Movies, Series, TV

Pacto Brutal

Documentário em cinco episódios relembra o assassinato da atriz Daniella Perez, que chocou e parou todo o país em dezembro de 1992

Texto por Tais Zago

Foto: HBO Max/Divulgação 

Brasil, 1992. Um ano turbulento, marcado pelos caras pintadas nas ruas pedindo o impeachment de Collor de Mello, que por fim acabaria renunciando ao cargo de presidente. O pagode e o axé viviam seus anos de ouro com hits,como “Cheia de Manias” do grupo Raça Negra ou “O Canto da Cidade” de Daniela Mercury. Mas nem a cruzada de pernas de Sharon Stone em Instinto Selvagem ou a separação do príncipe Charles e da princesa Diana mobilizou tanto os jornais e os tabloides brasileiros quanto o cruel assassinato da jovem atriz Daniella Perez pelo ator Guilherme de Pádua.

O documentário Pacto Brutal (Brasil, 2022 – HBO Max), com direção de Tatiana Issa e Guto Barra, que também escreveu o roteiro, consiste em cinco episódios que mostram com detalhes, algumas vezes mórbidos, os acontecimentos, as descobertas e o julgamento do assassinato de Daniella por Guilherme e sua esposa Paula Thomaz. O crime que impactou o país no início dos anos 1990 pela natureza da sua crueldade e premeditação gerou as mais mirabolantes teorias que vão do ciúme ao satanismo. A produção foi lançada no último dia 21 de julho, na plataforma de streaming HBO Max com os dois primeiros episódios – os outros três vêm de forma semanal.

Daniella desfrutava de uma vida de sonhos. Tinha 22 anos e era uma moça linda e talentosa. Era também a filha mais velha da escritora Gloria Perez, na época já nacionalmente famosa por suas telenovelas na Globo. Daniella também vivia um ótimo momento profissional: estava em plena ascendência como atriz e dançarina – sua personagem Yasmin, na novela De Corpo e Alma, escrita pela mãe Gloria, catapultou-a rapidamente à posição de queridinha da nação. A cereja do bolo ficava por conta de seu casamento com o também jovem ator Raul Gazolla. Um relacionamento feliz, onde o casal fundia o amor pela arte com o amor que nutriam um pelo outro. O ano de 1992 parecia perfeito para a família Perez. Pelo menos até o fatídico dia 28 de dezembro, quando encontraram o corpo sem vida de Daniella em um matagal, vítima de tesouradas. (Nota do Editor: aliás, a mesma manhã em que Collor escolheu para renunciar à presidência, o que não teve muita atenção dada pela imprensa.)

A liberdade da plataforma HBO permitiu que as testemunhas falassem sem hesitar e sem papas na língua, o que fez com que os sentimentos dos entrevistados fluíssem de forma bastante intensa e natural. E todas essas experiências ainda estão presentes, mesmo passados 30 anos da morte de Daniella e após a liberdade de Pádua e Thomaz – presos apenas, respectivamente, por sete e seis dos dezoito anos da pena a que foram condenados, “cumprindo” o resto em forma de liberdade condicional e em regime semiaberto. As imagens são fortes, a edição é dura. A música, pontuada por um funesto cello desde a abertura, sublinha o clima de tristeza e desespero. O roteiro segue o padrão do estilo true crime, que se popularizou bastante nos últimos anos em todo o mundo. Primeiro recebemos as manchetes sobre o crime. Depois vem uma recaptura da vida familiar da vítima e do momento social do Brasil em 1992, seguindo-se o crime, as teorias de conspiração sobre os motivos, os passos da investigação, o profiling dos assassinos e o julgamento. 

De novidade, aqui temos uma pegada bastante atual ao apontar como na época a tendência natural era culpabilizar a vítima mulher, a misoginia latente e o machismo que permeavam todas as camadas sociais brasileiras, indo do mais simples cidadão aos policiais que investigavam o caso e a mídia. Foi especulada uma ligação amorosa entre Daniella e Guilherme, um suposto caso em que Gazolla seria o marido traído e o crime teria cunho “passional” – o que hoje, aos poucos, deixa de ser atenuante para casos de violência. Com muita luta dos movimentos femininos, claramente, alguma coisa já mudou na nossa percepção de feminicídio e violência contra a mulher desde então. E apesar desse sentimento vir acompanhado de um certo alívio, também nos aponta o caminho que ainda precisa ser trilhado até a verdadeira igualdade entre os gêneros.

