Music

Marisa Monte

Oito motivos para não deixar de ver a turnê de Portas, o nono e mais recente álbum de estúdio de Marisa Monte

Texto por Abonico Smith

Foto: Leo Aversa/Divulgação

Neste ano de 2022 Marisa Monte abriu as portas do palco para seu retorno às atividades musicais ao vivo. Depois de lançar o novo disco Portas ainda no auge da pandemia aqui no Brasil, ela começou em janeiro, pelo eixo Rio-São Paulo a turnê que leva o novo trabalho para o Brasil e ao mundo. Depois de muitas viagens por outras capitais e cidades brasileiras e também dos Estados Unidos Unidos, América do Sul e Europa, ela desembarca nesse final de semana de feriadão em Curitiba para dois shows às 21h dos dias 9 e 10 de setembro no Teatro Positivo. Para a segunda sessão não há mais ingressos – mais informações sobre o que ainda resta para a primeira você encontra clicando aqui).

O Mondo Bacana publica oito motivos para não perder o concerto, caso você ainda não tenha adquirido o ingresso.

Portas digitais

O disco já estava quase todo concebido, só faltava entrar em estúdio. Mas aí veio a pandemia da covid-19 em março de 2020 e o mundo parou e fechou todas portas. Mas, aos poucos, com a ajuda da internet, Marisa foi reunindo colaborações e parceiras aqui e lá e gravando o novo álbum reunindo gente nos mais variados cantos do mundo. Assim, gente como Arto Lindsay, Jorge Drexler, Marcelo Camelo, Seu Jorge e outros convidados foram se unindo ao time de artistas da ficha técnica. Com paciência e conexões, as portas foram se reabrindo para a música voltar a vencer e se transformaram em um 16 boas faixas.

Álbum visual

Com a palavra a própria Marisa Monte. “Acompanhar a produção de artistas plásticos, visitar exposições e conhecer as novidades são sempre um prazer pra mim. Mas nesse período isso só foi possível filtrado pelas telas do computador. A Marcela Cantuária é uma das artistas que eu seguia há cerca de dois anos e suas pinturas foram uma das janelas que eu mantinha aberta para o mundo durante o isolamento.  Sem que ela soubesse, a vi pintar mulheres, animais, histórias, natureza e seu universo cheio de mistérios, fantasias, oratórios, símbolos, feminismo, cores e imagens me encantou e seduziu. Como o meio musical é majoritariamente masculino, quis, no álbum visual, tentar promover um equilíbrio e convidar uma parceira mulher. Trabalhamos numa troca intensa de referências, num diálogo profundo entre nossos diferentes campos artísticos, durante dois meses, para que ela criasse essa série de pinturas chamada ‘Portas’. Com seu olhar e traço virtuoso, ela criou um imaginário que potencializou e deu forma às canções.”

Do disco ao palco

Apuro visual sempre foi uma constante nas turnês de Marisa, desde os seus primeiros discos. Cenografia, iluminação, figurinos. Tudo é extremamente bem cuidado e com estilo. Como se o concerto fosse uma extensão do trabalho fonográfico, só que mais extenso e cercado de calor humano com uma grande plateia em frente aos músicos.

“Portas”

O nome da canção – que também batiza o disco – serve como metáfora para uma bela letra que fala sobre diversidade e multiplicidade em tempos nos quais reina a sombra da austeridade de uma ditadura que quer impor a você o que (não) pensar e o que (não) fazer. A balada levada ao piano também serve como ilustração para dizer que o percurso é muito mais importante e interessante que o resultado final. O videoclipe, assinado pelo diretor de arte Giovanni Blanco (brasileiro radicado em Nova York, que já trabalho com gente como Anitta e Madonna), é uma bela experiência de cores, luzes e movimentos performáticos da cantora quase sempre à frente de um fundo todo branco trabalhando com perspectiva.

“Feliz, Alegre e Forte”

Quando o disco estava pronto, Marisa tomou a decisão de guardar essa música para lançar no palco, já no primeiro show da turnê – só depois ela ganhou as plataformas digitais. A letra do samba começa assim: “O que importa se o tempo passou/ O que importa se vai demorar/ O que importa se o dia chegou/ O que importa se nunca virá/ O que importa se alguém falou/ O que importa se ninguém falar”. E o refrão é taxativo e gruda num instante: “Sou feliz, alegre e forte/ Tenho amor e sorte/ Aonde quer que eu vá”.

