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A Maldição da Casa Winchester

Mesmo tendo Helen Mirren encabeçando o elenco, irmãos germânicos se perdem no meio do caminho em seu primeiro “grande” filme de terror

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Paramount/Divulgação

Já faz um tempo que os filmes de terror andam em alta nos cinemas. Entretanto, as boas bilheterias e respostas de público têm sido inversamente proporcional à qualidade na maioria das obras. Repetições de fórmulas manjadas e reciclagem de velhas engrenagens ainda dão as cartas em Hollywood, que volta e meia tem sido superada por arrojos e ousadias do mesmo gênero em produções de outros continentes como a Ásia, Europa, Oceania.

Por isso o jeito é apelar ao velho provérbio “se você não pode derrotá-los, una-se a eles”. Isso explica o fato de um filme com co-produção australiana e a direção de dois irmãos germânicos estrear agora em grande circuito, com maciça promoção de markting e propagandas e nomes de peso no elenco.

A Maldição da Casa Winchester (Winchester, EUA/Austrália/Alemanha, 2018 – Paramount), como o próprio nome indica, se passa na famosa mansão mal-assombrada construída no final do século retrasado na cidade de San José, cidade situada quase na costa californiana. Com 160 cômodos, ela foi a grande herança recebida pela viúva Sarah Winchester após a morte do marido, um grande empresário, dono da famosa fábrica de armamentos que leva o seu sobrenome. Existe até hoje e volta e meia vive aparecendo em reportagens sobre fantasmas.

Isso é um fator que pesa a favor. Este é um filme de terror que não só tem uma história por trás, como ainda carrega o fato de ser algo público notório desde o começo do século passado. Mesmo que contada da forma mais chapa-branca possível.

Outra coisa que conta a favor é ter uma protagonista como Helen Mirren. Na condição de matriarca da famosa residência, ela reina soberana na tela, dando o tom solene necessário para alguém que protege os seus fantasmas de modo tão assustador que chega a se comprometer de modo perpétuo com toda uma estrutura que procura consertar os estragos e recompor a casa continuamente. O discurso contra o belicismo, que parte da própria herdeira da uma grande fábrica de armamentos, também ajuda a compor a personalidade “contraditória” dela.

Contudo, a nova investida por Spierig – pela primeira vez contando com um grande aparato da indústria e, talvez por isso mesmo, abrindo mão dos elementos do gore que vinham marcando sua trajetória – acaba naufragando pelo meio do caminho. Interpretado por Jason Clarke, o psiquiatra contratado para se hospedar por uma semana na mansão com o intuito de dar um laudo técnico oficial sobre a condição psiquiátrica de Sarah para uma diretoria da empresa ávida para afastá-lo do comando das funções não pega no tranco. Assim também vai o roteiro, costurado por previsibilidades e ações que passam longe de congelar a espinha. E por mais que esta obra mostre pretender ser um filme de terror “diferenciado”, certas premissas básicas do gênero continuam sendo mais do que necessárias para fisgar o espectador e fazer, de algum modo, com que ele não acerte o que vai ser “revelado” mais para o final da trama.

Mesmo tendo bons trunfos nas mãos, Michael e Peter Spierig desperdiçam a primeira grande chance de mostrar um trabalho relevante na primeira divisão do cinema pop mundial. Que não percam também a próxima.

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