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Hamlet

Projeto documental acompanha uma das lideranças das ocupações realizadas por estudantes gaúchos durante o ano de 2016

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Galo de Briga Fimes/Divulgação

Em 2016, centenas de escolas de ensino médio foram ocupadas ao redor do Brasil. Nossa modesta Primavera Árabe, aquela chamada Primavera Secundarista, inseriu-se no contexto arisco da defesa da presidente Dilma Rousseff contra o golpe que sofria por parte do Congresso Nacional, de Michel Temer e demais setores dos três poderes – “Com o Supremo, com tudo”, como imortalizou Romero Jucá.

Nesse contexto, mas também reivindicando mais atenção às políticas públicas de educação, o Brasil foi tomado pelo breve protagonismo da juventude. Se o corajoso movimento não rendeu muitos frutos, afinal a democracia atual se encontra sob ataques muito mais graves que o neoliberalismo do governo Temer, ainda nos propicia uma série de reflexões.

Observando de perto a movimentação das ocupações gaúchas, Hamlet (Brasil, 2022 – Galo de Briga Filmes) é um projeto documental que acompanha Fredericco Restori, uma das lideranças dos ocupantes de uma grande escola de Porto Alegre. A narrativa dispersa é muito mais uma coleção de momentos – plenárias, assembleias, reuniões entre ocupantes, palestras e até a hora do videogame – que uma representação ampla e didática do período da ocupação.

Num primeiro momento, a câmera errática dirigida por Zeca Brito parece incerta do que quer filmar. O registro histórico se inicia numa grande plenária, em que já desponta a presença de Fredericco. Embora este seja nosso protagonista desde a primeira cena do longa-metragem, Brito parece muito mais interessado na coletividade dos ocupantes do colégio, um conjunto de sem nomes que insiste na “horizontalidade democrática”, por assim dizer, e nunca é gravada só. 

O foco constantemente desregulado, a princípio, parece sintoma de uma operação de câmera ansiosa em capturar a essencialidade do momento, mas logo se denuncia em seu exagero: ao compor as sequências cotidianas da ocupação, assim como suas seções mais dialógicas, Zeca Brito escancara seu próprio processo de formalização, ainda que busque escondê-lo sob um fino véu de naturalismo. Partimos do “parece ser” para o “quer parecer ser”, um movimento que não é ruim em si mesmo, mas interessante por nos lembrar que documentário não é realidade – é cinema.

Num segundo momento, esteticamente mais interessante, Hamlet assume seu discurso mais narrativo que repórter, utilizando ligações telefônicas de Fredericco como meio para a exposição de seu conflito interno, que também é refletido em sequências subjetivas. A bem da verdade, esse estatuto da obra sempre esteve presente, já que o filme se inicia, antes do registro histórico das ocupações, com uma conversa entre Fredericco e um homem mais velho tecendo comparações entre sua condição de liderança e a dúvida central de Hamlet: “ser ou não ser, eis a questão”.

Se o filme não esconde a condição de líder que caracteriza Fredericco, sua ideologia juvenil, a princípio, recusa-se a aceitá-la. Ao longo de Hamlet, sua posição vai de “precisamos manter a horizontalidade para não tornar este um movimento fascista” para “eu queria ser líder, e era líder, mas não tinha coragem de admitir”. A ingenuidade da mobilização secundarista permeia todos os acontecimentos do filme – desde a rusga desmobilizada com entidades de base da categoria, como a UBES e a UNE, até a escuta atenta aos ensinamentos do grande crítico e cineasta brasileiro Jean-Claude Bernadet sobre a conjuntura política. 

Justamente por essa inerente ingenuidade, alguns dos momentos aqui retratados conferem ao filme um curioso frescor: um “vai chorar” que vaza na captação sonora durante um protesto; o canto “Bololo ha ha, quero ver desocupar”, eco da relação entre política e cultura que é muito única a cada geração que a vive; a incessante descoordenação da massa durante momentos de tensão, em que o silêncio é um episódio raro que, quando acontece, é muito efêmero.

