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Kimi

Thriller de Steven Soderbergh traz Zöe Kravitz como uma isolada techie que cuida de uma assistente virtual até sua vida virar do avesso

Texto por Taís Zago

Foto: HBO Max/Divulgação

Em tempos de Siri e Alexa, a IoT (Internet of Things) tá cada vez mais presente na vida cotidiana das pessoas e já anda ocupando espaço no audiovisual também. Kimi é a versão fictícia da Alexa, mas não, aqui não se trata de mais uma distopia dos computadores querendo dominar o mundo. Kimi não é Hal. E também não tem outro papel na trama de Kimi (EUA, 2022 – HBO Max) a não ser atender aos pedidos e responder às perguntas de Angela (Zöe Kravitz). 

Angela, por sua vez, trabalha como techie desfazendo bugs de Kimi. Passa seu dia escutando trechos de áudios gravados pelos usuários que não tiveram seus pedidos atendidos pela secretária virtual. Ela se ocupa de adicionar ao código todas as novas questões que são levantadas, ampliando assim a base de dados de dispositivo.

Boring. Sim. Uma das atividades mais metódicas e maçantes do TI junto a testing é o bug fixing. Mas Angela gosta e precisa da organização, da solidão e da previsibilidade do seu trabalho. Ela sofre de agorafobia, episódios de pânico e extrema ansiedade desde que foi atacada na rua. Nunca sai de casa. Nem mesmo com um dente infeccionado. E a pandemia do coronavírus só colaborou para agravar ainda mais o seu quadro.

Tudo parece certinho: ela trabalha, come ou se exercita em casa, tem até um caso com um vizinho do prédio da frente que volta e meia aparece para visitá-la. De forma geral, ela vê o mundo pela janela e também é observada. É Steven Soderbergh fazendo homenagem a Hitchcock em seu pequeno porém bem feito thriller. Zöe interpreta Angela como uma pessoa nervosa, rígida e frágil, consumida pelos seus medos, mas que também não faz nada para escondê-los. Ela assume suas limitações, carrega esse fardo publicamente. Dos poucos contatos de sua vida, a mãe, parece ser a muleta emocional. E a mãe tá meio de saco cheio. Assim como o quase namorado. 

E é nesse clima que as coisas viram do avesso na vida da protagonista. O isolamento tão confortável, de uma hora para outra vira correria, com direito a perseguições e escapadas fantásticas. Angela é literalmente empurrada de sua zona de conforto. E ela não é personagem alguma da Marvel e nem uma Elisabeth Jennings (The Americans), é só uma geek cheia de manias. Porém, tem ao seu lado um superpoder que apenas os ansiosos têm: ela funciona sob pressão, pois já sofreu todos os cenários possíveis antecipadamente dentro de sua cabeça.

A trilha sonora também é um bom pano de fundo como em momentos de tensão – no maior de todos a “virada de mesa” ocorre ao som de “Sabotage”, dos Beastie Boys – e tudo termina com “Connection”, da banda de britpop Elastica. Nada mais sunny side of life do que isso. Não tem mais filme sem banda noventista, meus amigos. Pelo menos por mais alguns anos. E acho que tá bom assim.

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