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A Mula

Clint Eastwood cria mais uma peça de entretenimento machista e racista numa época em que estas não são mais prestigiadas

a mula

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Warner/Divulgação

A eterna face do spamghetti western construiu uma sólida carreira como diretor ao longo das décadas. Premiado pelo Oscar, como em Menina de Ouro, Eastwood é inconstante, ora dirigindo ótimos trabalhos, ora dirigindo obras como A Mula (The Mule, EUA, 2018 – Warner).

O filme retrata a história (baseada na história de Leo Sharp) de Earl Stone, um floricultor cuja empresa faliu e que, para ajudar a pagar pelo casamento da neta, começa a transportar carregamentos de drogas para um cartel mexicano. Paralelamente, um promissor detetive, Bradley Cooper (o mesmo de Nasce Uma Estrela), investiga o cartel e caça Stone, batizado de Tata pelo cartel. O roteiro, de Sam Dolnick (estreante) e Nick Schenk (que fez Gran Torino, também dirigido por Eastwood), busca envolver o espectador em uma narrativa na qual o veterano de guerra é um homem bondoso, mas falha repetidas vezes.

A trama envolvendo sua família, interpretada pelas limitadas Taissa Farmiga, Alison Eastwood (filha de Clint) e Dianne West é rasa e extremamente mal escrita, repetindo-se de maneira desleixada. As incursões óbvias retratando Earl parar seu trajeto para ajudar uma família negra e um grupo de motociclistas lésbicas não adicionam nada além de camadas de racismo e uma pitada de LGBTfobia à trama. Paralelamente, existem cenas de Earl deliberadamente enganando policiais, sem o menor pesar.

Desta forma, a direção convencional de Eastwood, que não comanda o filme com fortes decisões estilísticas, apenas evidencia a fraqueza existente nos diálogos. É difícil avaliar a atuação de certos atores cujo tempo de tela é minúsculo, como Laurence Fishburne e Andy Garcia. Por outro lado, A Mula prova que Bradley Cooper, uma das estrelas em ascensão de Hollywood, ainda precisa maturar. O texto pobre e a direção desleixada transformam Cooper, nome com potencial, em um ator qualquer. O mesmo ocorre com Michael Peña, que interpreta seu assistente.

As piores atuações, sem sombra de dúvidas, vêm da fração do elenco de origem chicana. Alçados por um texto caricato, mesclando o inglês com o espanhol de forma irreal, nenhum dos atores (não existem atrizes mexicanas no filme) apresenta um personagem verossímil, não passando de “mexicanos maus”.

Já trilha sonora de Arturo Sandoval não adiciona camadas ao filme, mas a utilização de músicas consagradas de décadas atrás constrói alguns poucos momentos de humor.

Desta forma, argumento e direção ressaltam a crença política de Eastwood, ferrenho republicano que até já se elegeu prefeito pelo partido, desenvolvendo um filme racista, homofóbico e machista (vide uma assombrosa cena em que a câmera foca repetidas vezes nas bundas das mulheres de biquíni na festa do cartel, mais caricata impossível), cujo desenvolvimento de personagens e trama é raso demais para entreter o espectador.

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