Pacto Brutal é uma mistura bem esquisita de sentimentos: nostalgia, tristeza, reflexão e, por que não, esperança, sobre o que já passou e o que ainda está por vir para nós mulheres dentro do patriarcado brasileiro. Reflexões assim ainda são muito necessárias. Daniella virou símbolo, seu alcance midiático provocou discussões. Hoje, ao relembrarmos o crime, será quase impossível resistir ao repúdio sobre o desfecho de uma investigação policial desastrada e por vezes ineficiente e uma punição branda para os algozes que hoje reconstruíram suas vidas. Pádua, acredito que para surpresa de poucos, hoje é pastor e tem 34 mil seguidores em rede social. Thomaz é advogada, casou-se de novo, mudou o sobrenome e teve filhos. Porém, em janeiro deste ano, não se livraram de ter que pagar uma indenização no valor de quase meio milhão de reais a Gloria Perez. Vale lembrar que em 1992 não tínhamos redes sociais: toda a informação chegava até nós em forma de jornais, revistas, programas de rádio e os poucos canais da TV aberta. Hoje já não é mais tão fácil para as pessoas se esconderem dos seus erros passados, pois a internet tem memória de elefante. Assim como a cultura do cancelamento, certamente, também irá reivindicar uma pena moral para os assassinos de Daniella. E este documentário, sem sombra de dúvida, vai ser um forte agente da remexida no baú desse crime atroz.

Music

A-ha – ao vivo

Abismo na relação entre os três músicos deixa o show dedicado ao álbum de estreia morno e aquém da devoção dos fãs brasileiros

Textos por Abonico Smith (Curitiba) e Fabio Soares (São Paulo)

Foto: Abonico Smith

Se existe uma plena certeza no mundo da música pop ela se encontra na implacabilidade do tempo. Para o bem e para o mal. No primeiro caso, ele corrige injustiças e acaba vir a determinar que um disco ou artista que porventura tenha passado meio em branco no passado seja descoberto e passe a se tornar algo bem influente para as gerações posteriores. Tom Zé e, mais recentemente, Kate Bush são bons exemplos disso. No segundo, o tempo age para desgastar a química inicial que deu certo e encantou muita gente lá no inicio. Acontece quase sempre com bandas. Quando há duas ou mais pessoas envolvidas na mesma carreira, é bem provável que no decorrer dos anos comecem a aparecer conflitos de interesse, mudanças de percepções e divergências de vontades. Fora da música, é como se distanciar daquelas amizades de infância e adolescência que sempre habitaram a nossa memória. Você pode lembrar as pessoas com carinho só que a dureza da vida adulta e a transformação das personalidades faz tudo esfriar de um jeito que voltar atrás e continuar aquela proximidade de outrora é tão impossível quanto parar os ponteiros do relógio.

Com o A-ha foi exatamente isso o que ocorreu. Com quase quarenta anos de trajetória nas costas, o trio norueguês conquistou o sucesso com um punhado de músicas gravadas nos primeiros quatro álbuns, espalhados no intervalo de meia década (entre 1985 e 1990). De lá para cá vieram mais alguns discos, muitas brigas e desavenças internas, duas separações acompanhadas por projetos solo e o retorno à manutenção da marca por meio de viagens pelo mundo. A última delas, que somou passagens por seis cidades brasileiras e sete apresentações ao vivo, foi determinante para que se revelasse em cima do palco toda a distância que hoje existe entre Morten Harket (vocais), Magne Furuholmen (teclados e violão) e Pal Waaktaar-Savoy (guitarras e violão). Em Curitiba, escala final da turnê que comemorava os 35 anos do álbum de estreia Hunting High And Low (na verdade, a vinda ao nosso país estava marcada para o segundo semestre de 2020, mas dois adiamentos aconteceram por conta da extensão da pandemia da covid-19), fico mais do que evidente esse abismo todo entre os três. O documentário A-ha: The Movie, lançado agora nos cinemas europeus e exibido em junho pelo festival In-Edit Brasil, já entregava que os camarins são separados e os três raramente aparecem na mesma cena durante entrevistas e flagrantes de imagens de bastidores. Na capital paranaense, ele mal se falavam ou olhavam em cima do palco montado atrás de um dos gols da Arena da Baixada. Também não se abraçaram. Nem no encerramento, durante o agradecimento ao público, o que costuma ser algo corriqueiro quando se trata de um grupo de rock.

Juntar os três em uma mesma fotografia não era algo tão fácil em virtude da logística montada no estádio do Athlético Paranaense. De qualquer maneira, a melhor saída para ilustrar este texto seria não cometer injustiça com qualquer um dos músicos. Deixar um ou dois deles fora de cena se equivaleria a não reconhecer que o A-ha só sobrevive hoje pela unidade que se forma quando todas as peças musicais do quebra-cabeças norueguês se juntam. Afinal, a qualidade e o peso das letras, melodias, riffs e arranjos são igualmente distribuídos aos três. Morten, Mags e Pal sabem que são fortes juntos, mesmo que por anos precisem se tolerar amistosamente para manter a engrenagem chamada A-ha em ação. Tudo isto significa a sobrevivência no mercado musical, apesar de não haver muita renovação de plateia – o que se viu na arquibancada da Arena foi um maciço desfile de fãs acima dos 40 anos de idade.

