No último dia 25 de abril, uma terça-feira, a região da Grande Florianópolis recebeu uma das maiores lendas do rock mundial. O Kiss apresentou-se pela última vez no Brasil, depois de trazer para cá (pela terceira vez) sua turnê de despedida (batizada End Of The Road) e passar (desta vez) por outros quatro pontos do país (Manaus, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo).
Alocado estrategicamente do lado direito do palco montado no Hard Rock Live (na cidade catarinense de São José), cheguei diretamente do trabalho para poder cobrir este que deve ser o último concerto do quarteto pelas terras de Machado de Assis ou, melhor falando, do poeta Cruz e Sousa. Incrivelmente dez minutos antes do horário previsto (21h), os quatro cavaleiros do apocalipse já desciam por enormes plataformas para chegar próximo de nós, meros mortais, entoando a seminal “Detroit Rock City”. A essa altura, meu amigo, a audiência era um verdadeiro delírio musical, com homens e mulheres de todas as idades cantando a plenos pulmões toda a música. E todas as que estariam por vir. A plateia era composta, em maioria, por muitas famílias, onde era nítido o amor geracional pelo rock e pela banda destes quatro senhores. Algo lindo e épico demais.
Diferente da última passagem da banda por este sul do sul do mundo, no ano de 2015, desta vez sim tivemos o espetáculo completo, recheado de trajes extravagantes, maquiagens marcantes, plataformas levadiças, efeitos visuais, pirotecnia, fogo, sangue, luz e demais elementos que tornam o show do grupo algo único, simplesmente o maior espetáculo da terra. Também foi nítido que, desde o início da perfoirmance, o Kiss demonstrou toda a sua energia e paixão pelo rock, coisa pouco vista em vários shows de pessoas que possuem a metade de idade de Paul Stanley, Gene Simmons, Eric Singer e Tommy Thayer.
Sobre as músicas, nenhuma surpresa. O set list cravou só clássicos da banda, que há meio século percorre o mundo tocando “I Was Made For Lovin’ You”, “Calling Dr Love”, “I Love It Loud”, “Deuce”, “Psycho Circus”, “Love Gun”, “God Of Thunder”, “Black Diamond”, “Do You Love Me” e “Rock And Roll All Nite”, entre outras. Esta última, inclusive, foi a que fechou a noite histórica, com aquela tradicional chuva de confetes, fogo e loucuras que precedem a saída de cena da banda – e, neste caso, o fim da passagem física do Kiss pelo Brasil, iniciada já exatos 40 anos, lá em 1983, no Maracanã.
Em resumo: se de fato foi a última vez, será épico ter vivenciado ao vivo e em cores um verdadeiro espetáculo de rock’n roll. Deixará saudades em todos os fãs brasileiros e marcará a história catarinense para sempre.
Set List: “Detroit Rock City”, “Shout It Out Loud”, “Deuce”, “War Machine”, “Heaven’s On Fire”, “I Love It Loud”, “Say Yeah”, “Cold Gin”, “Lick It Up”, “Makin’ Love”, “Calling Dr Love”, “Psycho Circus”, “God Of Thunder”, “Love Gun”, “I Was Made For Lovin’ You” e “Black Diamond”. Bis: “Beth”, “Do You Love Me” e “Rock And Roll All Nite”.
Oito perguntas sobre o presente e o futuro da banda mineira que se despede do público neste domingo após 32 anos de carreira
Samuel, Lelo, Henrique e Haroldo (da esq. à dir.)
Texto e entrevista por Abonico Smith
Foto: Divulgação
Resta um. Apenas unzinho. Domingo próximo será o último dia. Às 19h do dia 26 de março de 2023, Samuel Rosa (guitarra, violão e vocais), Henrique Portugal (teclados, violão e vocais), Lelo Zaneti (baixo e vocais) e Haroldo Ferreti (bateria) sobem pela última vez ao palco juntos. Será o derradeiro show do Skank, após uma carreira contínua e muito bem-sucedida (tanto criativa quanto comercialmente) de 32 anos. Depois deste show, quem não viu in loco não terá mais tal chance. Daí só recorrendo a gravações em áudio e vídeo.
O local escolhido para o gran finale não poderia ser mais especial: o Mineirão, a maior arena a céu aberto de Belo Horizonte, a cidade que deu a banda ao mundo. O mesmo local que, no final do ano passado, assistiu lotado à emocionante retirada dos palcos de Milton Nascimento, outro ícone da música mineira. No caso do Skank, entretanto, há uma conexão a mais com o mundo do futebol. Além do grupo ser dividido meio e meio entre torcedores fanáticos dos dois maiores times de lá (Samuel e Henrique são Cruzeiro; Lelo e Haroldo, Atlético Mineiro), os integrantes passaram os primeiros anos da carreira vestindo camisas de muitos clubes nacionais em concertos, videoclipes e programas de televisão. Outra curiosidade: a primeira apresentação ao vivo do quarteto, em 5 de junho de 1991, contou com apenas 37 “testemunhas” comprando ingresso. Tudo devido ao fato de São Paulo e Bragantino estarem decidindo o Brasileirão naquela mesma noite.
O show deste domingo no Mineirão colocará um ponto final na extensa turnê de despedida que já passou por diversas capitais e grandes cidades do país no último par de anos. Na verdade, o adeus estava programado para casar com a comemoração de trinta anos de existência da banda, em 2021. Contudo, a pandemia da covid-19 e a paralisação de quase dois anos na produção e realização de eventos culturais acabou provocando o adiamento da tour para os dois anos seguintes.
