Acordar com a notícia da morte de um gigante como Ivan Conti (Mamão) não é pra qualquer um. E foi exatamente o que aconteceu hoje, em meio a mensagens emocionadas de sua esposa Sandra e de sua gravadora, a Far Out Recordings, colocando-o como um dos maiores bateristas de todos os tempos. Não é exagero, visto que Mamão foi um dos arquitetos da fusão do samba-jazz com o funk e, a partir daí, com uma vastidão de possibilidades estéticas que vieram na segunda metade dos anos 1970. Até então, ele já fizera parte de vários conjuntos e, junto com Alex Malheiros e José Roberto Bertrami, integrava o Azymuth desde 1968. Cinco anos depois, a banda estrearia em disco com O Fabuloso Fittipaldi, acompanhando Marcos Valle.
Os músicos do Azymuth eram muito requisitados para tocar em álbuns de outros artistas, de Erasmo Carlos a Raul Seixas. Apesar do sucesso nacional que tiveram em 1975, quando “Linha do Horizonte” se tornou hit por conta da trilha sonora da novela Cuca Legal, o grupo demorou para ser reconhecido por aqui. Precisou chegar aos anos 1990 para que a cena dos clubes ingleses enxergasse o brilhantismo dos álbuns que a banda continuou a gravar durante as décadas de 1970 e 1980 para que o trio ganhasse notoriedade por lá e, num movimento “de fora pra dentro”, ser valorizado por aqui. O Azymuth vinha produzindo álbuns com regularidade nos últimos anos, mesmo após a morte de José Roberto Bertrami em 2012, tendo chamado Kiko Continentino para assumir suas funções. O próprio Mamão chegou a gravar, também pela Far Out Recordings, um belo álbum solo em 2019, chamado Poison Fruit, no qual seus companheiros de banda tocam todos os instrumentos.
No ano passado, o baterista participou do show de Marcelo D2 no festival MITA e se apresentou com sua banda aqui no país e lá fora. O Azymuth, agora, preparava-se para uma turnê mundial de comemoração dos 50 anos da banda. Faria um concerto no Blue Note de São Paulo no próximo dia 24 de abril.
Mamão era ótima praça, talentosíssimo e cheio de vida. Vai fazer falta aqui neste mundo cada vez menos povoados por seres como ele. Obrigado, meu caro.
Homenagem ao autor de dezenas canções que viraram inesquecíveis clássicos da música pop do século 20
Textos por Abonico R. Smith
Foto de Leandro Delmonico/Mondo Bacana (show em Curitiba) e reprodução (com os oscars)
O final da manhã desta quinta-feira, dia 9 de fevereiro, trouxe a notícia de mais uma perda de um integrante estelar na história da música pop do século 20 nessas intensas semanas dos últimos três meses. Depois de Terry Hall (Specials), Thom Bell (produtor, criador do Philadelphia soul), Tim Stewart (cofundador da Stax), Vivienne Westwood (estilista, mentora do visual dos Sex Pistols), Alan Rankine (Associates), David Crosby (Byrds, Crosby Stills & Nash/Crosby Stills Nash & Young), Jeff Beck (Jeff Beck Group, Yardbirds) e Tom Verlaine (Television), chegou a vez deste plano espiritual se despedir de Burt Bacharach. O maestro, pianista, arranjador, compositor e cantor faleceu de causas naturais, aos 94 anos de idade, em Los Angeles, onde morava.
Bacharach e seu parceiro e letrista Hal David criaram centenas de canções a partir do final dos anos 1950 que os colocaram no panteão dos grandes times de compositores da música em todos os tempos. Em popularidade, talvez só tenham rivalizado com John Lennon e Paul McCartney.
Para homenagear este magistral artista, o Mondo Bacana reposta uma resenha de uma década atrás, que analisa como foi o concerto realizado por ele em terras curitibanas, durante sua última passagem pelo Brasil, em abril de 2013. Aqui estão descritos todos os porquês de sua genialidade, que residirá para sempre no inconsciente coletivo do cancioneiro internacional.
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>> Texto originalmente publicado pelo Mondo Bacana em abril de 2013
Burt Bacharach – ao vivo
O roteirista Charlie Kaufman escreveu o filme Being John Malkovich (1999), no qual se descobria um portal que levava para dentro da mente de um dos mais cultuados diretores e produtores das últimas décadas do cinema dos EUA. No fim da noite daquela terça-feira 16 de abril de 2013 muita gente deve ter saído do Teatro Positivo, em Curitiba, querendo achar uma entrada secreta para a cabeça de outro ícone do entretenimento americano: o maestro e pianista e arranjador e compositor e cantor Burt Bacharach.
Ele é um dos grandes gênios da canção do século 20. Entre as décadas de 1960 e 1980, compôs quase uma centena de músicas capazes de grudar no cérebro humano como um chiclete e de lá nunca mais sair em tempo algum. São melodias, riffs e letras (grande parte delas sobre o amor e suas variáveis) que qualquer pessoa que tenha prazer em ouvir música popular já escutou por aí na vida e nunca mais conseguiu se esquecer. Não adianta. Estão lá, guardadas em algum cantinho. Em algum momento você vai acabar se lembrando disso. Mesmo que não saiba quem é Burt Bacharach e que quem criou foi ele.
Burt está hoje com 84 anos de idade. Muito lúcido e surpreendentemente ainda na ativa. Não só viajando pelo mundo para apresentar ao vivo suas grandes criações. Mas ainda compondo, arranjando e gravando obras inéditas, como o musical Some Lovers, que estreou em um teatro de San Diego no ano passado. Atualmente ele trabalha ao lado do fã e discípulo Elvis Costello, um dos grandes nomes revelados durante a explosão do punk rock inglês na segunda metade dos anos 1970.
Curitiba foi a primeira das três cidades a receber a nova passagem de Bacharch pelo Brasil. Na capital paranaense, o show foi um pouco mais curto do que no Rio e em SP, já que o maestro chegara pouco tempo antes. Ele mesmo brincou a respeito disso em uma de suas conversas dirigidas à plateia: “música é bom para tudo nesta vida, até mesmo para fazer passar o jet leg”. Mesmo assim, o que se viu foi uma inacreditável sequência de 31 canções, quase todas com extremo poder para seduzir imediatamente quem as ouve. Afinal, não se cria à toa uma extensa coleção de prêmios como o Grammy (seis), Emmy (um), Globo de Ouro (dois) e Oscar (três).
