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Oscar 2018

Nonagésima edição dos Academy Awards é marcada pela tendência da previsibilidade, a limitação do improviso e a pulverização de prêmios

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Academy Awards/Divulgação

Os Academy Awards, já em sua edição de número 90, confirmaram uma tendência que vem se acentuando ao longo dos últimos anos: a cerimônia de entrega da maior premiação da indústria cinematográfica, se já era chata, agora está ficando cada vez mais chata.

Cinéfilos, críticos e estudiosos de cinema têm como acertar quase todos os vencedores da noite. Os discursos foram cada vez mais uniformizados em virtude não só desta previsibilidade (neste ano, os quatro vencedores nos quesitos de atuação foram repetidos em todas as premiações da temporada, por exemplo) como da limitação de tempo (cada vez que a orquestra começa a tocar uma musiquinha no fosso é sinal de que o laureado está se estendendo demais). Quem vence sobe ao palco com discursos prontos e o nome dos agradecimentos em um papel, sem dar aquele espetáculo de outrora, com choros, soluços e improvisos. As apresentações musicais ficaram também mais curtas e teatrais e, por isso, menos impactantes. As piadas do apresentador Jimmy Kimmel, bem menos viscerais. Até os vestidos, outrora surpreendentes desde a entrada no tapete vermelho, ficaram ais discretos e menos escandalosos. E o “momento surpresa” (em 2018, nomes como Guillermo Del Toro, Mark Hamill, Emily Blunt, Lupita Nyongo’o, Gal Gadot, Lin-Manuel Miranda e Margot Robbie foram convocados por Kimmel para sair do teatro, atravessar a rua, invadir uma sessão de cinema, paralisar o filme e surpreender a incauta plateia que estava lá e de nada sabia ao distribuir sanduíches, chocolates e outras guloseimas), pelo menos para quem assiste à transmissão mundo afora, via satélite, já não é mais tão surpresa assim. Tão como a presená (em mais uma temporada!) de Meryl Streep e Denzel Washington entre os indicados, mesmo que em trabalhos de menor expressão e ausentes em quase todas as outras categorias.

Poucas são as margens para que surja algo diferente do esperado. O tom sócio-político do momento apareceu, com a Academia pedindo (em vídeo e no anúncio dele, feito por três das atrizes que acusaram o executivo Harvey Weinstein de assédio sexual e estupro – Ashley Judd, Annabella Sciorra e Salma Hayek) mais respeito às diferenças e representatividade às mulheres, aos negros, à sigla LGBT. Mas foi Frances McDormand quem acabou roubando a cena, já no final da premiação, ao subir no palco do Dolby Theatre para receber a estatueta de melhor atriz. Ela mandou, na lata, sem apoio de qualquer papel, um recado reto à indústria cinematográfica, ressaltando a força de trabalho feminina e o devido respeito que todas as profissionais desejam no tratamento dispensado a elas nos bastidores.

Surpresa também ocorreu na “participação” do indie rock na festa da Academia. Eddie Vedder, empunhando uma guitarra, tocou sozinho uma canção do cantor e compositor Tom Petty (morto no final do ano passado) enquanto o telão anunciava e homenageava os falecidos mais importantes da indústria cinematográfica nesta última temporada. Sufjan Stevens subiu ao palco para apresentar “Mystery Of Love”, tocante balada composta para a trilha de Me Chame Pelo Seu Nome. Atrás dele quatro músicos de apoio, inclusive uma completamente incógnita e inesperada St Vincent, toda discreta, de preto, também na guitarra.

Dois vídeos “oficiais” de agradecimento também foram feitos pela Academia para a exibição durante a festa. No primeiro, era para agradecer a todo mundo que vai aos cinemas nestes últimos noventa anos de Oscar. Além de deixar transparecer a guerra que Hollywood anda empreendendo contra as novas tecnologias como a Netflix (que, segundo dizem, anda afastando o público das salas de projeção), a iniciativa também mostro cenas de três recentes filmes de super-heróis (Pantera Negra, Batman – O Cavaleiro das Trevas, Mulher Maravilha). Talvez seja um indicativo da aceitação definitiva deste filão para as indicações e prêmios dos próximos anos. No segundo, porém, a surpresa tornou-se negativa. Depois de mostrar cenas de vários longas de guerra produzidos ao longo das décadas, surgiu no telão um “muito obrigado” a todos os combatentes que lutaram pelo país também durante todo este tempo. Foi o lado republicano, armamentista e white trash da Academia se sobrepondo a democratas, pacifistas e não-políticos. Em tempos de Donald Trump na presidência significou uma forma de também puxar o saco da Casa Branca e do governo dos EUA.

