Oito motivos para não deixar de ver a turnê de Portas, o nono e mais recente álbum de estúdio de Marisa Monte
Texto por Abonico Smith
Foto: Leo Aversa/Divulgação
Neste ano de 2022 Marisa Monte abriu as portas do palco para seu retorno às atividades musicais ao vivo. Depois de lançar o novo disco Portas ainda no auge da pandemia aqui no Brasil, ela começou em janeiro, pelo eixo Rio-São Paulo a turnê que leva o novo trabalho para o Brasil e ao mundo. Depois de muitas viagens por outras capitais e cidades brasileiras e também dos Estados Unidos Unidos, América do Sul e Europa, ela desembarca nesse final de semana de feriadão em Curitiba para dois shows às 21h dos dias 9 e 10 de setembro no Teatro Positivo. Para a segunda sessão não há mais ingressos – mais informações sobre o que ainda resta para a primeira você encontra clicando aqui).
O Mondo Bacana publica oito motivos para não perder o concerto, caso você ainda não tenha adquirido o ingresso.
Portas digitais
O disco já estava quase todo concebido, só faltava entrar em estúdio. Mas aí veio a pandemia da covid-19 em março de 2020 e o mundo parou e fechou todas portas. Mas, aos poucos, com a ajuda da internet, Marisa foi reunindo colaborações e parceiras aqui e lá e gravando o novo álbum reunindo gente nos mais variados cantos do mundo. Assim, gente como Arto Lindsay, Jorge Drexler, Marcelo Camelo, Seu Jorge e outros convidados foram se unindo ao time de artistas da ficha técnica. Com paciência e conexões, as portas foram se reabrindo para a música voltar a vencer e se transformaram em um 16 boas faixas.
Álbum visual
Com a palavra a própria Marisa Monte. “Acompanhar a produção de artistas plásticos, visitar exposições e conhecer as novidades são sempre um prazer pra mim. Mas nesse período isso só foi possível filtrado pelas telas do computador. A Marcela Cantuária é uma das artistas que eu seguia há cerca de dois anos e suas pinturas foram uma das janelas que eu mantinha aberta para o mundo durante o isolamento. Sem que ela soubesse, a vi pintar mulheres, animais, histórias, natureza e seu universo cheio de mistérios, fantasias, oratórios, símbolos, feminismo, cores e imagens me encantou e seduziu. Como o meio musical é majoritariamente masculino, quis, no álbum visual, tentar promover um equilíbrio e convidar uma parceira mulher. Trabalhamos numa troca intensa de referências, num diálogo profundo entre nossos diferentes campos artísticos, durante dois meses, para que ela criasse essa série de pinturas chamada ‘Portas’. Com seu olhar e traço virtuoso, ela criou um imaginário que potencializou e deu forma às canções.”
Do disco ao palco
Apuro visual sempre foi uma constante nas turnês de Marisa, desde os seus primeiros discos. Cenografia, iluminação, figurinos. Tudo é extremamente bem cuidado e com estilo. Como se o concerto fosse uma extensão do trabalho fonográfico, só que mais extenso e cercado de calor humano com uma grande plateia em frente aos músicos.
“Portas”
O nome da canção – que também batiza o disco – serve como metáfora para uma bela letra que fala sobre diversidade e multiplicidade em tempos nos quais reina a sombra da austeridade de uma ditadura que quer impor a você o que (não) pensar e o que (não) fazer. A balada levada ao piano também serve como ilustração para dizer que o percurso é muito mais importante e interessante que o resultado final. O videoclipe, assinado pelo diretor de arte Giovanni Blanco (brasileiro radicado em Nova York, que já trabalho com gente como Anitta e Madonna), é uma bela experiência de cores, luzes e movimentos performáticos da cantora quase sempre à frente de um fundo todo branco trabalhando com perspectiva.
“Feliz, Alegre e Forte”
Quando o disco estava pronto, Marisa tomou a decisão de guardar essa música para lançar no palco, já no primeiro show da turnê – só depois ela ganhou as plataformas digitais. A letra do samba começa assim: “O que importa se o tempo passou/ O que importa se vai demorar/ O que importa se o dia chegou/ O que importa se nunca virá/ O que importa se alguém falou/ O que importa se ninguém falar”. E o refrão é taxativo e gruda num instante: “Sou feliz, alegre e forte/ Tenho amor e sorte/ Aonde quer que eu vá”.
“Calma”
No início da carreira, Marisa cantou muito Tim Maia. Canções icônicas dele, como “Chocolate” e “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, pipocaram muito no repertório de seus shows. Agora Marisa gravou uma música que é totalmente Tim Maia early seventies que não é de Tim Maia. Parceria dela com Chico Brown, “Calma” revisita o groove malemolente de Sebastião Rodrigues Maia com direito a arranjo luxuoso de naipe de metais e aquela batidinha dançante e lenta que clama para ser sampleada num futuro bem breve. Não é nada difícil você fechar os olhos durante a execução da canção e imaginar aquele vozeirão que bate fundo lá na alma e faz vibrar o corpo inteiro. Sob o comando de Marisa, porém, o pedido de calma e paci6encia nascido sob a tempestade pandêmica ganha mais sensualidade.
