Music

Céu – ao vivo

Cantora e compositora traz ao palco uma evolução sonora do trabalho anterior junto a leituras intimistas sobre as relações afetivas

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Texto e foto por Janaina Monteiro

O nome é de batismo. Céu vem de Maria do Céu Whitaker Poças. O sobrenome é do pai famoso Edgard Poças, músico, compositor, produtor musical, nome-chave por trás das faixas dos discos da Turma do Balão Mágico (incluindo o megasucesso “Superfantástico”), além de hits pop e jingles que marcaram os anos 1980. Por isso, não é de se admirar que a jovem que respirou música desde o berço tenha se transformado em uma das mais talentosas representantes da chamada Nova MPB, que transita por gêneros deveras distintos (ou mesmo antagônicos) como jazz, reggae, samba e afrobeat.

No mês passado, Céu trouxe a Curitiba a turnê de seu quinto álbum APKÁ! – o nome vem interjeição criada por seu filho caçula Antonino. O show do disco lançado em setembro foi uma das atraçõies do primeiro Goat Fest – Música e Artes, evento de música e outras artes realizado na Ópera e Arame no último dia 16 de novembro. Das treze músicas do set list, nove são do álbum, que foi tomando forma durante a gestação do segundo filho da cantora com o produtor e baterista Pupillo, que pilotou o trabalho ao lado do francês Hervé Salters (da banda General Elektriks e parceiro de Céu em algumas composições).

O nome do mais recente trabalho só poderia ter sido batizado em homenagem ao guri. APKÁ! (assim mesmo em maiúscula e com ponto de exclamação) representa, segundo a cantora e compositora, uma expressão de satisfação plena e felicidade do bebê. Musicalmente, traz o contraste do novo com o som do passado, da sonoridade sintética com a organicidade das letras de Céu, leituras intimistas sobre relações afetivas, desde o sólido e incondicional amor materno até o fugaz amor conjugal na era digital e todos os sentimentos resultantes, como saudade, desilusão e rejeição. Os arranjos minimalistas e sofisticados que dão base a canções dançantes têm um quê de Tropix, o álbum anterior. Em APKÁ!, entretanto, ela se mostra uma artista versátil ao pinçar influências de toda sua carreira reconhecida nacional e internacionalmente, com um punhado de prêmios Grammy – tanto é que uma de suas músicas recebeu uma versão lá fora sem permissão.

De mansinho, Céu entrou no palco e se concentrou em frente ao microfone, estática, diante de uma plateia de fãs. Não tantos, mas fieis. Era como se ela estivesse em “Off”, primeira canção do show, também batizada de “Sad Siri”. O start se deu sob uma luz azulada que combinava com o vestido da artista, que, então, interpreta a irônica canção de abertura sobre a assistente pessoal do iPhone e iPad abandonada pelo seu interlocutor (“Olá, como vai você?/ No dia de sol, cores tão reais/ Pra quê luzes artificiais?/ Preparei comandos sagazes para lhe trazer pra mim/ Mas você foi tão chinfrim/ E pagou tão caro para me esquecer”). A segunda, “Coreto”, é uma balada romântica psicodélica. Letra curta, direta e metafórica, composta com “Gal Costa na cabeça”. Aliás, a cantora lembra muito a Gal da era tropicalista, seja pelo timbre da voz ou pelo visual com cabelos curtos negros e cacheados. A terceira do set foi “Pardo”, encomenda feita para Caetano Veloso. Ela contou que sua coragem e “cara de pau” surtiram efeito.

Durante todo a apresentação, Céu mostrava que tem ginga, dialogava com o público e dançava ao som da banda que a acompanha. Já perto do fim do

show, ela cantou “Ocitocina”, canção que leva no título o nome do hormônio responsável pelo parto e traduz a atmosfera do nascimento do seu filho e do álbum.

A crítica política com uma roupagem de pista de dança surgiu em “Forçar o Verão” (“Uma nuvem se aproxima do cartão postal/ Feito um convidado que ninguém quer receber/ Mas quando ele vem, não quer mais sair/ No sorriso debochado, estaciona ali). Do primeiro disco, homônimo (2005), foi resgatada “Malemolência”. “Cangote” veio de Vagarosa (2009). Do aclamado Tropix (2016), “Perfume” e “Varanda Suspensa”. Esta destacou-se como a despedida que tirou o público pra dançar.

Set List: “Off (Sad Siri)”,Coreto”, “Pardo”, “Perfume”, “Nada Irreal”, “Corpocontinente”, Rotação”, “Ocitocina (Charged)”, “Cangote”,Malemolência”, Fênix do Amor”, Forçar o Verão” eVaranda Suspensa”.

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