Ter deixado alguns hits de fora do set list para poder abrigar em seu miolo o repertório integral de Hunting High And Low pode ter desagradado muita gente que estava por lá na expectativa de ouvir uma live version de “You Are The One”, “Stay On These Roads” ou “Touchy!”, por exemplo. O fato de muitas faixas mais obscuras do primeiro álbum, por melhores que sejam em estúdio, não ganharem o brilho necessário quando executadas ao vivo também não foi tão relevante assim. Só que o que mais pesou muito no cômputo final para o saldo de quase duas horas de um show morno, muito morno, foi mesmo a falta de química entre os três integrantes. As principais canções são boas e incendeiam qualquer público de qualquer faixa etária. Os três são excelentes músicos, cada qual em seu instrumento predominante – o já sessentão Morten, sobretudo, não deixa nada a dever no alcance de oitavas mais agudas pelo qual se tornou famoso desde “Take On Me”, apesar de todo mundo saber que o avanço da idade acaba impondo certas dificuldades e limitações vocais a qualquer pessoa que canta. Só que precisão técnica e profissionalismo extremo não fazem engrenar um show de rock em sua totalidade. Rock é e sempre foi pegada, energia, pulsação, dinâmica, ímpeto, víscera, explosão. O resto ainda pode ser música das boas, claro, mas não coloca fogo em um show de rock tal qual o concebemos desde os anos 1950. 

Essa apresentação do A-ha na Arena da Baixada, na noite de 25 de julho, estava mais para um concerto de câmara de música pop. No palco, uma miniorquestra de seis integrantes. Havia três músicos de apoio, também vindos da Noruega, de exímio talento nos sintetizadores, contrabaixo e bateria. E havia os outros três, os astros principais da noite, procurando ser tão precisos quanto um relógio (mesmo com pequenos deslizes e erros de notas durante justamente o gran finale com “Take On Me”) em respeito aos fãs e ao atraso de dois anos na vinda ao nosso país. Só que um relógio funciona com uma engrenagem mecânica. Sem sentimentos, sem emoções, sem arroubos. Tique-taque depois de outro tique-taque, tão somente. Do início ao fim era perceptível que havia muito mais brilho no olho em quem estava pelas arquibancadas inferior e superior – embora valha ressaltar todo o esforço do tecladista Mags ao se apresentar naquela noite depois de ter passado horas de apuro na cidade por causa de um violento piriri.

Em virtude de tamanha devoção do público brasileiro, o A-ha costuma volta e meia tocar aqui no país. Tomara que sobrevivam internamente às turras até a próxima oportunidade de voltarem para cá e se acertem em todas as suas diferenças. Com o repertório e a técnica que eles têm (e são dois elementos que fazem falta a muitas bandas por aí mundo afora), as chances de Morten, Mags e Pal protagonizarem uma noite bem mais quente e devolverem à altura toda a energia que sai de casa para ir vê-los em uma segunda-feira à noite. Ficaria não apenas mais justo no fim das contas, mas também mais propício para o que se entende por um show de rock. (AS)

***

Nos primeiros minutos do documentário A-ha: The Movie, o entrevistador dirige um questionamento simples e objetivo ao tecladista Magne Furuholmen.

– Ainda tem vontade de gravar material inédito com a banda?

– Não!

– Não?

– Não.

– Por quê?

– Porque, a esta altura do campeonato, seria uma máquina de moer cérebros e não quero passar por este processo novamente.

Anos após a declaração acima, a previsão de Magne não se concretizou por um único motivo: o tecladista não suporta o vocalista Morten Harket , tampouco o guitarrista Pal Waaktaar-Savoy. Mas negócios são negócios e quando há cifras milionárias envolvidas, abre-se uma exceção.

O A-ha já pisou em solo brasileiro por umas 635 vezes. Chegou inclusive a se apresentar na Festa do Peão de Barretos, no ano de 2002. Tantas vezes, porém, não fez diminuir a idolatria que o público brasileiro sente pelo trio. Muito pelo contrário. E foi com este espírito de “karaokê de terça à noite” que um público aficcionado e carente de shows (a simples execução de “Everybody Wants To Rule The World”, do Tears For Fears, fez parte da plateia entoar sua melodia a plenos pulmões antes da banda norueguesa vir ao palco) dirigiu-se no último 19 de julho ao antigo Espaço das Américas, em São Paulo, que atualmente empresta seu nome a um renomado plano de saúde.

Desta vez, porém, a proposta era diferente. Com o pretexto de “comemorar” os trinta e cinco anos de lançamento do début Hunting High And Low (de 1985), a banda executou na íntegra seu álbum de estreia. Boa idéia? Talvez. Funcionou ao vivo? Não. Com uma modorrenta quadra de canções incidentais (incluindo a inédita (e fraquíssima) “Forest For The Trees, que será parte integrante de True North, novo album do trio a ser lançado agora em outubro, somente após quase meia hora de apresentação Hunting High And Low é revisitado com “Train Of Thought”. A categoria dos músicos permanece ilibada após quase quatro décadas de carreira, incluindo o alcance vocal de Harket, atingindo inimagináveis falsetes às vésperas de completar 63 anos de idade. 