Superbanda
Na bateria, Pupillo, ex-Nação Zumbi e atualmente assinando a composição de trilhas sonoras e produção de outros artistas importantes brasileiros (erasmo Carlos, Gal Costa, Céu, Otto, Lirinha, mundo livre s/a, Mombojó, Nando Reis, Edgar). Na guitarra, Davi Moraes, considerado um dos grandes nomes das seis cordas na música pop nacional de hoje. Filho de Moraes Moreira, é apadrinhado por grandes instrumentistas baianos e acostumado desde cedo aos palcos. Chico Brown – que carrega no sangue o DNA de Carlinhos Brown (pai e também integrante dos Tribalistas ao lado de Marisa) e Chico Buarque (avô) fica se revezando na guitarra, baixo e teclados. Dadi, o eterno vizinho e mosqueteiro de palcos e estúdios de Marisa, também está lá na formação, segurando os mesmos três instrumentos que Chico Brown. Pretinho da Serrinha, ex-diretor da banda de Dudu Nobre, é um craque da percussão e já trabalhou com gente do quilate de Caetano Veloso, Lulu Santos e Seu Jorge. Completa o time um trio de metais.
Set list
Com mais de trinta anos de carreira fonográfica, Marisa Monte é sinônimo de um desfile imenso de sucessos, daqueles de serem cantados de cabo a rabo pela plateia. Tanto que o encerramento com “Bem Que Se Quis” já se tornou um item obrigatório de seus shows: ela dá a deixa cantando o primeiro verso e deixa os fãs no comando dos vocais de todo o resto, sem qualquer acompanhamento instrumental, enquanto ela sai do palco pouco tempo depois. O repertório desta turnê traz outras 29 canções antes dessa despedida a capella. Onze delas vêm do nono e mais recente álbum. O que significa que mais da metade é composta por clássicos de sua carreira solo e também com os Tribalistas. Dá só uma olhada na lista das obras que ela canta neste repertório: “Beija Eu”, “O Que Me Importa”“Eu Sei (Na Mira)”, “Infinito Particular”. “Já Sei Namorar”. “Velha Infância”, “Preciso Me Encontrar”, “Ainda Lembro”, “Ainda Bem”, “Depois”, “Não Vá Embora” e “Vilarejo”.
Homem-Morcego volta às telas interpretado por Robert Pattinson e persegue Pinguim e Charada ainda em seu início de carreira mascarada
Textos por Andrizy Bento e Leonardo Andreiko
Fotos: Warner/Divulgação
Lendária criação dos quadrinistas Bob Kane e Bill Finger para a editora DC Comics no longínquo ano de 1939, Batman é daqueles personagens que sobrevivem ao teste do tempo, constituindo seu próprio multiverso – ou, melhor, o seu batverso. Não à toa, já passou por reboots em sua mídia de origem, os quadrinhos, sendo reimaginado por roteiristas e desenhistas em outros universos e linhas temporais alternativas; além de já ter ganhado inúmeras releituras e adaptações para formatos distintos, como filmes, séries, jogos e animações.
No que diz respeito às adaptações live action, podemos citar uma lista respeitável de atores que já vestiram o manto do morcego, alguns mais bem sucedidos do que outros: Adam West, Michael Keaton, Val Kilmer, George Clooney, Christian Bale, Ben Affleck e Robert Pattinson – este, o atual, que está no filme Batman (The Batman, EUA, 2022 – Warner) que chega oficialmente aos cinemas na próxima quinta-feira, dia 3 de março, mas já tem sessões pagas de pré-estreia nesta terça de carnaval. E apesar do descrédito dos detratores e do receio dos mais céticos, o ator britânico é um ótimo Batman. Aliás, está melhor como Batman do que como Bruce Wayne… Mas Pattinson na pele do Homem-Morcego está longe de ser o único destaque do longa de Matt Reeves.
