Retorno do universo protagonizado por Woody Harrelson e Jesse Eisenberg é um bom filme de comédia apesar da trama vazia
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Sony/Divulgação
Seguindo os passos de seu predecessor, Zumbilândia: Atire Duas Vezes (Zombieland: Double Tap, EUA, 2019 – Sony Pictures) começa com um monólogo expositivo de Columbus, um de seus protagonistas, seguido de uma montagem de violência gráfica em slow motion. Agora, no entanto, as vítimas são os zumbis e os agressores são o quarteto formado por Talahassee, Wichita, Little Rock e, é claro, Columbus.
Desta forma, o diretor Ruben Fleischer reintroduz seu universo com uma nota de bom humor, que permeia todo o longa de maneira imparável, mas que, para a sorte do espectador, também não cansa. Os roteiristas originais, Rhett Reese e Paul Wernick, dão as boas-vindas a um terceiro, Dave Callaham, com a trama focando majoritariamente a busca de Wichita, Talahassee e Columbus por Little Rock, que fugiu com um novo personagem, o hippie Berkeley. O filme não tarda a tornar evidente, no entanto, que pouco se preocupa com o desenvolvimento de sua trama, tampouco com seus personagens. Ainda que haja a introdução de novos elementos, que prometem comprometer a dinâmica do quarteto, suas características são tão caricatas que sua única função neste segundo Zumbilândia é o alívio cômico.
Assim, é necessário se perguntar: o que faz um bom filme de comédia? Se a resposta for a simples “capacidade de provocar o riso”, este aqui cumpre seu papel com bastante eficácia, com necessária exaltação da interpretação de Woody Harrelson, trazendo nuances leves e uma espirituosidade fiel ao personagem, a quem o roteiro dá a função de dinamizar o andamento da trama com suas piadas e anedotas. Na verdade, é fácil dizer que o principal ponto alto do filme é seu elenco, o que não é inteiramente mentira. A química entre o quarteto principal e as adicionadas Zoey Deutch e Rosario Dawson – que interpreta Nevada, a única das novas personagens que não é ridicularizada – é mais que evidente, fazendo com que a diversão que os atores e atrizes tiveram em set transpareça nas telas de cinema.
No entanto, o problema da torrente de piadas é o uso, com conforto extremo, de clichês. O hippie bobão e maconheiro (Berkeley, de Avan Jogia) e a loira burra (Madison, de Zoey Deutch) são os exemplos principais disso. Porém as recorrentes “piadas de machão”, por assim dizer, que Talahasse figura são tão lugar-comum quanto as feitas às custas dos supracitados. Sendo assim, piadas hilárias são justapostas a piadas quase ineficazes, salvas apenas pela bela atuação de Harrelson e por Jesse Eisenberg, que está como sua contraparte neste filme.
Caso sua resposta àquela pergunta tenha sido algo além do humor pelo humor, os problemas do longa-metragem de Fleischer são bem mais perceptíveis. Além dos já citados clichês, o roteiro toma diversos caminhos confortáveis, como se fosse um compilado de piadas conectado por viagens de um ponto A até um ponto B. Os arcos preguiçosos deste filme concretizam as dinâmicas já estabelecidas em Zumbilândia (o original, de dez anos atrás), fazendo com que esta continuação, que pressupõe-se buscar o avanço da história, finalize onde começou. Outro problema, no entanto, é que este novo filme não se basta em mostrar como, de fato, sua narrativa começa. O conflito se estabelece desde o primeiro ato, logo após o extenso monólogo que citei no início desse texto. Assim, não entendemos como as relações entre Wichita e Columbus ou Talahassee e Little Rock se deram. Apenas ouvimos os personagens comentá-las.
Independentemente da predileção de cada espectador por uma vertente da análise de comédias, Zumbilândia: Atire Duas Vezes destaca-se por aspectos mais técnicos, como os impressionantes efeitos especiais, produção de set e direção de arte, que operam complementarmente para implementar ao filme sua atmosfera própria, que é bastante imersiva. O bom uso da música e os efeitos visuais e letreiros também amplificam o mergulho no longa, tornando explícita desde o primeiro minuto a intenção em não se levar a sério.
Tal como o que já podia-se esperar, este segundo Zumbilândia é um filme de nicho, tanto por tratar-se de uma narrativa com zumbis quanto pelo teor de sua comédia, pouco apelativo para aqueles que não se familiarizam com ambas as dinâmicas. No entanto, em grande parte graças ao seu elenco, Atire Duas Vezes consegue entreter até aqueles mais céticos quanto à qualidade. No entanto, quem busca um “bom cinema”, por assim dizer, deverá se contentar com algumas gargalhadas e uma trama vazia.