Claro que a devoção da plateia brasileira é um auxílio luxuoso que não pode ser desprezado. Coube ao público cantar os versos da faixa-título do álbum, executada inicialmente em formato semi-acústico. Já na tríade “The Blue Sky”, “Living a Boy’s Adventure Tale” e “The Sun Always Shines On TV”, as onipresentes texturas de sintetizadores de Magne fazem a “cama sonora” funcionar. O público, completamente entregue, pouco importou-se com Pal isolar-se na extremidade direita do palco como um funcionário de cartório, em plena sexta-feira, rezando para o ponteiro do relógio chegar às cinco da tarde.

Após a execução da íntegra do primeiro álbum, coube a “Cry Wolf” e a espetacular “I’ve Been Losing You” prepararem a atmosfera para um bis curto, direto e com gosto de fim de feira. “Take On Me” é a “With Or Without You” do A-ha. Clássico obrigatório mesmo que seus integrantes queiram execrá-la.

Fim da apresentação. luzes acesas e uma certeza: Hunting High And Low segue como um dos mais importantes discos de estréia dos últimos 40 anos. Só que mas executá-lo na íntegra em um único show torna a apresentação burocrática e modorrenta, transformando o trio numa espécie de Imperatriz Leopoldinense da música pop, com desfiles extremamente técnicos para vencer campeonatos porém, longe (mas muito longe mesmo) de empolgar uma arquibancada. (FS)

Set list: “Sycamore Leaves”, “The Swing Of Things”, “Crying In The Rain”, “Forest For The Trees”* ou “You Have What It Takes”*, “Train Of Thought”, “Hunting High And Low”, “The Blue Sky”, “Living a Boy’s Adventure Tale”, “The Sun Always Shines On TV”, “And You Tell Me”, “Love Is The Reason”, “I Dream Myself Alive”, “Here I Stand And Face The Rain”, “The Blood That Moves The Body”, “We’re Looking For Whales”, “Cry Wolf”, “I’ve Been Losing You” e “The Living Daylights”. Bis: “Take On Me”.

* As duas músicas se revezaram nesta posição durante esta turnê pelo Brasil

Music, Series, TV

Pistol

Minissérie dirigida por Danny Boyle aborda o universo ao redor dos jovens músicos que fizeram história no punk rock sob o nome de Sex Pistols

Texto por Taís Zago

Foto: Hulu/FX/Star+/Divulgação 

Quem entre nós, da geração X, não leu Please Kill Me (de Legs McNeil e Gillian McCain, 1996) ou assistiu a Sid & Nancy (1986), filme britânico com Gary Oldman e Chloe Webb? Durante a década de 1990, ambas as obras faziam parte do pacote da educação fundamental sobre o punk rock para nossos olhos e ouvidos adolescentes tão sedentos por rebeldia. Nos tempos do punk de poucos acordes e muita atitude, os Sex Pistols e os Ramones faziam parte do currículo obrigatório de qualquer músico iniciante, groupie ou fã da anarquia como “ideologia”. Nenhum outro movimento cultural representou melhor o teenage angst e a necessidade de romper com a cultura capitalista de nossos pais através do puro caos. Uma furtiva declaração de amor ao live fast and die young nos anos em que nos sentíamos imortais. 

Também não foram poucos os documentários que prestaram homenagem à época e seus personagens como o excelente The Filth And The Fury (2000) ou End Of The Century (2003) – ficando aqui apenas nas duas bandas centrais do movimento, Ramones e Sex Pistols, e a eterna batalha entre EUA e Reino Unido pelo titulo de criadores do movimento que em pouco tempo virou a febre mundial mesmo sem a promoção da imprensa mainstream ou das grandes empresas da indústria fonográfica. O punk se criou sozinho, nas ruas, nas atitudes, na insatisfação, na perda de perspectiva de uma geração anti-hippie e contestadora. As flores nos cabelos foram deixadas de lado na metade dos anos 1970. No seu lugar entraram o látex, o pogo, a distorção e os alfinetes. Onde antes os hippies promoviam o amor livre, os punks passaram a defender a autonomia sobre o próprio corpo, mesmo que pela autodestruição. O direito de derrubar muros com socos em vez de mensagens de paz e amor.