À frente de sua competente banda de apoio formada por sete outros músicos e três vocalistas, o set list foi daqueles de deixar o espectador sem fôlego. Uma porrada atrás da outra, sempre com socos fortes e muitas vezes sem interrupção, chegando a emendar várias canções em um mesmo medley. Burt ainda pode se dar ao luxo de interpretar seus greatest hits não por inteiro, mas apenas através de seus trechos mais marcantes. E é impressionante também a precisão da distribuição dos instrumentos nos arranjos. O piano e os teclados cumprem o lado harmônico (vale lembrar que não há a presença das cordas da guitarra ou do violão) e o flugelhorn (sopro da família dos metais de trompetes) acaba sendo bastante privilegiado durante a execução de muitos riffs. Bateria e baixo assumem escancaradamente a função de cozinha e dão a cama rítmica que passeia entre a bossa nova, o rock, o jazz e outros grooves derivados dos negros norte-americanos.
No meio de tudo isso, Burt se concentra tanto em cada música que ele entra no espírito de cada uma dela durante a interpretação. E quando o momento é só seu, tocando piano e cantando sem qualquer acompanhamento como em “Alfie”, ele eleva o transe à plateia, que fica enfeitiçada e em silêncio absoluto só para curtir as emoções da viagem particular do astro da noite.
Este arsenal de hits planetários que ficaram célebres nas vozes de cantores como Dionne Warwick (sua principal e mais conhecida intérprete até hoje), Aretha Franklin, Dusty Springfield, Tom Jones, Walker Brothers, BJ Thomas, Barbra Streisand, Whte Stripes e Carpenters (e os Beatles!) ou trilhas sonoras de filmes de sucesso produzidos em Hollywood (Butch Cassidy & Sundance Kid; Alfie; Arthur, o Milionário; O que é que há, Gatinha?) foi quase todo assinado em parceria com o letrista Hal David, falecido em setembro de 2012, aos 91 anos de idade. Iniciada em 1957, a alquimia entre Hal e Burt se transformou em uma das mais bem-sucedidas crias do Brill Building, prédio nova-iorquino no qual compositores batiam ponto diariamente como trabalhadores e tinham como função a criação de obras musicais inéditas para serem gravadas, ali mesmo, por diversos cantores e grupos de pop e rock do final das décadas de 1950 e 1960.
Isso explica toda a classe e maestria das composições de Bacharach: o trabalho apurado de lapidação autoral e a adoção de uma rotina de labuta constante em busca da melhor resolução musical entre acordes, melodias e palavras para se encaixar na métrica. Ele diz que pensa em música em todas as horas e já criou hits até quando estava no trânsito. Deve ser mesmo algo fenomenal descobrir o que se passa – e o que já se passou nas últimas seis décadas – dentro de sua cabeça.
Set List: “What The World Need Now Is Love”, “Don’t Make Me Over”, “Walk On By”, “This Guy Is In Love With You”, “Save A Little Prayer”, “Tranis & Boats & Plains”, “Wishin’ & Hopin’”, “Always Something To Remind Of”, “One Less Bell To Answer”, “I’ll Never Fall In Love Again”, “Only Love Can Break A Heart”, “Do You Know The Way To San José?”, “Anyone Who Had A Heart”, “I Don’t Know What To Do With Myself”, “Waiting For Charlie To Come Home”, “My Little Red Book”, “(They Long To Be) Close To You”, “The Look Of Love”, “Arthur’s Theme”, “What´s New, Pussycat?”, “The April Fools”, “Raindrops Keep Fallin’ On My Head”, “The Man Who Shot Valance”, “Making Love”, “Wives And Lovers”, “Alfie”, “A House Is Not A Home”, “That’s What Friends Are For”. Bis: “Every Other Hour”, “Hush”, “Any Day Now” e “Raindrops Keep Fallin’ On My Head”.
Sessenta curiosidades para celebrar a trajetória de 60 anos do agente secreto britânico James Bond nas telas de cinema
Texto por Carolina Genez
Fotos: Divulgação
Seja pelo visual sempre memorável, pela trilhas sonoras marcantes ou pelas aventuras eletrizantes todo mundo conhece Bond, James Bond. Muito popular, o espião mais famoso da história do cinema já foi interpretado por um seleto grupo de seis atores.
Como neste ano de 2022 James Bond completa seis décadas de chegada às grandes telas, o Mondo Bacana elaborou 60 curiosidades que marcaram esta trajetória de sucesso de bilheterias e culto mundial que perpassa gerações e permanece cristalizado até hoje.
Ian Fleming
>> Apesar de sua estreia no cinema ter sido em 1962 em 007 Contra o Satânico Dr. No, o personagem foi criado em 1953 pelo militar, jornalista e escritor britânico Ian Fleming. Sua primeira aparição foi no livro Casino Royale.
>> Apesar de ser um personagem fictício, de fato existiu um James Bond na vida real. Fleming encontrou inspiração para o nome do agente em um livro de pássaros escrito por um ornitólogo chamado… James Bond.
>> Assim como 007, Ian Fleming também foi um espião naval durante a Segunda Guerra Mundial.
007 Contra o Satânico Dr. No (1962)
>> 007 Contra O Satânico Dr. No não era bem uma opção dos produtores para dar o pontapé inicial na história cinematográfica de James Bond. O filme foi escolhido para ser a primeira adaptação porque os sócios Albert Broccoli e Harry Saltzman, que fundaram em 1961 a companhia Eon Productions, não possuíam os direitos do livro Casino Royale. Como outras histórias ou faziam parte de uma disputa judicial ou eram muito caras para serem gravadas, Dr. No (o título original, em inglês) parecia ser a melhor decisão.
>> Desde 1962 já foram lançados nos cinemas 25 filmes do agente. Isto se for contabilizada somente a lista das produções da Eon. Existem ainda outras duas produções “não oficiais” (isto é, não bancadas pela empresa criada por Broccoli e Saltzman).
>> Casino Royale (1967) e 007 – Nunca Mais Outra Vez (1983) são os títulos fariam o número subir para 27. Na primeira, Bond (interpretado por David Niven) é tirado de sua aposentadoria para mergulhar no mundo dos cassinos de Mônaco. Sua missão é derrotar um de seus mais tradicionais inimigos, Le Chiffre (Orson Welles). No outro, com Sean Connery de volta ao papel principal, o protagonista rivaliza com membros e cabeças da Spectre. Detalhe: Um ainda iniciante e desconhecido Woody Allen está no elenco de Casino Royale.
Moscou Contra 007 (1963)
>> O papel de 007 já foi interpretado por seis diferentes atores nas produções oficiais: Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig.