O Mondo Bacana – que teve a sorte de acompanhar de perto a trajetória que rendeu treze discos (nove gravados em estúdio e mais quatro ao vivo) e seis DVDs – entrevistou o grupo nesta reta final. Henrique – que, assim como Samuel, participava do embrião que formou o Skank, um quarteto chamado Pouso Alto – respondeu a oito perguntas que pontuam não o passado, mas o presente e o futuro do Skank e seus membros. Afinal, é hora de se festejar um ciclo que termina e o próximo que estará se abrindo a cada um deles.
Março de 2023 foi o último mês de shows do Skank, depois de 32 anos de estrada. A cada dia que passa mais perto fica o fim. Como estão os corações e mentes dos quatro integrantes nestes dias derradeiros? Como está sendo encarar um encerramento de um ciclo tão grande?
Os shows têm sido uma verdadeira celebração. Estamos focados em nos divertir com nossos fãs e não sentimos essa melancolia de fim de um ciclo, porque foram anos muito gratificantes para nós quatro. Estamos vivendo as emoções, pedidos de música, particularidades de cada cidade. Temos a sensação de dever cumprido, por seguirmos juntos por tanto tempo e somos orgulhosos do legado que deixamos para os nossos fãs.
Muito se brinca que no Brasil as bandas de rock não costumam acabar oficialmente. Algumas dão um tempo, aproveitando para se reunir esporadicamente em turnês especiais pelo Brasil, outras se arrastam por um período, sendo postas em segundo plano diante de carreiras e projetos solo de seus integrantes. A pergunta que não quer calar: será mesmo o fim oficial do Skank ou, graças à amizade entre vocês, a porta estará ainda aberta para uma possível reunião no futuro?
Nós decidimos parar agora para que cada um possa ter tempo para se dedicar a projetos pessoais que a agenda intensa do Skank impedia. Mas a nossa música continua por todos os lados e de fácil acesso. O Skank sempre vai existir, independente de nós estarmos juntos tocando o Brasil. Enquanto todos ouvirem nossas músicas, estamos existindo.
Haverá algum produto especial extraído desta turnê de despedida? Algum filme, documentário, disco ao vivo?
Estamos registrando todos os shows e no Mineirão será feita uma bela produção para o encerramento deste ciclo. O que faremos com estas imagens só será decidido depois da turnê.
Cada um de vocês quatro já definiu o que fará da vida após o fim do Skank? Vão continuar atuando no território da música? Alguma coisa já pode ser adiantada sobre a nova fase pós-Skank? No caso do Samuel, há alguma chance de rolar uma turnê a dois violões com o parceiro de composição Nando Reis (que acabou de fazer algo assim com a Pitty)?
Estamos focados ainda na turnê e nos organizado e programando nossos trabalhos solos. Alguns de nós já tem coisas paralelas à banda e vamos seguir trabalhando com outros amigos, com outros projetos. A gente entende que agora é o momento de cada um devolver para a música tudo o que ela nos deu durante todos esses anos.
Depois do sucesso e desfile de hits dos primeiros discos da banda, o Skank tomou uma decisão interessante: usar o dinheiro da gravadora que seria para gravar em bons estúdios na construção e realização de um estúdio próprio da banda. Se não me engano, ficava no terreno da casa do Haroldo. Este estúdio ainda existe e é utilizado? Agora, com a separação, será usado também para novos trabalhos e gravações musicais dos quatro integrantes?
Esse estúdio que você está se referindo era o Maquina. Na verdade os donos eram eu, Haroldo e o Lelo. Mas já o vendemos há algum tempo. A vida intensa na estrada com o Skank impossibilitava a gestão dele. O Haroldo, viciado em estúdio, já montou outro só pra ele. Inclusive o Skank tem ensaiado neste local.
Nos dias de hoje, a música parece ter perdido a condição de finalidade e se transformado em apenas um meio. Tanto que festivais não vendem mais música há tempos, vendem experiências. Os mais jovens estão perdendo o costume de sair à noite para se comungar com outras pessoas desconhecidas ou conhecidas e ver uma banda tocar ao vivo em pequenos espaços. Nas plataformas digitais, a frieza do algoritmo substitui o aconchego do amigo ou irmão mais velho para apresentar aquilo que você ainda não conhece e deveria ouvir… Como é fazer música em tempos de streaming, quando um rápido clique no botão pode alterar e encurtar o tempo de audição de uma faixa, até em questão de segundos, e velocidade voraz para uma não tão paciente assim GenZ?
Depois de passar por tantas mudanças, continuo acreditando que o mais importante é que a música seja boa. As mudanças tecnológicas acabaram mudando a forma como as pessoas escutam música. É uma geração que tem pressa para assimilar informação e quando algo não agrada eles mudam para o próximo. Isso mudou também o jeito de compor e produzir canções.
Como o Skank vê o espaço para o segmento pop/rock dentro da música nacional de hoje? Pergunto isso o domínio arrasador do sertanejo que se refletiu por cerca da última década e meia parece estar se diluindo e sendo combatido, no gosto da GenZ, pela presença do funk e do pop mais dançante e com grooves (Anitta, Pabllo Vittar, Gloria Groove, Ludmilla). De alguma forma isso anima vocês para um futuro mais próximo de quando as gerações 1980 e 1990 do rock vieram com tudo no mercado fonográfico nacional? O rock já teve um papel importante na sociedade que era questionar os valores sociais. Hoje em dia, este papel é do hip hop. O Brasil nunca foi um país forte no rock. Temos e tivemos alguns expoentes, mas sempre enxerguei um movimento pop/rock forte e poucas bandas de rock puro. Somos um país de misturas culturais, com uma grande força na parte rítmica.