Pistol (EUA/Reino Unido, 2022 – Hulu/FX/Star+) é uma minissérie de seis capítulos dirigida por Danny Boyle (Trainspotting, Cova Rosa) baseada na autobiografia Lonely Boy: Tales From a Sex Pistol (2016) de Steve Jones (Jonesy), guitarrista e membro fundador dos Sex Pistols. Cada um dos episódios possui um título peculiar inspirado no livro de Jones – como, por exemplo, o primeiro, Track 1: The Cloak of Invisibility,onde Jones conta um pouco de sua origem e sua criação no subúrbio londrino de Hammersmith. O “manto da invisibilidade” era o que supostamente protegia o tímido e traumatizado Jonesy em suas peripécias e delitos, assim como lhe dava a autoconfiança necessária para subir num palco onde os músicos eram alvejados por latas e garrafas de cerveja ou cuspes, entre outras demonstrações escatológicas da rebeldia juvenil, que, claro, eram estimuladas e incitadas pelos próprios músicos. 

Boyle, famoso pelo seu estilo que estimula uma suposta glamourização de drogas e de violência, sempre um excelente pano de fundo musical, encontra-se em seu elemento. Não acho que outro diretor pudesse ter feito um trabalho melhor para passar toda a energia, raiva, tristeza e ingenuidade de uma geração que queria mudar o mundo rompendo com os modelos empoeirados e inflexíveis dos britânicos, como a adoração pela monarquia e rituais sociais superficiais enquanto o povo sofria com a falta de emprego em meio a uma severa crise econômica. Craig Pearce (um dos prediletos de Baz Luhrmann) assumiu o roteiro e investiu bastante em um suposto romance entre Jones e Chrissie Hynde (vocalista dos Pretenders). Segundo conta Chrissie em seu livro Reckless, de 2015, ambos sempre tiveram uma boa amizade, que, eventualmente, era salpicada com doses de sexo. Jones também deixa isso bem claro em Lonely Boy. A atuação espetacular de Sydney Chandler como Chrissie e Toby Wallace como Steve salva o roteiro do tom novelesco que um romantismo exagerado poderia criar. Para muitos (eu, inclusive), Sydney roubou o holofote de todos os outros personagens e nos deixou com vontade de ver Reckless também transformado em série.

Visualmente, Pistol não deixa nada a desejar: a fotografia e as passagens com imagens vintage reforçam o clima de efervescência cultural da época. Há um grande desfile de celebridades e figuras peculiares que foram ícones do punk orbitando em torno dos clubes noturnos londrinos e da butique Sex, como a modelo Jordan (Maisie Williams), a estilista Vivienne Westwood (Talulah Riley) e o estilista e empresário wannabe da banda Malcolm McLaren (Thomas Brodie-Sangster), que até hoje alega ter “inventado” os Sex Pistols, o que deixou um gosto amargo de boy band na boca dos fãs e passou para a banda a pecha de posers. Para contrariar Malcolm, Steve mostra o engajamento dos músicos na criação e nas composições, a vontade de inovar e o prazer de estar no palco, o talento natural de Johnny Rotten (Anson Boon) para traduzir em palavras (e urros) os sentimentos viscerais e urgentes de toda uma geração. Falando nele, o hoje conhecido como John Lydon se declarou determinantemente contra a produção da serie, inclusive entrando na justiça para tentar impedir que a música original dos Sex Pistols fosse utilizada. Para nosso alivio, os outros três sobreviventes e o espólio de Sid Vicious se posicionaram a favor, o que nos presenteou com um incrível passeio pelo processo criativo e pela energia crua de superhits da banda (“Pretty Vacant”, “Anarchy In The UK”, “Submission”, “God Save The Queen”, “Problems, “Bodies”, entre outros).

Por outro lado, a curta duração (apenas seis episódios) deixou muita coisa em aberto num assunto tão rico apesar de não apresentar qualquer fato novo sobre a banda que nos fosse desconhecido. Como uma tentativa de evitar mais daquilo que já sabemos de cor e também como uma fórmula de fugir das platitudes, Danny e Craig, através do olhar de Steve, optaram por dar mais espaço para os personagens em torno da loja Sex e dos Pistols, inclusive cedendo praticamente todo um episódio para abordar a história de Pauline, que inspirou a letra de “Bodies”.

Pistol polariza opiniões, traz pouco material para quem não conhece a banda ou não leu Lonely Boy, não apela demais para o óbvio, não redime mas também não demoniza as drogas. Não é o trabalho mais recomendado para principiantes, mas é um deleite para os fãs. Boyle tem o dom precioso de nos puxar para dentro de uma história como se estivéssemos sentindo a energia da primeira fileira na beira do palco. É impossível assistir sem sentir aquele adolescente adormecido, escondido atrás de cabelos grisalhos e boletos para pagar, acordando dentro de nós.

TV

A Lei da Selva

Documentário em quatro capítulos conta a história do jogo do bicho e como isso deu origem às milícias do Rio de Janeiro

Texto por Fabio Soares

Foto: Canal Brasil/Divulgação

Quando em 1892, João Batista Vianna Drummond (ou simplesmente Barão de Drummond, alcunha pela qual era conhecido) criou um divertimento alusivo aos animais de seu jardim zoológico (o primeiro do Rio de Janeiro, aliás) com o único intuito de salvá-lo da falência, mal poderia imaginar que tal ação transformaria-se no elemento embrionário de um conglomerado histórico que fincaria raízes no imaginário, vida e, principalmente, história da então capital federal da época. Pois A Lei da Selva (Brasil, 2022), documentário produzido pelo Canal Brasil e disponível no Globoplay, disseca a história do jogo do bicho e ajuda a entender como os desdobramentos da disputa pelo poder em território na capital fluminense e seus arredores deu origem às milícias.

