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Gugu Liberato

Oito motivos para nunca se esquecer do apresentador que fez fama nas noites de sábado e tardes de domingo do SBT e, mais tarde, da Record

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Record/Divulgação

A televisão brasileira perdeu, na semana passada, um de seus nomes mais importantes. O apresentador Gugu Liberato morreu no último dia 22 de novembro, aos 60 anos, após sofrer um acidente doméstico em sua residência em Orlando. Ele deixou esposa e três filhos.

Com quase quatro décadas à frente das câmeras, animando os finais de semana dos brasileiros numa época em que não havia televisão a cabo e plataformas on demand, Antônio Augusto Moraes Liberato fez história no SBT. O paulistano do bairro da Lapa tinha apenas 23 anos quando ficou famoso nos anos 1980 com o programa Viva a Noite, de onde saíram quadros como o icônico “Sonho Maluco”, quando uma fã era sorteada para realizar um desejo ao lado do ídolo, ou o “Sonho de Última Hora”, no qual uma garota do auditório bolava na hora uma peripécia com um dos artistas presentes ali no palco.

Em 1988, depois de passar alguns meses contratado pela Globo e voltar à casa anterior, o animador de auditório recebeu a missão de substituir Silvio Santos no comando de programas dominicais e disputar com a Vênus Platinada no Ibope. O dono do SBT havia passado por uma cirurgia delicada nas cordas vocais e acreditava que não voltaria a se apresentar. Gugu, porém, foi mais que um nome para a sucessão de Silvio. Foi uma espécie de filho que ele nunca teve. Tanto é que, quando Liberato assinou com a Record em 2009, os dois continuaram amigos.

Gugu fez parte de uma era romântica da televisão, com atrações e quadros que hoje não caberiam nas teles digitais politicamente corretas, como a clássica “Banheira do Gugu”, do programa Domingo Legal, transmitido ao vivo nos domingos de tarde. Foi ainda um empresário de visão, sempre revelando artistas musicais que viriam então a fazer sucesso estrondoso.

O Mondo Bacana lista oito motivos para lembrar da trajetória desse veterano apresentador. Viva a Gugu! Viva, viva, viva!

Passarinho quer dançar

Sábado à noite, em meados da década de 1980, era o momento de sentar no sofá e assistir ao Viva a Noite com a família. O programa, que tinha quadros divertidos e trazia artistas famosos na época, encerrava, em 1983, com o clássico “Baile dos Passarinhos”, versão de uma música alemã que fora lançada um ano antes – e sem fazer qualquer sucesso – pela Turma do Balão Mágico

Parada de sucessos sertanejos

No começo dos anos 1990, o Viva a Noite deu lugar ao Sabadão Sertanejo. Era o auge de vendagem de discos de duplas como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano. Detalhe: bandas de pagode também viviam se apresentando por lá.

Tardes de domingo

Ao lado de Silvio Santos, Gugu era o rosto e a voz das tardes dominicais, comandando na mesma emissora programas como Cidade Contra Cidade, Passa ou Repassa, Corrida Maluca e TV Animal.

Compactos de grande sucesso

Durante o período de Viva a Noite, outros clássicos na voz do apresentador foram “Pintinho Amarelinho”, “Bugaloo Da-Da” e “Docinho Docinho”. Clássicos de forte apelo infantil, lançados apenas em compactos de sete polegadas em vinil, que permanecem até hoje no inconsciente coletivo daqueles anos 1980.

Veia dramatúrgica

Além de apresentador, Gugu era um ator de mão cheia, tendo participado de longas-metragens cinematográficos ao lado de Xuxa e dos Trapalhões. No Domingo Legal, ele soltou a veia artística no quadro “Táxi do Gugu”, no qual se disfarçava e assumia o posto de taxista sem que, em princípio, o passageiro soubesse de tudo o que estaria armado. Havia ainda todo um processo meticuloso de maquiagem para torná-lo irreconhecível. Recetemente, o humorista Marcelo Adnet homenageou Gugu na Globo, fazendo o quadro satírico “Domingo Pesado” no programa Tá no Ar – A TV na TV.

