Animação sem a assinatura de um diretor se vale de narrativa surreal para conquistar crianças e adultos
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Paramount Pictures/Divulgação
Animações têm a possibilidade de argumentar a respeito dos mais variados temas se valendo de narrativas surreais. É desta forma que O Parque dos Sonhos (Wonder Park, EUA/Espanha, 2019 – Paramount Pictures) constrói sua trama em volta de June, uma inventiva criança cujo sonho é construir o parque imaginário que inventara com sua mãe. Quando esta deve viajar para cuidar da saúde, a protagonista se entristece, apresentando sintomas típicos de um episódio depressivo, e deixa o projeto do Parque de lado. Porém, ela descobre que o parque é real e corre sério risco.
O filme não tem um “diretor”, mas um conjunto de head(s) of, que assumem a fotografia, a iluminação e a história. Ainda assim, os três são capazes de trabalhar com tamanha sinergia que a animação é uma das mais fluidas dos últimos anos do cinema comercial. A movimentação de câmera é tal que produz transições ao estilo de Damien Chazelle. A fotografia sabe evocar, com seu trabalho de contrastes e colorização, diferentes sensações para os mais variados ambientes da trama. A referência junguiana do roteiro se faz presente nos quadros por meio da cor.
Outro ponto que funciona bem é a utilização do 3D, criando camadas de profundidade em diversos momentos e sempre em favor da narrativa. Há tempos que não encontro um filme cuja experiência tridimensional valha tanto a pena quanto este.
Infelizmente, não foi possível, para escrever este texto, analisar a dublagem original do filme, que conta com nomes como Jennifer Garner e John Oliver no elenco. Todavia, o elenco e a direção de dublagem da versão brasileira não deixam a desejar. Pequenos desvios técnicos e uma escolha duvidosa para a personagem principal são os únicos defeitos da dublagem, que entrega personagens divertidos e bons diálogos adaptados.
É claro que, como (quase) toda obra, esta tem seus defeitos estruturais. A história de June, escrita por Josh Appelbaum (que assina a produção do filme), André Nemec e Robert Gordon, é obviamente inspirada em sucessos anteriores do nicho das animações Pixar-Disney-Dreamworks. Há, inclusive, uma cena cuja referência é tão incontestável que poderia ser batizado de “momento Up!”. Mesmo assim, é inegável que a trama funcione. Só poderia funcionar um pouquinho mais.
O Parque dos Sonhos é daqueles filmes planejados para tornar-se um sucesso de vendas. É muito provável que isso não ocorra – ainda que o carisma dos personagens (em especial os animais) pudesse fazer com que conseguisse o objetivo – mas também pode passar perto sem se tornar uma animação esquecível. É divertido o suficiente tanto para seu público infantil quanto para os pais. Por sinal, para estes é uma ótima opção para passar o tempo.