Filme russo surfa na surrada onda do found footage, insiste em repetir cenas de A Bruxa de Blair e se perde dentro da própria história

Texto por Ana Clara Braga
Foto: Paris Filmes/Divulgação
Quantas vezes um filme pode ser refeito até perder sua capacidade de atingir o público? A Viúva das Sombras (Vdova, Rússia, 2020 – Paris Filmes) embarca na, já saturada, onda de A Bruxa de Blair (1999) e tenta emplacar mais um terror found footage. O longa russo, porém, enrola-se na própria história e não convence dentro do gênero, soando como resultado de uma receita vencida e um roteiro nada inovador.
Existe uma lenda a respeito da floresta localizada ao norte de São Petersburgo, que diz que quem visitá-la corre o risco de desaparecer por conta de uma assombração. Esse é o pontapé inicial de Viúva das Sombras. Um grupo de socorristas adentra a mata à procura de um adolescente perdido e logo perde sinal com o mundo exterior. Equipados com câmeras, eles exploram a floresta enquanto coisas estranhas começam a acontecer.
Assim como em REC, de 2007, o time está acompanhado de uma jornalista que não tem medo de enfiar a câmera em todos os lugares possíveis para conseguir boas imagens. Os socorristas também têm câmeras presas a seus capacetes, permitindo que o público enxergue através de seus olhos. O grupo é mal trabalhado, a dinâmica, que poderia ser um bom recurso para um filme found footage, é quase inexistente. O cachorro que acompanha o time, tem mais relevância na história que alguns membros dos humanos.
E A Viúva das Sombras não só bebe da mesma fonte de A Bruxa de Blair como repete vários de seus passos. As similaridades não são bem sucedidas, no entanto. Há uma cabana encontrada no meio da floresta com um membro da equipe de costas no canto da sala. Sim, a cena é a mesma nas duas obras, mas ela só é impactante na de 1999.
Lendas urbanas sempre são material riquíssimo para as telonas, o que amedronta e cativa a curiosidade de gerações pode ser um start para um ótimo filme. O importante é saber editar ideias e que o imaginário é mais assustador na própria cabeça. Este filme sabe construir bem a tensão, muito devido à trilha sonora e ao fato de tudo acontecer durante a noite. Só que a história se perde ao tentar finalizar e explicar os acontecimentos. O mistério é mais interessante e proveitoso em um enredo de horror do que com flashbacks e pausas para contação de história.
A Viúva das Sombras tenta, infelizmente, surfar numa onda que já passou. A premissa é interessante, mas talvez seja um tipo de história mais assustadora sendo ouvida em rodas de conversa do que vista repetidamente nas telas. Afinal, o horror é um gênero cinematográfico que necessita de constante oxigenação. Se ao tentar utilizar uma fórmula de duas décadas antes o diretor não experimentar ao menos novas narrativas, o filme tem seu destino selado.