O diretor se pronunciou diversas vezes em entrevistas, não apenas sobre quais histórias estreladas pelo herói serviram de base para composição de seu filme, como também sobre quais seriam suas grandes influências no território cinematográfico. Reeves é um grande fã de Dennis O’Neil, um dos roteiristas fundamentais de Batman nos quadrinhos, especialmente quando ele estava à frente da fase “detetive” do herói. Além disso, o trabalho deste é marcado pelo caráter mais sombrio conferido ao personagem e por tratar de temáticas mais realistas, cotidianas e urbanas em suas tramas. Além da era O’Neil, as clássicas histórias Ano Um, Terra Um e O Longo Dia das Bruxas (com especial destaque para a última) também serviram de referência para Reeves compor seu Batman, bem como os filmes French Connection, Taxi Driver e longas noir em geral produzidos na década de 1970 – não podendo ser esquecidos os trabalhos mais antigos de David Fincher. Para completar, Reeves é um excelente realizador e soube equilibrar elementos narrativos e referências visuais de cinema e quadrinhos, jamais se distanciando brutalmente de nenhuma das duas linguagens, dosando-as com impressionante destreza na tela. O resultado é um feliz encontro de um filme policial no melhor estilo noir com os melhores anos do Morcego nos quadrinhos.
Batman é um longo conto do Morcego de aproximadamente três horas de duração. Muito mais um filme sobre o herói encapuzado do que sobre o homem por trás da máscara, Bruce Wayne, o longa dispensa o caráter introdutório, trazendo o vigilante noturno já atuante em Gotham City desde as sequências iniciais, mas ainda em começo de carreira. Não, não temos a já saturada cena da execução dos pais de Bruce na saída do teatro ou do cinema (já exaustivamente utilizada em outras adaptações) e nem o herdeiro de Thomas e Martha Wayne desenvolvendo seu uniforme e seus famosos bat-apetrechos. O roteiro parte do princípio de que o espectador disposto a conferir o filme já sabe o básico da essência do Cavaleiro das Trevas, conhecendo de antemão alguns dos traços de sua personalidade e elementos mais característicos de sua mitologia.
Com uma atmosfera realista, soturna, repleta de embates violentos que abrem mão de coreografias pomposas e modesto no que diz respeito a pirotecnias, Batman traz uma proposta bem diferente dos filmes de super-heróis da atualidade, não se preocupando em inserir momentos de humor e leveza em sua narrativa ou abusar de cores vibrantes e um visual estilizado para fisgar um público mais abrangente. Não que o longa-metragem seja conduzido com mão pesada ou projete-se como altamente denso, complexo e maduro tal qual Coringa de Todd Phillips. Trata-se de um ótimo entretenimento, com argumento interessante e assertivo ao harmonizar o drama e a ação. Confesso, ainda, que em meio a tantos longas de super-heróis que soam por demais episódicos, passando a impressão de serem grandes teasers para um filme-evento posterior, é muito bom ver uma produção do gênero que se fecha em si mesma e que, por mais que tenha sequências futuramente, ainda poderá ser vista como um filme independente da cronologia na qual está inserido. Temos uma trama com início, meio e fim. Como eram os filmes antigamente.
Dentre as cenas e aspectos marcantes ofertados pelo novo longa do Homem-Morcego, temos a sequência inicial, na qual Charada mira em seu primeiro alvo; a perseguição automobilística envolvendo Batman e Pinguim; o fato de o bom-mocismo de Thomas Wayne ser questionado, mostrando o personagem como um sujeito passível de falhas irreparáveis; e a evolução e o amadurecimento de Bruce como o misterioso herói mascarado, que começa a compreender as linhas borradas entre a vingança e a justiça. Reeves é perspicaz ao trabalhar o conceito de fumaça e espelhos nessa história de Batman. Visualmente, além de conferir uma aura soturna funcional à trama e ao estilo do personagem, a ideia de optar por cenas bastante sombreadas e imagens, muitas vezes, turvas e nevoentas ajudam a atenuar a violência – uma decisão inteligente no que concerne a manter a classificação indicativa no PG-13 (equivalente ao 14 anos no Brasil).
Todo o elenco está muito bem, composto por nomes que emprestam suas carismáticas estampas a personagens emblemáticos dos quadrinhos e apresentam uma química explosiva na tela. Além de Pattinson, Zoë Kravitz é uma das melhores em cena, conferindo a sagacidade e a sensualidade exata à sua Selina Kyle. Colin Farrell (irreconhecível na foto acima!) e Paul Dano surgem se divertindo além da conta nos papéis de Pinguim e Charada, respectivamente. Para completar, temos Jeffrey Wright cumprindo direitinho o dever de casa na pele do incorruptível Jim Gordon. Andy Serkis como o mordomo e tutor de Bruce, Alfred Pennyworth, e John Turturro, interpretando Carmine Falcone, completam o elenco estelar.
Infelizmente, a produção não é desprovida de deméritos. Ótima ideia a de investir em uma trama detetivesca que remete às origens do personagem nos quadrinhos como um grande investigador. O problema é que nem a resolução da charada chega a surpreender e nem Bruce Wayne/Batman se mostra assim tão dotado do brilhantismo e intelecto que se espera daquele que em sua mídia original foi considerado um dos maiores detetives do mundo.
