Music

Teenage Fanclub – ao vivo

A celebração do fim de uma era com despedida de Gerard Love, clássicos álbuns inteiros e incógnita sobre o futuro da banda

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Texto por Henrique Laurindo (Buffalo Postcard)

Foto de John Marshall (GigPix)

Há alguns meses foi anunciado que os escoceses do Teenage Fanclub revisitariam seu catálogo lançado pela Creation Records nos anos 1990 em uma série de shows pelo Reino Unido. Na sequência, para o total choque dos fãs, também foi anunciado que Gerard Love, baixista, vocalista e um dos fundadores e principais compositores deixaria a banda, abrindo assim especulações sobre o futuro dos Fannies, como são carinhosamente apelidados.

Foi então que na fria noite londrina de terça-feira, 13 de novembro,  sob muitas palmas e antecipação, que a primeira formação clássica do Teenage Fanclub (Norman Blake, Raymond McGinley, Gerard Love e Brendan O’Hare) subia ao palco o Electric Ballroom para tocar na íntegra os clássicos álbuns Bandwagonesque e Thirteen, discos que influenciaram toda uma geração e que faziam a ponte com outros tunesmiths do passado: o Big Star.

Três bateristas. Três bandas diferentes. “Uma banda só é tão boa quanto seu baterista” é o chavão repetido por músicos e jornalistas desde os primórdios do rock’n’roll. Isto foi exemplificado sem sombra de dúvidas nessas três noites que fecharam a turnê britânica do Teenage Fanclub.

Com Brendan O’Hare as músicas são mais retas, direto ao ponto e com um punch incrível. “Starsign” mostrou que talvez eles não mais conseguissem repetir a vitalidade de outrora,  porém isso foi revertido na igualmente rápida “Radio”, já no segundo set. Bandwagonesqueterminou com a instrumental “Is This Music”, como Norman e Love trocando instrumentos e reunindo pela primeira vez no palco todos os músicos que fazem parte dessa tour: Frances McDonald (bateria, violão, teclados e vocais), Dave McGowan (guitarra, violão, teclados), Paul Quinn (bateria), alem dos já citados Norman, Raymond, Gerard e Brendan.

Na quarta-feira, foi a vez do baterista Paul Quinn e dos álbuns que, na minha opinião, são o ápice da criatividade do Teenage Fanclub: Grand Prix (dependendo em quem acreditar, isso pode ser lido como Grɒ̃ ‘Pri ou Grand Pricks – deixo a tradução pra vocês) e Songs From Northern Britain.

Se com Brendan as musicas eram urgentes e juvenis, com o tecnicamente superior Paul Quinn o foco passa a ser nas melodias impecáveis, em canções mais sólidas e fluidas. Nessa segunda noite, o som da casa também estava bem melhor ajustado.

Também foi no segundo dia que a importância de Gerard Love ficou ainda mais evidenciada: músicas como “Don’t Look Back”, “Sparky’s Dream” e “Ain’t That Enough” foram cantadas com tanta devoção pelo público que levou a todos questionaram como será possivel pra banda continuar na estrada sem um membro tão importante. Contrastando com essa triste noção que esses seriam os três últimos shows do baixista (fato a todo instante lembrado pelos fãs que gritavam “Don’t leave Gerry, we love you!”) o grisalho e fanfarrão escocês Brendan O’Hare deu um show à parte: abraçava todo mundo, interrompia as musicas, roubava o microfone de Norman Blake pra dar impagáveis tiradas, pulava e dançava. Sua presença e alegria em estar tocando com seus velhos amigos contagiou e confirmou a todos presentes que estávamos diante de algo muito especial.

O ultimo dos três dias foi reservado para Howdy! (disco que adoro, mas que divide a opinião dos fãs) mais b-sides e raridades, incluindo a ótima cover pra “He’d Be A Diamond”, escrita pelo enigmático Nicholas Saloman aka The Bevis Fond. Nesse show, Frances McDonald foi à bateria para algumas músicas. O contraste com os outros bateristas era evidente. McDonald é um músico completo, tecnicamente excelente, mas sem a personalidade de seus antecessores.

O show poderia ter terminado com a penúltima musica “Broken” (lado b de “Ain’t That Enough”), que, com seu clima Stones e letra simples e direta, provocou um singalong emocional da plateia que mais uma vez lotava a venue. Arrepiou. Mas a banda não queria acabar em clima de tristeza. Então Brendan voltou à bateria e Norman Blake declarou: “Esse foi o nosso primeiro single”. A banda, então,  entregou-se a um bombástico e caótico “Everything Flows” que culimnou com Blake na bateria e Brendan fazendo microfonias na guitarra. Ao final deste terceiro show, a banda abandona o palco e caminha para um futuro incerto.

Brendan, moleque maroto que é, outra vez roubou a cena e declarou: “Best dicks in the world!”. Nós sabemos disso, Brendan. Nós sabemos.

Set list 13.11: “The Concept”, “Satan”, “December”, “What You Do To Me”, “I Don’t Know”, “Star Sign”, “Metal Baby”, “Pet Rock”, “Sidewinder”, “Alcoholiday”, “Guiding Star”, “Is This Music?”, “Hang On”, “The Cabbage”, “Radio”, “Norman 3”, “Song To The Cynic”, “120 Mins”, “Escher”, “Commercial Alternative”, “Fear Of Flying”, “Tears Are Cool”, “Ret Liv Dead”, “Get Funky” e “Gene Clark”.

Set list 14.11: “About You”, “Sparky’s Dream”, “Mellow Doubt”, “Don’t Look Back”, “Verisimilitude”, “Neil Jung”, “Tears”, “Discolite”, “Say No”, “Going Places”, “I’ll Make It Clear”, “I Gotta Know”, “Hardcore/Ballad”, “Start Again”, “Ain’t That Enough”, “Can’t Feel My Soul”, “I Don’t Want Control Of You”, “Planets”, “It’s A Bad World”, “Take The Long Way Round”, “Winter”, “I Don’t Care”, “Mount Everest”, “Your Love Is The Place Where I Come From” e “Speed Of Light”.

Set list 15.11: “I Need Direction”, “I Can’t Find My Way Home”, “Accidental Life”, “Near You”, “Happiness”, “Dumb Dumb Dumb”, “The Town & The City”, “The Sun Shines From You”, “Straight & Narrow”, “Cul de Sac”, “My Uptight Life”, “If I Never See You Again”, “Thaw Me”, “One Thousand Lights”, “Did I Say”, “My Life”, “The Shadows”, “Every Step Is A Way Through”, “The Count”, “Long Hair”, “Some People Try To Fuck You”, “Getting Real”, “He’d Be A Diamond”, “Broken” e “Everything Flows”.

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