Artista: Moby
Música: Like a Motherless Child
Álbum: Everything Was Beautiful, And Nothing Hurt (2018)
Por que assistir: Considerado um dos melhores romances em língua inglesa de todo o século 20, Matadouro 5 (Slaugherhouse-Five, no original) traz a perspectiva de uma pessoa que carrega na memória uma ferida bem aberta: a de ter assistido ao bombardeio feito pelos aliados à cidade alemã de Dresden quando lutava na Segura Guerra Mundial. Seu autor, o escritor Kurt Vonnegut, que viu de fato o bombardeio, resolveu escrever uma história antiguerra, de viés pacifista. Para isso, criou um personagem chamado Billy Pilgrim, que veio do interior americano, não tem problemas com dinheiro, viaja no tempo e para outros planetas e revisita diversos momentos de sua própria vida. A narrativa, bastante fantasiosa e satírica, mistura melancolia e ironia, sarcasmo e tristeza. O livro foi publicado em 1969, enquanto ocorria a Guerra do Vietnam, o que o levou a ganhar muitos e muitos fãs pelo mundo a partir de então. Um desses fãs é o cantor, compositor e multiinstrumentista Moby, que resolveu usar a obra literária como inspiração para todo o seu próximo álbum. Deixando de lado qualquer abordagem política e se concentrado apenas em questões humanistas, ele compôs as doze faixas para lançar ao mundo alguns dos mesmos questionamentos que Vonnegut fizera meio século atrás. Quem somos como espécie? Por que os humanos têm feito escolhas tão terríveis e escandalosas? Uma das faixas que tenta procurar respostas que levem a algum tipo de iluminação é “Like a Motherless Child”, cujo refrão é embalado pela voz de Raquel Rodriguez, cantora residente na cidade de Los Angeles, a mesma para a qual Moby decidiu ir após abandonar a vida louca vida que levava em sua Nova York natal. Para criar mais impacto musical à sua nova obra, ele também decidiu desacelerar o ritmo e retomar o flerte com o trip hop e o gospel, elementos que marcaram o mais clássico de seu álbum, Play, de 1999. O clipe feito para a faixa traz ainda um certo ar de mistério e desamparo pós-apocalíptico, com bela fotografia em p&b e os dois artistas solitários na amplidão de um largo, extenso e vazio mundo. Como diz o título, aliás, “feito uma criança sem mãe”.
Texto por Abonico R. Smith