A caracterização de Pattinson como Bruce Wayne também é bastante discutível. Primeiro porque o visual o aproxima mais de Terry McGinnis (o Batman do futuro) do que do Wayne clássico. E, pelo menos neste filme, não vemos Robert incorporar aquela figura charmosa, arrogante, sedutora e orgulhosamente bilionária tão típica de Bruce quando não está trajando seu uniforme e combatendo o crime pelas ruas de Gotham. Na verdade, em Batman, Bruce se mostra bem desinteressado de relações pessoais e eventos sociais, mantendo uma postura mais arredia e reservada, nem mesmo contribuindo como filantropo em sua decadente cidade natal. Mais melancólico do que de costume, o famoso órfão de Gotham alçado ao patamar de celebridade devido à herança e sangue, é uma lacuna não preenchida neste filme. Entendo que, com um ator no auge dos 35 anos, a ideia era que Pattinson passasse a impressão de um pobre garoto rico, imaturo e aborrecido e que jamais pudesse passar pela cabeça de alguém que ele seria capaz de se converter em Batman. Ainda que por vias tortas, Batman acerta nesse quesito.
No geral, o filme se distancia bastante da concepção de Christopher Nolan com seu O Cavaleiro das Trevas. O problema é que o que aproxima as produções é justamente um de seus fatores negativos: o excesso de explicações e didatismos. Por vezes, vemos os personagens narrando aquilo que já estamos vendo acontecer na tela. Outra característica incômoda é a forma como o protagonista se movimenta, especialmente em cenas de crime – sempre de modo muito lento e solene. Ok, pode ser que o peso do traje contribua para isso, o que seria mais um exemplo de que Reeves erra tentando acertar (!!!). Além disso, a direção de fotografia abusa de close-ups e planos detalhe, o que torna algumas cenas um tanto cansativas.
A produção, entretanto, é composta de mais acertos do que erros. A quebra de expectativa ao finalizar uma cena exuberante de voo do Homem-Morcego com um pequeno acidente só nos faz ter mais simpatia tanto pelo personagem quanto por seu realizador. Para os fãs de filmes de ação, as emblemáticas sequências de perseguições em alta velocidade, explosões e lutas violentas estão todas lá, intercaladas por diálogos objetivos e afiados, excelentes dinâmicas entre os atores e momentos dramáticos que passam bem distante de qualquer pieguice. A despeito de suas quase três horas, o longa jamais perde o ritmo e é exemplar em manter o interesse do espectador. Para completar, a trilha sonora combina Nirvana com o tema musical do herói que nos faz lembrar de imediato da popular série animada do Batman, produzida no início dos anos 1990 e exibida por aqui na TV aberta. Outro enorme acerto em uma lista de mais prós do que contras.
Batman é, sim, um grande filme. Talvez não seja o melhor do Cavaleiro das Trevas, mas merece um lugar de destaque na lista das adaptações cinematográficas de quadrinhos de super-heróis. (AB)
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É seguro dizer que estamos falando de um dos filmes mais aguardados dos últimos anos. Batman (The Batman, EUA, 2022 – Warner) foi anunciado por Ben Affleck quando ele ainda assumia o manto do Homem-Morcego e sofreu muitas reviravoltas até parar nas mãos de Matt Reeves (diretor dos capítulos 2 e 3 da nova saga de O Planeta dos Macacos). Seu herói, não mais Affleck, seria Robert Pattinson, popularmente conhecido como o vampiro Edward, de Crepúsculo, mas com maior e maior reconhecimento com o passar dos anos.
Reeves, além de dirigir o longa, escreveu seu roteiro com Peter Craig. Nele, o vigilante mascarado investiga uma série de assassinatos brutais cometidos pelo Charada (Paul Dano), que também se esconde por trás de uma máscara e deixa mensagens crípticas para o protagonista em cada cena do crime. Esse Batman, então, é mais detetive que lutador – o mistério é parte essencial de sua trama. Mais do que um mero filme de super-herói como os mais de trinta que vimos nas últimas décadas, Batman é um bom thriller.
Como tal, ele se estabelece na tênue linha entre tensão e medo. A angústia crescente dos momentos que podem acontecer, não dos que acontecem. Ao mostrar o Charada (foto acima) em ação antes de explicá-lo à audiência, ocupando as sombras como nosso herói, Matt Reeves constrói um suspense atemorizante, manipulando nossas expectativas. Se Batman emerge à tela nas sombras e as habita, seu antagonista faz o mesmo. Não há descanso, portanto, em um filme que se passa majoritariamente na noite de Gotham.
