Oito motivos para não perder o show desta nova passagem de Axl Rose, Slash e Duffy McKagan por terras brasileiras

Texto por Janaina Monteiro
Foto: Divulgação
Prepare a sua bandana porque o Guns N’ Roses vem aí! Os norte-americanos trazem o rock “mais perigoso do mundo”, que estourou no final dos anos 1980, aproveitando a esteira de shows internacionais que desembarcaram no Brasil recentemente.
A turnê, com o sugestivo nome Guns N’ Roses Are F’ N’ Back!, inclui 13 apresentações na América do Sul, passando por várias cidades brasileiras. Serão seis no total, em setembro. São elas: Recife, dia 4; Belo Horizonte, dia 13; Ribeirão Preto, 16; Florianópolis, 18; Curitiba, 21; e Porto Alegre, 26 (mais informações sobre locais, horário e compra de ingressos, clique aqui). Vale lembrar que o grupo também estará no Rio de Janeiro como um dos headliners do Rock In Rio no dia 8.
Também pudera… Depois de um período pandêmico em que público e artistas ficaram trancafiados em casa, a partir deste ano de 2022 o lema é recuperar o tempo perdido. O tempo, aliás, chega a ser cruel com alguns rockstars. Principalmente aqueles que “enfiaram o pé na jaca”. Ou melhor, enfiaram o nariz e a boca em alguma substância nociva e abusaram disso sem qualquer moderação.
É este o caso de Axl Rose. Ao contrário de alguns frontmen da mesma geração, como Morten Harket (que esteve mês passado no Brasil com o A-ha e parece ter se congelado nas geleiras do Polo Ártico para manter o físico e a voz cristalina diante dos seus quase 63 anos), o tempo não surtiu o mesmo efeito no nome maior do Guns N’Roses. Para Axl, outro sex symbol daquelas décadas que antecederam a virada do século, a lei da gravidade não foi tão generosa. Tanto é que, alguns anos atrás, quando ele se reuniu aos antigos integrantes para uma nova turnê, caiu nas garras da indústria dos memes e chegou a pedir para que suas fotos em que aparecia acima do peso fossem retiradas do ar.
A gente sabe. A voz de Axl não é mais a mesma. Seu corpinho também não comporta mais kilt. Os shortinhos de couro colados, então, não combinam num senhor que já chegou aos 60 anos. Mas o fato de Axl não manter a forma física extrapola o fator puramente estético. Isso prejudica consideravelmente não só sua performance de palco, mas o alcance das notas mais agudas. Ou seja, exercícios vocais não fazem milagre.
Mas quem entre os fãs se importa se o cantor precisa abandonar um show porque o excesso de drive o fez perder a voz? Por trás daqueles cabelos loiros ainda está a mente criadora de hits épicos que marcaram toda uma geração: do clássico “Sweet Child O’Mine”, lançado no primeiro álbum da banda, passando por ‘Patience”, “Paradise City”, “Welcome To The Jungle”, “You Could Be Mine” e “November Rain” e outras canções que embalaram a minha e a sua juventude (ou a de seus filhos e netos).
O GN’R foi a típica banda que levou ao pé da letra a tríade sexo, drogas e rock’n’ roll, como revelou uma reportagem de capa da revista Rolling Stone em 2007, quando o álbum de estreia, Appetite For Destruction, completava 20 anos. Por conta desse comportamento rebelde e a potência das músicas, levou o título de “the most dangerous band in the world”.
E como o apetite para a autodestruição era grande, a banda se desintegrou em 1993. Aí que o fator tempo entra novamente. Se a rotação da Terra não perdoa a queda de cabelo ou a falha na voz, pode, sim, amansar velhos desentendimentos. Em 2016, Axl Rose, o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan voltaram aos palcos, com passagem por Curitiba, na Pedreira Paulo Leminski, e outras cidades de nosso país. E, agora, seis anos depois, eles retornam para a alegria das quarentonas, como eu. Da formação original segue o trio, junto há 37 anos e que conta agora com os reforços do guitarrista Richard Fortus, o baterista Frank Ferrer e os tecladistas Dizzy Reed (músico do GN’R desde 1990, aliás) e Melissa Reese.