Contudo, se esses momentos evocam no espectador não mais que a curiosidade e, quando muito, um sorriso de canto de boca, igualmente não se sente o peso que se propõe em Fredericco. A deslocada comparação com Hamlet, que pretende dar tom ao filme, só se dá com clareza na última cena, numa fraca articulação entre o concreto (a ocupação) e o abstrato (as conjecturas posteriores sobre a relação entre vida e arte) que não oferece material suficiente para se realizar. De fato, às vezes a vida imita a arte, assim como a arte imita a vida. Mas nem sempre.

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Marte Um

Pré-indicado ao Oscar em 2023 faz o retrato doloroso da árdua luta de uma família negra de classe média baixa brasileira contra as dificuldades diárias

Texto por Taís Zago

Foto: Embaúba Fimes

O encanto e a reflexão que habitam as pequenas histórias são o chamariz principal dessa força-tarefa de, praticamente, um homem só e seus amigos. Gabriel Martins é o diretor, produtor e roteirista dessa pequena pérola do cinema nacional financiada por meio de editais e que levou quatro anos para chegar aos nossos cinemas. Marte Um (Brasil, 2022 – Embaúba Filmes) nasceu de uma ideia que Gabriel teve em 2014 e foi filmado no final de 2018 – portanto, antes da pandemia e do agravamento da crise econômica e social que nos assola ainda hoje. A vida das quatro pessoas de uma família negra de classe média baixa da cidade mineira de Contagem, contada nos meses entre a vitória nas eleições e a posse do presidente Jair Bolsonaro, é cheia de verdades incômodas e marcada por fortes laços de ternura.

Wellington Martins (primorosamente interpretado por Carlos Francisco) é um porteiro, ex-dependente de álcool e pai de dois filhos, que aparentemente vive de forma conformada e pacata. Ele se adaptou à rotina do racismo institucional brasileiro, fazendo limonada dos limões azedos que aparecem constantemente em seu caminho. Como a maioria dos brasileiros, Wellington sonha com um futuro brilhante para suas crianças, trabalha com afinco e dedicação e fecha os olhos, mesmo que não completamente, para os abusos diários das relações patrão-funcionário que são evidentes em uma hierarquia torta do abuso de pequenos poderes. A dinâmica entre ele e a síndica do prédio onde bate ponto é uma perfeita caracterização desse processo. Seus colegas, não conformados, apontam os ditos abusos, mas Wellington apenas sorri com um “deixa disso”.

Tércia (Rejane Faria), a matriarca dos Martins, é uma diarista que trabalha para um influencer. À primeira vista, parece receber respeito e reconhecimento pelo seu trabalho, mas logo percebemos que nem tudo são flores quando um manda e o outro precisa obedecer. A filha mais velha do casal, Eunice (Camilla Damião em uma espetacular estreia como protagonista), cursa direito, é tutora e sonha com a independência da casa dos pais. Já o caçula da família Deivinho (interpretado pelo ator Cícero Lucas em seu primeiro papel), vive dividido entre seguir o sonho do pai, que almeja para ele uma carreira no futebol, sua paixão por astrofísica e o sonho de participar de uma missão a Marte. Daí o título Marte Um (Mars One, em inglês), que fora o nome dado à primeira expedição do homem para Marte, planejada para 2030 mas cancelada em 2019.

Gabriel Martins, não contente em já acumular várias funções na produção, também selecionou pessoalmente o casting e trabalhou na edição. Segundo Martins, Marte Um é, em parte, autobiográfico, principalmente nas representações do pai Wellington e do filho Deivinho. É um desses filmes em que o coração do realizador se derrama na tela, e nós, como público, sentimos isso. Quer seja nos conflitos de Deivinho sobre seu futuro profissional ou na batalha de Eunice para assumir seu relacionamento com uma mulher diante de seus parentes. Nas expectativas que Wellington deposita em Deivinho ou na crise existencial que abala até mesmo o entusiasmo natural de Tércia. São todos temas pesados e de difícil abordagem, principalmente para uma família de subúrbio brasileira, a qual muitas vezes não se permite o olhar para dentro de si mesma e segue a luta contra o olhar repreendedor e julgador dos mais bem situados economicamente. E essa é a delicadeza da obra de Gabriel: um olhar individual, um olhar mais profundo nos desejos das pessoas, em seus sonhos, em seus sentimentos.