>> Doze diretores já assinaram a direção dos filmes da Eon: Terence Young, Guy Hamilton, Lewis Gilbert, Peter R. Hunt, John Glen, Martin Campbell, Roger Spottiswoode, Michael Apted, Lee Tamahori, Marc Forster, Sam Mendes e Cari Joji Fukunaga.
>> John Glen é o cineasta que mais dirigiu filmes do espião britânico. São cinco no currículo.
>> Apesar de ainda não ter feito uma história de James Bond, Steven Spielberg é fã declarado do agente secreto. A série de filmes protagonizada pelo personagem Indiana Jones é uma homenagem ao espião. Já em Tubarão (1975), há cenas inspiradas em 007 Contra a Chantagem Atômica (1965).
>> Para agradecer e retribuir a homenagem de Spielberg, os roteiristas de Bond batizaram de Jaws (título original de Tubarão) o vilão de dentes de aço de 007 – O Espião que me Amava (1977). No filme, o personagem ainda mata um tubarão a dentadas.
007 Contra Goldfinger (1964)
>> O título de maior bilheteria da saga até hoje é 007 Operação Skyfall (2012). Com direção de Sam Mendes, o longa arrecadou mais de um bilhão de dólares e ainda se destacou no Oscar ao arrebatar duas estatuetas, nas categorias mixagem de som e canção original.
>> Por falar em Oscar, 007 – Sem Tempo Para Morrer (2021) é o terceiro título da franquia a levar o Oscar na categoria canção original, com “No Time to Die”, na voz de Billie Eilish, neste ano. Em 2013, Adele levou o troféu com “Skyfall”, tema de 007 Operação Skyfall (2012). Já 007 Contra Spectre (2015) foi embalado por “Writing’s On The Wall”, de Sam Smith, vencedor do ano seguinte. Detalhe é que as estatuetas foram ganhas pelas últimas três produções, lançadas nos últimos dez anos apenas.
>> Apesar de nem todas as músicas terem sido premiadas com o Oscar, os temas dos filmes da série são disputados entre os artistas do momento. Já gravaram canções de 007 nomes como Paul McCartney, A-ha, Shirley Bassey, Tom Jones, Lulu, Tina Turner, Madonna, Garbage, Nancy Sinatra, Duran Duran, Sheryl Crow e Carly Simon. No serviço de streaming Amazon Prime, por sinal, está disponível um documentário em torno da criação de várias destas famosas canções feitas e gravadas para cada filme. Chama-se As Músicas de 007.
007 Contra a Chantagem Atômica (1965)
>> Já a tão famosa música-tema de James Bond foi composta por Monty Norman. Entretanto, a cara definitiva dela foi dada pelo maestro John Barry, junto aos músicos de sua banda, que misturava rock e jazz. A música vendeu mais de 25 milhões de discos e está presente em todos os filmes da série. Em As Músicas de 007, toda a sua concepção é dissecada também.
>> Outra marca registrada dos filmes do agente são as bond girls. Em 25 produções, a franquia já apresentou quase 60 delas. A mais famosa delas é a suíça Ursula Andress.
>> Apesar da saga contar com muitas mulheres, foi apenas no mais recente longa que uma mulher ocupou o papel do agente. A personagem interpretada pela atriz Lashana Lynch assume o codinome 007 durante a aposentadoria do astro da espionagem, no início de 007 – Sem Tempo Para Morrer (2021).
>> Ainda sobre as bond girls, apenas duas atrizes reprisaram seus papéis: Eunice Gayson e Léa Seydoux.
Com 007 só se Vive Duas Vezes (1967)
>> Desde o primeiro filme da saga, James Bond também é lembrado pelo seu famoso drink: um martini batido (e não mexido) com vodka (e não gim). O pedido do agente foi tão marcante que fez a popularidade do gim cair.
>> Mais de 45 carros já passaram pelas mãos de James Bond. O mais famoso deles é um Aston Martin DB5, utilizado em 007 Contra Goldfinger (1964). O automóvel era equipado com traquitanas nada usuais sobre quatro rodas, como assento ejetor e metralhadoras.
>> A frase “Meu nome é Bond, James Bond” é uma das mais conhecidas da história do cinema. Ela foi dita pela primeira vez já no primeiro filme, aos 5 minutos e 38 segundos de 007 Contra o Satânico Dr. No (1962).
007 A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969)
>> É necessária muita vontade para viver o agente britânico nas telas. Por conta das locações em diversas partes do mundo e das muitas cenas de ação, as jornadas diárias de trabalho dos protagonistas duram em média 14 horas.
>> Tendo arrecadado mais de 12 bilhões de dólares, 007 é a série de filmes mais lucrativa da história do cinema.
>> James Bond foi eleito o maior herói de Hollywood pela Entertainment Weekly em 2009. O segundo lugar ficou com Indiana Jones e o terceiro com o Homem-Aranha.
>> James Bond não é o único agente da MI-6. O codinome 007 se refere a um seleto grupo de agentes 00, onde cada zero significava inicialmente o número de mortes necessárias para se tornar um espião.
>> A designação 00 também significa (a partir do terceiro livro, 007 Contra o Foguete da Morte, publicado em 1955) que o agente possui a “licença para matar” concedida pela rainha da Inglaterra.
>> Somando todos os filmes, James Bond já matou mais de 600 pessoas.
Com 007 Viva e Deixe Morrer(1973)
>> Inicialmente Ian Fleming, via como o filme perfeito do 007 uma produção dirigida por Alfred Hitchcock e estrelada por Cary Grant. Entretanto, o escritor mudou de ideia quando viu Sean Connery em 007 Contra o Satânico Dr. No (1962).
>> Entre os atores que protagonizaram os filmes de 007, apenas Daniel Craig e Roger Moore eram, de fato, ingleses. Pierce Brosnan é irlandês. Sean Connery, escocês. Timothy Dalton veio do País de Gales. Já George Lazenby era australiano.
>> Um dos filmes de James Bond tem uma cena realizada no Brasil. Em 007 Contra o Foguete da Morte (1979), Roger Moore veio ao Brasil rodar o filme. A cena de ação tem o bondinho do Pão de Açúcar como cenário.
007 Contra o Fogeuete da Morte (1979)
>> Sean Connery quase foi morto durante a gravação de uma cena de perseguição com um helicóptero em Moscou Contra 007 (1963). O piloto era inexperiente e voou baixo demais.