Em ritmo de revival e torcendo para que Axl consiga terminar as 27 músicas que devem compor o set list em terras brasileiras, o Mondo Bacana cita oito motivos para não perder de jeito nenhum a nova turnê do GN’R.
Appetite For Destruction 35 anos
O Guns já entrou na cena rock estourando. Isso porque o début, lançado em 21 de julho de 1987, já trazia aquele que virararia o maior clássico da recém-formada banda californiana, “Sweet Child O’Mine”. E se você gosta de dar uma espiadinha no set list antes, já deve ter visto entre as canções programadas para esta turnê, boa parte delas (pelo menos oito por show) faz parte do primeiro álbum.
Este álbum é icônico. Vendeu nada menos, nada mais do que 15 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Hoje, é considerado um dos discos de estreia de maior vendagem da história da música pop.
Qual o motivo para ter feito tanto sucesso? Começa pelo faro musical da banda, que conseguiu mesclar o hard rockcomercial com uma crueza punk. Axl fazia questão de utilizar técnicas tradicionais, e, por isso, Appetite For Destruction é considerado um dos últimos grandes álbuns de rock “feito à mão”, aos moldes de Layla (Derek and The Dominos, 1970) e Abbey Road (Beatles, 1969). Este termo, aliás, foi usado pelo produtor e técnico de som do álbum, Mike Clink, em entrevista à Rolling Stone.
Slash
A gente sabe que Axl já não chama tanto atenção no palco. Ele ainda consegue correr de um lado a outro, mas sua performance não é mais a mesma. Seu corpinho, uma vez estonteante, não comporta mais aquelas roupas de couro justíssimas e o peitoral exposto, que era capaz de arrancar suspiros e gritos eufóricos até das moças mais recatadas.
Numa situação mais confortável, Slash soube envelhecer debaixo da sua cabeleira sempre vasta e pretíssima, da cartola mágica, dos óculos escuros e outras coisinhas mais. Aliás, o guitarrista revelou para o podcast Conan O’Brien Needs a Friend que sua primeira cartola fora roubada durante uma turnê do Guns N’ Roses em 1985.
O guitarrista, que já fez parte do grupo Velvet Revolver com outros membros do GN’R e tocou com Michael Jackson, completou 57 anos no último dia 23 de julho. No decorrer da carreira, ganhou fama por conta da sua habilidade de fazer solos incríveis, apesar de uma turma do contra dizer que ele só sabe mandar bem na escala pentatônica. Uma prova de que isso é um completo absurdo é um dos trechos do mais famoso solo dele, o de “Sweet Child O’ Mine”. Aqui, Slash usa a escala de mi menor harmônica e cala a boca de muita gente por aí.
Aliás, em uma entrevista, Slash confidenciou que não suporta mais tocar “Sweet Child O’ Mine”…
Momento nostalgia
Curtir um show de rock depois de passar tanto tempo no isolamento de casa não tem preço. Ainda mais de uma banda que fez tanto sucesso e ainda continua com hits nos topos da parada, como o Guns N’Roses.
Basta acessar o túnel do tempo, fechar os olhos e lembrar daquele show apoteótico na segunda edição do Rock in Rio 1991, quando a banda estreou a turnê Use Your Illusion, que só terminou em julho de 1993 aqui do lado, na Argentina. Aquela edição do festival, por sinal trouxe ícones como George Michael e Prince, mais bandas que estouraram na época como Faith No More, INXS e o trio norueguês A-ha – que se tornou headliner de um dos dias, atraindo um público de 200 mil pessoas, mas simplesmente fora esnobado pela imprensa.
O livro Guns N’ Roses – O Último dos Gigantes revela que, apesar de algumas estreias na formação da banda, aquele show representaria o fim do grupo como o público conhecia até então. Isso porque Axl passou a apresentar um comportamento cada vez mais problemático, o que potencializou sua relação com Slash, Duffy e Izzy Stradlin, que abandonariam o barco meses depois.