Vocês são herdeiros e discípulos diretos do Clube da Esquina, grupo/disco que recentemente ganhou o primeiro lugar em uma votação de especialistas e imprensa (da qual eu tenho orgulho de ter participado, aliás) dos melhores álbuns de todos os tempos da música brasileira. Como avaliam este resultado? O tempo é mesmo o melhor curador para que se perceba a qualidade de uma obra musical? Ainda mais em tempos de música digital, que parece ter deixado igual a força de qualquer obra gravada em qualquer tempo e em qualquer geração…
A digitalização da música mudou a relação das pessoas com os artistas. Hoje em dia, as pessoas conhecem mais as canções do que dos artistas que as interpretam. Em compensação, acabou com a temporalidade das canções. Não existe mais o velho e o novo, todos estão iguais. Isto foi ótimo. A nossa relação com o Clube da Esquina é natural, ainda mais no meu caso pois fui criado no bairro de Santa Tereza aqui em BH. Este é um álbum histórico para a música brasileira. Escutei do ator Matheus Nachtergaele que o mineiro se mistura pouco com outros artistas, só que é muito profundo na maioria das coisas que faz. Pra mim este álbum é isto. Profundo e intenso.
Quinze anos depois britânicos retornam ao palco da Pedreira Paulo Leminski como uma das maiores bandas de rock do mundo
Texto e foto por Abonico Smith
Antes de entrar na resenha propriamente dita, vai aqui uma proposta de uma ligeira brincadeira que envolve imaginação, projeção e percepção sobre a vida. Pense em como você era e onde estava quinze anos atrás. Agora pense em você daqui a quinze anos, lá no ano de 2037. Muita diferença em relação ao você de hoje?
Pois bem, ver o Arctic Monkeys tocando na Pedreira Paulo Leminski no último dia 8 de novembro provocou este exercício de memória. Quando o quarteto inglês subiu ao palco da mais bela arena a céu aberto do sul do país esta não era a estreia em tal espaço. Alex Turner e seus fieis escudeiros já haviam tocado ali em novembro de 2017, com uma das atrações da etapa curitibana do falecido Tim Festival. Assim como nos dias de hoje um sideshow de um grande festival nacional.
Três dias antes eles haviam sido headliners do primeiro dia da primeira edição do Primavera Sound São Paulo. Um cenário diferente daquele primeira vinda à capital paranaense. Agora os Monkeys são uma das mais importantes bandas de rock do mundo. Uma década e meia atrás, com dois badalados e já grandiosos álbuns na carreira, eram a grande aposta da música britânica naquela época. As letras de Turner, bastante incensadas pela imprensa musical. Quatro garotos de vinte e poucos anos com um indie rock avassalador, pungente e urgente como um quase hardcore. Com o acréscimo de uma habilidade lírica pouco vista para moleques daquela idade. Tanto que, apesar de ainda estarem em início de carreira, já ocupavam na grade do line up daquele dia em Curitiba um espaço mais importante que a veterana Björk, por exemplo (a mesma que, por sinal, tocou horas antes dos ingleses no mesmo Primavera Sound SP).
Portanto, os astros que hoje se aproximam da quarta década da idade estão, se comparados com aqueles mesmos de uma década e meia atrás um tanto mais seguros do que são no momento e do lugar que ocupam dentro do mundo musical. Alex Turner tem presença de palco monstruosa, já um tanto liberto da obrigação de sempre tocar sua guitarra, transforma-se naquele rockstar marrento, exalando propositalmente sensualidade, para fazer os hormônios das teenagers e pós-adolescentes da plateia passarem do ponto de ebulição, gerando na plateia da Pedreira gritos constantes, típicos de uma juventude feminina diante de um ídolo do rock desde os tempos de Elvis Presley e dos Beatles.
No palco, Turner não só corresponde como também provoca e excita. Bastante. No figurino retrô, nas poses um tanto quanto teatrais, no jeito de se comportar no palco e se portar por trás do microfone. Parece muito concentrado em representar essa figura, o que suscita também um certo desconforto em quem quer de um show algo maior do que um mero jogo sexual entre ídolo e fã.
Musicalmente, Arctic Monkeys é sinônimo de uma grande banda. Primeiro pelo fato do quarteto nunca se prender a uma zona de conforto. Depois de alcançado o estrelato de forma até precoce, não se pode acusá-lo de comodismo. A cada novo disco, uma tentativa de se reinventar e trilhar por novos caminhos. Até chegar ao novíssimo álbum, disponibilizado nas lojas e plataformas de streaming na semana anterior da vinda da banda ao Brasil. Sétimo álbum em vinte anos de carreira, The Car é uma bela proposta de se chegar à excelência de um pop refinado, com pitadas de falsetes, grooves e orquestrações, na melhor tradição sixtie britânica. Uma evolução do predecessor, Tranquility Base Hotel + Casino, e direcionamento bem diferente dos outros anteriores, que flertavam com o stoner, o psicodélico, o hard rock e até mesmo o heavy metal.
O que faz chegar ao ponto exato para se costurar um repertório fantástico passeando por todos os sete álbuns da carreira e criando um belo mosaico do que são esses vinte anos de trajetória. Na Pedreira foram 21 canções distribuídas de forma nada desigual. Forma cinco dos dois primeiros álbuns, da série de arranjos quase como um rolo compressor hardcore com os instrumentos atuando juntos e sem dar muito tempo para a respiração ao acompanhar os vocais urgentes de Turner. Outras cinco da etapa seguinte, quando a banda embarcou nas viagens quase solitárias do deserto californiano para gravar mais dois discos com uma psicodelia que nunca seria encontrada no velho continente europeu. Mais cinco só de AM, o disco divisor de águas da carreira, aquele capaz de fornecer sucessos avassaladores, daqueles de fazer qualquer arena cantar em uníssono e entrar em transe enquanto isso. Aliás, este é aquele disco que diz muito sobre o set list de uma banda. Afinal, normal é deixar, hoje em dia, hits lá do início da trajetória, mas é impossível subir ao palco sem tocar clássicos como “Arabella” (com direito a final emulando o riff contagiante de “War Pigs”, do Black Sabbath), “R U Mine?” ou “Do I Wanna Know?”. Do período mais recente, requintado e luxuoso, seis canções foram pinçadas para completar a noite: os dois singles doTranquility Base Hotel + Casino mais pérolas complexas que ainda estão para ser digeridas pelo público (ainda mais quando executadas ao vivo, com o apoio de mais três músicos recrutados para a turnê) como “Sculpture Of Anything Goes”, “Body Paint”, “There’d Be A Mirrorball” e a faixa-título.