>> Assim como o agente secreto, Connery também fez parte da marinha britânica. O ator se alistou aos 16 anos mas precisou se afastar por conta de problemas de saúde
>> O ator que primeiro fez 007 nos cinemas passou 12 anos sem interpretar o papel. Ausente desde 1971, retornou em 1983, em 007 – Nunca Mais Outra Vez, o tal filme que não era da Eon. Foi convencido por sua esposa a retomar o papel que o fizera famoso no cinema.
007 Somente Para Seus Olhos(1981)
>> Sean Connery foi consagrado como sir em 2000, quando tornou-se um dos cavaleiros da Rainha Elizabeth II pelos serviços pelo cinema e pelas artes.
>> Sua performance como James Bond foi ranqueada em quinto lugar na lista dos 100 maiores personagens de todos os tempos elaborada pela revista francesa Première.
007 – Permissão Para Matar(1989)
>> George Lazenby participou de um único filme da franquia, 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade(1969). Isso ocorreu durante um breve período de ausência de Sean Connery.
>> Durante o filme, Lazenby acusou seu par romântico, Diana Rigg, de comer alho propositadamente antes de atuarem juntos em cenas de amor.
>> O australiano desejava fazer as próprias cenas de ação sem uso de dublês, porém o estúdio era contra. Um dia foi permitido que ele fizesse uma das cenas de acrobacia. O ator quebrou o braço, o que atrasou as filmagens.
>> Lazenby foi convidado para uma sequência, porém recusou. Acreditava que o agente secreto britânico se tornaria um anacronismo em plena era de Woodstock.
>> Além de um filme de 007, George fez outra aparição como um agente britânico secreto no telefilme A Volta do Agente da UNCLE (1983), que tinha como base uma popular série também de TV. Seu personagem é chamado de JB, que poderia significar James Bond. Neste longa, ele também diz o famoso bordão “batido, não mexido”.
007 Contra GoldenEye (1995)
>> Era para Roger Moore interpretar o agente britânico mais cedo. Ian Fleming queria o ator desde o primeiro filme, porém ele não pode aceitar por estar envolvido com a série O Santo (1962-1969).
>> Em um intervalo de 12 anos (1973-1985), Roger Moore atuou em sete filmes do agente britânico. É o ator que mais participou de filmes da Eon como James Bond, superando por um título Sean Connery.
>> Claro que com todo este tempo interpretando o agente secreto, Moore saiu com algumas marcas. Em Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973), quebrou um dente em uma cena de perseguição em uma lancha. Em 007 Contra Octopussy (1983), cortou a mão e deslocou um ombro.
>> Os contratos de Roger incluíam uma cláusula que garantia a ele um suprimento ilimitado de cigarros da marca Monte Cristo.
>> Moore também achava que corria de forma esquisita. Por isso, precisou de dublês para todas as cenas em que seu personagem aparece correndo.
007 – Casino Royale (2006)
>> Timothy Dalton fez dois filmes como James Bond: 007 Marcado Para a Morte (1987) e 007 – Permissão Para Matar (1989). Ele deveria estrelar um terceiro título. Porém, por conta de problemas com o roteiro e a produção, ocorreu um intervalo gigante até o próximo filme. Quando finalmente começaram a produzir 007 Contra GoldenEye (lançado em 1985), o ator abriu mão do papel.
>> Dalton incorporou um James Bond mais humano, realista e condizente com os livros de Ian Fleming
>> Seu Bond foi o último a fumar nas telas.
>> Os filmes de Dalton foram gravados no auge da epidemia de aids. Por isso, o ator sugeriu que James Bond tivesse apenas um relacionamento. A ideia foi acatada e assim a relação teve ares mais românticos do que nos filmes anteriores.
>> Segundo o galês, seus filmes favoritos do agente secreto britânico são: 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), Moscou Contra 007 (1963) e 007 Contra Goldfinger (1964). A justificativa é de serem mais parecidos com os livros de Fleming.
007 Operação Skyfall(2012)
>> Pierce Brosnan interpretou James Bond entre 1995 e 2002. Durante esse período, o ator foi liberado para participar de outras produções. A única restrição era quanto ao uso em cena de um smoking.
>>007 Contra GoldenEye (1985) termina com o saldo final de 47 mortos, fazendo deste o filme um dos mais letais da franquia. O James Bond de Brosnan também é o mais assassino de todos. O ator matou 135 pessoas durante sua trajetória como o agente britânico.
>> O primeiro convite para ele atuar como James Bond veio por causa de sua primeira mulher, a atriz Cassandra Harris, que atuou em 007 – Somente Para Seus Olhos (1981), ao lado de Roger Moore. Brosnan foi visitá-la no set deste filme e o produtor ficou encantado com o ator. “Se este cara souber atuar, ele é meu próximo Bond”, disse Broccoli.
>> Pierce Brosnan foi convidado, então, para substituir Moore. Ele, porém, não pode aceitar o papel na época por estar atuando na série Jogo Duplo.
>> Além de seu salário, Brosnan recebeu um carro por cada filme.
007 Contra Spectre (2015)
>> A escolha de Daniel Craig para interpretar Bond foi polêmica já que ele é loiro, enquanto James Bond é tradicionalmente moreno. Além disso, o ator nasceu seis anos depois da estreia do primeiro filme da série.
>> Na primeira cena de luta de Casino Royale (a versão de 2006, já com os direitos adquiridos pela Eon), Craig levou um soco e perdeu dois dentes.
>> A era Daniel Craig se diverge das outras, já que pela primeira vez há uma trajetória completa, formando uma sequência, uma história coesa. Os filmes anteriores, embora fossem com o mesmo ator fazendo o papel de James Bond, sempre se revelavam aventuras independentes umas das outras.
>> Daniel Craig foi o ator que deteve por mais tempo o posto de 007: foi uma década e meia entre os lançamentos de Casino Royale (2006) e de 007 Sem Tempo Para Morrer (2021). Inclusive, a marinha britânica chegou até a dar ao ator o título de comandante honorário, a mesma patente do agente nos filmes.
>> Daniel Craig é o James Bond que mais bebe em toda a trajetória do personagem nos cinemas.
Oito motivos que confirmam a suprema importância da cantora na história da música popular brasileira das últimas décadas
Texto por Abonico Smith
Fotos: Reprodução/Divulgação
O país todo foi pego de surpresa com a notícia da morte de Maria da Graça Costa Penna Burgos na manhã desta quarta-feira, 9 de novembro. Gal Costa faleceu aos 77 anos, em sua casa, na cidade de São Paulo. A causa não foi revelada pela sua assessoria, mas sabe-se que a cantora estava se recuperando de uma recente cirurgia para a retirada de um nódulo na fossa nasal direita. Por conta disso, cancelara seus compromissos oficiais neste mês, como uma passagem pela Europa com a turnê As Várias Pontas de uma Estrela (na qual relembrava grandes sucessos da MPB dos anos 1980) e a participação no festival Primavera Sound São Paulo, realizado no último final de semana.