É impossível sair de Marte Um sem lágrimas nos olhos e um sorriso no rosto. Com estreia no Sundance Festival de 2022, onde foi muito elogiado, e premiado no Festival de Cinema de Gramado, o longa-metragem é o nosso candidato escolhido para buscar a vaga entre os conconrrentes à premiação do Oscar de filme estrangeiro em 2023. Uma obra feita de forma independente, de baixo custo, por um diretor apaixonado, sobre um assunto que nunca deixa de ser atual no Brasil racista e classista que vivemos ainda hoje.

Para mim, Marte Um é, também, o melhor filme nacional lançado até agora nesse ano. Consegue unir crítica social e sensibilidade sem perder de vista a esperança e sem fazer concessões a preconceitos.

Movies

Jean-Luc Godard

Oito filmes do ou sobre o cineasta que se tornou sinônimo de excelência no cinema e um dos ícones da nouvelle vague francesa

Textos por Marden Machado (Cinemarden)

Fotos: Divulgação

Na manhã desta terça-feira, 13 de setembro, o mundo acordou com a notícia da morte de Jean-Luc Godard, um dos nomes que fizeram a nouvelle vague, movimento cinematográfico francês. Roteirista, diretor, editor, também foi critico de cinema antes de iniciar a carreira produzindo a sétima arte. Do lado de trás das câmeras produziu clássicos e se tornou sinônimo de excelência para os cinéfilos de todo o mundo.

Godard não estava doente, mas optou pelo suicídio assistido, prática legal na Suíça, país do qual era descendente, e realizada pela própria pessoa, com assistência de terceiros. Ele tinha 91 anos de idade e, segundo declaração de uma pessoa da família ao jornal francês Libération, encontrava-se muito exausto.

Para homenagear este ícone das telas, o Mondo Bacana seleciona oito filmes importantes. Não são todos assinados por Godard: dois são sobre ele, sua vida e carreira. Desta maneira, pode-se ter um bom panorama de quem foi este gênio do cinema, nem sempre perfeito em sua trajetória pessoal mas com certeza direto e certeiro em sua fase de maior e melhor produção, os anos 1960.

Acossado (1960)

Os franceses Claude Chabrol, Éric Rohmer, François Truffaut, Jacques Rivette e Jean-Luc Godard, antes de se tornarem cineastas, escreviam crítica cinematográfica na revista Cahiers du Cinéma. A transição do “falar sobre” para o “fazer” cinema surgiu de um desafio proposto pelo editor do periódico André Bazin. Já que sabiam tanto de cinema e não estavam satisfeitos com as produções francesas da época, eles deveriam então realizar seus próprios filmes. Todos aceitaram o desafio e nascia aí a nouvelle vague, a “nova onda”, movimento que revolucionou a maneira de contar histórias em imagens e marcou toda uma geração de novos cineastas pelo mundo. Truffaut havia realizado em 1959 seu título de estréia, Os Incompreendidos. No ano seguinte foi a vez de Godard, que dirigiu Acossado a partir de uma idéia sua que Truffaut roteirizou. A trama acompanha a personagem de Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo), um ladrão parisiense fã de Humphrey Bogart. Ele se envolve com uma jovem americana, Patricia (Jean Seberg), que vende jornais na rua. Michel é procurado pela polícia e Patricia o ajuda na fuga. Acossado é um filme difícil de ser classificado. Ele é tão diferente de tudo que era feito na época que pegou a todos de surpresa. Godard procurou “quebrar” as regras estabelecidas e realizou um filme que esbanja criatividade, inovação e originalidade. Um verdadeiro marco na história do cinema mundial.

