Music

Erasure – ao vivo

Andy Bell e Vince Clarke fazem em São Paulo uma celebração à vida e nada mais se faz necessário

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Texto e foto por Fábio Soares

A reta final dos anos 1990 foi complicadíssima para Andy Bell. Em 1997, ele e Vince Clarke lançavam Cowboy, talvez o menos inspirado trabalho da extensa discografia do Erasure. Um ano depois, descobriu ser soropositivo, aos 34 anos. O duo, porém, não parou, amparado por um firme lastro construído nos anos 1980. Apesar de rejeitarem o rótulo de “banda gay“, canções como “Victim Of Love”, “Star” e “Ship Of Fools” encantaram 3/4 coloridos do mundo.

Agora, corte pra Maio de 2018: um Erasure cinquentão, experiente e calejado desembarcou em São Paulo com o jogo já ganho. Adorados por seu público (seja hétero ou qualquer letra que compõe a sigla LGBT) Bell e Clarke sabiam que precisavam somente dar ao seu público exatamente o que ele queria: um caminhão de hitspara transformar seu show da última terça-feira (11 de maio), em uma grande pista de dança.

Por via das dúvidas, já sacaram um supertrunfo da manga, logo na abertura: “Oh L’amour” é daqueles hits que funcionam como um piloto automático, colocando todo mundo para dançar. Amparado por duas backing vocals, Bell (hoje com 54 anos) mostra que está com o gogó em cima. Já Vince Clarke (no alto de seus 57) solitário numa plataforma suspensa, confirmou a fama de muita discrição, não comunicando-se com o público em qualquer momento. Melhor assim: a estrela sempre será Andy, com seu carisma ímpar e figurino extravagante.

O álbum mais recente, World Be Gone, lançado em 2017, foi bem revisitado com a execução de cinco canções (além da faixa título, “Just A Little Love”, “Sweet Summer Loving”, “Take Out Of My Baby” e “Love You To The Sky”) tiveram boa aceitação por parte do público presente ao Espaço das Américas, em São Paulo. “Chains of Love”, do antológico álbum The Innocents, de 1988, também teve seu refrão cantado em uníssono, assim como o petardo “Love to Hate You”, parte integrante da biografia de 99% dos ali presentes. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca teve um amor que amou odiar (nota do editor: esta música ainda reproduz fielmente a antológica melodia final e instrumental da maior canção sobre superação emocional de todos os tempos, “I Will Survive”).

Em “Blue Savannah”, uma cena comovente: o público da Pista Premium, num flashmob previamente ensaiado, lançou ao ar dezenas de balões azulados, surpreendendo o vocalista. “De onde vocês tiraram isso?”, disse um emocionado Andy Bell que, àquela altura, já preparava o terreno para a reta final da apresentação: “Drama!” (do estupendo álbum Wild, de 1989) manteve o frescor oitentista à gigantesca pista de dança. E o que dizer de “Stop!”? Até um cemitério sairia dançando ao ouvir o verso “We’ll be together again/ I’ve been waiting for a long time”. Três sublimes minutos que ficarão na memória. “Always”, lançada quando todos os narizes do mundo estavam apontados ao grunge de Seattle, fez a alegria dos casais presentes com seu refrão chiclete (“Always I wanna be with you/And make believe with you /And live in harmony”).

Por fim, “Sometimes”, de 1987 manteve acesa a chama nostálgica dos anos 1980 com sua clara citação a “Torch”, hitdo quase contemporâneo Soft Cell. Os sinterizadores falaram alto aos corações da audiência. Aí veio o xeque-mate no bis. “A Little Respect” sempre será um grito contra a intolerância. Um hino nacional na causa LGBT. E como o danado ganha força quando entoado no país em que mais se mata transexuais no mundo e onde um gayé assassinado a cada 25 horas. Um grito atemporal de resistência. Uma chama que permanecerá viva com o passar das décadas.

Na saída do show, era visível a alegria da plateia em inúmeros sorrisos vistos. Alegria esta que, com certeza, também estampava o rosto de Andy Bell logo após o show. O Erasure, aliás, pode voltar mais 350 vezes ao Brasil que essa festa sempre se repetirá.

Set List: “Oh L’Amour”, “Ship Of Fools”, “Breathe”, “Just A Little Love”, “In My Arms”, “Chains Of Love”, “Sacred”, “Sweet Summer Loving”, “Victim Of Love”, “Phantom Bride”, “World Be Gone”, “Who Need Love Like That”, “Love To Hate You”, “Take Me Out Of Myself”, “Blue Savannah”, “Drama!”, “Stop!”, “Love You To The Sky”, “Always”, “Sometimes”. Bis: “A Little Respect”.

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