A voz tamanha de Gal Costa fazia muita gente creditar a ela a condição de maior cantora do Brasil. Nascida em 26 de setembro de 1945, ela estreou nos palcos aos 18 anos de idade, ainda em Salvador. O espetáculo, chamado Nós, Por Exemplo, era formado por jovens músicos locais que tinham a intenção de renovar a música popular brasileira, ainda fincada nos pilares bossanovísticos de alguns anos atrás. Além de assinarem a direção artística, Gilberto Gil e Caetano Veloso também participavam do elenco. A turma ainda contava com Maria Bethânia, Tom Zé e Carlos Lyra (que propunha estabelecer uma conexão entre canções de Milton Nascimento e a obra gravada por ela). Já transitando no eixo Rio-São Paulo, anos depois, fez parte da Tropicália, movimento que a levou a iniciar a carreira fonográfica. Deixou mais de 40 discos gravados, entre produções inéditas de estúdio e registros ao vivo.
Em homenagem a Gal, o Mondo Bacana destaca oito motivos de sua suma importância na história da música em verde e amarelo das últimas seis décadas.
Resistência tropicalista
Quando Gil e Caetano optaram por deixar o país para continuarem vivos e produzindo no exílio europeu naquele comecinho de 1969, coube a Gal liderar a resistência da Tropicália em solo brasileiro. Neste ano lançou seu primeiro álbum de estúdio de fato (antes, gravara um dividido com Caetano), considerado um dos mais importantes trabalhos da música popular brasileira. Gal seguiu a cartilha dos amigos e achou o ponto de fusão exato entre as sonoridades brasileiras (bossa nova, xaxado) e vertentes que rolavam solto no eixo anglo-americano (psicodelismo, soul). Com a direção assinada pelo maestro Rogério Duprat e nomes como Lanny Gordin e Jards Macalé na banda de apoio. Além de releituras personalíssimas de “Sebastiana” (Jackson do Pandeiro), “Namorinho de Portão” (Tom Zé), “Se Você Pensa” (Roberto e Erasmo Carlos) e “Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim)” (Jorge Ben). São deste disco outros três clássicos supremos da Tropicália, todos compostos por Caetano. “Baby”, “Não Identificado” e “Divino, Maravilhoso”. O último, também assinado por Gil, transformou-se em hino da resistência aos anos de chumbo pós-AI-5. Suas estrofes alertavam para a mão pesada do regime militar no Brasil, enquanto o refrão decretava “É Preciso estar atento e forte/Não temos tempo de temer a morte”. Por isso, a composição é celebrada até hoje, mais de meio século depois de estremecer as estruturas da quarta edição do Festival da Record, realizada em 1968.
Fa-Tal – Gal a Todo Vapor
Álbum duplo lançado em 1971, o segundo de toda a história da música brasileira. Com pouco mais de uma hora de duração, traz o registro, na íntegra e com direito a erros e improvisos, de uma noite de série de concertos realizada em dez semanas no Teatro Tereza Rachel no Rio de Janeiro. Sob a batuta criativa do poeta Waly Salomão, então com apenas 28 anos e um dos principais nomes daquele período da contracultura brasileira, Gal tinha a companhia de uma banda de bambas como Jorginho Gomes (irmão de Pepeu e também integrante dos Novos Baianos) na bateria, Novelli no baixo e Lanny Gordin na guitarra e assinando os arranjos. Lanny, então com apenas 20 anos de idade, já demonstrava ser um monstro nas seis cordas, o que se prova com toda a quebradeira jazzy deste disco. Na primeira parte do concerto, Gal apresenta-se sozinha ao violão, sentada de pernas abertas, mesclando sambas tradicionais de Ismael Silva e Geraldo Pereira com obras de Caetano (“Como Dois e Dois”, “Coração Vagabundo), Roberto e Erasmo (“Sua Estupidez”, então recém-lançada por ela em compacto duplo) e um trecho de Jorge Ben (“Charles Anjo 45”). Com a entrada do trio na segunda e última parte (com direito a mais um convidado na percussão), Gal solta o vozeirão ao fazer uma polaróide da poesia marginal carioca daquela época. Apresenta ao público uma canção de amor que o então desconhecido Luiz Melodia fez inspirado por um travesti (“Pérola Negra”); traça um paralelo metafórico entre drogas e ditadura militar em duas parcerias de Waly com Jards Macalé (“Vapor Barato”, também presente naquele mesmo compacto, e “Mal Secreto); homenageia a urbanidade fora-do-sítio dos Novos Baianos em “Dê um Rolê”) e faz um passeio pelo Nordeste com o frevo “Samba, Suor e Cerveja” (de Caetano), a toada sertaneja “Assum Preto” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). Somando a tudo isso vem uma nova versão elétrica e mais pesada de “Como Dois e Dois”, mais Waly e Jards (agora separados, com “Luz do Sol” e “Hotel das Estrelas”) e uma vinheta com “Maria Bethânia” (homenagem à amiga, outra composta pelo irmão dela) e inserções de canções de domínio público (“Gigoia”, “Bota a Mão nas Cadeiras”). Com todo esse repertório incendiário e um figurino ousado (cabelos longos ondulados, batom vermelho e roupa hippie) à frente de um palco com cenografia avermelhada, Gal exorcizou como nunca havia feito sua persona política, desafiando a ditadura e reunindo a cada noite, naquela plateia de apenas 600 pessoas, um pequeno recorte de toda a resistência poético-comportamental do Rio de Janeiro, que logo depois se espalharia por outras capitais brasileiras com outras minitemporadas fervorosas do mesmo espetáculo. A efervescência ainda se estendeu a comentários bastante empolgados de uma imprensa musical estupefata com todo aquele furacão sonoro e visual. Resultado: o registro nu e cru do ápice do desbunde brasileiro contra a ditadura.