Nessa noite quem foi ver os britânicos ainda foi brindado com a oportunidade de ter uma grande banda como atração de abertura. Quem tocou também foi o Interpol, formação de carreira já tão longeva quanto os Monkeys e com o mesmo número de álbuns na discografia. Coube ao trio americano (que vira quinteto ao vivo) dar o pontapé inicial da noite com um repertório calibrado de 13 peças. Três delas retiradas do mais novo álbum (The Other Side of Make-Believe, lançado no meio deste ano) e oito dos incensados dois primeiros discos (entre estas, “Untitled”, “Evil”, “C’Mere”, “PDA” e “Slow Hands”). Tocando sabiamente numa dimensão espacial mais reduzida de palco (os músicos todos lá na frente, bem próximos uns dos outros, como se fosse em um clube indie do Brooklyn nova-iorquino, de onde a banda saiu para conquistar o planeta) e com uma atmosfera soturna proporcionada pela combinação de muita fumaça e predominantes luzes azuis e vermelhas, nem parecia que os guitarristas Paul Banks e Daniel Kessler mais o baterista Sam Fogarino encaravam uma Pedreira Paulo Leminski numa noite muito fria de primavera.
O Interpol mandou ver um puta show de abertura, digno de qualquer outra noite em local fechado e de capacidade bem menor. O que enaltece ainda mais a grandiosidade do Arctic Monkeys nos dias de hoje. Muito provavelmente algo que Alex Turner, Jamie Cook (guitarra), Matt Helders (bateria e backings) e Nick O’Malley (baixo e backings) não poderiam sequer imaginar há quinze anos.
Set List Arctic Monkeys: “Sculptures Of Anything Goes”, “Brainstorm”, “Snap Out Of It”, “Crying Lightning”, “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, “Body Paint”, “Four Out Of Five”, “Arabella”, “Potion Approaching”, “The Car”, “Cornerstone”, “Do I Wanna Know?”, “Tranquility Base Hotel + Casino”, “Pretty Visitors”, “Do Me a Favour”, “From The Ritz To The Rubble” e “505”. Bis: There’d Better Be a Mirrorball”, “I Bet You Look Good On The Dancefloor” e “R U Mine?”.
Set list Interpol: “Untitled”, “Toni”, “Evil”, “Fables”, “C’mere”, “Narc”, “Passenger”, “The Rover”, “Rest My Chemistry”, “Obstacle 1”, “The New”, “PDA” e “Slow Hands”.
Oito motivos (entre eles o novo álbum The Other Side Of Make-Believe) para não perder os shows do trio nova-iorquino no Brasil
Texto por Abonico Smith
Foto: Ebru Yildiz/Divulgação
Vinte anos atrás, em agosto de 2002, saia o primeiro álbum de uma das bandas mais sensacionais daquela efervescente cena que recolocava o underground de Nova York no destaque do mapa-múndi do rock. Turn On The Bright Lights apresentava o Interpol, com hits como “Untitled”, “PDA”, “Obstacle 1”, “NYC” e “Say Hello To Angels” fazendo uma das mais bombásticas sequências iniciais de um disco neste século 21 – ao lado de contemporâneos trabalhos de estreia de gente como Strokes, Yeah Yeah Yeahs e Arcade Fire. De lá para cá, o então quarteto (transformado em trio em 2010, após a saída do baixista original, Carlos Dengler) firmou-se como um dos grandes nomes do indie rock, gravando e lançando discos com constância e sendo atração de peso de festivais espalhados por todo o planeta.
Corta para 2022. Vinte anos depois da avassaladora estreia, o Interpol acaba de soltar um novo álbum, o sétimo de estúdio. Com onze faixas e lançado no útlimo mês de julho, The Other Side Of Make-Believe resgata a qualidade e a sonoridade lá do começo, também flertando com uma estética gráfica semelhante. Tudo foi gravado online durante a pandemia da covid-19, com cada integrante fazendo as coisas de sua casa, pontos diferentes do mundo. Entretanto, manteve-se o compromisso da criação conjunta, sem ter um integrante que necessariamente monte um esqueleto inicial de letra e música antes de trabalhar o arranjo com demais. Com o Interpol os rascunhos sempre são feitos de modo coletivo, o que, de certa firma, garante uma certa peculiaridade no seu som, que se reflete disco após disco. E chega neste mais recente com uma coesão e uma força igual àquela dos primeiros anos de estrada.
Para divulgar The Other Side Of Make-Believe, a turnê Lights, Camera, Factions teve início em 25 de agosto, nos Estaods Unidos e Canadá, com datas quase diárias que se estenderam até meados de setembro. Agora, depois de uma breve escala na Alemanha, o grupo chega ao Brasil para três apresentações. O pilar central é a primeira edição em verde e amarelo do Primavera Sound, em São Paulo, no Distrito Anhembi (outras informações sobre o festival você tem aqui). Na véspera (dia 4), fazem um dos sideshows do Primavera no Rio de Janeiro na Jeneusse Arena. O segundo compromisso (dia 8) será em Curitiba, na Pedreira Paulo Leminski. Em ambas as oportunidades, o Interpol também fará a abertura da noite para os Arctic Monkeys, também escalados como headliners do Primavera BR. Mais sobre os ingressos desses dois concertos paralelos você pode encontrar clicando aqui. Depois de passar pelo solo brasileiro, a banda vai ainda ao Paraguai, Chile, Argentina e Peru.
