Chega ao Brasil série intimista que fala de coming of age, amor e sexo de maneira realista e sem banalizações para a geração millennial

Texto por Ana Clara Braga
Foto: Hulu/Divulgação
O que mais de pode ser dito sobre o amor nas mídias? O livro Normal People, da irlandesa Sally Rooney, opta por uma rota simplista. A série de TV que adapta o romance segue a mesma fórmula. Ambos obtêm sucesso ao retratar a realidade, nem sempre bonita ou idealizada, mas fácil de ser identificada por milhões de espectadores.
A série – exibida no Brasil pelos serviços de streaming Starzplay e Amazon Prime – e é um coming of age sobre a vida dos jovens irlandeses Marianne (Daisy Edgar-Jones) e Connell (Paul Mescal). O ponto de partida é o último ano do colégio. Com diferenças, de status, família, grupos de amigos e personalidades, os dois estudantes desenvolvem um caso de amor secreto.
A história é dividida em 12 episódios curtos. Logo no primeiro o enredo é apresentado sem maiores delongas: sem muito contexto de fundo, vemos os dois adolescentes iniciando seu relacionamento. A escolha de não mostrar no piloto detalhes mais profundos da vida dos personagens acrescenta para a construção dos conflitos e suas posteriores resoluções. Os diretores Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald criam uma atmosfera intimista em cada cena. Por vezes a linguagem não verbal prevalece entre Connell e Marianne; a filmagem, a iluminação e a trilha sonora favorecem o tom.
Os dois adolescentes são muito diferentes, mas apesar disso encontram semelhanças nas inseguranças e anseios. As antíteses saltam aos olhos nos contextos estudantis. No colégio, Connell é um atleta cheio de amigos, simpático e de fácil convivência. Já Marianne é uma garota fechada, séria, sem muita sociabilidade. O status social no microcosmo é um dolorido empecilho. A escolha narrativa de fazer os papéis se inverterem com a entrada na universidade é uma maneira inteligente de mostrar outras faces dos personagens.
Ao contrário de muitos produtos midiáticos, Normal People (Reino Unido/Estados Unidos/Irlanda, 2020 – Hulu) leva o sexo a sério. Sem hipersexualização ou hiperromantização, a perda da virgindade é real e não são utilizados corpos como exposição. A delicadeza e fragilidade da intimidade são exploradas de sabiamente pelos diretores e roteiristas. O livro de Sally Rooney é bem adaptado para as telas. A história de Connell e Marianne, seus altos e baixos, amores e desamores, frustrações e sucessos são bem construídos e um refresco na maneira usual de falar de amor. Normal People poderia ter acontecido com qualquer um de seus espectadores. É um recorte de realidade que, além de representar vozes, parece dar mais voz para a geração millennial.