Natalie Portman interpreta uma estrela da música pop que sofre por ter a vida marcada por atos violentos
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Paris Filmes/Divulgação
O universo das estrelas da música é alvo de especulações e intromissões constantes. É partindo desta premissa que Brady Corbet escreve Vox Lux: O Preço da Fama (Vox Lux, EUA, 2018 – Paris Filmes), mas não é em sua volta que o longa se estrutura. Corbet cria um filme sobre a violência. Com narração de Willem Dafoe, a trama enfoca a história de Celeste (Raffey Cassidy), vítima de um atentado em seu colégio que acaba por fazê-la tornar-se cantora de sucesso. É com este evento que Vox Lux se inicia, numa fortíssima sequência que serve de epílogo aos três atos do filme, divididos como Genesis, Regenesis eFinale.
Em Genesis, entendemos o início da jornada de Celeste, sua relação íntima com a irmã Eleanor (Stacy Martin) e seu produtor executivo (Jude Law). O ato finaliza com o segundo atentado marcante na vida da cantora, o Onze de Setembro. Com o terceiro atentado terrorista na vida de Celeste, referência ao massacre ocorrido em uma praia da Tunísia em 2015, inicia-se Regenesis. Aqui é quando Natalie Portman assume Celeste e Cassidy passa a interpretar sua filha. Na trama, o massacre ocorre na Turquia, em 2017, com os quatro atiradores utilizando máscaras desenhadas para um clipe da protagonista. Este ato encerra-se com o início do show da estrela em sua cidade natal, objeto de Finale.
A direção de Corbet e a fotografia de Lol Crawley criam uma atmosfera videoclipesca e, ao mesmo tempo, imersa em realidade para Vox Lux. O grafismo cru com que Corbet retrata os atentados que iniciam a obra e seu segundo ato opera como um soco na barriga, indicando que, no fundo, a trama pouco tem a ver com a guinada de uma cantora ao sucesso. A dicotomia com que Cassidy e Portman interpretam Celeste indica a transição entre o puritanismo e o descontrole que ocorreu com o advento do Século 21, além de servir – por elipse – como uma belíssima construção de personagem.
É, de certo modo, graças à sutil recorrência da temática – tão recorrente na rotina contemporânea – que a estética funciona tão bem, alçada pela eficaz montagem de Matthew Hannam. O trunfo, no entanto, reside na ótima coadunação entre a imagem de Corbet e a trilha sonora incidental de Scott Walker – que faleceu recentemente, no último dia 25 de março. As poderosas músicas ecoam, seja pelas abertas paisagens ou pelos ambientes mais fechados, amplificando o sentimento trabalhado pela direção e pela atuação estelar dos nomes principais do elenco.
Jude Law opera bem, mas o verdadeiro brilho do filme é a relação de Eleanor e Celeste, com Natalie Portman e Stacy Martin contracenando com a química de irmãs de fato. Portman, por sinal, entrega uma envolvente personagem que, quando comparada à sua versão de Raffey Cassidy, ganha camadas – pela transição de personalidades – fortíssimas.
Ainda assim, o ato final de Vox Lux é entediante e repetitivo, tentando alcançar reflexões que não o cabem. A resolução do roteiro, ainda por cima, substitui a crueza da trama pelo misticismo do cinema. Dessa forma, incapaz de entregar sua crítica social inteiramente, o filme de Brady Corbet corre, corre, mas atinge seu final mancando.