Como esquenta dessa nova vinda ao país de Paul Banks (guitarra, baixo e voz), Daniel Kessler (guitarra) e Sam Fogarino (bateria), o Mondo Bacana preparou oito motivos para você nem sequer pensar em perder a nova passagem deles por aqui.
Meet me in the bathroom
Lizy Goodman publicou em 2017 o livro Meet Me In The Bathroom. A publicação é uma história oral do indie rock de Nova York durante a primeira década deste século. Foi um tempo de glórias sonoras, com o surgimento e o crescimento de uma safra de bandas que recolocou o rock’n’roll, tão básico quanto vigoroso, tão sujo quanto envolvente, na ordem do dia das publicações voltadas à música. Então o mundo conheceu e se apaixonou por nomes como Strokes, Yeah Yeah Yeahs, LCD Soundsytem, Vampire Weekend, Walkmen e Interpol. Agora este livro virou um documentário, que irá estrear no próximo mês de janeiro, também com o depoimento de vários músicos e testemunhas oculares da história recente do underground nova-iorquino que se tornou um belo nicho de gente que gostava de descobrir novidades através das primeiras plataformas de divulgação de bandas e artistas da internet. Curiosidade: o título vem do nome de uma música dos Strokes e é um código muito utilizado pelos jovens daquela época para cheirar pó em locais públicos.
Pós-punk sombrio
Esta geração de ouro de NY em uma coisa se assemelhava à de Seattle, que no início da década anterior também saiu dos subterrâneos e circuitos alternativos para tomar conta de grandes festivais de rock e espalhar fãs pelo mundo todo. Assim como aquele pessoal grunge, também nunca existiu uma unidade sonora que agrupasse todo mundo em uma caixinha só. O Interpol, por exemplo, foi mais pela praia sombria do pós-punk britânico (Joy Division, Cure, Bauhaus). Algo dançante, porém com tintas que, de alguma forma, fossem representações sonoras entre o preto e o branco, no máximo com uma adição do vermelho – tal qual as capas do primeiro e do mais recente álbum, por exemplo. Nas letras, sentimentos exacerbados, dilacerações, No figurino, um preto estiloso e social dos pés à cabeça. Não à toa o vocalista Paul Banks é considerado sex symbol por muitas fãs.
Vocais com assinatura
A dramaticidade impressa por Banks nas músicas do Interpol não está somente em suas letras. Também reside na sua voz densa e de barítono. O curioso é que o Interpol nunca foi de explorar algo que fosse muito além do gogó de seu guitarrista. Quase não há backings, quase não há dobras. No começo, sobretudo, era tudo muito curto, grosso e direto. Banks e o microfone, o microfone e Banks e só. Muita gente pode considerar monótono e um tanto quanto monocórdio. Mas é uma assinatura que logo faz você reconhecer que aquela é uma música do Interpol. Pelo menos até pouco tempo atrás, já que pequenos efeitos, contracantos e dobras já podem ser notados em faixas mais recentes.
The Other Side Of Make-Believe
Sétimo álbum da carreira, agora com a produção assinada pelo experiente Flood (Depeche Mode, Nick Cave, PJ Harvey, Jesus & Mary Chain, Smashing Pumpkins, U2, Killers, Sigur Rós, New Order, Nine Inch Nails, Foals, Warpaint, entre outros), concebido integralmente durante o isolamento da pandemia, com os três integrantes espalhados em um país diferente (Escócia, Espanha, Estados Unidos). Neste novo trabalho, lançado no meio deste ano, o trio volta a flertar com os grande momentos apresentados nos três primeiros discos da carreira. Curiosamente, obras lançadas pelo selo nova-iorquino Matador, uma das marcas de excelência do indie rock dos anos 1990 para cá. Quando a banda resolveu trocar a antiga casa pela Capitol (uma das maiores empresas fonográficas norte-americanas, símbolo da música pop daquele país e com Frank Sinatra como o maior estandarte de seu catálogo), a criatividade decaiu e o Interpol não apresentou nada de muito novo ou excitante. Agora, parecem ter retomado a boa forma de outrora. Os dos títulos anteriores (O álbum Marauder e o EP A Fine Mess), ambos assinados pelo americano Dave Fridmann (outro experiente produtor do circuito indie e ex-baixista do Mercury Rev) foram um esboço para a volta do bom e velho Interpol, agora em sua segunda passagem pela Matador. Não à tôa quatro singles e três videoclipes já foram extraídos deste disco e mais ou menos metade dele costuma pintar no set list da atual turnê, tomando o lugar de muito clássico mais antigo. O que, se for levado em conta a carreira extensa da banda somado ao número de títulos na discografia, é algo difícil de acontecer com um artista de trajetória similar.