Ousadia e liberdade
Durante toda a sua carreira Gal serviu de inspiração para meninas e mulheres, foi sinônimo de liberdade e ousadia, tanto nos figurinos e performances quanto nas atitudes de vida. Gal irritou a ditadura militar com as fotos da capa do álbum Índia (1973), seu sexto álbum, produzido por Gil. Ela estava de tanga vermelha e com uma saia de palha indígena caindo pelas coxas. A fotografia, estendida para a contracapa, revelava ainda os seios desnudos, apenas cobertos por colares. A Censura Federal, sempre burra e estúpida, detestou a personificação de uma índia seminua (num tempo em que revistas com Status e Playboy ainda não existiam por aqui) e decretou que o disco só poderia ser vendido nas lojas envolto em um saco plástico. Era “imoral”, acima de tudo. Em 1985, aos 40 anos, posou nua para a Status. Em 1994, na turnê chamada O Sorriso do Gato de Alice, dirigida por Gerald Thomas, provocou frenesi no público carioca ao cantar a icônica “Brasil”, de Cazuza, com todos os botões da camisa abertos. Quando levantava o braço no brado final da música, com o nome do nosso país, seus seios apareciam para o público. Nunca defendeu bandeiras sobre a sexualidade ou o feminismo, tampouco gostava de abordar os assuntos em entrevistas. Teve relacionamentos com outras artistas, como a atriz Lucia Veríssimo e a cantora Marina Lima. Estava casada com a empresária Wilma Petrillo, sua produtora, desde 1998. Gal e Wilma eram mãe de Gabriel, adotado pela cantora aos 60 anos de idade – ela sempre desejara ser mãe mas problemas de saúde a impediram de realizar qualquer gestação.
Voz feminina de Caetano
Quer uma tarefa árdua? Pegue a discografia de Gal Costa e conte quantas canções ela gravou que foram compostas por Caetano Veloso, então. Desde Domingo (1967) até A Pele do Futuro Ao Vivo (2019) a lista é extensa – tem até um disco de estúdio, Recanto (2011), cujo repertório é TODO assinado por ele, além da direção musical. A química artística entre os dois era enorme e até se refletia na relação cotidiana: a jornalista Dedé Gadelha, primeira esposa de Caetano, era amiga de infância de Gal. Só para citar três dezenas de nomes de obras dele que receberam fino tratamento na voz dela: “Divino, Maravilhoso”, “Não Identificado”, “Baby”, “London, London”, “Samba, Suor e Cerveja”, “Como Dois e Dois”, “A Rã”, “Um Índio”, “São João, Xangô Menino”, “Os Mais Doces Bárbaros”, “Flor do Cerrado”, “Tigresa”, “Caras e Bocas”, “Força Estranha”, “Paula e Bebeto”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Dom de Iludir”, “Luz do Sol”, “Vaca Profana”, “Tenda”, “Tropicália”, “Odara”, “O Quereres”, “Língua”, “Cajuína”, “Milagres do Povo”, “O Ciúme”, “Sertão”, “Desde que o Samba é Samba” e “Recanto Escuro”.
Doces Bárbaros
Quando estabeleceram as diretrizes para a Tropicália, em 1967, Caetano e Gil tinham como intenção primeira dar uma bela sacudida na música brasileira. Em 1976, para celebrar os dez anos de carreira artística individuais, chamaram Gal Costa e Maria Bethânia para ser criado o supergrupo Doces Bárbaros. A intenção, de novo, era dar uma nova sacudida da MPB, voltando a misturar o regionalismo com influências pontuais vindas do exterior: desta vez a tônica não era bem a sonoridade psicodélica, mas mais a estética hippie, reproduzida nos figurinos e cenografia do palco. Tudo isso para dar um choque na pauta de costumes do Brasil ainda mergulhado no regime militar ditatorial (era o ano em que o general Ernesto Geisel fingia estar começando a distender a mão de chumbo), responsável pela prisão dos dois baianos e o consequente exílio de pouco mais de um ano na Europa. Um repertório foi criado somente para o espetáculo, ensaiado em apenas quinze dias. No set list estavam canções como “O Seu Amor” (um recado nas entrelinhas subvertendo o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, mas usando os verbos em nome do amor e da liberdade), “Um Índio”, “São João, Xangô Menino”, “Esotérico”, “Chuck Berry Fields Forever”. Ao lado de sete músicos de apoio, o quarteto rodaria em turnê que passaria por várias capitais brasileiras e ainda renderia um álbum duplo gravado durante os concertos. De quebra, o cineasta iniciante Jom Tob Azulay, recém-chegado de Los Angeles, onde trabalhara como diplomata e fizera um curso de cinema, comandaria um documentário com registros de viagens, shows, entrevistas para a imprensa e cenas de bastidores. Depois da estreia em São Paulo, porém, um imprevisto mudou os rumos da trupe: a polícia – que, assim como o governo, estava “acompanhando de perto” o projeto – deu uma batida no hotel onde estavam hospedados os músicos e prendeu Gil (de novo!) e o baterista Chiquinho sob a acusação de porte de maconha. Depois de algumas semanas de esfriamento da turnê e cancelamento de datas, o grupo voltou aos palcos no Rio (no extinto Canecão, tradicional casa de espetáculos da zona sul carioca) e o documentário acabou saindo. Nele se revela todo o furacão provocado pelos quatro juntos no palco, sobretudo na química do afiado jogral ou nos passos e improvisos das performances de dança. Gal e Bethânia, então, são soberbas em suas interpretações gestuais, corporais, visuais e vocais.
Ícone LGBT
Gal, apesar de não expor isso publicamente em atitudes e entrevistas, relacionava-se com mulheres. Mas não foi pela sua orientação sexual que acabou se transformando, ao longo dos anos 1970 e 1980, em um dos maiores ícones gay do país. Desde que a baiana se estabeleceu como um dos pilares da música brasileira, com sua voz encantadora (e que de vez em quando alcançava uns agudos de arrepiar), figurino ousado (quando não colorido e cheio de apetrechos), os negros cabelos volumosos e performances cênicas arrebatadoras, também passou a ser homenageada por trans, travestis e drags em shows de dublagens nas boates de norte a sul. Personificar Gal Costa sob as luzes de um ribalta – por menor e mais escondida no mapa que ela seja e esteja – não significa somente um ato de libertação. É também uma sensação extrema de empoderamento, apesar da efemeridade. Empoderamento sexual e artístico, diga-se de passagem.