Parte central da mitologia do Homem-Morcego, a cidade é um grande tema de debate nas inúmeras adaptações dos quadrinhos à tela. Com o controle criativo de praxe da DC nos últimos anos, o diretor articula uma Gotham que não peca pelo realismo nova-iorquino como a que Christopher Nolan construiu, mas também não deixa de fundar sua ação, horror e mistérios sobre uma selva de pedra escura, suja e perigosamente verossímil. As luzes transformam a jornada num noir, alçando as composições arrojadas e envolventes de Reeves. Em mais um ótimo trabalho, o diretor de fotografia Greig Fraser (do novo Duna) brilha com dinamismo e inventividade. Seu uso de lampejos, chiaroscuro e, principalmente, do absoluto “sangrar” da tela em vermelho fazem desta uma abordagem requintada do personagem mascarado. Há um charme mórbido em todas as ambientações da cidade, muito disso causado pelo belo trabalho conjunto de direção e fotografia.
Inclusive, o diretor, que vem demonstrando sua sobriedade e controle nos últimos O Planeta dos Macacos, não comete o terrível erro esterilizante que assola os filmes de super-herói das últimas décadas. Sem enquadramentos que gritam aos quatro ventos “isso aqui é tela verde!”, Reeves faz da linguagem audiovisual sua maior aliada na construção simbológica da história. O espectador lembra constantemente o peso alegórico das personagens nas posturas, silhuetas e interações.
Contudo, longe de uma abordagem mais contida e meramente reflexiva das tramas do vigilante, aqui a ação também tem peso. Quem luta respira, sente a porrada e se machuca. Parte desse êxito se dá pelo controle do diretor da câmera, que não se move de cá pra lá sem nexo, entrecortando takes tremidos como se fossem atirados num liquidificador. A outra parte vem da incrível corporalidade de Pattinson e Zoë Kravitz (foto acima), que parecem habitar os corpos de suas personagens há muitos e muitos anos.
No caso do Homem-Morcego, se essa é uma versão mais garota, enraivecida e dotada de um moralismo ainda ancorado na decadente figura de seu pai “cidadão de bem”, não poderia ser diferente a caracterização de um Bruce Wayne claramente perturbado, de poucas aparições e palavras. A atuação de Pattinson é estelar, capaz de construir com o olhar angústia tamanha em seus silêncios como Bruce, temores tais em seus silêncios enquanto Batman – ou, melhor, Vingança.
Enquanto isso, Kravitz propõe uma Selina Kyle diferente das que já vimos em tela – e seu arco distancia-se de uma egoísta ladra rumo a uma interpretação mais compreensiva e bondosa com a futura Mulher-Gato. A atriz é a âncora emocional da relação entre Batman e a anti-heroína. Sendo assim, carrega com primazia a intensidade dramática dessas cenas e sequências.
Muito bem pode ser tido de todo o elenco coadjuvante, mas cabe ainda estender aplausos ao trabalho aterrorizante de Paul Dano. Seu vilão opera pelo medo e, mesmo com a veia terrorista, afasta-se muito do caos pelo caos que consagrou o eterno Coringa de Heath Ledger. Sua aura justiceira e obsessão pela verdade por trás da propaganda, que o tornam uma figura com seguidores (para manter a trama mais vaga possível), são, talvez, as dimensões mais “reais” de todo esse conflito.
Matt Reeves é sutil em localizar a trama em uma série de discussões bastante atuais sobre os perigos da era da informação. Tematicamente, Batman trata (entre outras coisas, é claro) da transformação das redes sociais e fóruns em armas psicológicas de terror, do “culto” à violência enquanto meio para um fim supostamente puro e, ainda nesse campo da moral, as implicações de vingança e justiça que pautam a maneira com que Bruce Wayne vê sua atividade como o Batman com o passar da trama.
Muito poderia ser dito desses e outros conflitos que se traduzem do universo fílmico para o universo real, ilustrando a potência do cinema, bem como de toda arte em geral, em tecer comentários sociais que se fazem eficientes dentro de um discurso maior. O filme, para muito além da adaptação, é um thriller com muita solidez, tensão e suspense. Sem esquecer a ação, a montagem de William Hoy e Tyler Nelson estabelece um ritmo engajante e convidativo nas quase três horas de duração do longa-metragem. Se é verdade que há muita coisa acontecendo em Batman, definir um tempo de tela tão extenso confere o certo respiro a cada uma das partes da complexa e intrincada narrativa.
Resta afirmar que essa versão do Homem-Morcego me parece uma das mais concretas e monumentais da personagem. O mesmo pode ser dito da interpretação bastante distinta de Wayne sem sua máscara. Com uma densa e crua atmosfera, Matt Reeves é capaz de conferir a intensidade temática dos conflitos de terror e máfia sem desvincular Batman da verve criativa do cinema. (LA)
Retorno do diretor James Wan ao body horror deleita os amantes do gênero mas se perde ao se alongar no relógio
Texto por Ana Clara Braga
Foto: Warner/Divulgação
James Wan é um nome estabelecido no gênero de terror. As franquias Sobrenatural e Invocação do Mal são as grandes responsáveis por construir a imagem do diretor na indústria. Filmes de casas mal assombradas e espíritos logo se tornaram sua marca registrada. Porém, antes de se aventurar no mundo de demônios e fantasmas, Wan jogou suas fichas no body horror. É dele o primeiro filme da franquia Jogos Mortais, o primeiro de diversos sangrentos filmes sangrentos que, ao contrário de seus trabalhos mais recentes, não se apoiam nos sustos. Em Maligno (Malignant, EUA/China, 2021 – Warner), que chega agora às telas, James Wan volta às suas raízes.