Toni
Tendo como explícitas referências a historia de West Side Story (tanto na Broadway quanto nas telas de cinema) e do clipe de Beat It, de Michael Jackson, o primeiro clipe feito para o novo álbum é uma história de amor e briga de gangue. Só que o cenário não é nada urbano. Aqui o diretor Van Alpert sai das ruas, bares e becos de uma grande cidade e vai para uma estrada, um campo aberto, de cores terrosas (combinando com as tonalidades do figurino do casal), com galpões. Homem e mulher, formando um par interracial, aparecem sempre apavorados. Eles tentam fugir de toda e qualquer maneira de uma gangue também jovem que os persegue com instrumentos prontos para serem usados em uma pancadaria (objetos como porretes e tchecos). Eles vestem roupas azuis, baseadas no jeans como material. Utilizam também maquiagem forte e por vezes berrante. Quando o cerco ao casal finalmente ocorre, tudo aquilo que seria porrada se transforma em dança, mas com uma coreografia estranha, longe de qualquer naturalismo nos movimentos. Pode parecer incongruente a princípio, mas logo tudo se encaixa no beat funky comandado por Sam Fogarino, algo não muito comum nos arranjos do Interpol. Em alguns momentos, vemos Paul Banks como um policial que nunca desgruda de seu velho carrão. De longe, ele observa tudo, passivamente, somente se preocupando em descascar e comer uma fruta. Quando toda a confusão parece estar resolvida, chega o anúncio de que a história terá uma continuação…
Someting Changed
Parte dois de uma espécie de curta criado por Van Alpert, este videoclipe dá seguimento à história de “Toni” do ponto exato onde ela parou. Reproduzindo as palavras escritas por Paul Banks, aqui realidade e devaneio convergem. Os dois personagens principais se encontram em uma espécie de estado de sonho, continuando a ser perseguidos inexoravelmente pela figura sinistra vivida pelo vocalista. O que, conjugado com a atmosfera jazzy da canção e algumas imagens estrategicamente borradas durante as cenas, dá um tom de mistério ao clipe. Banks ainda completa: “as vidas dos três estão entrelaçadas em uma nebulosa de medo, retribuição, desejo e desafio”. O final é enigmático e aberto a diferentes interpretações.
Gran Hotel
Quarto single do novo disco, terceiro videoclipe de excelente qualidade lançado em 2022. Apesar de ser somente a oitava das onze faixas de The Other Side Of Make Believe, “Gran Hotel” é uma de se suas canções mais poderosas, justamente por se aproximar daquela sonoridade matadora revelada nos primeiros álbuns. Sob um riff pungente de sua guitarra distorcida e aquela irresistível batida pós-punk, Paul Banks conta, com um discreto sentimento de dilaceração em sua voz, “uma breve história de luto e dor-de-cotovelo de um personagem que ainda está processando uma perda”, como ele mesmo declarou recentemente a respeito da letra. Por isso, o clipe assinado pela cineasta Malia James (mais conhecida pelos fãs do indie rock por ser, desde 2011, a guitarrista da banda Dum Dum Girls) é tão visceral quanto os versos escritos por Banks. O audiovisual começa com uma cena de dor e desespero: a morte de uma mulher no quarto de um hotel e seu companheiro tentando encontrar alguém para lhe ajudar. Aos poucos, a trama vai sendo destrinchada de trás para frente e o espectador acompanha os eventos anteriores ao desfecho trágico para o casal, reservando ao final uma impactante surpresa como a mola propulsora para todo o resto. Dos três músicos, de novo, apenas o frontman aparece no clipe. Ele também está no hotel, acompanhando tudo o que ocorre com os dois protagonistas, porém sem nunca ser notado, tal qual um anjo flanando pelos aposentos. Mas há um certo estranhamento visual nas cenas com Banks, já que tudo parece estar ao reverso. O encerramento, entretanto, desvenda o mistério: foi tudo rodado com ele encenando e cantando a música tocada ao contrário no local, para que no momento da edição ficasse claro que ele, assim como a historinha contada pelas mãos de James, também ficasse de trás para frente.
Fables
Único single do novo disco que não ganhou um videoclipe, mas sim um lyric vídeo. O que também não deixa de ser algo interessante para ser ver/ouvir. Nas imagens, uma vastidão espacial com solo arenoso e crateras, algo que sugere ser a lua. No centro da tela, uma máquina eletrônica com design vintage, algo como um antigo terminal bancário. Tudo preto e branco e bastante hipnótico. A câmera vai pra um lado e pro outro, aproxima-se e distancia-se do objeto, tudo isso enquanto os versos, no canto superior esquerdo da tela, em um design gráfico muito do estiloso, rubro-negro, que lembra o Interpol do primeiro e mais famoso disco e ao mesmo tempo remete à capa do novo trabalho. Ela foi construída a partir de uma jam session feita online, durante o verão crítico da pandemia. Para quem acha que o Interpol sempre soa soturno e cinzento, “Fables” é um bom exemplo do quão alegre a banda também pode ser. Banks se diz muito orgulhoso de ter feito esta música por causa da combinação da letra otimista, a melodia jovial, os licks da guitarra de Daniel Kessler e a bateria de Sam Fogarino evocando o r&b clássico com ligeiros acenos ao hip hop
Oito motivos (entre eles alguns que envolvem o aguardado álbum The Car, que acaba de ser lançado) para não perder os shows dos britânicos no Brasil
Texto por Abonico Smith
Fotos: Divulgação
Se existe um dos nomes mais aguardados pelos fãs brasileiros de indie rock neste fim de ano, ele é o do Arctic Monkeys. Afinal, o grupo liderado pelo guitarrista, vocalista principal e letrista Alex Turner está de volta aos discos e palcos.
Passado um intervalo de quatro anos, o quarteto volta a lançar um novo álbum, The Car, o sétimo trabalho de estúdio da carreira, que chegou oficialmente às lojas físicas e plataformas digitais neste último 21 de outubro. Trazendo como base a divulgação desta coleção de dez novas faixas, Turner, Jamie Cook (guitarra, teclados), Nick O’Mailey (baixo) e Matt Helders (bateria e backingvocals) já estão na estrada desde o verão europeu.