 “Calma”

No início da carreira, Marisa cantou muito Tim Maia. Canções icônicas dele, como  “Chocolate” e “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, pipocaram muito no repertório de seus shows. Agora Marisa gravou uma música que é totalmente Tim Maia early seventies que não é de Tim Maia. Parceria dela com Chico Brown, “Calma” revisita o groove malemolente de Sebastião Rodrigues Maia com direito a arranjo luxuoso de naipe de metais e aquela batidinha dançante e lenta que clama para ser sampleada num futuro bem breve. Não é nada difícil você fechar os olhos durante a execução da canção e imaginar aquele vozeirão que bate fundo lá na alma e faz vibrar o corpo inteiro. Sob o comando de Marisa, porém, o pedido de calma e paci6encia nascido sob a tempestade pandêmica ganha mais sensualidade.

Superbanda

Na bateria, Pupillo, ex-Nação Zumbi e atualmente assinando a composição de trilhas sonoras e produção de outros artistas importantes brasileiros (erasmo Carlos, Gal Costa, Céu, Otto, Lirinha, mundo livre s/a, Mombojó, Nando Reis, Edgar). Na guitarra, Davi Moraes, considerado um dos grandes nomes das seis cordas na música pop nacional de hoje. Filho de Moraes Moreira, é apadrinhado por grandes instrumentistas baianos e acostumado desde cedo aos palcos. Chico Brown – que carrega no sangue o DNA de Carlinhos Brown (pai e também integrante dos Tribalistas ao lado de Marisa) e Chico Buarque (avô) fica se revezando na guitarra, baixo e teclados. Dadi, o eterno vizinho e mosqueteiro de palcos e estúdios de Marisa, também está lá na formação, segurando os mesmos três instrumentos que Chico Brown. Pretinho da Serrinha, ex-diretor da banda de Dudu Nobre, é um craque da percussão e já trabalhou com gente do quilate de Caetano Veloso, Lulu Santos e Seu Jorge. Completa o time um trio de metais.

Set list

Com mais de trinta anos de carreira fonográfica, Marisa Monte é sinônimo de um desfile imenso de sucessos, daqueles de serem cantados de cabo a rabo pela plateia. Tanto que o encerramento com “Bem Que Se Quis” já se tornou um item obrigatório de seus shows: ela dá a deixa cantando o primeiro verso e deixa os fãs no comando dos vocais de todo o resto, sem qualquer acompanhamento instrumental, enquanto ela sai do palco pouco tempo depois. O repertório desta turnê traz outras 29 canções antes dessa despedida a capella. Onze delas vêm do nono e mais recente álbum. O que significa que mais da metade é composta por clássicos de sua carreira solo e também com os Tribalistas. Dá só uma olhada na lista das obras que ela canta neste repertório: “Beija Eu”, “O Que Me Importa”“Eu Sei (Na Mira)”, “Infinito Particular”. “Já Sei Namorar”. “Velha Infância”, “Preciso Me Encontrar”, “Ainda Lembro”, “Ainda Bem”, “Depois”, “Não Vá Embora” e “Vilarejo”.

Movies

Maligno

Retorno do diretor James Wan ao body horror deleita os amantes do gênero mas se perde ao se alongar no relógio

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Warner/Divulgação

James Wan é um nome estabelecido no gênero de terror. As franquias Sobrenatural e Invocação do Mal são as grandes responsáveis por construir a imagem do diretor na indústria. Filmes de casas mal assombradas e espíritos logo se tornaram sua marca registrada. Porém, antes de se aventurar no mundo de demônios e fantasmas, Wan jogou suas fichas no body horror. É dele o primeiro filme da franquia Jogos Mortais, o primeiro de diversos sangrentos filmes sangrentos que, ao contrário de seus trabalhos mais recentes, não se apoiam nos sustos. Em Maligno (Malignant, EUA/China, 2021 – Warner), que chega agora às telas, James Wan volta às suas raízes. 

Tudo começa com a misteriosa filmagem de um hospital psiquiátrico pediátrico. Algo está errado com um paciente chamado Gabriel, mas é difícil saber o que exatamente. Corta para Madison Mitchell (Annabelle Wallis), uma enfermeira grávida chegando em casa e encontrando seu marido violento que em um ataque de raiva bate a cabeça de sua esposa contra a parede. Agora com uma ferida que parece nunca sarar, Madison passa a ter visões aterrorizantes de assassinatos. 

