Diretor e roteirista da badalada série Euphoria assina longa-metragem baseado na tensão psicológica de um casal em constante pé de guerra

Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Netflix/Divulgação
Talvez poucos reconheçam o nome de Sam Levinson, mas a situação é bem diferente quando mencionamos seu grande sucesso: a série Euphoria, da HBO. O diretor, que também escreveu os dez episódios, migrou para outra plataforma de streaming com Malcolm & Marie (EUA, 2021 – Netflix), que explora a tensão psicológica do casal-título em pé de guerra.
Levinson repete os créditos de diretor e roteirista para o longa e traz consigo o diretor de fotografia, o montador e o compositor de Euphoria (respectivamente, Marcell Rév, Julio Perez IV e Labrinth), embora o grande peso da música esteja nas faixas selecionadas e não nas compostas especialmente para a ocasião. No entanto, o evidente entrosamento da equipe, que também conta com Zendaya como protagonista, prende Malcolm & Marie em uma certa zona de conforto.
O roteiro se constrói sobre uma proposta simples, sem lhe oferecer muitas complexidades: Malcolm é um diretor de cinema que acabou de estrear seu primeiro filme, que traz a história de uma jovem viciada tentando manter-se limpa. Só que ele esqueceu de agradecer a Marie, sua namorada, modelo e ex-atriz, em quem seu longa é inspirado. Tal simplicidade, contudo, contribui para a superficialidade do desenvolvimento. Isto é, o filme torna-se maçante ao não propor andamento à história.
Portanto, há um ritmo episódico à montagem do longa, que repete um padrão de tensão, discussão invasiva, amansamento e tensão sexual – que, por sua vez, retorna à tensão. Assim, a direção conduz toda a atenção para o diálogo, onde encontra-se outro problema fundamental de Malcolm & Marie: a prepotência.
O autor utiliza suas personagens como telas em branco, despidas de personalidade sólida o suficiente para defender uma visão que não a de seu criador, proferindo monólogos entediantes sob o disfarce de uma discussão de relacionamento que se suspende toda vez que o roteiro deseja proferir monólogos entediantes sobre a natureza do cinema e daqueles que o criam.
Por conta de tal inconsistência de suas personagens, Zendaya e John David Washington enfrentam a difícil tarefa de carregar emoção a um texto com mais características de rant à indústria que diálogo narrativo. Em certos momentos, ambos performam com primazia, porém a atriz levanta preocupações. Isso porque sua carreira parece se encontrar em uma encruzilhada – ela se encontra em ascensão, mas suas personagens de maior relevância (a saber, Marie, a Rue de Euphoria e MJ da franquia do novo Homem-Aranha) são preocupantemente similares. Seria ela uma atriz de um tipo só?
Marcado por suas inconsistências e autoindulgência, Malcolm & Marie começa como promessa. Contudo, rapidamente se torna uma experiência frustrante e daí pra frente o problema somente se agrava.