Rainha das trilhas de novela
Não foi só a carreira de Gal e dos outros baianos tropicalistas (ou quase isso, no caso de Bethânia) que se consolidou na música brasileira dos anos 1970 para cá. Outra presença significativa no segmento foram as trilhas sonoras das novelas da Rede Globo. Até a transformação do consumo musical no mercado fonográfico virar praticamente digital, na década passada, eram justamente as coletâneas dos folhetins globais quem mandavam e desmandavam nas vendagens dos formatos físicos (LP ou CD). E mais: ter uma faixa incluída em um destes discos (sobretudo os das novelas do horário nobre – antigamente às oito e agora ali pelas nove da noite) era para um artista daqui praticamente o mesmo que ter um bilhete premiado na loteria. São muitas dezenas as vezes em que uma soundtrack televisiva contou com a voz de Gal Costa. Teve canção que já apareceu em duas ou até três vezes em novelas distintas. E ela também proporcionou o embalo musical de aberturas inesquecíveis de tramas não menos inesquecíveis. Só para citar duas delas. “Modinha Para Gabriela” foi composta Dorival Caymmi sob encomenda para Gabriela, novela da emissora veiculada na faixa das 22 horas entre abril e outubro de 1975. A história de Walter George Durst se baseava no romance literário Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado e, por isso, a letra descreve o eterno espírito livre da protagonista. A Globo chegou a sugerir que Gal interpretasse o papel principal, mas ela recusou a proposta exatamente por não se achar atriz, apenas cantora. Coube então a Sonia Braga personificar Gabriela e criar um dos mais icônicos personagens dos telefolhetins nacionais. A outra vez em que os créditos de abertura foram exibidos ao som de uma Gal Costa contundente e afiada foi em Vale Tudo, de maio de 1988 à primeira semana de 1989. Até hoje cultuada e exibida em reprises na Globo e no Canal Viva, a novela escrita por Gilberto Braga era centrada na relação de desprezo que uma filha má e alpinista social (Maria de Fátima, papel de Glória Pires) mantém pela mãe, uma modesta senhora de vida simples e vendedora de sanduíches na praia (Raquel, vivda por Regina Duarte). Entre as pessoas em órbita dela estava a multimilionária Odete Roitman (Beatriz Segall), assassinada por um tiro disparado por um misterioso nome revelado apenas no último capítulo (e que embalou o país todo na pergunta sobre quem a havia matado). Ao expor as mazelas da luta de classes no país e ainda escancarar barbaridades proporcionadas por atitudes do povo, Vale Tudo esfregou na cara do Brasil os podres do próprio Brasil, isso trinta anos antes da chegada de um certo nome à presidência da república (atenção para o quase spoiler: repare bem em dois nomes centrais do elenco e o quanto eles significam ontem e hoje para as nossas dramaturgia e política!). Para completar, a música-tema era mais um tapa na cara da bandeira nas cores verde e amarela: o hino “Brasil”, composto e gravado originalmente por Cazuza, que bradava contra o fedor da burguesia. Entretanto, o autor – que havia acabado de lançar um contundente álbum chamado Ideologia – ainda estava restrito ao nicho da zona sul carioca e dos intelectuais nacionais. A convite da Globo, Gal regravou a canção para a novela, tornando-a, assim, popular de norte a sul do país e levando-a para gente de todas as classes sociais e econômicas.
Voz suprema de todos os gêneros
Cantar sempre foi um dom natural para Gal Costa. Suas próprias colegas de profissão, gente respeitada da música, não escondem tanto a admiração quanto a estupefação ao ouvi-la soltar o gogó ao microfone. Não apenas por atingir os agudos inacreditáveis como mostrava em “Meu Nome é Gal”, mas sobretudo pela leveza com a qual levava toda e qualquer canção, sem qualquer dificuldade durante o exercício em cena. Toda essa fluidez ainda se estendia às escolhas de repertório de Gal. Como em um passe encantado de mágica, a voz tamanha dela se encaixava em todo e qualquer gênero que escolhesse. Do rock ao jazz, do frevo à balada romântica, da marchinha carnavalesca ao bolero, da bossa nova ao forró, do samba ao standard do pop norte-americano. Gal passeou por todos estes territórios em sua imensa discografia. Até para o público infantil ela fez algo. Isto foi em 1985, quando foi um dos nomes convidados (ao lado de Xuxa, Pelé, Menudo, Fevers, Lucinha Lins e Carequinha) para participar do primeiro álbum oficial Trem da Alegria. O grupo vocal era formado por três pré-adolescentes: Patricia Marx e Luciano Nassyn (que já haviam realizado juntos, no ano anterior e com a apresentadora Xuxa, o disco da trilha sonora do programa Clube da Criança, exibido pela TV Manchete) mais o recém-chegado Juninho Bill. A Gal coube entoar com os meninos os versos da versão em português da valsa “Lili (Hi Lili Hi Lo)”. Mas ela não foi o único nome externo do Trem da Alegria aqui. Ela carregou consigo seu afilhado Moreno Veloso, filho de Caetano e da amiga de infância Dedé Gadelha, então com 11 anos e em sua estreia no mundo musical.
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“Tudo que tem um começo também tem um fim”. Assim disse Gilberto Gil um pouco depois de iniciado seu segundo concerto em Curitiba, onde esteve tocando nos últimos dias 27 e 28 de outubro. Logo depois, regeu o primeiro de quatro coros com o nome de Lula entoados pela plateia. Não era mais preciso muita coisa para se ter uma certeza naquela noite: o cantor e compositor baiano é o artista certo e na hora certa, o principal nome da música brasileira para representar e personificar, através de palavras, letras, melodias e harmonias o momento extremamente delicado que o país viveu nestes últimos dias de outubro.
Gil completou oito décadas de idade em 26 de julho. Está em plena vitalidade fisica, cantando (mesmo estando com a voz um tanto rouca desse dia na capital paranaense) e dançando com plena desenvoltura, empunhando e tocando sua guitarra no palco do Teatro Positivo. Tanto que nos últimos meses fez uma turnê de quinze datas por cidades europeias e ainda se apresentou em três conceituados festivais nacionais (Coala, MITA, Rock in Rio). Em todos os shows trazendo alguns familiares (filhos, netos) para integrar a sua banda de apoio. Também veio à capital paranaense para iniciar uma série de apresentações por cidades nacionais com a turnê Gil 80 Anos. Sorte nossa, sorte de quem estava na plateia – inclusive trinta convidados que representavam o MST em cada noite. Como visto recentemente no reality show Em Casa com os Gil, disponível para streaming na Amazon Prime, Gil é aquele avô carinhoso, amável, que desperta não só encantamento em quem está por perto com ainda provoca aquela sensação de calma e bem-estar em decorrência de seus conselhos, comentários e tudo aquilo que diz de maneira curta e rápida.
Foi assim no Positivo durante cerca de uma hora e meia de apresentação. Volta e meia, fosse no intervalo entre as canções ou mesmo durante elas (através de versos certeiros). Começou com as estrofes e refrão de “Tempo Rei”: “Água mole, pedra dura/ Tanto bate que não restará nem pensamento/ Tempo rei, ó tempo rei, ó tempo rei/ Transformai as velhas formas do viver/ […] Mães zelosas, pais corujas/ Vejam como as águas de repente ficam sujas/ Não se iludam, não me iludo/ Tudo agora mesmo pode estar por um segundo”. Na terceira música, unindo sua versão em português e o original em inglês de Bob Marley, decretou em “Não Chores Mais” que “Se Deus quiser/ Tudo, tudo, tudo vai dar pé”.
