Comédia romântica autobiográfica retoma a doce ingenuidade de clássicos recentes do gênero mesmo mostrando personagens “reais demais”
Texto por Flavio St Jayme (Pausa Dramática)
Foto: California Filmes/Divulgação
É interessante pensar como as comédias românticas amadureceram. Os filmes que tanto amamos que “fazem parte do movimento”, como Harry & Sally, Mensagem Para Você, O Casamento do Meu Melhor Amigo ou Um Lugar Chamado Notting Hill parecem obras distantes e ingênuas no mundo de hoje.
Ok, existem uns bons vinte anos no meio… Mas será que estes filmes ficaram mais adultos porque as plateias de hoje simplesmente não engolem mais suas histórias água com açúcar? Ou será que simplesmente seguiram seu curso e amadureceram junto com seu público como ocorre normalmente?
Sim, eram longas ingênuos, eram puro escapismo. Que aparentemente deixaram de ter lugar no mundo moderno. O que não é necessariamente ruim. Um filme pode ser menos tolo e ainda assim ser um bom escapismo.
O fato é que a ingenuidade foi substituída por histórias mais realistas e dramas mais modernos. Em Ela, por exemplo, o protagonista solitário mergulhado na tecnologia se apaixona por uma mulher virtual. Em Ruby Sparks, o personagem tenta criar a mulher perfeita e o tiro sai pela culatra. Envoltos em solidão e tecnologia, estes protagonistas têm muito em comum com nós mesmos. E com Kumail, o personagem principal de Doentes de Amor (The Big Sick, EUA, 2017 – California filmes).
Carregado de choques culturais e de emoções fortes, o longa autobiográfico do ator Kumail Nanjiani é uma comédia romântica. Mas das modernas, sem ingenuidade, sem príncipe encantado e sem galã. Seus protagonistas são pessoas normais, comuns, que não têm músculos definidos ou cabelos perfeitos, mas que, como nós, apaixonam-se e vivem essa paixão quando dá tempo, em meio ao trabalho, compromissos e exigências familiares. Claro que toda a questão da cultura paquistanesa é o mote principal do longa, só que o romance e mesmo o drama estão ali. No tapa na cara de realidade, tudo não é tão lindo assim e o contratempo não é uma doida querendo roubar o noivo ou uma chefe querendo casar pelo green card. É muito mais sério.
Embora “real demais”, Doentes de Amor é esperançoso e delicado. Mostra que, mesmo em meio ao conturbado mundo moderno, às brigas familiares e “na saúde e na doença”, o amor, pode sim, prevalecer. Parece que, no fim das contas, estamos mais céticos sim, mas ainda não abrimos mão da esperança de encontrar um grande amor. Ainda bem!