Profundamente inspirado pelo horror corporal de David Cronenberg, James Wan se aventura nos horrores que o corpo humano é capaz de produzir. Mais violento que seus últimos filmes, Maligno não economiza no sangue falso. O longa é conduzido com uma boa dose de mistério e uma excelente reviravolta. O ritmo não se mantém por todos os 111 minutos, mas o suficiente para gerar uma atmosfera de tensão. 

A produtora A24 se popularizou nos últimos anos e seus filmes de terror e suspense caíram na graça da audiência. O FarolMidsommarEx Machina, além da qualidade narrativa, também trouxeram para a mesa grande qualidade técnica e atenção a detalhes como fotografia e trilha sonora, o que nem sempre é prioridade do cinema de horror. James Wan também bebe dessa fonte recente e apresenta um filme com um belo visual e cenas com iluminação vermelha que agradam esteticamente.  

Maligno parece ser mais longo do que realmente é e a montagem pode ser a culpada. Para preservar o grande mistério do filme, personagens são inseridos na trama sem explicações – ato que instiga a curiosidade mas alonga o relógio. Era realmente necessário colocar momentos de flerte entre a irmã da personagem principal e o detetive que investiga os assassinatos? 

Quando chega o clímax, a surpresa vale a pena. São minutos de deleite para amantes do body horror. Infelizmente, após seu melhor momento, Maligno se perde. O desfecho é sem sal e repete o pior dos últimos filmes de James Wan. A energia cai rapidamente e o que era de fato uma história interessante torna-se mais um clichê aguado.

Maligno é a volta de Wan para suas raízes. Inconstante e intenso, o filme duvida de seu próprio potencial ao entregar um final que pensa que o público que irá querer ver. Afinal, o que é um final feliz de verdade no cinema? É aquele que deixa o público momentaneamente feliz ou o que nunca mais é esquecido?

Movies

O Esquadrão Suicida

Sob o comando do diretor James Gunn, franquia ganha reboot e volta psicodélica às telas e repleta de criaturas bizarras

Texto por Andrizy Bento

Foto: Warner/Divulgação 

A DC é falha na construção de um universo cinematográfico estruturado e compartilhado nas telas, sendo pouco eficiente ao tentar conectar suas tramas devido à falta de unidade entre os filmes que compõem o DCEU (termo não oficial utilizado para se referir, em inglês, ao Universo Estendido DC). Em contrapartida, ganha do rival, o MCU (Universo Cinematográfico da Marvel), em estilo e por apostar em abordagens mais autorais em seus longas, distanciando-se do formulaico e da zona de conforto da Marvel Studios. A longeva parceria entre a DC e os estúdios Warner Bros investe em produtos ousados e se mostra mais disposta a correr riscos que, por vezes, acabam por condenar seus filmes nas bilheterias.

Portanto, ninguém pode dizer que a DC não tenta. Abraçar propostas diferenciadas, ainda que se trate de um negócio arriscado, é louvável. Enquanto as realizações do bem-sucedido MCU são o que chamamos de filmes de produtor ou de estúdio, é visível que os cineastas por trás dos longas-metragens da DC buscam imprimir seu estilo e assinatura nas aventuras que levam às telas protagonizadas pelos heróis da marca. Assim, temos filmes mais sérios, sombrios e empolados como O Homem de Aço (2013) e Batman Vs Superman: A Origem da Justiça (2016), propostas que o público, em sua maioria, rejeitou; entretenimentos de fim de semana direcionados à toda família, que se aproximam mais da identidade de filmes de super-heróis que o público se acostumou a ver nas telas, dosando bem elementos como ação, comédia e romance, que é o caso dos dois longas da Mulher-Maravilha (2017 e 2020) e Aquaman (2018); um longa que aposta em uma atmosfera despretensiosa e infanto-juvenil a fim de capturar o interesse dos mais jovens pelos filmes da casa, apostando na reinvenção e modernização de um herói old school, como Shazam! (2019); um híbrido entre a gravidade de Snyder e o cartunesco de Joss Whedon, que sofreu na transição de diretores devido aos problemas de ordem pessoal que o primeiro enfrentou, que é o caso de Liga da Justiça (2017); e até alguns com atmosferas mais experimentais e narrativas tresloucadas, como Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (2020) e este novo O Esquadrão Suicida (2021).