Mais pro miolo do set iniciou uma série de canções mais lentas. Menos dançantes e um pouco mais reflexivas. “Mais suaves”, como declarou ao microfone. Contudo, a suavidade também desconcerta. Mesmo passados quarenta anos é impossível não se emocionar com “Drão” (“O amor da gente é como um grão/ Uma semente de ilusão/ Tem que morrer pra germinar/ Plantar em algum lugar/ Ressuscitar no chão nossa semeadura”). Para Gil, esta é “uma canção da crença e da fé absoluta no amor eterno”. OK, ela foi composta em um momento de bastante intimidade, o da separação do cantor e da sua então esposa Sandra Gadelha (mãe de Preta, Maria e o falecido Pedro). Contudo, pode servir também em um espectro mais abrangente, com uma leitura mais pro macro voltada ao nosso tão sofrido dia a dia do país, repleto de imoralidades e absurdos que serviram como morte para o nosso amor e a nossa fé.
Antes de iniciar “A Paz”, Gil prossegue com seus ensinamentos: “ela fala sobre a revitalização da vida que se contrapõe a tudo o que tenta destruí-la. “Já para anunciar “Estrela”, recorre a lembranças pessoais e confidencia ao público ter composto os versos inspirado por “uma menina” da cidade que “viu” nascer. No caso, Estrela, a filha mais nova de seu amigo Paulo Leminski. “Éramos jovens e andávamos de noite pelas ruas de Curitiba eu, Paulo e Helinho [Pimentel, fundador da mítica rádio Estação Primeira e hoje administrador do complexo que envolve os palcos e as áreas para entretenimento da Ópera de Arame e da Pedreira… Paulo Leminski!]. Eu vi esta menina nascer e então esta música tem uma semente curitibana”.
Só que Gil impacta ainda por aquilo que não diz, mas também pelo que está implícito em suas músicas. Na primeira parte do concerto, por exemplo, lançou mão de uma sequência de poderosas canções nordestinas. A intenção ali não era apenas saudar a rica cultura musical da região brasileira da qual veio e relembrar um pouco de gêneros que lhe exerceram fascínio e influência desde cedo, como o xote, o baião e o forró. Também era um recado sobre a fortaleza daquele povo um tanto sofrido mas que não só nunca se entrega como também faz valer a sua voz e a sua (força de) vontade. Que elege um presidente que o representa e diz um sonoro não a outro que o despreza. Como dizia Luiz Gonzaga, a ordem agora é “já ir” respeitando os oito baixos!
Ainda tendo como referência seu DNA nordestino, neste show ele voltou a lembrar os tempos de Tropicália e promover assombrosas fusões musicais com gêneros de além-fronteira. No trecho com “Esperando na Janela”, “respeita Januário”, “O Xote das Meninas” e “Eu Só Quero um Xodó” os clássicos surgem emendados por um mesmo padrão de percussão eletrônica. Mestrinho, sanfoneiro e backing de sua banda, abrilhanta os arranjos de reggae de “Não Chores Mais”/“No Woman No Cry” e “Esotérico” com um refinado lamento extraído de seu acordeon. “Realce” e “Palco”, quase meio século depois, ainda arrastam todo mundo para dançar fora de suas cadeiras com a batida disco mesclada à fusão entre rock, jazz e sintetizadores). Por falar em rock, na hora de relembrar com muito peso “Get Back” (devidamente colada à versão em português “De Leve”, assinada e gravada em disco ao vivo de 1977 por Gil e Rita Lee, durante provocativa turnê conjunta para “relançar” ambas as carreiras meses depois de ambos serem detidos por porte de drogas) mostrou o quanto os Beatles foram decisivos na sua carreira.
À parte final do repertório não foram reservados apenas alguns clássicos infalíveis como “Aquele Abraço” (alô, torcida do tricampeão Flamengo!), “Andar com Fé” e “Toda Menina Baiana”. Teve espaço também mais reflexões provocativas de Gil. “Nos Barracos da Cidade” discute sem papas na língua a hipocrisia e a estupidez dos políticos governantes de nosso país (e que em certos casos chegam a “confundir”, na maldade, moradores da favela com ladrões). “Punk da Periferia” é uma ode a tudo aquilo que, embora considerado nojento e fora dos padrões do centrão, confronta o status quo das elites de nossa sociedade. Não à toa, naquela sexta-feira, um monte de gente curitibana, de bem e bem vestida, reagiu com indignação à execução da mesma se levantando das cadeiras e se dirigindo para fora do teatro mesmo antes do fim do espetáculo.
Gil também retomou nesta parte o mode on sabedoria infinita do alto de seus 80 anos de vida. Repetiu várias vezes que devemos “andar com fé porque a fé não costuma falhar”. A poucas horas da eleição mais importante, versos como estes mostraram-se mais do que reconfortantes para quem nunca deixou de crer que o amanhã será um lindo dia da mais louca alegria.
Por fim deu ainda para incendiar mais um pouco a plateia terminados os acordes e batidas na derradeira canção do set list. O eterno doce bárbaro desejou a todos de Curitiba, terra da lava jato e com altíssima adesão bolsonarista, uma “explosiva eleição”. E saiu do palco fazendo com as mãos o sinal do L. Nem foi preciso ter bis do artista mais do que necessário para este nosso conturbado ano de 2022. O concerto todo, extenso, com 21 canções e muitos códigos cifrados em discursos cantados, falados e mostrados, deixou toda aquela noite, às vésperas de toda a tensão no ar da semana anterior ao domingo de votação do segundo turno da mais importante eleição presidencial da História do Brasil, nada mais do que histórica. E confortável.
Set list: “Tempo Rei”, “A Novidade”, “Não Chores Mais”/”No Woman No Cry”, “Vamos Fugir”, “Esperando na Janela”, “Respeita Januário”, “O Xote das Meninas”, “Eu Só Quero um Xodó”, “Drão”, “A Paz”, “Estrela”, “Esotérico”, “Palco”, “Aquele Abraço”, “Andar Com Fé”, “De Leve”/”Get Back”, “Nos Barracos da Cidade”, “Realce” “Punk da Periferia”, “Maracatu Atômico” e “Toda Menina Baiana”.