Tudo começa com a misteriosa filmagem de um hospital psiquiátrico pediátrico. Algo está errado com um paciente chamado Gabriel, mas é difícil saber o que exatamente. Corta para Madison Mitchell (Annabelle Wallis), uma enfermeira grávida chegando em casa e encontrando seu marido violento que em um ataque de raiva bate a cabeça de sua esposa contra a parede. Agora com uma ferida que parece nunca sarar, Madison passa a ter visões aterrorizantes de assassinatos.
Profundamente inspirado pelo horror corporal de David Cronenberg, James Wan se aventura nos horrores que o corpo humano é capaz de produzir. Mais violento que seus últimos filmes, Maligno não economiza no sangue falso. O longa é conduzido com uma boa dose de mistério e uma excelente reviravolta. O ritmo não se mantém por todos os 111 minutos, mas o suficiente para gerar uma atmosfera de tensão.
A produtora A24 se popularizou nos últimos anos e seus filmes de terror e suspense caíram na graça da audiência. O Farol, Midsommar, Ex Machina, além da qualidade narrativa, também trouxeram para a mesa grande qualidade técnica e atenção a detalhes como fotografia e trilha sonora, o que nem sempre é prioridade do cinema de horror. James Wan também bebe dessa fonte recente e apresenta um filme com um belo visual e cenas com iluminação vermelha que agradam esteticamente.
Maligno parece ser mais longo do que realmente é e a montagem pode ser a culpada. Para preservar o grande mistério do filme, personagens são inseridos na trama sem explicações – ato que instiga a curiosidade mas alonga o relógio. Era realmente necessário colocar momentos de flerte entre a irmã da personagem principal e o detetive que investiga os assassinatos?
Quando chega o clímax, a surpresa vale a pena. São minutos de deleite para amantes do body horror. Infelizmente, após seu melhor momento, Maligno se perde. O desfecho é sem sal e repete o pior dos últimos filmes de James Wan. A energia cai rapidamente e o que era de fato uma história interessante torna-se mais um clichê aguado.
Maligno é a volta de Wan para suas raízes. Inconstante e intenso, o filme duvida de seu próprio potencial ao entregar um final que pensa que o público que irá querer ver. Afinal, o que é um final feliz de verdade no cinema? É aquele que deixa o público momentaneamente feliz ou o que nunca mais é esquecido?
Sob o comando do diretor James Gunn, franquia ganha reboot e volta psicodélica às telas e repleta de criaturas bizarras
Texto por Andrizy Bento
Foto: Warner/Divulgação
A DC é falha na construção de um universo cinematográfico estruturado e compartilhado nas telas, sendo pouco eficiente ao tentar conectar suas tramas devido à falta de unidade entre os filmes que compõem o DCEU (termo não oficial utilizado para se referir, em inglês, ao Universo Estendido DC). Em contrapartida, ganha do rival, o MCU (Universo Cinematográfico da Marvel), em estilo e por apostar em abordagens mais autorais em seus longas, distanciando-se do formulaico e da zona de conforto da Marvel Studios. A longeva parceria entre a DC e os estúdios Warner Bros investe em produtos ousados e se mostra mais disposta a correr riscos que, por vezes, acabam por condenar seus filmes nas bilheterias.
Portanto, ninguém pode dizer que a DC não tenta. Abraçar propostas diferenciadas, ainda que se trate de um negócio arriscado, é louvável. Enquanto as realizações do bem-sucedido MCU são o que chamamos de filmes de produtor ou de estúdio, é visível que os cineastas por trás dos longas-metragens da DC buscam imprimir seu estilo e assinatura nas aventuras que levam às telas protagonizadas pelos heróis da marca. Assim, temos filmes mais sérios, sombrios e empolados como O Homem de Aço (2013) e Batman Vs Superman: A Origem da Justiça (2016), propostas que o público, em sua maioria, rejeitou; entretenimentos de fim de semana direcionados à toda família, que se aproximam mais da identidade de filmes de super-heróis que o público se acostumou a ver nas telas, dosando bem elementos como ação, comédia e romance, que é o caso dos dois longas da Mulher-Maravilha (2017 e 2020) e Aquaman (2018); um longa que aposta em uma atmosfera despretensiosa e infanto-juvenil a fim de capturar o interesse dos mais jovens pelos filmes da casa, apostando na reinvenção e modernização de um herói old school, como Shazam! (2019); um híbrido entre a gravidade de Snyder e o cartunesco de Joss Whedon, que sofreu na transição de diretores devido aos problemas de ordem pessoal que o primeiro enfrentou, que é o caso de Liga da Justiça (2017); e até alguns com atmosferas mais experimentais e narrativas tresloucadas, como Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (2020) e este novo O Esquadrão Suicida (2021).
