Music

Paulinho da Viola – ao vivo

Cantor e compositor mostra toda a informalidade e a sofisticação do samba em show que celebra seus 80 anos de vida

Texto (para ler e ouvir) por Rodrigo Browne

Foto: Nay Klym/Instituto Cult!/Divulgação

A música popular brasileira está em festa. Paulinho da Viola, um dos maiores expoentes do samba na atualidade, celebra seus 80 anos de vida em 90 minutos de lembranças musicais, num show memorável que desenha toda sua trajetória artística com obras-primas autorais e dos grandes compositores que estiveram presentes durante a carreira irretocável. A turnê comemorativa – que está percorrendo várias cidades brasileiras – chegou em Curitiba no último domingo (25 de junho), no Teatro Positivo, com lotação esgotada.

A festa musical teve a informalidade que o samba exige. Nenhuma pirotecnia no cenário e muito menos roupas de gala no figurino. Paulinho da Viola subiu ao palco de jeans e camisa preta. Ao seu lado, o filho, o violonista João Rabello – que leva no sangue e na música o DNA do pai, do avô (César Faria), da tia Luciana Rabello e do tio Raphael Rabello – e os músicos e amigos de longa data Mário Sève (sopros), Dininho Silva (baixo), Adriano Souza (piano), Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva (pandeiro) e Marcos Esguleba (percussão).

O som, apesar do tamanho da sala, estava perfeito. Nem mosquito zumbia para não atrapalhar o artista. Paulinho começou o show de maneira surpreendente tocando numa caixinha de fósforos (afinadíssima!) um samba inédito de sua autoria, “Ele”, que ainda não foi gravado. E depois deixou que as letras dos sambas contassem a sua história.

Atacou de “Samba Original”, de Zé Kéti e Elton Medeiros, que ele explicou ao público que foram dois compositores importantes na sua vida. E seguiu com as autobiográficas “Eu Canto Samba”, “Nas Ondas da Noite” e “Onde a Dor Não Tem Razão”, obra-prima assinada com Elton Medeiros.

Durante o concerto inteiro Paulinho conversou com a plateia, como se estivesse na sala de sua casa, e lembrava as parcerias, como a que fez com o poeta Sergio Natureza em “Vela no Breu”. Antes de cantar as origens na Portela, entoou a belíssima “Coisas do Mundo, Minha Nêga”. Do terreiro da escola do seu coração interpretou dois sambas: um de Monarco, “Passado de Glória, e outro de Bubu da Portela (com Jamelão da Mangueira), “Esta Melodia”.

Assim como no samba anterior, o portelense Paulinho também fez parceria com um mangueirense, Hermínio Bello de Carvalho. No show ele contou a divertida história de “Sei Lá, Mangueira”, um canto de amor a agremiação verde e rosa que lhe rendeu um certo desconforto na escola azul e branca de Madureira. Mas o mundo do samba permite essas conexões e, para exemplificar, suas lembranças musicais o levaram até o famoso bar Zicartola, que ele frequentava e onde ganhou de Cartola um samba inédito para gravar: “Acontece”, um momento lindo desse espetáculo interpretado em voz e piano.

A segunda metade do show Paulinho da Viola 80 Anos trouxe os sambas mais introspectivos da carreira do artista. Começou com a pérola “Nervos de Aço”, do gaúcho Lupicínio Rodrigues, no seu arranjo original. Seguiu para o encontro casual de “Sinal Fechado”, passou por “Roendo as Unhas” e fechou com a melancolia de “A Dança da Solidão”.

O amigo Capinam foi cantado na belíssima “Coração Imprudente”, que abriu a reta final da noite com mais de seus grandes sucessos: “Pecado Capital”, “Coração Leviano”, “Argumento”, “Bebadosamba”. Esta incluiu o chamamento aos grandes sambistas de seu passado musical e a apresentação da banda. Ele finalizou com mais uma parceria que compôs com Hermínio: “Timoneiro”, que versa “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”.

É claro que teve o bis. Iniciou com a confissão “arrepender-se nunca mais”, frase de “Prisma Luminoso”. E, com o público de pé, Paulinho cantou em coro o seu amor indissolúvel para a Portela (“Se um dia meu coração for consultado”) no seu samba mais famoso “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”. Ao se despedir, fez uma saudação a Clementina de Jesus, reperesentando todos os sambistas de seu passado e presente de glória.

Foi uma noite inesquecível. Obrigado Paulinho da Viola!

Set list: “Ele”, “Samba Original”, “Eu Canto Samba”, “Nas Ondas da Noite”, “Onde a Dor Não Tem Razão”, “Vela no Breu”, “Coisas do Mundo, Minha Nêga”, “Passado de Glória”, “Esta Melodia”, “Sei Lá, Mangueira”, “Acontece”, “Nervos de Aço”, “Sinal Fechado”, “Roendo as Unhas”, “A Dança da Solidão”, “Coração Imprudente”, “Pecado Capital”, “Coração Leviano”, “Argumento”, “Bebadosamba” e “Timoneiro”. Bis:  “Prisma Luminoso” e “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”.

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