Boy & girl bands

Primeiro foi o Menudo, boy band portorriquenha que Gugu lançou no Brasil, fazendo sucesso estrondoso e alavancando a popularidade e audiência do Viva a Noite. Logo depois, ele foi o responsável por lançar famosas boy bands nos anos 1980 e 1990 através da Promoart, empresa de entretenimento dirigida pelo apresentador. Entre estas criações estavam o Dominó (com Afonso Nigro, Nill, Marcos Quintela e Marcelo Rodrigues na primeira formação; o futuro ator e apresentador Rodrigo Faro na última) e o Polegar (com Rafael Ilha como um dos membros originais). Gugu aindaapostou nas meninas, lançando o grupo Meia Soquete, da qual Adriane Galisteu era integrante, e o Banana Split, que contava com a sua futura colega apresentadora Eliana.

Ícones do pop dos anos 1990

Quem não se lembra da original Shakira, morena e com um quilinhos a mais, cantando no Domingo Legal os seus primeiros sucessos em espanhol? E os domingos em que os também saudosos Mamonas Assassinas passavam a tarde inteira na televisão cantando o CD de cabo a rabo e fazendo estripulias ao lado de Gugu e batendo a audiência do rival Fausto Silva na Globo?

Amor incondicional à TV

Gugu era um apaixonado pelo seu ofício. Ele começou a carreira como assistente de Silvio Santos aos 13 anos de odade, depois de tatas cartas cheias de ideias que escrevia para o apresentador, então pertencente ao elenco da Globo nos anos 1970. Aos 22 anos de idade, começou a carreira à frente das câmeras, apresentando sorteios nos intervalos de filmes exibidos à noite pelo SBT. Nas duas últimas décadas, comprou estúdios na região do Alphaville, em São Paulo. Lá, por exemplo, foi rodada a biografia de Hebe Camargo que estreou neste ano nos cinemas brasileiras.

Movies

Uma Segunda Chance Para Amar

História inspirada em canção de George Michael traz Emilia Clarke como uma jovem atrapalhada em busca da felicidade em tempos natalinos

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Texto por Ana Clara Braga

Foto: Universal Pictures/Divulgação

Filmes românticos que se passam nos feriados de final de ano já são rotineiros em Hollywood. Uma Segunda Chance Para Amar (Last Christmas, Reino Unido/EUA, 2019 – Universal Pictures) faz parte de mais uma leva de longas que tentam emplacar bilheteria com carisma e uma história açucarada. Com direção de Paul Feig e roteiro dos atores Emma Thompson e Greg Wise, o longa conta a história de Kate (Emilia Clarke) uma jovem sem rumo que acabou de se recuperar de um problema de saúde. A atriz de Game of Thrones dá vida a personagem de forma natural, gostosa de assistir. Com todos os erros, acertos, atrapalhos e reviravoltas, Kate torna-se uma mulher de fácil identificação.

Tudo muda para a protagonista quando ela conhece Tom (Henry Golding), um homem misterioso que parece enxergar a vida de uma maneira muito mais leve. A premissa clichê não compromete momentos genuinamente divertidos e emocionantes, somados a atuações espontâneas e nem um pouco tediosas. Emma Thompson também faz uma participação como Petra, a peculiar mãe de Kate. Sempre impecável, a atriz diverte e torna-se um dos destaques de Uma Segunda Chance Para Amar.

O filme apresenta uma visão interessante sobre a necessidade – ou não – de um relacionamento na vida de uma mulher. Ponto positivo. É um refresco para o gênero apresentar uma reflexão sobre um tema tão usado e desgastado. A trilha sonora embalada por George Michael é outro acerto e tanto. A delicada homenagem ajuda a contar a história e a criar a imagem da personagem principal, fã de carteirinha do cantor – cuja música “Last Christmas”, gravada em 1984 quando ele ainda participava da dupla Wham!, inspira a trama deste longa-metragem.

Mesmo com sua história bonitinha e divertida, Uma Segunda Chance Para Amar não foge do brega e do previsível. A reviravolta, não tão surpreendente, dá a sensação de que algo não foi explicado direito. A revelação poderia ter sido feita de uma maneira um pouco mais natural e menos nos moldes de novela das 6.

Com um elenco estrelado, um diretor acostumado a fazer comédia e a mesma roteirista responsável por Razão e Sensibilidade, as expectativas para esse filme eram altas. A sensação ao fim dos créditos é a de que faltou algo. Pois, afinal, tantos nomes grandes juntos deveriam produzir algo grandioso como um todo.