O marginalizado grupo que surgiu nas páginas dos quadrinhos em setembro de 1959, integrado por delinquentes altamente perigosos que topam se aventurar em missões sigilosas e suicidas em busca de de liberdade – ou ao menos da redução de suas penas na prisão – tem sua segunda chance nos cinemas após o fiasco de 2016. Dirigido por David Ayer, Esquadrão Suicida (sem o artigo na frente do nome), foi detonado por público e crítica. Dessa vez, dirigido por James Gunn, cineasta que assinou os dois longas dos Guardiões da Galáxia, O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, EUA/Canadá/Reino Unido, 2021 – Warner) manteve poucos nomes do primeiro filme. Obviamente, Margot Robbie (uma das poucas escolhas que deram certo) reprisa seu papel como Arlequina, desta vez ainda mais insana. A ótima Viola Davis ressurge como a moralmente ambígua Amanda Waller, mentora do Esquadrão, uma das escalações mais eficientes. Joel Kinnaman é outro que reaparece, interpretando Rick Flag. Sem grande destaque, Jai Courtney também repete seu papel como Capitão Bumerangue.
O grupo desajustado de vilões ainda se beneficia de acréscimos ao elenco, que é o caso de Idris Elba interpretando DuBois, o Sanguinário; John Cena, na pele do Pacificador; Sylvester Stallone, emprestando sua voz para o Tubarão-Rei Nanaue; David Dastmalchian, como Abner Krill , o Homem-Bolinha; Daniela Melchior, vivendo Cleo, a Caça-Ratos 2, com direito a um rato de estimação chamado Sebastian (dublado por Dee Bradley Baker); Peter Capaldi, assustadoramente brilhante como Pensador; e Alice Braga na pele de Sol Soria, a líder de uma facção rebelde.
“Típicos americanos. Mal chegam e já vão atirando”
A abertura frenética introduz uma equipe descartável que faz jus ao título de O Esquadrão Suicida, utilizada como mera distração enquanto a equipe original executa sua missão. Como se tratam de personagens com pouco tempo de tela, isso impede que o espectador chegue a se afeiçoar a algum deles. Contudo, essa amostra visceral de carnificina durante a introdução já dá uma ideia ao espectador do que serão as próximas duas horas de filme: alto teor de sangue, violência gráfica e humor corrosivo que tomam conta da tela. O novo Esquadrão Suicida ainda alia a narrativa sombria a uma estética psicodélica, lançando mão de uma cartela cromática intensamente colorida porém funcional e injetando doses cavalares de acidez em seu texto.
A ação ocorre no fictício Corto Maltese, pequeno país insular próximo à costa da América do Sul. O objetivo da equipe é se infiltrar em Jotunheim, instalação científica que abriga o Projeto Estrela-do-Mar, um misterioso experimento criado durante a 2ª Guerra Mundial e que, segundo as fontes confiáveis que abastecem Waller de informações, tem procedência extraterrestre. Nas mãos erradas, porém, ela oferece risco de catástrofe global. Waller, então, recruta novos integrantes para seu Esquadrão e cabe ao grupo destruir todos os vestígios do projeto.
A trama resgata e utiliza personagens bizarros e obscuros das HQs, que só poderiam ter a oportunidade de brilhar e fazer alguma diferença nas telas em um filme da estirpe de O Esquadrão Suicida, onde o tom autorreferente e autossatírico impera. A produção é repleta de sequências de ação inverossímeis, passagens indigestas e uma overdose de cenas absurdas temperadas com sangue, recheadas de mutilações e que culminam em uma tremenda sinfonia de caos e destruição. Ainda investe em tiradas cômicas bem pontuadas que conseguem arrancar risadas genuínas do público, muitas delas vindas da personagem de Margot Robbie. A cinematografia elegante compõe planos engenhosos, com movimentos de câmera inteligentes e certeiros, garantindo um visual arrojado capaz de surpreender o espectador. Destaque para uma determinada sequência de luta que é visível através do reflexo de um capacete – sem dúvida, uma das mais memoráveis do ano.