O marginalizado grupo que surgiu nas páginas dos quadrinhos em setembro de 1959, integrado por delinquentes altamente perigosos que topam se aventurar em missões sigilosas e suicidas em busca de de liberdade – ou ao menos da redução de suas penas na prisão – tem sua segunda chance nos cinemas após o fiasco de 2016. Dirigido por David Ayer, Esquadrão Suicida (sem o artigo na frente do nome), foi detonado por público e crítica. Dessa vez, dirigido por James Gunn, cineasta que assinou os dois longas dos Guardiões da GaláxiaO Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, EUA/Canadá/Reino Unido, 2021 – Warner) manteve poucos nomes do primeiro filme. Obviamente, Margot Robbie (uma das poucas escolhas que deram certo) reprisa seu papel como Arlequina, desta vez ainda mais insana. A ótima Viola Davis ressurge como a moralmente ambígua Amanda Waller, mentora do Esquadrão, uma das escalações mais eficientes. Joel Kinnaman é outro que reaparece, interpretando Rick Flag. Sem grande destaque, Jai Courtney também repete seu papel como Capitão Bumerangue.

O grupo desajustado de vilões ainda se beneficia de acréscimos ao elenco, que é o caso de Idris Elba interpretando DuBois, o Sanguinário; John Cena, na pele do Pacificador; Sylvester Stallone, emprestando sua voz para o Tubarão-Rei Nanaue; David Dastmalchian, como Abner Krill , o Homem-Bolinha; Daniela Melchior, vivendo Cleo, a Caça-Ratos 2, com direito a um rato de estimação chamado Sebastian (dublado por Dee Bradley Baker); Peter Capaldi, assustadoramente brilhante como Pensador; e Alice Braga na pele de Sol Soria, a líder de uma facção rebelde.

“Típicos americanos. Mal chegam e já vão atirando”

A abertura frenética introduz uma equipe descartável que faz jus ao título de O Esquadrão Suicida, utilizada como mera distração enquanto a equipe original executa sua missão. Como se tratam de personagens com pouco tempo de tela, isso impede que o espectador chegue a se afeiçoar a algum deles. Contudo, essa amostra visceral de carnificina durante a introdução já dá uma ideia ao espectador do que serão as próximas duas horas de filme: alto teor de sangue, violência gráfica e humor corrosivo que tomam conta da tela. O novo Esquadrão Suicida ainda alia a narrativa sombria a uma estética psicodélica, lançando mão de uma cartela cromática intensamente colorida porém funcional e injetando doses cavalares de acidez em seu texto.

A ação ocorre no fictício Corto Maltese, pequeno país insular próximo à costa da América do Sul. O objetivo da equipe é se infiltrar em Jotunheim, instalação científica que abriga o Projeto Estrela-do-Mar, um misterioso experimento criado durante a 2ª Guerra Mundial e que, segundo as fontes confiáveis que abastecem Waller de informações, tem procedência extraterrestre. Nas mãos erradas, porém, ela oferece risco de catástrofe global. Waller, então, recruta novos integrantes para seu Esquadrão e cabe ao grupo destruir todos os vestígios do projeto.

A trama resgata e utiliza personagens bizarros e obscuros das HQs, que só poderiam ter a oportunidade de brilhar e fazer alguma diferença nas telas em um filme da estirpe de O Esquadrão Suicida, onde o tom autorreferente e autossatírico impera. A produção é repleta de sequências de ação inverossímeis, passagens indigestas e uma overdose de cenas absurdas temperadas com sangue, recheadas de mutilações e que culminam em uma tremenda sinfonia de caos e destruição. Ainda investe em tiradas cômicas bem pontuadas que conseguem arrancar risadas genuínas do público, muitas delas vindas da personagem de Margot Robbie. A cinematografia elegante compõe planos engenhosos, com movimentos de câmera inteligentes e certeiros, garantindo um visual arrojado capaz de surpreender o espectador. Destaque para uma determinada sequência de luta que é visível através do reflexo de um capacete – sem dúvida, uma das mais memoráveis do ano.

É fato que nem tudo funciona. Boa parte da passagem que elucida o drama da Caça Ratos 2, uma cena constrangedora na pista de dança e a sequência com timing arrastado em que Nanaue faz “novos amigos estúpidos” (bem em meio ao clímax do longa), poderiam ter sido cortadas na ilha de edição, pois são momentos que soam deslocados na trama. Sem contar os excessos da trilha sonora e o quanto alguns personagens parecem guardar ecos das figuras apresentadas em Guardiões da Galáxia (não é difícil se pegar fazendo associações entre Nanaue e Groot, por exemplo). Porém, seus méritos mais do que compensam essas e outras falhas.