Por fim, a divisão dos prêmios neste ano mostrou-se bastante pulverizada. Apenas dois títulos receberam mais do que duas estatuetas. A fantasia “de monstro” A Forma da Água ficou com a principal, batendo seu maior concorrente Três Anúncios Para um Crime. Com um total de treze indicações, acabou levando apenas outras três (diretor, trilha sonora e design de produção, todas já devidamente previstas). Dunkirk, por sua vez, abocanhou três das oito categorias às quais concorria, todas técnicas (montagem, edição de som, mixagem de som). O Destino de Uma Nação (cabelo & maquiagem, ator), Viva: A Vida é uma Festa (animação em longa-metragem, canção original) e Blade Runner 2049 (fotografia, efeitos especiais) ficaram com dois. Outros filmes de destaque na temporada se contentaram com apenas uma estatueta (Corra!, Trama Fantasma, Me Chame Pelo Seu Nome e Eu, Tonya). Já o vencedor na categoria não falada em inglês foi, mais uma vez um sul-americano, Uma Mulher Fantástica, sobre a luta de uma transexual chilena para ser respeitada pelas pessoas que gravitam ao seu redor no dia a dia).

Em tempos de luta contra incorreções sociais de qualquer tipo e a tentativa desenfreada de mostrar um cinema cada mais universalizado (embora a produção ainda se concentre nos todos-poderosos da indústria cinematográfica dos EUA), o Oscar joga suas fichas na seriedade, na fórmula e no mostrar anteriormente suas mais sérias e respeitosas intenções. Quem perde, contudo, é o público que fica três horas sentado no sofá esperando para ver algo que realmente o surpreenda.

 

VEJA OS GANHADORES DE CADA CATEGORIA

Filme

Me Chame Pelo Seu Nome

O Destino de uma Nação

Dunkirk

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

A Trama Fantasma

The Post: A Guerra Secreta

A Forma da Água

Três Anúncios para um Crime

 

Diretor

Christopher Nolan (Dunkirk)

Jordan Peele (Corra!)

Greta Gerwig (Lady Bird – A Hora de Voar)

Paul Thomas Anderson (A Trama Fantasma)

Guillermo Del Toro (A Forma da Água)

 

Atriz

Sally Hawkins (A Forma da Água)

Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

Margot Robbie (Eu, Tonya)

Saoirse Ronan (Lady Bird – A Hora de Voar)

Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)

 

Ator

Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)

Daniel Day-Lewis (A Trama Fantasma)

Daniel Kaluuya (Corra!)

Gary Oldman (O Destino de Uma Nação)

Denzel Washington (Roman J. Isreal, Esq.)

 

Atriz coadjuvante

Mary J Blige (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

Allison Jenney (IEu Tonya)

Lesley Manville (A Trama Fantasma)

Laurie Metcalf (Ladybird – A Hora de Voar)

Octavia Spencer (A Forma da Água)

 

Ator coadjuvante

Willem Dafoe (Projeto Flórida)

Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)

Richard Jenkins (A Forma da Água)

Christopher Plummer (Todo Dinheiro do Mundo)

Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

 

Roteiro original

Doentes de Amor

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

A Forma da Água

Três Anúncios Para um Crime

 

Roteiro adaptado

Me Chame Pelo Seu Nome

O Artista do Desastre

Logan

A Grande Jogada

Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi

 

Filme estrangeiro (em língua não inglesa)

Uma Mulher Fantástica (Chile)

O Insulto (Líbano)

Loveless (Rússia)

Corpo e Alma (Hungria)

The Square – A Arte da Discórdia (Suécia)

 

Animação

O Poderoso Chefinho

The Breadwinner

Viva: A Vida é uma Festa

O Touro Ferdinando

Com Amor, Van Gogh

 

Documentário

Abacus: Small Enough To Jail

Faces Places

Icarus

Os Últimos Homens em Aleppo

Strong Island

 

Curta-metragem

DeKalb Elementary

The Eleven O’Clock

My Nephew Emmett

The Silent Child

Watu Wite/All Of Us

 

Animação em curta-metragem

Dear Basketball

Garden Party

Lou

Negative Space

Revolting Rhymes

 

Documentário em curta-metragem

Edith + Eddie

Heavy Is a Traffic Jam On The Road 405

Heroin(e)

Knife Skills

Traffic Stop

 

Direção de arte

A Bela e a Fera

Blade Runner 2049

O Destino de uma Nação

Dunkirk

A Forma da Água

 

Figurino

A Bela e a Fera

O Destino de uma Nação

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

 

Maquiagem e cabelo

O Destino de uma Nação

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

Extraordinário

 

Fotografia

Blade Runner 2049

O Destino de Uma Nação

Dunkirk

Mudbound – Lágrima Sobre o Mississipi

A Forma da Água

 

Montagem

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Dunkirk

I, Tonya

A Forma da Água

Três Anúncios Para im Crime

 

Efeitos visuais

Blade Runner 2049

Os Guardiões da Galáxia, Vol.2

Kong: A Ilha da Caveira

Star Wars: Os Últimos Jedi

Planeta dos Macacos: A Guerra

 

Edição de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

 

Mixagem de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

 

Trilha Sonora

Dunkirk

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

Três Anúncios Para um Crime

 

Canção original

“Might River” (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

“Mystery Of Love” (Me Chame Pelo Seu Nome)

“Remember Me” (Viva: A Vida é uma Festa)

“Stand Up For Something” (Marshall)

“This Is Me”( O Rei do Show)

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