Music

Arquivo MB: Cranberries – ao vivo (2010)

Publicado originalmente em 02.02.2010

Banda irlandesa promove ode à música pop feita com bom gosto e atemporalidade em sua primeira passagem pelo Brasil

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Texto e foto por Rodrigo James

É bem provável que você, caro leitor, não se lembre ou já tenha se esquecido da era pré-internet no que tange ao consumo de música. Caso você seja um destes, permita-me refrescar sua memória. Antes das conexões de banda larga e do acesso ilimitado a toda música do mundo, obtínhamos nossa informação musical por alguns poucos (e bons) veículos offline e pelas rádios. Era através das FMs que travávamos nossos primeiros contatos com aquelas músicas cujos nomes eram impressos nas páginas dos jornais e revistas. Se gostássemos das canções que ouvíamos, comprávamos o disco. Sim, comprávamos porque não havia download gratuito e/ou ilegal. Bem, não havia download

Esta lógica transformou em gigantes muitos artistas nas décadas passadas, mas principalmente nos anos 1990, quando o disco viveu seu novo apogeu por causa do formato CD. E, caso você também não se lembre, uma das bandas que mais se beneficiou desta lógica foi o Cranberries. Irlandeses, atingiram o estrelato mundial através de uma série de singles que infestavam as rádios, venderam milhões de álbuns e deixaram as (muitas vezes) belas melodias gravadas em nossas memórias. Isto talvez justifique o que se viu no Chevrolet Hall, em Belo Horizonte, no último domingo dia 31 de janeiro. Casa cheia.

O Cranberries nunca foi uma banda virtuosa, mas nunca precisou ser. Quem vai até um show deles não espera ouvir longos solos de guitarra ou demonstrações explícitas de heroísmo musical. Os fãs querem ouvir as canções. Pensando por este lado, a noite foi perfeita. Porque não só os principais hits (a saber: “Dreams”, “Linger”, “Ode To My Family”, “Zombie” e “Salvation”) estiveram presentes no repertório, como outras pérolas perdidas, da estirpe de “Free To Decide”, “Empty” e “When You’re Gone”, cantadas por praticamente todo mundo que estava ali. Do público “alvo” da banda, na faixa 25-30 até os mais novos, que devem se lembrar das músicas porque ouviam por tabela os discos dos irmãos mais velhos, era difícil encontrar alguém que não soubesse pelo menos uma canção do início ao fim.

No palco, a banda dava ao público o que ele queria: hits e mais hits. Capitaneados por uma Dolores O’ Riordan conservada em formol (não aparenta os 38 anos completados em setembro), a banda pode até parecer um pouco burocrática para alguns, mas cumpre seu papel com classe e segurança. Dolores recorre a vários clichês (bandeira de Minas Gerais nas costas, descer do palco para cantar uma música mais perto do público), não muda o set list da turnê e se dá ao luxo de incluir músicas de sua obscura carreira solo. Nada disto compromete o resultado final. Uma ode à boa música pop, feita com bom gosto e que provou, naquela noite, ser atemporal.

Set List: “How”, “Animal Instinct”, “Linger”, “Ordinary Day”, “Wanted”, “You And Me”, “Dreaming My Dreams”, “When You’re Gone”, “Daffodil Lament”, “I Can’t Be With You”, “Pretty”, “Ode To My Family”, Free To Decide”, “Waltzing Back”, “Switch Off The Moment”, “Salvation”, “Ridiculous Thoughts”, “Zombie”. Bis: “Empty”, “The Journey”, “Promises” e “Dreams”.

Leia aqui sobre a morte e a trajetória artística da vocalista Dolores O’Riordan

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