Depois de participarem de um punhado de festivais, o grupo levou a turnê homônima aos Estados Unidos e mais alguns países do Velho Continente antes de chegar à América Latina, onde passa o próximo mês com datas marcadas para Brasil, Paraguai, Chile, Argentina, Peru, Colômbia e México. Em território nacional, o grupo é um dos headliners da primeira noite (5 de novembro) da primeira edição da edição em verde e amarelo do Primavera Sound, em São Paulo, no Distrito Anhembi (outras informações sobre o festival você tem aqui). Na véspera (dia 4), fazem um dos sideshows do Primavera no Rio de Janeiro na Jeneusse Arena. O segundo compromisso (dia 8) será em Curitiba, na Pedreira Paulo Leminski. Em ambas as oportunidades, a atração de abertura ficará por conta dos nova-iorquinos do Interpol, também escalados para o Primavera BR. Mais sobre os ingressos desses dois concertos paralelos você pode encontrar clicando aqui.
Como esquenta dessa nova vinda ao país de uma das mais importantes formações do rock britânico do século 21, o Mondo Bacana preparou oito motivos para você nem sequer pensar em perder a nova passagem do quarteto por aqui.
The Car
O sétimo álbum de estúdio demorou mais do que o previsto para ser apresentado publicamente por conta de uma interrupção forçada pela pandemia da covid-19. Neste caso, porém, o mal veio para o bem Afinal, a banda pode ter um bom tempo de sossego e calma para trabalhar na pós-produção e refinando a sonoridade até chegar com requinte e perfeição ao objetivo inicialmente proposto: fazer dos Arctic Mokeys, em um total de dez faixas, uma grande banda de sonoridade pop orquestral sixtie. Scott Walker, John Barry, Serge Gainsbourg, Burt Bacharach, George Martin… Boas referencias saltam aos ouvidos já durante a primeira audição. Também percebe-se o esmero dos vocais impressos por Alex Turner. Ele canta com estilo, livre, leve e solto. Manda diversos trechos em falsete com aquela segurança que só o tempo é capaz de dar a um grande músico (vale lembrar que aquele garoto-prodígio dos dois primeiros álbuns avassaladores dos Arctic Monkeys já chegou aos 36 anos!). E tem ainda a bela capa clicada pelo baterista Helders, com um automóvel estacionado solitariamente no terraço de um edifício-garagem.
Ao vivo no Kings Theatre
No dia 22 de setembro, os Monkeys estavam em Nova York. Mais precisamente no tradicional e recentemente renovado Kings Theatre, no Brooklyn, para fazer diante de 3 mil espectadores aquela que, até agora, foi a mais luxuosa (e intimista, se contar que era o palco de um teatro e quem viu tudo estava sentado em uma poltrona confortável) apresentação da turnê de The Car. No set list figuraram quatro das dez faixas do novo disco, sendo duas tocadas pela primeira vez ao vivo diante de seus fãs. “There’d Better Be a Mirrorball” fez o trabalho de abertura da noite. Lá pelo meio pintou ainda “Body Paint”, que já havia sido mostrada dias antes, mas desta vez na TV, durante o talk show comandado por Jimmy Fallon. O restante do repertório (18 outras canções) deram uma boa espanada na já extensa trajetória do grupo de Sheffield, com destaque para o mais popular trabalho, AM, de onde foram pinçadas seis faixas. Hits não faltaram, para mostrar que, sim, os Monkeys continuam uma grandiosa banda ao vivo, com muito peso e presença de palco. Entre eles estavam “Do I Wanna Know”, “Arabella”, “R U Mine”, “Why’d You Call Me Only When You’re High?”, “Crying Lightning”, “Brainstorm” e “I Bet You Look Good On The Dancefloor”. De quebra, pintou uma composição que não estava prevista inicialmente no set preparado para a noite (“The Ultracheese”, do álbum anterior Tranquility Base Hotel + Casino). Ficou com vontade de poder ter estado lá e assistido a este concerto de 45 minutos? Então acesse o YouTube da banda neste domingo, 23 de outubro, às 16h no horário de Brasília. O show será transmitido pela banda na íntegra por lá. Não poderá assistir a ele neste horário? Não tem problema também: tudo ficará disponível ali mais um pouco, até o dia 27.
I Ain’t Quite Where I Think I Am
A performance desta nova música do show no Kings Theatre também virou o videoclipe oficial dela. Executada na parte final do set list, a canção ganhou uma aura soul com a combinação entre o vocal estiloso de Turner, o efeito wah wah da sua guitarra, uma percussãozinha discreta e aquela mãozinha poderosa dos backings em falsete feitos por vários músicos no palco. Para completar, a reunião de versos bastante abstratos criados pelo frontman desenham um certo sentimento de entranheza e nao pertencimento durante um passeio pela Riviera francesa com sua namorada também francesa.
There’d Better Be a Mirrorball
Faixa de abertura de The Car e também de boa parte dos shows da nova turnê. Quando tocada ao vivo, com os músicos recém-chegados ao palco, pode até causar estranheza em fãs mais desavisados, esperando uma pancadaria sonora para injetar adrenalina na plateia logo de cara. Só que não. O desafio da trupe de Turner no novo disco é provocar um mergulho retrô pela sofisticação do pop sessentista, quando belas melodias e harmonias bem trabalhadas se encontravam com muitos arranjos de cordas que em muito ainda contribuíam para a riqueza auditiva. Não é diferente em “There’d Better Be a Mirroball”. Com versos que flertam com ares reflexivos provocados pela deparação do protagonista/narrador com uma ambientação de explícita decadência e aquela sonoridade de boate da boca do lixo, a faixa é o cartão de visitas da nova fase do grupo. Portanto, nada melhor do que também começar o concerto com ela, com as cordas disparadas em bases pré-gravadas ou mesmo recriadas em sintetizador. Curiosidade: Alex também assina a direção e a fotografia do videoclipe. As imagens foram todas captadas por ele durante as sessões de gravação do novo disco em Los Angeles, para onde carregou a tiracolo uma câmera de 16mm para também brincar de cineasta dentro do estúdio.