“Sweet Child O’ Mine”
Quem conhece a história desta música sabe que ela foi composta meio que por acidente. Slash, Duff e Izzy estavam sentados na sala de estar, onde Slash tocava a introdução da música. Axl se encontrava no andar de cima e ao ouvir aquele riff sensacional começou a escrever a letra, pensando em sua namorada. E assim, meio que numa inspiração de supetão, surgiu um clássico que voltou ao topo das paradas semanas atrás, por conta do lançamento do filme Thor: Amor e Trovão, da Marvel.
O hit também fez aparições na trilha de outros longas, como a de Capitão Fantástico, numa versão acústica belíssima, interpretada pelos filhos do protagonista, vivido por Viggo Mortensen. Há ainda por aí diversas regravações, como a de Sheryl Crow e a do grupo de indie rock Luna.
“You Could Be Mine”
Outra canção icônica que você ouvirá nesta nova passagem por aqui é “You Could Be Mine”, que fez parte da trilha sonora do filme O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, de 1991. Foi o próprio protagonista da franquia, Arnold Schwarzenegger, que solicitou à banda a inclusão da música no filme.
Segundo a revista Rolling Stone, o astro chamou Axl para jantar e pediu permissão do uso da faixa, que, até então, não havia sido lançada oficialmente. O ator, inclusive, aparece no clipe oficial da música, que rodava direto nas MTVs mundiais, inclusive a brasileira.
“You Could Be Mine”, que integra o álbum duplo Use Your Illusion II, surge em algumas cenas principais etambém nos créditos finais do filme.
Versões famosas
O GN’R foi responsável por revisitar canções em versões não deixam nada a desejar para as originais. Um exemplo é a cover de “Live and Let Die”.
Lançada, em 1973, pelos Wings, banda de Paul e Linda McCartney, foi regravada por Axl e companhia para a trilha do filme de mesmo nome da franquia de James Bond. Quase 20 anos depois do clássico do ex-beatle, a versão na voz de Axl entrou no álbum duplo Use Your Illusion I e integra o set list da banda até hoje. Apesar de ter ficado incrível, a versão da banda só alcançou o número 33 na parada da Billboard americana.
E sabe o que o Paul achou da releitura? Questionado em 2016, durante uma entrevista ao jornal New York Times, Macca aprovou a homenagem e ainda revelou um fato curioso. Quando a música foi lançada, seus filhos estavam na escola e diziam que era composição do pai. Os coleguinhas retrucavam: “De jeito nenhum. Ela é do Guns”.
Por falar em versões famosas, o repertório desta turnê ainda traz a versão do clássico do Bob Dylan, “Knockin’ On Heaven’s Door”, que integra Use Your Illusion II. Aliás, o sucessor desses dois álbuns duplos de 1991 álbum foi o disco The Spaghetti Incident?, de 1993. Aqui o grupo colocou a sua assinatura em canções clássicas de nomes como Stooges, T. Rex, Soundgarden e Johnny Thunders.
Clássicos reunidos
Para esta décima vez que a banda vem ao Brasil (a última passagem foi no São Paulo Trip, em 2017, com ingressos esgotados) os fãs podem esperar um concerto repleto de clássicos. Se levarmos em conta o set list dos últimos anos, desfrutaremos dos hits e canções lendárias que marcaram a melhor fase da banda, entre 1987 e 1991.
Do primeiro álbum, a gente pode esperar no mínimo oito músicas: “It’s So Easy”, “Mr. Brownstone”, “Welcome To The Jungle”, “Rocket Queen”, “Sweet Child O’ Mine”, “My Michelle”, “Nightrain” e “Paradise City”. Além dos outros clássicos posteriores como “Don’t Cry”, “November Rain”, “You Could Be Mine” e “Patience”.
Material inédito
Por conta da pandemia, a banda parou com os shows. Por isso, há uma enorme expectativa para esta nova turnê, que só foi vista nos EUA e marcará essa lendária retomada por aqui.
O público deve ficar atento também para algumas novidades. Desde Chinese Democracy (2008), a banda californiana não lançava material inédito e o novo EP Hard Skool, que conta com a faixa “Absurd”, é só uma amostra do que pode pintar por aí.
Slash, em recente entrevista, avisou que estão preparando mais uma ou duas músicas, que podem ser incluídas nestes shows vindouros.
Republicou isso em pelo caminho.
CurtirCurtir