Movies

Medo Profundo: O Segundo Ataque

Sequência de história de dois anos atrás chega aos cinemas com elenco desconhecido mas cheio de sobrenomes famosos

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Paris Filmes/Divulgação

Esqueça as leis da física. Esqueça a lógica. A sequência do terror survival Medo Profundo: O Segundo Ataque (47 Meters Down: Uncaged, Reino Unido/EUA, 2019 – Paris Filmes) menospreza a capacidade intelectual do espectador mas nem por isso deixa de proporcionar alguns sustos. Rasos, por sinal. De profundo mesmo só o mar da Península de Yucatán, no México, onde se passa a aventura de quatro garotas (duas irmãs, como no primeiro filme) que decidem mergulhar para conhecer um recém-descoberto santuário maia.

O filme traz sobrenomes famosos entre as atrizes novatas. A modelo Sistine Rose Stallone faz sua estreia no cinema. E adivinha quem é o pai dela? Essa é fácil: Sisitine é a segunda filha de Sylvester, o Rambo, o Cobra, com a também modelo americana Jennifer Flavin (para ver que ela seguiu mesmo a profissão dos pais). Corinne Foxx é filha do ator e cantor Jamie Foxx. Há também a novata Brec Bassinger que, apesar do sobrenome, não é filha de Kim. No elenco também há um ator jovem chamado Khylin Rhambo, que, obviamente, não é filho do Sly. Para fechar, integram o cast John Corbett, Nia Long, Sophie Nelisse, Brianne Tju e o carioca radicado nos Estados Unidos Davi Santos.
O primeiro Medo Profundo, de 2017, também dirigido pelo inglês Johannes Roberts, entrou para a lista de mais um daqueles filmes sobre tubarão que surgiram na esteira do clássico de Steven Spielberg. O longa virou hit, apesar da premissa um tanto absurda: duas irmãs vão passar as férias num praia paradisíaca mexicana e decidem entrar numa daquelas gaiolas de mergulho usadas por turistas para ver os tubarões-brancos mais de pertinho, mas a gaiola arrebenta do barco que a sustenta e as garotas afundam em alto-mar a exatos 47 metros da superfície.

follow-up do ataque de tubarões surge dentro do mesmo contexto com as irmãs Mia (Sophie Nélisse) e Sasha (Corinne Foxx) que moram na península paradisíaca no México. O pai delas é interpretado por Corbett, o mergulhador que descobre o tal santuário do povo maia submerso. Certo final de semana, ele propõe que as filhas façam um passeio típico de turista, até como estratégia para aproximá-las (já que as duas não se bicam!) e observar os tubarões num daqueles aquários submersos. Na fila da atração, Mia acaba encontrando suas rivais da escola. Sasha e mais duas amigas convidam-na para uma aventura mais empolgante: mergulhar no cemitério subaquático.

Por um momento, o suspense nas primeiras cenas debaixo d’água gera a expectativa de que o filme trará surpresas. Porém, as decepções são grandes e várias situações não tardam a incomodar, como a voz límpida das garotas mesmo usando máscaras de mergulho e o fato de o mar parecer um piscinão já que nenhum peixe surge nos primeiros minutos. Quando você começa a se perguntar sobre onde estariam os peixes, surge a resposta através de um único exemplar de nadadeiras cego. A explicação é que o peixe evoluiu para se adaptar às profundezas, como os abissais. As garotas, porém, muito ingênuas desconheciam que ali também era habitat de tubarões, que também são cegos, mas não bobos como elas. As garotas viram iscas numa armadilha e precisam lutar contra os peixões e a falta de oxigênio.

A primeira cena de ataque, por mais previsível que seja, ainda é capaz de provocar certo susto. Como praticamente toda a trama se passa debaixo d’água, o diretor não tem para onde fugir e até consegue ser criativo em algumas sequências – como na cena em que um mergulhador é abocanhado com Roxette ao fundo. Os demais jump-scares se tornam ineficientes. Aliás, alguns chegam a provocar risos de indignação. Afinal, como ser mordido por um tubarão-branco sem ao menos ter a perna amputada?

O filme, enfim, mostra que ser filho de peixe grande não é suficiente e que as atrizes carecem de mais aulas de interpretação. Numa das sequências finais, é nítido quando Mia dá risada enquanto a irmã se esforça pra sobreviver (vamos entender que foi um riso de desespero…). Um ponto positivo é para o make à prova d’água das garotas (queria saber a marca!) e os ferimentos, que pareciam reais.

Apesar de ter no elenco herdeiras de astros de Hollywood, essa seqüência não merece mais do que três estrelas. Nem o tubarão, coitado, é tão assustador assim. Talvez se fosse em 3D escaparia de ir água abaixo.

