Documentário acompanha três histórias distintas de brasileiros atuantes no serviço militar de outros países

Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Bretz Filmes/Divulgação
Há filmes fortemente políticos cujo pano de fundo não é tão engajado. Há aqueles omissos a questões políticas, mesmo ao abordar temas nessa área. Por fim, existem filmes que abraçam seus temas fortemente políticos e incorporam o debate em seu discurso. Onde se encaixa, então, Soldado Estrangeiro (Brasil, 2020 – Bretz Filmes)?
O documentário brasileiro acompanha três histórias radicalmente diferentes envolvendo o serviço militar no exterior. Um quer entrar para a Legião Estrangeira, na França, outro atua pelo exército israelense nos conflitos de Gaza e Cisjordânia e o último é um ex-atirador da marinha estadunidense que serviu no Afeganistão. A narrativa episódica, escrita e dirigida por José Joffily e Pedro Rossi, isola seus personagens em uma estrutura parecida com a de três atos, o que prejudica o ritmo do filme – visto que as tramas são abruptamente encerradas e seu progresso parece “jogado fora”.
Dessa forma, Joffily e Rossi articulam cada um de seus protagonistas com a devida particularidade. Ao aspirante, a esperança e intimidade do primeiro plano. Com o soldado, o cuidado com o ambiente, sem adjetivá-lo por meio da linguagem. Para o atirador dispensado, o vazio e o trauma transparecem. Infelizmente, tal flutuação cria uma comparação interna às seções do filme. Ou seja, somos impelidos a confrontar histórias e personagens, que competem entre si e, evidentemente, uma parte sai prejudicada, vista como a “pior” entre as demais.
Ainda, o discurso parece incerto de sua posição frente aos conflitos políticos e morais que seus personagens enfrentam, seja o abandono, a censura ou o sacrifício de sua família. A opção dos diretores de manter distância dessa discussão cria um filme ambíguo que, para um espectador antibélico, com opiniões severamente contrárias à configuração das guerras e exércitos, trata com sutileza os defeitos que já conhecemos (ou imaginávamos) do sistema. Contudo, essa mesma sutileza não é suficiente para que qualquer pessoa, antibélica ou patriótica e armamentista, compreenda que, no fundo, a posição de Soldado Estrangeiro é contundente, mas não clara.
No entanto, no que tange à montagem contida em cada história, a sutileza política é transplantada ao tratar e conduzir a história. Com planos longos, retratos da convivência familiar de cada protagonista, o documentário nos explicita quem são, de fato, seus personagens, muito além da farda – bem como do fardo – que carregam.
Soldado Estrangeiro é um lançamento reflexivo, embora um tanto ambíguo, sendo definitivamente capaz de suscitar uma discussão política. Contudo, não comete o erro – muitas vezes cometido por aí – de agarrar-se ao tema e esquecer todas as possibilidades que a linguagem fílmica tem que ampliar a discussão. Uma sorte que, mesmo à despeito do episodismo, garante ao espectador algum tipo de debate pós-filme.