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Avatar: O Caminho da Água

O visual esplêndido não livra a longa sequência do clássico dirigido por James Cameron de se perder nas muitas inconsistências do próprio roteiro

Texto por Carolina Genez

Foto: Fox/Disney/Divulgação

Mais uma década depois do lançamento do primeiro filme, chega agora aos cinemas a sua continuação. Avatar: O Caminho da Água (Avatar: The Way Of Water, EUA, 2022 – Fox/Disney) não vem somente como sequência do anterior, mas também com a promessa de outros três longas (sendo estes já com o ano de lançamento previsto).

Na história atual, também com a direção de James Cameron, reencontramos Jake Sully (Sam Worthington) e Ney’tiri (Zoë Saldaña) anos depois dos eventos do primeiro longa, vivendo em paz com a natureza e formando uma família. A paz dos Na’vi, porém, é perturbada com a chegada de mais militares que querem explorar Pandora e tornar o planeta habitável para o chamado povo do céu.

Se em 2009 James Cameron já impressionava pelos aspectos visuais do mundo de Pandora, no novo Avatar o visual é realmente de cair o queixo. Esse é o tipo de filme que traz de volta o público ao cinema por causa de uma impecável experiência cinematográfica, que deve ser vista na maior tela existente e se possível em 3D. 

A maravilha de Pandora é criada em O Caminho da Água com tantos detalhes que torna quase impossível lembrar que o local não existe na vida real. O CGI dá show e mostra o que, de fato, é possível construir tudo com o uso dos efeitos especiais. Para além dos avatares, a natureza em si acaba se tornando um personagem pelo tanto de detalhes. A coloração das plantas, os movimentos dos animais e insetos e, claro, a água dentro do filme são simplesmente impressionantes. Além disso, no segundo Avatar o mundo se torna ainda mais palpável. Com a língua dos Na’vi ainda mais viva e expandida, a construção do mundo torna-se maravilhosa, mostrando ainda mais sobre as vivências e tradições daquele povo.

Aqui o protagonismo fica mais com os filhos do casal principal. Cada um deles pode apresentar personalidades muito interessantes e diferentes entre si, mas todos funcionam muito bem junto e entregamuma convincente família. Dentre os filhos biológicos há Neteyam (Jamie Flatters), mais velho e mais calmo e centrado, mas que ainda sim se rende as ideias do irmão do meio e impulsivo Lo’ak (Britain Dalton). Por fim, Tuk (Trinity Jo-Li Bliss) é a filha caçula. Completando a família e o destaque entre os filhos, entra Kiri (Sigourney Weaver). A filha da cientista Grace (também vivida por Sigourney Weaver), que morreu no primeiro filme, tem uma narrativa muito interessante dentro do longa, explorando as maravilhas de Pandora com a mesma admiração que o próprio espectador. Entre as crianças, o elenco apresenta Miles “Spider” Socorro. Com a saída do povo do Céu, ele acaba ficando, por conta da idade, com os cientistas que permanecem em Pandora. Spider é obcecado pelos Na’vi e mantém uma amizade muito bonita com os filhos de Jake e Ney’tiri.

O começo do longa mostra as vivências dessa família, quando acontece a chegada de mais militares. No primeiro filme, o objetivo era minerar o planeta. Agora, é torná-lo habitável para a vinda dos humanos, já que a Terra se encontra próxima do fim. Esta trama, porém, é abandonada na primeira uma hora de projeção, já que a narrativa é consumida por um desejo desesperado de vingança pelo Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), que retorna como avatar (após uma explicação bem mediana para trazer de volta o vilão) e move diversos recursos (e praticamente montanhas) apenas para se vingar de Jake Sully. As motivações do personagem são bem fracas (até porque no filme anterior o personagem era mais coerente) e sem sentido dentro da atual narrativa, já que aqui matar Sully não elimina os outros Na’vi, que são tão guerreiros como ele.

Por isso, infelizmente, o maior inimigo de O Caminho das Águas revela ser a série de inconsistências de seu roteiro. A estrutura e os atos narrativos são idênticos ao primeiro filme, porém mais alongados. O filme também se segura muito para desenvolver algumas relações e eventos, que muito provavelmente serão explicados e desenvolvidos nas próximos produções. Com isso, entretanto, o segundo filme acaba perdendo muito ao entregar momentos genéricos, previsíveis e com explicações bem ruins.

Além disso, talvez um dos erros que mais impacta é a adição de fatos e regras ou a quebra destes sem grandes explicações desde o início – até porque o primeiro longa é finalizado sem grandes pontas para um segundo. Isso acaba acontecendo ao longo do filme todo. Não só a origem dos personagens da Kiri e Spider ou a volta do coronel, mas também as histórias, lendas e tradições dentro dos povos são explicadas muito de repente e acrescentadas sem dó, apenas para servir às necessidades dos personagens e conseguirem movimentar os mesmos. O objetivo destes também pode ser questionado em diversos momentos, gerando até mesmo a quebra de conexão entre espectador e história.

O Caminho da Água também traz diversas cenas em que nada acontece, até mesmo para que se possa contemplar ainda mais o visual. Tal decisão acaba o deixando extremamente longo, com mais de três horas de duração (trazendo incoerência em determinados momentos, já que de uma hora para outra o perigo deixa de ser iminente com facilidade). A montagem também deixa a desejar pelos cortes bruscos e cenas por vezes sem conexão com os takes seguintes. O final do filme traz uma cena de ação que supera o primeiro, é bem verdade. Só que sua resolução previsível não consegue deixar os espectadores na ponta de sua cadeira. Apesar disso, o longa traz uma melhora grande em relação ao primeiro e consegue terminar plantando curiosidade para as próximas sequências. Avatar: O Caminho da Água é aquela produção impecável e bela visualmente, ideal para ser vista dentro de uma sala cinema, mas peca pelo roteiro raso e genérico, com uma aventura mediana e aquela promessa de melhora para os próximos longas.

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