Dividido em quatro episódios narrados pelo indefectível sotaque carioca do humorista e ator Marcelo Adnet, a gênese do jogo do bicho é esmiuçada por bambas da historiografia, como o professor Luís Antônio Simas. “O jogo do bicho nada mais era que uma loteria de pobre e naquele tempo, pobre se divertindo era algo inconcebível”, conclui ele, citando a famigerada Lei da Vadiagem – que, a partir de 1942, enviava aos distritos policiais todo e qualquer cidadão que transitava nos logradouros cariocas sem estar com a carteira profissional devidamente registrada.

Com a desenfreada popularização da prática da contravenção, sobretudo a partir da segunda metade dos anos 1960, era quase natural que alguns elementos tentassem monopolizar lucros, dividendos e poder. Os chamados Barões do Bicho surgiram como moscas numa geração espontânea numa heterogênea casta de personalidades e modus operandi distintos. A turma era barra-pesada demais: Capitão Guimarães, Turcão, Miro, Luizinho Drummond, Ivo Noal, Carlinhos Maracanã e o lendário Castor de Andrade passaram a perder soldados na disputa de pontos de jogo do bicho. Péssima para os negócios, a matança deliberada entre facções apavorava a principal clientela do jogo (isto é, o povão), além de chamar a atenção da imprensa. Algo deveria ser feito. E foi feito. Numa reunião extraordinária dos capos no início dos anos 1970, acordou-se que o Rio seria “fatiado” entre as principais cabeças do jogo. Com territórios definidos, não haveria mais motivos para bicheiro X querer tomar o ponto do bicheiro Y. 

Findada a matança entre os grupos interessados, surgiu o desafio de “lavar” a dinheirama contraída pela contravenção. A partir daí, o telespectador é guiado ao passo a passo da adoção de escolas de samba por seus “padrinhos”. O surgimento da Liga Independente das Escolas (Liesa) também é dissecado, sendo também mostrado que Castor de Andrade estendeu seus tentáculos inclusive ao futebol. Doutor Castor foi o patrono do Bangu Atlético Clube, proporcionando àquela suburbana agremiação quatro anos de sonho inimagináveis turbinados pelo dinheiro do jogo.

A Lei da Selva não é uma minissérie qualquer. A produção dirigida por Pedro Asberg é um documento audiovisual e necessário para entendermos como a segurança pública da capital fluminense corrompeu-se ao longo de décadas . E mais: como, permeada por corrupção, permitiu surgir debaixo de seu nariz, facções criminosas que, guardadas as devidas proporções, não deixavam e não ainda não deixam a dever em nada com a máfia ítalo-americana. E como essas milícias tomaram conta do Rio de Janeiro e ampliaram seus braços à política nacional.

Portanto, largue tudo o que estiver fazendo e assista sem pestanejar. É obrigatório!

Movies, Music

Elvis

Oito motivos para não deixar de assistir à cinebiografia do ídolo do rock, escrita, produzida e dirigida por Baz Luhrmann

Texto por Abonico Smith

Foto: Warner/Divulgação

Nesta quinta-feira estreia em circuito nacional o primeiro longa-metragem em nove anos assinado pelo diretor, produtor e roteirista Baz Luhrmann. Elvis (Austrália/EUA, 2022 – Warner) chega aos cinemas simultaneamente a outros países da América latina, como México e Argentina – portanto, não dá para se cravar que a “coincidência” de data com a estapafúrdia ideia de se celebrar do Dia Mundial do Rock um dia antes (13 de julho). Por vários motivos, aliás. Primeiro, porque não existe um dia ou sequer um marco específico para se comemorar como o mais significativo para o gênero, que não brotou do nada, não foi inventado por ninguém em especial e foi formado graças a toda uma conjuntura de fatos históricos e sociais. Depois porque escolher 13 de julho por causa de realização do Live Aid em 1985, simultaneamente em dois continentes, é de uma tacanhice só em relação a toda a história do rock. Em relação à trajetória dos grandes festivais, aliás, todo mundo sabe da insignificância do Live Aid perante a antecessores como Woodstock (1969, o que levou mais gente na história), Monterey (1967, o realmente primeiro evento gigante do tipo) e ainda mesmo o nosso Rock In Rio (que, seis meses antes, colocou o Brasil na rota dos grandes festivais e ainda trouxe o Queen de volta aos palcos antes mesmo do Live Aid). Por fim, nada disso de Dia do Rock é mundial. A alcunha nasceu de um papo-furado inventado por uma estação de rádio paulistana para justificar um evento com vários shows com a participação de bandas de rock da cidade (e brasileiro adora acreditar em fake news!).