O Desprezo (1963)

É difícil escrever sobre este filme feito em 1963 por Jean-Luc Godard. Há um pouco de tudo nessa obra marcante. Mas o principal é a declaração de amor ao cinema proposta pelo diretor. De forte teor metalinguístico porém sem se esgotar nessa característica, estamos diante de um filme que discute a criação cinematográfica e a construção da imagem e seus símbolos. Baseado no romance de Alberto Moravia, acompanhamos a crise de um casal em viagem pela Itália. Camille (Brigitte Bardot) é casada com Paul (Michel Piccoli) e acredita que ele não a ama mais. Para resolver a crise e tranquilizá-la, ele, que trabalha como roteirista, aceita uma encomenda para escrever uma nova adaptação de A Odisseia, de Homero. Ao longo da trama, muitas situações e sentimentos vão se misturando. Paralelamente a isso, existem questões relativas à produção do filme dentro do filme. Godard se permite homenagear um de seus diretores favoritos, o alemão Fritz Lang, que participa no papel dele mesmo (e, na tietagem das tietagens, o próprio Godard aparece em cena como assistente de Lang!). Mais fácil do que escrever sobre O Desprezo, é vê-lo e revê-lo diversas vezes. Afinal, trata-se de uma obra ímpar e de uma riqueza narrativa e simbólica que nunca acaba. Pelo contrário, torna-se melhor a cada nova visita.

Bando à Parte (1964)

Este foi o sétimo longa-metragem dirigido pelo francês Jean-Luc Godard. Isso em um intervalo de apenas cinco anos. O que equivale a uma média de mais de um filme por ano, sem incluir aí os curtas e segmentos que ele dirigiu neste período. Muitos dizem ser este seu trabalho mais acessível. Mesmo que te sugiram ir a uma lanchonete, talvez você prefira ver um filme de Godard. O roteiro, escrito por Dolores Hitchens, tem base o romance Fool’s Gold, de sua própria autoria. A história nos apresenta dois amigos, Arthur (Claude Brasseur) e Franz (Sami Frey), que vivem de trapaças. Eles convencem uma estudante, Odile (Anna Karina, musa do diretor na época), a ajudá-los em um roubo. Godard, que ao lado de François Truffaut, escreveu na revista Cahiers du Cinéma e ajudou a criar o movimento da nouvelle vague, homenageia aqui a produção hollywoodiana de baixo orçamento. Bando à Parte foi rodado em apenas 25 dias e sem grandes pretensões. É visível a leveza e alegria do elenco, em especial a da bela Anna Karina, em estado de graça. Godard parecia querer apenas se divertir e nos diverte também. Em tempo: Tarantino é tão fã deste filme que batizou sua produtora com o nome de A Band Apart.

O Demônio das Onze Horas (1965)

