Grupo de quarentões não mede esforços para manter viva anualmente a brincadeira de pega-pega da infância
Texto por Abonico R. Smith
Foto: Warner/Divulgação
Te Peguei! (Tag, EUA, 2018 – Warner) é um filme que já nasceu para ser bobo. Bobo no sentido mais literal do termo Afinal o que esperar de um grupo de quarentões que faz questão de, sempre que chega o mês de maio, deixar em plano secundário todo o resto de suas vidas para cultivar um velho hábito de infância: brincar de pega-pega. Sim, aquela brincadeira em que todos saem correndo de uma pessoa e quem for tocado por ela é aquele que precisa correr atrás dos outros para reverter a situação e dar o “está com você” a qualquer outro. Como um desses amigos resume a certa altura da história, é um jogo onde não há vencedores, somente um perdedor.
Hoagie, Bob, Chili e Reggie formam este grupo de velhos amigos ao lado de Jerry – todos morando em uma cidade diferente depois da vida adulta. O último, porém, tem uma grande vantagem neste quinteto: ninguém nunca conseguiu alcançá-lo. Jerry tem como trunfos rapidez, astúcia, inteligência, habilidades físicas e um grande reflexo para se livrar de todos nem que seja atirando na direção contrária o que estiver pela frente. E é justamente em torno deste fato que gira o filme. Não importa quem tem de pegar os outros. Agora são os quatro que vão à caça do amigo invicto. Custe o que custar. Nem que seja atrapalhando todo o planejamento do casamento dele. E pior: carregando junto uma jornalista do The Wall Street Journal, louca para contar aos leitores uma história tão absurda como esta.
Por isso este é um filme bobo. Não é spoiler nenhum dizer que não existe qualquer empecilho (dinheiro, viagens, vexame em público, invasão de propriedade, vandalismo) para, apenas, a manutenção de um hedonismo infantil. Contudo, não significa que Te Peguei! seja uma comédia rasa e de baixa qualidade. Pelo contrário. O roteiro entrega de vem em quando situações e tiradas bem engraçadas. A edição frenética e muitas vezes utilizando o recurso da câmera superlenta (aquela em que cada milésimo de segundo é expandido, gerando maior dramaticidade a gestos, expressões e detalhes que seriam visualmente imperceptíveis em uma cena) também corrobora para o deleite do espectador.
Com experientes atores vindos de seriados de humor (como Ed Helms e Jake Johnson) e atrizes emergentes em Hollywood fazendo com que suas personagens acabem tomando a mesma força e importância que os homens nesta história (Isla Fischer, Annabelle Wallis, Leslie Bibb), Te Peguei! reforça a ideia de que um produto entretenimento pode, sim, carregar sagacidade, criatividade e humor inteligente. Nem que seja para mostrar um monte de marmanjo gastando seu tempo e energia em uma bobeira só.
Detalhe: o roteiro é inspirado em uma história real contada em uma reportagem publicada pelo mesmo The Wall Street Journal alguns anos atrás.