Britânica brinca com as palavras em português e abraça a plateia curitibana com sua voz aveludada

Texto e foto por Janaina Monteiro
Quando Corinne Bailey Rae começa a cantar é como se a plateia se sentisse abraçada com sua voz de veludo. Foi o que tomou conta do Teatro Positivo numa noite especialmente estrelada, inclusive, no primeiro dia deste mês de setembro. Esse show em Curitiba (e depois em Belo Horizonte e São Paulo, nos dias 3 e 5) foi uma espécie de “esquenta” para a sua apresentação no Rock In Rio, programada para o palco Sunset, na abertura da segunda semana do festival (8).
Aliás, o sol remete está no nome da sua atual turnê, chamada Sunlight, Sunlight!,. É a luz ressurgindo em nossas vidas após o período pandêmico e traz novamente os artistas para o local onde merecem estar: o palco. E para Corinne essa luz sempre tem um significado a mais, já que em 2008 sofreu com o luto de uma viuvez precoce.
Corinne é sim, inclusive, uma estrela vencedora de dois Grammys, que traz toda a delicadeza na voz e em seus movimentos. Só não desponta como diva porque o grande público talvez não esteja preparado para o seu estilo sofisticado e ainda prefira gritos estridentes. Só uma cantora com o talento dela é capaz de cantar sem microfone e reger o coral da plateia.
Elegante assim como suas composições, brilhante como sua voz, a britânica subiu ao palco num macacão verde com paetês e logo na primeira música já elevou o ambiente a uma dimensão superior ao cantar “Been To The moon”, do seu álbum mais recente The Heart Speaks In Whispers (que já está fazendo seis anos). Para os fãs ou “curiosos” presentes, a primeira canção, bem ao estilo Steve Wonder de ser, já demonstrou em que terreno Corinne pisa: a versatilidade, o flerte com o r&b, o soul e o jazz.
No decorrer do set list, a plateia pode conferir essa mistura de ritmos da cantora multi-instrumentista, que também se inspira na bossa nova para compor seu repertório. Mas de desafinada Corinne não tem nada. E ela prova que vai muito além do pop que lhe conferiu fama mundial, com o hit “Put Your Records On”, canção das trilhas sonoras da novela Páginas da Vida e do último filme de Peter O’Toole, Vênus. A faixa, aliás, é do seu autointitulado álbum de estreia de 2006, que se tornou número 1 em vendas no Reino Unido e catapultou a britânica para os topos das paradas de sucesso. “PYRO” tornou-se sucesso global, com quase 500 milhões de reproduções apenas no Spotify. É aquela balada pop redondinha, o hit que Corinne terá de cantar para o resto da vida, como “Sweet Child O´Mine”, do Guns N’Roses, ou “Poker Face”, de Lady Gaga.
Durante o concerto, a cantora parecia não acreditar que tinha tantos fãs numa cidade chamada Curitiba. Aliás, ela repetia a palavra com uma pronúncia espetacular para uma britânica e tentava dialogar com o público mesmo não entendendo português. E aos gritos de “linda” e “maravilhosa”, a plateia disparava elogios no intervalo das canções, enquanto Corinne tentava pescar o significado das palavras. Mas assim como a música é a língua universal, o carinho não precisa necessariamente ser traduzido. É algo que se sente. Ou seja, no final das contas, ela entendeu que o “linda” era belíssima e beautiful ao mesmo tempo.
Além de “PYRO”, outra faixa cantada em coro foi “Like A Star”, assim como uma versão jazzy de “Is This Love”, clássico de Bob Marley. O repertório ainda contou com a animada “Paris Nights/New York Mornings”, que mostra toda a sua alma jovem, “Call Me When You Get”, que remete a Aretha Franklin. E, no final, “The Skies Will Break” botou todo mundo pra dançar.
Não foi só Bailey Rae quem se destacou no palco em Curitiba. O público vibrou ainda com os improvisos do baterista Mikey Wilson, do parceiro na vida e na arte Steve Brown (teclados), e do guitarrista John McCallum. Aliás, a imersão seria total se o show fosse apresentado num espaço mais intimista do que o Teatro Positivo.
Agora é esperar que Corinne nos brinde com mais uma apresentação encantadora no Rock in Rio, mesmo contando com um tempo de apresentação mais reduzido, e que em breve lance um novo álbum. Seus fãs brasileiros agradecem a lot!
Set list: “Been To The Moon”, “Closer”, “Breathless”, “Till It Happens to You”, “Is This Love”, “Paris Nights/New York Mornings”, “Horse Print Dress”, “Green Aphrodisiac”, “The Blackest Lily”, “Do You Ever Think Of Me?”, “I’d Do It All Again”, “Call Me When You Get This”, “Trouble Sleeping”, “Put Your Records On” e “Like A Star”. Bis: “The Skies Will Break”.
Republicou isso em pelo caminho.
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