Com um roteiro objetivo, extremamente simples, mas bem costurado, reserva espaço considerável em meio ao humor e às sequências de ação, para tecer uma crítica afiada à hipocrisia e hegemonia norte-americana em situações de guerra, O governo americano aparece, como de praxe, pregando uma falsa ideia de paz que se trata de pura estética, revestindo-se de uma aura pacifista para encobrir sua participação em esquemas de corrupção e atos bárbaros. Nesse sentido, é no personagem do Pacificador que o texto alcança um simbolismo perfeito. James Gunn foi a escolha ideal para fazer o reboot desta franquia nos cinemas. O diretor já havia mostrado que era bom em conduzir tramas fantásticas, repleta de criaturas bizarras, com muito bom-humor, mas conferindo humanidade aos personagens e plausibilidade ao enredo – como é possível observar nos longas dos Guardiões da Galáxia. Aqui, além de dosar de maneira assertiva os elementos dramáticos, Gunn parece ter tido mais autonomia no que confere tanto às escolhas narrativas quanto visuais, fazendo prevalecer sua assinatura. O resultado é um filme psicodélico, inventivo, experimental, ousado e altamente divertido. A chance que o Esquadrão Suicida merecia na telona.

Movies

Mulan

Versão live action chega em streaming trazendo a adaptação da lenda chinesa com diferenças significativas em relação ao desenho animado

Textos por Flavio Jayme (Pausa Dramática)

Foto: Disney/Divulgação

Se você quer ver a história de Mulan (EUA, 2020 – Disney) com personagens cantando, Mushu, Gri-Li e piadinhas… não precisa de um novo filme. Você pode rever a animação. Agora, se você quer uma nova visão sobre a mesma história, vai adorar a nova versão.

O enredo a gente conhece. Adaptado de uma antiga lenda chinesa, Mulan conta a história da corajosa menina que arrisca sua vida para salvar a vida do pai idoso quando este é recrutado para a guerra. Paisagens deslumbrantes (que mereciam uma tela gigante de cinema) e boa ação marcam esta versão em live action da história que inclui pontos-chave bem diferentes com relação à animação.

Não convém aqui ficar comparando os dois filmes, afinal tratam-se de coisas diferentes. Neste mais recente existe humor sim, mas bem mais dosado. A impressão é que Mulan ficou mais adulto. Aliás, é o primeiro dos longas em live action da Disney a receber, nos EUA, a classificação para maiores de 13 anos.

Depois de muito adiamento, o longa-metragem chegou via streaming do Disney+ no Brasil. E o filme não decepciona. Diferente de outros longas como A Bela e a FeraAladdin ou O Rei LeãoMulan muda a história que conhecemos com pontos positivos. Se podemos dizer que existe algum defeito nele é o excesso de “limpeza”. Como é difícil imaginar um filme de guerra em que não haja sangue, toda essa “plasticidade” acaba por tirar um pouco da emoção. O que de maneira alguma prejudica a diversão, entretanto.

***

Diferenças entre a animação e o live action de Mulan:

>> Mushu ou Cri-Cri não estão na nova versão. Mas há um companheiro mitológico em cena

>> A icônica cena de Mulan cortando o próprio cabelo não está no novo filme. Isso se explica pelo fato de que os guerreiros chineses usavam o cabelo comprido. Então é mais apropriado, historicamente fiel e mais “masculino” que Mulan mantenha o cabelo longo.

>> O elenco não canta durante o filme.

>> Várias canções da animação estarão presentes de outras formas na nova versão.

>> Falando em canções, Christina Aguilera gravou uma nova versão de “Reflection”, além de uma música nova para este filme.

>> A avó de Mulan também não está no live action. Mas a protagonista tem uma irmã mais nova, que aparece em algumas versões da história tradicional chinesa.

> Podemos conhecer também uma versão criança da personagem de Mulan.

>> Böri Khan não é o único vilão. Como já vimos nos trailers, há também uma bruxa que muda de forma, chamada Xianniang.

>> Os invasores do norte não são chamados de Hunos ou Mongóis, mas apenas de Rourans.

>> Li Shang, o “príncipe” da versão animada não está na versão live action. Ele é substituído por dois personagens diferentes: Comandante Tung e Chen Honghui.

>> A cena de Mulan subindo no poste para recuperar a flecha também não está no filme. Mas muitas outras mostram o esforço e o valor da heroína.

>> O vestido da casamenteira foi bordado à mão e levou 21 horas de trabalho de três pessoas.

>> Existem 65 cavaleiros-figurantes da Mongólia e 45 do Cazaquistão.

>> Mulan é a primeira adaptação da Disney em live action a ter classificação etária para maiores de 13 anos nos EUA.