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BlackBerry

A história de ascensão e queda do primeiro smartphone, badaladíssimo símbolo de status social que não tardou a ser “apagado da História”

Texto por Tais Zago

Foto: Diamond/Divulgação

No início dos anos 2000 um dos símbolos mais importantes de status era possuir um BlackBerry, um aparelho “mágico” que uniu e-mail, agenda pessoal e telefonia em um só telefone. Todo executivo, artista, vip ou algo afim se deixava fotografar com o seu em punho. Afinal, o BlackBerry chegou para eliminar de vez o mercado dos pagers e dos organizers como os da famosa Palm.

Agora vc tem o filme BlackBerry (Canadá, 2023 – Diamond), que já estreou nos cinemas brasileiros. Ele nos conta a ascensão e a queda do império do aparelho e da sua criadora, a empresa canadense Research in Motion. Com sede em Waterloo, em Ontário, a RIM tornou-se conhecida por seus smartphones de nome BlackBerry, o primeiro dispositivo dessa nova classe a atingir o mercado internacional. Os fundadores e melhores amigos Mike Lazaridis e Douglas Fregin, assim como o empresário Jim Balsillie, foram responsáveis por tornar a esquecida região de Waterloo o equivalente canadense ao Vale do Silício dos Estados Unidos. O nome (que significa “amora” em português) remetia aos botões pretos do teclado do telefone que foi, por alguns anos no início do século 21, onipresente no mercado de telefonia celular. Ao ponto de até o então presidente Barack Obama ser abertamente um fã do aparelho. 

Como nada é perene no universo da tecnologia, a introdução do iPhone da Apple em 2007 acabou se revelando uma espécie de sentença de morte para o BlackBerry e os CEO’s Mike e Douglas. Por alguns anos ainda houve uma batalha entre BlackBerry e iPhone pela liderança no mercado, porém o dispositivo da Apple, com suas inovações e o surgimento de outros concorrentes, acabou por destruir o reinado da amora canadense. Juntando-se a isso, a empresa ainda se envolveu em várias disputas legais que minaram a credibilidade de sua clientela e terminou em processos e multas milionários.

Esse pequeno resumo do histórico da RIM e do BlackBerry não chega a ser um spoiler – as disputas e revezes sofridos pelo BlackBerry tomaram grande espaço na mídia mundial nos anos 2000 e são contadas também no livro Losing the Signal: The Untold Story Behind The Extraordinary Rise and Spectacular Fall of BlackBerry (2016), dos jornalistas Jacquie Mcnish e Sean Silcoff. Mas certamente o nome BlackBerry é pouco reconhecido pela geração z (pessoas nascidas após os anos 2000), que cresceu praticamente na era do touch screen de tablets e smartphones.

O diretor, roteirista e ator Matt Johnson baseou-se um pouco na obra de Mcnish e Silcoff e transformou o filme em um pedaço da história pop da tecnologia e da cultura do final dos anos 1990. Vemos isso claramente nos cenários, carros, figurinos, música e até mesmo em gírias e atitudes do universo nerd da época. BlackBerrytambém é filmado no estilo documental, com desfocagens em close ups extremos e bastante movimentos de câmera de mão. Um estilo de filmagem que marcou bastante a primeira década dos anos 2000 com obras como a série The Office (2005). Honrando essa escolha estética, vemos um bando de nerds com péssimas perucas (ou melhor, carecas) atuando em uma comedia de erros. Ou melhor, de tentativas e erros.

No elenco temos Jay Baruchel (da turma dos comediantes do entorno de Seth Rogen e Jonah Hill) interpretando Mike Lazaridis, a grande mente pensante por trás do BlackBerry e co-CEO da empresa. Sua interpretação deixa um pouco a desejar, tanto nos momentos de humor quanto no drama. Baruchel parece não se entregar de verdade ao papel de Mike não atribuindo a essa muita profundidade. Já Glenn Howerton como o outro CEO Jim Balsillie faz um primoroso trabalho, tão enervante e engraçado quanto a sua péssima careca fake. O diretor Matt Johnson também assume o papel de ator na produção. No caso, interpreta o melhor amigo e parceiro de vida e negócios de Mike, Doug Fregin. Sua função é claramente ser o comic relief do filme. Isso ele assume bem.

Tendo em vista o budget do filme, algo em torno dos 5 milhões de dólares, essa pequena produção com cara de independente onde nenhum dos personagens é totalmente bom ou ruim (o que nos aproxima ainda mais da realidade dos fatos!) acaba nos convencendo e entretendo mesmo com suas pequenas falhas. Apenas o final deixou um pouco a desejar, parecendo acelerado e preguiçoso (seria, talvez, a culpa do baixo orçamento?). Não saberemos com certeza, mas fato é que o encerramento nos créditos com informações sobre o destino de seus personagens se tornou essencial para o fechamento da obra.

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