Se considerarmos seus primeiros curtas, feitos a partir de 1955, passando por sua estreia em longas cinco anos depois com Acossado, Godard fecha sua primeira década de carreira com uma bem sólida filmografia composta por 13 curtas (incluindo aí os segmentos que dirigiu) e dez longas, sendo este o décimo deles. Diz a lenda que Godard iniciou as filmagens sem roteiro algum e convenceu o produtor Georges de Beauregard a bancar a produção por causa do par central à frente do elenco: Jean-Paul Belmondo e Anna Karina, ambos muito queridos e populares. A base é o romance Obsession, de Lionel White, roteirizado pelo próprio diretor junto com Rémo Forlani. Tudo começa com a apresentação de Ferdinand Griffon (Belmondo), casado com uma mulher rica e vivendo confortavelmente em Paris. Apesar disso, ele se sente bastante entediado e certa noite, durante uma festa, termina saindo mais cedo e ao chegar em casa reencontra Marianne Renoir (Karina), babá de seus filhos e antiga paixão sua. Ferdinand, que ela insiste em chamar pelo nome de Pierrot, foge com Marianne e ambos passam a ser perseguidos por mafiosos que traficam armas. Em sua essência, O Demônio das Onze Horas é um road movie, um filme de estrada, no melhor estilo Bonnie e Clyde. Mas, em se tratando de Godard, é também muito mais do que isso. O cineasta sempre buscou quebrar regras narrativas em suas obras e não é diferente aqui. Mas dessa vez ele o faz em CinemaScope homenageando seus ídolos, misturando gêneros cinematográficos, quebrando a quarta parede (quando alguém olha direto para a câmera) e brincando com metalinguagem (ao utilizar a arte para falar da feitura dela). A química entre Jean-Paul Belmondo e Anna Karina, então casada com o diretor, é perfeita e esbanja carisma. Em tempo: preste atenção na participação especial do cineasta americano Samuel Fuller, que responde à pergunta “o que é cinema?”, e no figurino de Marianne.

Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela (1967)

Existe o cinema como conhecemos e existe o cinema de Jean-Luc Godard. Um dos fundadores da “nova onda francesa”, Godard desenvolveu um estilo narrativo próprio já a partir de 1960, com Acossado, seu longa de estreia. Ao longo dos sete anos seguintes, ele dirigiu doze longas e alguns curtas. Uma grande e incomum produção, se levarmos em conta a quantidade e qualidade em tão pouco tempo. Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela é de um dos períodos mais criativos de sua carreira. O “dela” do título é a cidade de Paris, que tem participação ativa no desenvolvimento da história. O cineasta fala de mulheres que se prostituem para satisfazer suas necessidades consumistas. Uma sociedade perdida no culto ao supérfluo. O filme é narrado pelo próprio diretor, que aproveita para instigar o espectador, de maneira a fazê-lo pensar sobre aquilo que está sendo mostrado. Sem exagero algum, a extensa obra de Godard poderia resumida com esta frase: “duas ou três coisas que eu sei sobre cinema”.

The Rolling Stones: Sympathy For The Devil (1968)

No auge da contracultura, Jean-Luc Godard já era um nome importante do cinema mundial. Naquele ano de 1968, ele fora convidado a ir a Londres para dirigir um documentário sobre a luta pela liberação do aborto. Como houve um relaxamento na legislação britânica, o trabalho terminou sendo cancelado e Godard permaneceu na cidade por mais um tempo. Ele queria dirigir um filme sobre os Beatles ou os Rolling Stones. O quarteto de Liverpool não aceitou. Mick Jagger e Keith Richards, fãs declarados do franco-suíço, adoraram a proposta e o resultado é este The Rolling Stones: Sympathy For The Devil. Temos aqui a banda no processo de gravação do disco Beggar’s Banquet – em especial, da faixa de abertura do LP e que dá nome ao filme. Por se tratar de um filme de Godard, a já esperada desconstrução da narrativa, típico do cineasta, faz-se presente. Ao mesmo tempo, há um interessante debate sobre o papel da mídia, as bandas que influenciaram os Stones, além de uma série de temas que um artista inquieto e provocador como o diretor jamais deixaria de fora. No entanto, apesar do apoio dos líderes da banda, a produção não foi tranquila, uma vez que existiram muitos atritos com o produtor, Iain Quarrier, que alterou o final do documentário sem que Godard soubesse e este, quando descobriu a mudança na sessão de estreia, simplesmente deu-lhe um soco na boca. The Rolling Stones: Sympathy For The Devil também é um registro de inestimável valor histórico. Seja por seu diretor, pela banda em questão ou por sua abordagem. Em tempo: Godard faz uma ponta levando cigarros e bebidas para os músicos.

Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (2009)

Dois dos maiores nomes do cinema francês nasceram quase no mesmo ano e se conheceram com vinte e poucos escrevendo críticas de filmes na redação da revista Cahiers du Cinéma. Jean-Luc Godard e François Truffaut revolucionaram, primeiro com seus textos, a maneira de se ver os filmes. Depois, ao se tornarem cineastas, a própria maneira de se fazer filmes. O documentário Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague, escrito por Antoine de Baecque, biógrafo de ambos, e dirigido por Emmanuel Laurent, traça um painel da importância dada nouvelle vaguea partir das obras de seus dois realizadores mais destacados. O filme celebra os 50 anos de lançamento de Os Incompreendidos, estreia de Truffaut na direção e apontado por muitos estudiosos como marco zero do movimento cinematográfico. Mostra também a repercussão de Acossado, primeiro longa de Godard, que teve o roteiro escrito por Truffaut. O cinema os tornou amigos e a visão de cada um sobre o cinema terminou por afastá-los. Laurent utiliza vasto material de arquivo para contar sua história e nos faz viajar por um mundo cheio de novas ideias e novos olhares. Godard e Truffaut foram os principais artífices de um novo jeito de fazer cinema e influenciaram todos os cineastas que surgiram a partir dos anos 1960. Isso não é pouco.

O Formidável (2017)

A atriz, diretora e escritora francesa Anne Wiazemsky teve uma carreira curta atuando e dirigindo. Sua produção artística é literária. Ela nasceu na Alemanha, mas se criou e se estabeleceu na França. Casada por 12 anos com Jean-Luc Godard, chegou a participar de dois filmes do cineasta e em 2015 publicou o livro autobiográfico Um Ano Depois, que tratava de seu encontro e envolvimento com Godard quando este iniciou as filmagens de A Chinesa, em 1967. E esse livro serviu de inspiração para o francês Michel Hazanavicius escrever o roteiro e dirigir O Formidável. À frente do elenco, Louis Garrel e Stacy Martin dão vida ao casal apaixonado Jean-Luc e Anne. O pano de fundo é a conturbada situação político-social que o mundo em geral (e a França em particular) enfrentava na segunda metade dos anos 1960. Acompanhamos aqui uma espécie de comédia romântica tendo como personagem principal um dos mais radicais cineastas da história do cinema. Quem conhece a filmografia, o gênio e a fama de Godard é capaz de pensar se tratar de algo, no mínimo, anacrônico. Mas funciona melhor, por exemplo, que O Artista, grande sucesso anterior de Hazanavicius. Em tempo: Godard disse que O Formidável era uma “estúpida, estúpida ideia”. O produtor, com senso de humor e de oportunidade, utilizou a frase nos cartazes do filme.

Music

Corinne Bailey Rae

Oito motivos para não perder o show da cantora inglesa, que passa por três capitais brasileiras antes do Rock in Rio

Texto por Janaina Monteiro

Foto: Divulgação

Não é todo dia que uma cantora vencedora do Grammy se apresenta em turnê pelo Brasil. Pois esse já é um dos motivos para conferir o show de Corinne Bailey Rae, que aproveita sua passagem pelo Rock in Rio 2022 (dia 8 de setembro) para se apresentar antes em Curitiba (1), Belo Horizonte (3) e São Paulo (5) – mais informações sobre locais, preços, ingressos você encontra clicando aqui.

Muita gente, entretanto, não associa o nome à voz da cantora britânica. Ou seja, é possível que você indague a alguém se conhece a Corinne Bailey Rae. E é bem provável que essa pessoa responda que nunca ouviu falar! Se  isso acontecer, deve ser refeita a pergunta “Sabe aquela música da novela Páginas da Vida, chamada “Put Your Records On”?” e comece a cantarolar. Aí, sim! O gatilho é automático.

