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Tudo Que Quero

Dakota Fanning é uma jovem autista com obsessão por Star Trek em road movie adaptado de uma peça teatral

pleasestandby2017

Texto por Abonico R. Smith

Foto: Imagem Filmes/Divulgação

Road movies são filmes que, por condição, mostram o protagonista seguindo uma trajetória. Há, claro, o deslocamento físico, o que possibilita o encontro breve com diversos outros personagens que, de uma ou outra forma, irão prejudicar, alterar ou favorecer a caminhada. Mas, acima de tudo, há ainda a alteração no percurso interno de quem se põe em movimento. No fim se conhece alguém diferente daquela pessoa que existia lá no início do filme.

Tudo Que Quero (Please Stand By, EUA, 2017 – Imagem Filmes) é um road movie. A jovem Wendy, alucinada pela série de TV e cinema Star Trek, faz de tudo para ir de San Francisco, onde vive, a Los Angeles, sede dos estúdios da Paramount. Seja de ônibus, a pé ou carona. Pouco mais de 600 quilômetros entre uma cidade e outra. Tudo porque há um concurso que premiará os melhores roteiros escritos por fãs. Ela escreveu o seu e, ao perceber que não há mais tempo hábil de enviá-lo pelo correio, decide correr todos os riscos e intempéries para entregar pessoalmente o montante de papel que traduz a história produzida em sua mente.

A história é baseada na peça teatral do dramaturgo e roteirista de TV e cinema Michael Golamco e foi adaptada para por ele próprio para ser lançada por Hollywood. A produção é de baixo orçamento e lançada no circuito independente norte-americano. Seu maior chamariz é a presença de Dakota Fanning (que, quando criança, atuou em alguns blockbusters e depois que cresceu optou por direcionar a carreira para produções mais alternativas) como a protagonista.

Estreando no Brasil na cola do sucesso de Extraordinário (leia aqui a resenha do Mondo Bacana), Tudo Que Quero segue a mesma linha dramática “protagonista-com-carisma-e-fora-dos-padrões-da-sociedade enfrenta os problemas do-mundo com a cara e coragem”. Também traz aquele verniz estético indie, com alto apelo pop (há referencias a Star Trek o tempo todo) e trilha sonora bonitinha (incluindo três músicas a cargo do trio nova-iorquino Au Revoir Simone). Também tem tudo para cair no gosto de um nicho bem específico de público.

Neste caso, familiares de portadores de autismo. Afinal, Wendy é autista. Vive mergulhada em um mundo só seu, com interesses próprios (marcada na história pela obsessão por Star Trek), dificuldade de mostrar os sentimentos e reações violentas perante a sinais de adversidade. Por isso ela necessita de cuidados especiais. Daí os perigos dela sair livre, leve e solta pelas ruas, quanto mais sem comunicação com a família durante a empreitada até Los Angeles e em comunicação direta com pessoas que nunca tiveram contato com ela antes.

Mas engana-se quem acha que Tudo Que Quero possa vir a escorregar para o lado do dramalhão. Este é um filme leve, divertido e colorido. O mundo de Star Trek e as recorrentes referências ao volcano Spock e o terráqueo Capitão Kirk são recursos para fazer analogias com os problemas de sua vida – em especial o distanciamento da irmã mais velha, que praticamente a ignora e, em nome de seu casamento e da filha recém-nascida, deixa-a sob os auspícios de uma cuidadora após a morte da mãe, solteira, que cuidava das duas até então.

Neste road movie de Golamco (que, por sinal, já era um road movieno palco, antes mesmo de chegar à grandes telas) pouco importa até onde Wendy consegue chegar em Los Angeles, se o roteiro é entregue ou não, se ela ganha o concurso ou não. Pouco importa até mesmo o final do filme, considerado por muitos críticos como frouxo e sem escapar das obviedades. O que vale aqui é o percurso traçado pela jovem. Não o geográfico, mas o interno. E principalmente o que ela consegue depois de todas estas novas e impensadas experiências.

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