Body Paint
Mais uma faixa de The Car que ganhou videoclipe oficial antes mesmo do disco ter sido lançado oficialmente. Com direção de Brook Linder e imagens captadas entre Londres e Missouri, o clipe é, na verdade, um metaclipe. Mostra os bastidores da filmagem e da edição de um filme e brinca com diversas referências de formas circulares e retilíneas, além de fazer da projeção dentro da projeção um elemento vivo de cena, que comanda por meio de luzes uma determinada linha melódica de um riff ou ainda faz o vocalista se multiplicar em três para cada um deles cantar uma parte do mesmo verso. Os cinéfilos poderão notar a reverência ao cineasta norte-americano Alan J. Pakula (Todos os Homens do Presidente, A Trama, A Escolha de Sofia, Klute: O Passado Condena).
Tranquility Base Hotel + Casino
The Car é um passo além daquele dado pelo grupo há quatro anos, quando relevou ao mundo o surpreendente sexto álbum da carreira. O peso, a urgência e a ansiedade explosiva dos primeiros trabalhos deram lugar, em 2018, a um trabalho muito maduro, que mesclava referências sonoras díspares (entre elas glam, progressivo, jazz e psicodelismo). Certamente The Car não teria sido feito se não tivesse existido Tranquility Base Hotel + Casino – que, inclusive, chegou a abocanhar o Grammy de melhor disco de rock alternativo. Suas duas principais faixas continuam mantidas no novo repertório ao vivo (a música-título e “Four Out Of Five”) e devem ser tocadas para os fãs brasileiros.
505
Favourite Worst Nightmare (lançado em2007), rendeu três grandes hits naquele ano: “Brainstorm”, “Fluorescent Adolescent” e “Teddy Picker”. Quinze anos depois, mais uma faixa daquele trabalho veio a se juntar à mesma galeria de sucessos. Trata-se do final daquele segundo álbum da carreira. “505”, a famosa “última do lado B”, descoberta meses atrás pela geração Z e que viralizou a tal ponto no TikTok que impulsionou a canção, outrora obscura e desconhecida, ao pódio das maiores execuções dos Monkeys no Spotify. O título se refere ao número do quarto do hotel onde está a namorada do narrador/protagonista da canção, que preenche os versos com muita imaginação e os sobrecarrega com pimenta sexual (“In my imagination you’re waiting lying on your side/ With your hands between your thighs”, diz o refrão). Turner, em entrevista ao website britânico NME, diz achar curioso e legítimo o revival intenso da canção por uma geração que ainda era bem criança quando ela foi gravada e fechava os shows da banda na mesma época, mas também confessa ter ficado um tanto quanto confuso sobre o porquê da escolha e da adoração desta faixa. De qualquer modo, ele que não é bobo, já encaixou “505” no repertório desta turnê e em um lugar especial: o encerramento do bis, logo antes de todos os músicos deixarem o palco em definitivo.
Menino-prodígio
Lá em meados dos anos 2000, quando o MySpace bombava entre os fãs de rock e pop como a plataforma de divulgação musical mais democrática e interessante na recente internet 2.0, nomes como Arctic Monkeys, Lily Allen e Cansei de Ser Sexy pegaram muita gente de surpresa ao voarem do quase anonimato para a fama mundial. No caso da banda de Sheffield, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006) entrou para a História como o álbum de estreia de maior vendagem no mercado fonográfico britânico (contabilizou quase 400 mil exemplares somente na primeira semana nas lojas. E mais: lançado por um selo independente chamado Domino, faturou o Brit Awards de melhor álbum da temporada e ainda passou a ser incensado como um dos mais fantásticos primeiros discos de um artista em todos os tempos. Alex Turner era o cérebro por trás de toda essa força-motriz. As faixas empolgavam por conseguirem encaixar um canto falado em um arranjo básico (leia-se guitarra, baixo e bateria) poderoso, urgente e de alto teor de adrenalina. Algo que, guardadas as devidas proporções, não acontecia na ilha da Rainha Elizabeth desde os tempos do punk rock. As letras escritas pelo vocalista também eram fantasticamente criativas e elaboradas, cinematograficamente literárias, com vocabulário rico pouco comum para um jovem de apenas 20 anos. O bom é que tudo isso não se mostrou um fogo-de-palha. Favourite WIrst Nightmare veio no ano seguinte para dar prosseguimento ao grande estilo dos Monkeys. Depois, a banda elaborou o som, adotando mais peso e sujeira em discos como Humbug e AM, seu álbum mais popular até hoje. As letras escritas por Turner – ainda bem – continuaram com o sarrafo sendo posto lá em cima, ajudando o quarteto a se tornar uma das maiores bandas britânicas deste século 21. E tudo isso sem contar os projetos paralelos do rapaz, como a trilha sonora do filme Submarine e o Last Shadow Puppets, formação criada ao lado de Miles Kane ex-Rascals) e o produtor James Ford (nome seminal do indie disco dos anos 2000, membro do cultuado Simian Mobile Disco, produtor de todos os álbuns dos Monkeys e que já trabalho com gente do quilate de Depeche Mode, Gorillaz, Haim, Foals, Beth Ditto, Peaches, Florence & The Machine, Little Boots, Mumford and Sons, Kalxons, Kylie Minogue e Jessie Ware)