pouco inspirada “Back In Brazil”, tocada na noite anterior, felizmente (e para a alegria do “escrevinhador” aqui) não foi executada, até porque não teria espaço numa sequência com “Sgt Peppers…”, “Helter Skelter” e o “mix” de “Golden Slumbers”, “Carry That Wheight” e “The End”.
Após três horas que passaram numa rapidez atroz, a angustiante pergunta nos vem à cabeça: será que Macca nos visitará de novo? Possivelmente. Caso novamente venha, o repertório trará novidades? Dificilmente. Será mais do mesmo? Praticamente. Alguém torcerá o nariz para este fato? Com certeza, não. E vamos combinar que a esta altura do campeonato, ter Paul McCartney tão frequentemente e presente entre nós é mais que um acontecimento. É uma dádiva. E presentes sagrados como este não se recusa, muito pelo contrário: faz com que peçamos sempre “bis” substituindo o “adeus” por um “até logo” cruzando os dedos para que o tempo seja um bólido voador até o próximo encontro.
Assim seja!
Set List: “A Hard Day’s Night”, “Junior’s Farm”, “Can’t Buy Me Love”, “Letting Go”, “Who Cares”, “Got To Get You Into My Life”, “Come On To Me”, “Let Me Roll It”, “I’ve Got a Feeling”, “Let ‘Em In”, “My Valentine”, “Nineteen Hundred And Eighty-Five”, “Maybe I’m Amazed”, “We Can Work It Out”, “In Spite Of All The Danger”, “From Me To You”, “Dance Tonght”, “Love Me Do”, “Blackbird”, “Here Today”, “Queenie Eye”, “Lady Madonna”, “Eleanor Rigby”, “Fuh You”, “Being For The Benefit Of Mr. Kite!”, “Something”, “Ob-La-Di, Ob-La-da”, “Band On The Run”, “Back In The USSR”, “Let It Be”, “Live And Let Die” e “Hey Jude”. Bis: “Happy Birthday To You”, “Birthday”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, “Helter Skelter”, “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End”.