Mondo Bacana destrincha oito motivos pelos quais, apesar do tal do “Dia do Rock”, você não pode perder o filme que leva às telas um pouco da biografia daquele que não só foi um dos grande pioneiros do gênero, como também cravou seu nome no panteão dos maiores ícones musicais de todo o século 20.

Baz Luhrmann

Todo mundo sabe que os filmes do australiano são intimamente ligados à música. Sua estreia nas telas mundiais, em 1996, foi com a recriação da história shakespereana de Romeu e Julieta para o fim do século 20. Cinco anos depois, recriou o mundo de amor, boemia, sexo e drogas do salão de festas/bordel Moulin Rouge na Paris da virada do século 19 para o 20. Na releitura do clássico romance literário O Grande Gatsby, de 2013, mergulhou Leonardo DiCaprio na vida hedonista dos anos 1920. Para a Netflix, assinou a série The Get Down, com onze episódios com uma história de ficção passada no Bronx nova-iorquino com elementos históricos e alguns fatos reais ligados aos primórdios do hip hop. Por falar em rap, o ritmo-e-poesia – em peso igualmente dividido com o soul, a disco music, o rock e a música pop em geral – é algo valioso para as trilhas sonoras destas produções. Luhrmann também capricha demais nos cenários e figurinos, sempre exagerando em cores, brilhos, plumas, paetês, maquiagens e purpurinas. Sua montagem é ligeira e cheia de referências pipocando de tudo quanto é lado da tela, que fazem as histórias se parecerem com extensos videoclipes. Portanto, nada mais natural do que agora apostar em um nome de suma importância na música de todos os tempos: Elvis Presley. E com duração de 2h39min que passa voando!

Tom Parker

O filme se chama Elvis e se passa durante quase todo o tempo de carreira profissional do cantor. Entretanto, Luhrmann acerta em cheio ao mudar o ponto focal da narrativa contada nas telas. Presley vira o protagonista das lembranças daquele que foi seu grande empresário e criador artístico, Coronel Tom Parker. Vivido por Tom Hanks (foto abaixo), Parker mostra neste filme como usou suas habilidades de ilusionista – profissão que exercera antes de mergulhar na persona de poderoso chefão do entretenimento – para cravar seu pupilo na história da música do Século 20 e no coração de milhares de fãs. Hanks pode entregar uma atuação não muito com o seu brilho habitual, mas certamente seu personagem se revela uma peça fundamental para que o espectador compreenda de fato toda a mitologia que passou a cercar o artista dos anos 1950 para cá.

Sangue branco, coração negro

Elvis era um comportado menino de família de classe média baixa do interior dos Estados Unidos. Só que ele vivia na região de Memphis, cidade do estado Tennessee, onde, apesar do conservadorismo da região do Cinturão Bíblico, havia uma forte efervescência cultural dos negros. Quando criança, encantou-se não só com a sonoridade como também toda a performance do gospel. Depois, aos poucos, entrou em contato com o blues e o rhyhtm’n’blues da Beale Street, a rua boêmia que abrigava apresentações de cantores como Sister Rosetta Tharpe, Arthur “Big Boy” Cudrup, BB King e Little Richard. Aos poucos, foi pegando do repertório destes ídolos uma canção aqui e outra ali, modificava os arranjos acrescentando toques de country’n’western, apresentava-se sacolejando o quadril e “recebendo todos os santos possíveis” e montou um poderoso repertório inicial com mísseis como “Trouble”, “Hound Dog” e “Tutti-Frutti”. 

Galã em duas frentes

Quando James Dean bateu seu carro e morreu aos 24 anos de idade, no dia 30 setembro de 1955, Hollywood perdeu o ator em quem apostava todas as suas fichas para ser o maior galã pronto para ser consumido pela juventude daquela década. A lacuna entretanto, não demorou muito a ser preenchida. Em janeiro de 1956, já sob o comando de Parker e com seu passe comprado pela gigante RCA do pequeno selo local Sun Records, Elvis, com seus 21 anos recém-completados, lançava seu álbum de estreia e mal poderia prever o futuro estrondoso que logo viria a atropelar sua vida. Charmoso, estiloso (com seu topete e até mesmo um impecável terno cor-de-rosa), bonito e, o principal, com um gogó invejável, capaz de confundir muita gente que, sem conhecer sua imagem, achava se tratar de um cantor negro. O terreno não tardou a ser preparado para que o grande amante do cinema também perseguisse o reconhecimento na carreira de ator. Em virtude da voracidade financeira do Coronel, houve uma overdose de Elvis cantando e atuando em longas-metragens – muito por causa de um prévio trabalho de antecipação para ocupar o vazio provocado pelo seu afastamento dos holofotes nos dois anos em que serviu o exército americano em uma base alemã. Tudo um amontoado de história descartável mas feito sob medida para manter o mito em voga e colocar a caixa registradora tocando sinos com a entrada de muitos dólares em caixa. No filme de Luhrmann, a velocidade com que se passa a fase hollywoodiana de Elvis dá um belo exemplo de quanto tudo isso no fundo foi esquecível para sua carreira na música.