É fato que nem tudo funciona. Boa parte da passagem que elucida o drama da Caça Ratos 2, uma cena constrangedora na pista de dança e a sequência com timing arrastado em que Nanaue faz “novos amigos estúpidos” (bem em meio ao clímax do longa), poderiam ter sido cortadas na ilha de edição, pois são momentos que soam deslocados na trama. Sem contar os excessos da trilha sonora e o quanto alguns personagens parecem guardar ecos das figuras apresentadas em Guardiões da Galáxia (não é difícil se pegar fazendo associações entre Nanaue e Groot, por exemplo). Porém, seus méritos mais do que compensam essas e outras falhas.
Com um roteiro objetivo, extremamente simples, mas bem costurado, reserva espaço considerável em meio ao humor e às sequências de ação, para tecer uma crítica afiada à hipocrisia e hegemonia norte-americana em situações de guerra, O governo americano aparece, como de praxe, pregando uma falsa ideia de paz que se trata de pura estética, revestindo-se de uma aura pacifista para encobrir sua participação em esquemas de corrupção e atos bárbaros. Nesse sentido, é no personagem do Pacificador que o texto alcança um simbolismo perfeito. James Gunn foi a escolha ideal para fazer o reboot desta franquia nos cinemas. O diretor já havia mostrado que era bom em conduzir tramas fantásticas, repleta de criaturas bizarras, com muito bom-humor, mas conferindo humanidade aos personagens e plausibilidade ao enredo – como é possível observar nos longas dos Guardiões da Galáxia. Aqui, além de dosar de maneira assertiva os elementos dramáticos, Gunn parece ter tido mais autonomia no que confere tanto às escolhas narrativas quanto visuais, fazendo prevalecer sua assinatura. O resultado é um filme psicodélico, inventivo, experimental, ousado e altamente divertido. A chance que o Esquadrão Suicida merecia na telona.
Se você quer ver a história de Mulan (EUA, 2020 – Disney) com personagens cantando, Mushu, Gri-Li e piadinhas… não precisa de um novo filme. Você pode rever a animação. Agora, se você quer uma nova visão sobre a mesma história, vai adorar a nova versão.
O enredo a gente conhece. Adaptado de uma antiga lenda chinesa, Mulan conta a história da corajosa menina que arrisca sua vida para salvar a vida do pai idoso quando este é recrutado para a guerra. Paisagens deslumbrantes (que mereciam uma tela gigante de cinema) e boa ação marcam esta versão em live action da história que inclui pontos-chave bem diferentes com relação à animação.
Não convém aqui ficar comparando os dois filmes, afinal tratam-se de coisas diferentes. Neste mais recente existe humor sim, mas bem mais dosado. A impressão é que Mulan ficou mais adulto. Aliás, é o primeiro dos longas em live action da Disney a receber, nos EUA, a classificação para maiores de 13 anos.
Depois de muito adiamento, o longa-metragem chegou via streaming do Disney+ no Brasil. E o filme não decepciona. Diferente de outros longas como A Bela e a Fera, Aladdin ou O Rei Leão, Mulan muda a história que conhecemos com pontos positivos. Se podemos dizer que existe algum defeito nele é o excesso de “limpeza”. Como é difícil imaginar um filme de guerra em que não haja sangue, toda essa “plasticidade” acaba por tirar um pouco da emoção. O que de maneira alguma prejudica a diversão, entretanto.
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Diferenças entre a animação e o live action de Mulan:
>> Mushu ou Cri-Cri não estão na nova versão. Mas há um companheiro mitológico em cena
>> A icônica cena de Mulan cortando o próprio cabelo não está no novo filme. Isso se explica pelo fato de que os guerreiros chineses usavam o cabelo comprido. Então é mais apropriado, historicamente fiel e mais “masculino” que Mulan mantenha o cabelo longo.
>> O elenco não canta durante o filme.
>> Várias canções da animação estarão presentes de outras formas na nova versão.
>> Falando em canções, Christina Aguilera gravou uma nova versão de “Reflection”, além de uma música nova para este filme.
>> A avó de Mulan também não está no live action. Mas a protagonista tem uma irmã mais nova, que aparece em algumas versões da história tradicional chinesa.
> Podemos conhecer também uma versão criança da personagem de Mulan.
>> Böri Khan não é o único vilão. Como já vimos nos trailers, há também uma bruxa que muda de forma, chamada Xianniang.
>> Os invasores do norte não são chamados de Hunos ou Mongóis, mas apenas de Rourans.
>> Li Shang, o “príncipe” da versão animada não está na versão live action. Ele é substituído por dois personagens diferentes: Comandante Tung e Chen Honghui.
>> A cena de Mulan subindo no poste para recuperar a flecha também não está no filme. Mas muitas outras mostram o esforço e o valor da heroína.
>> O vestido da casamenteira foi bordado à mão e levou 21 horas de trabalho de três pessoas.
>> Existem 65 cavaleiros-figurantes da Mongólia e 45 do Cazaquistão.
>> Mulan é a primeira adaptação da Disney em live action a ter classificação etária para maiores de 13 anos nos EUA.