Nascida na cidade inglesa de Leeds, Corinne alcançou o estrelato em 2006 com seu autointitulado álbum de estreia (que chegou ao número 1 em vendas no Reino Unido), apresentando os sucessos globais “Put Your Records On”, que hoje tem quase 500 milhões de reproduções apenas no Spotify, e “Like A Star”. Apesar de ter apenas três discos lançados, ela não pode ser considerada uma artista one hit wonder. Corinne, dona de uma das vozes mais doces de sua geração, já assinou composições com produtores famosos e teve uma guinada na carreira depois de perder o marido Jason Rae, um saxofonista escocês com quem se casara em 2001. Ele foi encontrado morto em 2008, com suspeita de overdose. Ela conseguiu superar a fase do luto e, pouco tempo após a morte do marido, lançou outro trabalho, batizado The Sea. O último disco da cantora veio seis anos depois e se chama The Heart Speaks in Whispers

Portanto, para aquecer os corações no finzinho deste inverno, o Mondo Bacana lista oito motivos para não perder a passagem desta britânica de linda voz por terras brasileiras.

Cantora premiada

Corinne já ganhou dois Grammy, dois Mobos, além de ter recebido várias indicações para o Brit e o Bet Awards. O primeiro Grammy veio em 2008 na categoria Álbum do Ano, ao participar de River: The Joni Letter, de Herbie Hancock. O segundo veio com o EP Is This Love, pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Performance de R&B. Já o álbum The Sea foi indicado ao Mercury Music Prize, o prêmio máximo da indústria fonográfica britânica.

Sucesso de crítica

Corinne é muito querida pela crítica musical, especialmente a britânica. Tanto é que, em 2016, o jornal The Guardian considerou o álbum The Heart Speaks in Whispers o melhor disco de R&B daquele ano. O trabalho incluía a impressionante “Green Aphrodisiac”, nomeada pela Billboard como uma das dez melhores músicas de R&B de 2016  e selecionada pelo então presidente Barack Obama para sua famosa playlist anual de verão.

Flerte com vários gêneros

Filha de mãe inglesa e um pai caribenho, a cantora começou cantando em coros na igreja, assim como várias intérpretes da soul music. Depois passou a se aventurar a mesclar outros estilos como o jazz e o pop.

Versões fofinhas

No show de Corinne, podemos esperar uma mistura de canções, das mais intimistas às mais alegres. Certamente haverá espaço para alguma cover famosa, como “Is This Love”, de Bob Marley. Esta faixa está presente no EP The Love, no qual também regravou “My Love” (Paul McCartney), “Low Red Moon” (Belly), “I Wanna Be Your Lover” (Prince) e “Que sera sera (Whatever Will Be Will Be)”, (imortalizada na voz de Doris Day). Bailey Rae ainda gravou a versão de “The Scientist” (Coldplay) para a trilha sonora do filme 50 Tons Mais Escuros, e participou do álbum Instant Karma, tributo a John Lennon, interpretando “I’m Losing You”. 

Parcerias de peso

A cantora continua a colaborar e se apresentar com artistas de vários gêneros musicais, incluindo nomes como Paul McCartney, Mary J Blige, Al Green, Herbie Hancock, KING, Kele Okereke (Bloc Party), ?uestlove, Salaam Rami, RZA, Tyler The Creator, Paul Weller, Stevie Wonder, Tracey Thorn, Logic e Mick Jenkins.

Voz de veludo

Ela já foi comparada a de Billie Holiday, Lauryn Hill e Macy Gray. Foi definida pelo The Guardian como sendo “calorosa e intimista”. Lady Gaga, certa vez ,disse que, ao ouvir Corinne pela primeira vez, ficou enlouquecida e queria saber de quem era aquela voz “brilhante”. 

Gosto pela música brasileira

A cantora se inspira na música brasileira e disse que a bossa nova de João Gilberto e Tom Jobim é uma grande influência na sua música. Além disso, disse em uma entrevista à imprensa brasileira que também é fã de Elis Regina. 

Tire o atraso da pandemia

Depois do período crítico da covid-19, os shows voltaram a acontecer e estão jorrando por aí em demanda represada. Portanto, vista seu jeans desbotado e aproveite seu encontro com Corinne Bailey Rae!