Dores de amores

Interpretado pelo iniciante Austin Butler, o Elvis Presley retratado por Baz Luhrmann é um sofrido ser que sofre de amor o tempo todo. Amor pela música, pelo extenso fã-clube, pela mãe Gladys (foto abaixo), pela namorada/esposa Priscilla, pelos primos e amigos inseparáveis da Máfia de Memphis e até mesmo por aquele que viria a tornar o maior algoz de sua vida pessoal, seu empresário. Sempre aparece em cena sofrendo, perseguindo alguma satisfação por completar um eterno vazio interior. Por isso mesmo acaba se jogando de cabeça em tudo e talvez receba como consequência uma frustração nunca devidamente trocada por recompensas e prazeres. Esta é uma visão humanizada do ídolo fornecida pelo roteiro escrito pelo diretor em parceria com outros três nomes, o que acentua a carga dramática na história contada e com certeza garante uma proximidade emocional com muito espectador sentado na poltrona do cinema.

Narrativa pela música

Um dos pontos fortes do roteiro fica no uso da trilha sonora como ligação para as cenas seguintes, com determinados trechos de canções clássicas gravadas por Elvis e usadas na trilha de forma remixada, até mesmo com a voz (e versos inéditos) de outros artistas contemporâneos. Duas delas, depois da metade do filme, despertam bastante atenção: “Can’t Help Falling In Love” (ligada a questões pessoais) e “Suspicious Minds” (sobre as dificuldades encontradas após a retomada da carreira musical em 1968, após um badalado/polêmico especial feito para a TV). Quanto a esta última, Luhrmann martela à beça os dois versos iniciais (We’re caught in a trap/ I can’t walk out”) para reforçar a deterioração da relação com o mentor que o levou à fama e fortuna.

Trilha sonora estupenda

Filme com a assinatura de Baz Luhrmann é uma festa só na trilha sonora. Literalmente. Neste além de algumas tradicionais canções cantadas por Elvis são incluídas novidades remixadas com a participação de gente como Jack White, Tame Impala, Diplo, Doja Cat, Nardo Wick, Pnau, Swae Lee e Stuart Price mais samples de trechos gravados por Presley e alguns contemporâneos. Há também outras faixas em que o próprio Austin Butler se arrisca nos vocais sem fazer feio ao personagem que interpreta. Por sua vez, profissionais da música (Gary Clark Jr, Yola, Shonka Dukureh) também aparecem no filme na pele e no gogó de artistas como Arthur “Big Boy” Cudrup, Sister Rosetta Tharpe e Big Mama Thornton, respectivamente. De quebra, aparecem também nomes como Chris Isaak, Steve Nicks, Kacey Musgraves, Eminem, Cee-Lo Green e Måneskin.

Contundência na fase Las Vegas

A imagem de um Elvis inchado, quase sem mobilidade e sempre de indumentária de pedrarias e gosto duvidoso marcou os anos em que o cantor tinha residência em Las Vegas (foto acima). Exatamente por isso, é sempre vista como piada e aquela pálida sombra do que um dia o ídolo fora e representara para a juventude. Luhrmann escancara em seu filme os porquês dessa caricatura grotesca. (Atenção: aqui não há spoiler porque tudo isso faz parte da mais do que conhecida biografia de Presley). Imigrante ilegal, o holandês Andreas Cornelius Van Kujik criu uma naturalidade falsa de estadunidense e assumiu a identidade de Tom Parker – o que, claro, fazia com que não tivesse passaporte e não pudesse mais sair do país. Com a retomada da carreira musical e a fama levada para o resto do mundo por causa dos filmes, Elvis começou a pressionar o empresário para fazer turnês no exterior, especialmente pela Europa e inclusive arrumou um produtor para cuidar disso. Para não perder de vez sua mina de ouro (os contratos assinados com o hotel-cassino lhe garantiam o perdão das altas dívidas contraídas com o vicio na jogatina), usou seu todo o seu poder de persuasão e truques de ilusionista (que sempre tira o foco do público de onde realmente se faz as manobras na cena) para ludibriar Elvis e convencê-lo a trocar o giro por outros países por algumas cidades americanas e realizar um show no Havaí transmitido via satélite para o resto do planeta, o que permitiria – quando toda a tecnologia disponível para isso era cara e ainda pouco acessível ao ramo do entretenimento – as fãs de todo lugar ver um concerto seu. Para garantir o controle total de Presley, fez um médico colar no astro e receitar boletas contra a exaustão, ansiedade e depressão. Este é o momento de maior drama de todo o filme, aliás.