Movies

Um Dia de Chuva em Nova York

Woody Allen mistura passado e presente em ambientação de trama que fica aquém de seus momentos mais inspirados

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Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Imagem Filmes/Divulgação

Não há necessidade de introduzir a carreira brilhante de Woody Allen. O cineasta também trabalha com profissionais que, hoje em dia, chegam a dispensar introduções – por motivos diferentes. O aclamado diretor junta-se a Timothée Chalamet, Elle Fanning, Jude Law e até Selena Gomez em seu novo longa.

Tal como a extensa filmografia de Allen, Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day In New York, EUA, 2019 – Imagem Filmes) é, do início ao fim, repleto de narrações. O roteiro, também do autor americano, segue Gatsby Welles (Chalamet) e Ashleigh Enright (Fanning) durante o dia em que o casal de estudantes universitários passa em Nova York. Enquanto ela segue um cultuado diretor de cinema (Liev Schreiber, em curta aparição) e seus colegas de trabalho por Manhattan, Welles passeia pela cidade em que cresceu, reencontrando conhecidos e familiares no meio do processo. A trama parece operar como um fluxo de consciência, com personagens indo de ponto A ao ponto B a bel prazer do roteirista, sem motivações claras e suficientes.

O nervo central do filme é a dinâmica interna de seus dois protagonistas e, também, destes com o ambiente. Enquanto o Gatsby de Allen é culto, esperto e confortável com a cidade, Ashleigh é ingênua e jovial, respirando ares do Arizona – onde nasceu – em uma megalópole que a carrega de um lado a outro, como uma correnteza inescapável. Assim, a oposição entre os dois personagens é clara desde o primeiro ato do filme, que trabalha bem sua incompatibilidade mesmo que estejam separados por grande parte de sua duração.

É assim que o roteiro introduz seus principais coadjuvantes, não somente por peso na história, mas por capacidade de interpretação: Selena Gomez e Jude Law. Ele faz um roteirista que, a caminho de encontrar seu diretor – que enfrenta dificuldades criativas com seu novo filme –, descobre que sua mulher está o traindo com seu melhor amigo. O ator consegue tornar seu breve personagem bastante crível, fugindo da caricatura. No entanto, quem brilha é Selena Gomez, que entrega Shannon, velha conhecida do protagonista de Chalamet, com bastante naturalidade, transparecendo a enorme química entre eles.

Retorna-se, então, à discussão do roteiro, pois a efusão de personagens secundários e sequências vagas é um dos maiores problemas do filme, em conjunto com narrações que parecem escritas às pressas. Deixo evidente que a definição anterior de Gatsby carrega consigo um ponto de vista bastante bondoso, o “de Allen”, visto que o personagem, de fato, esbanja características desagradáveis ao espectador. Por vezes, é pretensioso e de movimentação muito caricata, tornando constante a suspeita de de que Timothée Chalamet fora instruído a imitar seu diretor ao invés de construir seu próprio personagem. O texto de Gatsby revela ainda diversas falas e ideais que facilmente seriam atribuídas a Woody Allen. Dá-se a impressão de que, no fim, Gatsby Welles é um Woody Allen que, como o personagem diz em dado momento, “não quer envelhecer nunca”.

No entanto, a confusão do roteiro é amenizada pelo brilhantismo de Vittorio Storaro, o mítico diretor de fotografia que assume a obra, criando uma Nova York onírica, existente somente nas memórias de Allen. O que é um ponto alto da fotografia torna-se um defeito do desenho de produção, já que os cenários e ambientações têm um tom enquanto certos personagens têm outro. Explico: Gatsby, Shannon e até mesmo Ashleigh parecem viver numa Nova York de meados do século 20, ainda que tenhamos iPhones, táxis e sets bastante contemporâneos. Assim, o filme se ambienta numa mistura de passado e presente, uma confusão que se demonstra até mesmo nas relações entre as personagens, em especial entre Gatsby e sua mãe.

Ainda que amparado por Storaro, Woody Allen parece ter perdido a mão em Um Dia de Chuva em Nova York. Seu roteiro é um dos mais fracos da aclamada carreira. Ele mostra-se preocupado em finalizar filme atrás de filme, distanciando-se da qualidade que um dia o consagrou. Da mesma forma, o longa soa repetitivo, pois acomoda-se até demais no estilo de seu diretor. No fim, é uma confusão em si mesmo, que não é resolvida nem pelo talento de seu elenco ou de seus diretores. É agradável, certamente, mas está bem aquém dos melhores filmes de Allen.