Music, Videos

Clipe: Charme Chulo + Tuyo – Mais Além

Artista: Charme Chulo + Tuyo

Música: Mais Além

Álbum: single (2018)

Por que assistir: Já não é de agora que Charme Chulo gosta de chamar outras bandas curitibanas para compor e gravar uma música em parceria. Na década passada fez isso com o Celestines e a Poléxia. Agora repete o formato novamente, sempre lançando a música como um single, fora de seus álbuns de carreira. As convidadas agora são as irmãs Lio e Lay Soares, a dupla de vozes maravilhosamente harmonias do Tuyo – trio formado com o marido/cunhado Jean Machado. E, de novo, acertam em cheio na combinação de estilos. Sem falar na beleza da composição, um hit radiofônico nato. A faixa é redondinha (a duração apenas três minutos cravados), grudenta (tente tirar o refrão da cabeça logo após a primeira audição), sentimental (os versos tratam de uma dos temas mais universais que existem, a desilusão amorosa) e inovadora (por trazer o rock caipira da banda a um formato mais pop e distanciá-lo da tradicional influência do pós-punk britânico, carregada desde o primeiro EP, de 2005). O arranjo é cheio de camadas, traz sobreposições de vozes milimetricamente calculadas e espalhadas pela letra e ainda conta, mais para o final, com aquelo esperto breque capaz de levantar qualquer plateia. Sem falar na adição de uma chorosa sanfona de cabo a rabo, a grande cereja do bolo da parte instrumental. Vendo o clipe já dá vontade de sair cantando junto e embalar na deliciosa vibe das dancinhas promovidas pelas irmãs Soares, os quatro músicos e mais o vocalista principal da banda, o sempre desengoçadamente cult Igor Filus (quem criou a banda ao lado do primo Leandro Delmonico, o cara da viola, violões, guitarras e backings). Agosto de 2018 se vai com o lançamento de mais uma grande canção para entrar para a História da música curitibana. Ano bastante fértil esse para Curitiba, aliás.

Movies

As Herdeiras

Longa sobre mudança de paradigmas na vida de protagonista sexagenária faz o Paraguai ter destaque no cinema sul-americano de gênero

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Imovision/Divulgação

Destaque em vários festivais recentes – dentre eles os Berlim e Gramado, ganhando prêmios em ambos – o filme As Herdeiras (Las Herederas, Paraguai/ Alemanha/Uruguai/Noruega/Brasil/França, 2018 – Imovision) enfim joga luz sobre o cinema paraguaio, escondidinho aqui do lado (sobretudo para quem mora no Paraná) mas ainda pouco conhecido e divulgado no próprio território sul-americano. E quem quiser se iniciar por aqui não terá do que se arrepender.

Escrito e dirigido por Marcelo Martinassi, As Herdeiras é mais uma obra recente do cinema latino a confirmar a tendência de um forte cinema de gênero. A história trata acerca da mudança de comportamento de Chela (Ana Brun), uma pintora herdeira de uma rica família e hoje em decadência financeira e entregue completamente à depressão. É antissocial ao extremo – chegando até a ser agressiva verbalmente – e torra indiscriminadamente a fortuna deixada pela família em mobiliário, quadros e utensílios de casa para manter um estilo de vida não mais compatível, como a manutenção de uma empregada doméstica e a mais completa despreocupação com a inexistência de uma fonte de renda fixa mensal. Para completar, está casada há décadas com uma outra mulher de temperamento bem diferente do dela. Que quer sair, gosta de cantar, encontrar as amigas, fuma à beça e não pensa duas vezes antes de cometer pequenos atos financeiros ilícitos.

A mudança radical na vida de Chela começa quando Chiqui (Margarita Irun) passa uns meses forçados na prisão para cumprir pena de sonegação de impostos. Sem a companheira, ela se vê forçada a afastar a depressão e o baixo astral e embarcar em um cotidiano de sociabilidade, fazendo bico como motorista particular em seu próprio carro e aturando as outras mulheres que carrega como passageiras.

Até que a mão do destino se encarrega de Chela conhecer Angy (Ana Ivanova), uma atraente mulher de quase metade de sua idade, que a faz abrir os olhos e conhecer novas realidades. Então, um mundo de descobertas cai no colo da protagonista, o que a faz rever conceitos, opiniões e atitudes. Algo do tipo road movie espiritual, com uma jornada interior tocante permitindo o deslocamento – tanto geográfico quanto na alma – e um passado recente nebuloso (a fotografia bastante sombria ainda ajuda na primeira metade do filme) para um bravo mundo novo de interesses, sentimentos e sensações (sob a luz do sol).

E é justamente isso que faz valer todo o filme. Com bastante sensibilidade, Martinassi constrói mais uma forte protagonista feminina (tendo como apoio duas coadjuvantes com não menos força) para esta década de ouro do cinema de gênero da América do Sul.

Music, Videos

Clipe: Suede – Life Is Golden

Artista: Suede

Música: Life Is Golden

Álbum: The Blue Hour (2018)

Por que assistir: Este novo clipe do Suede – o segundo já feito para o novo álbum que chega às lojas físicas e virtuais em 21 de setembro – pode muito bem ser resumido em três palavras: drone, travellings e Chernobyl. Durante todo o vídeo, a câmera viaja no espaço da localidade ucraniana em voos lentos e profundos. Nas imagens, uma cidade fantasma, entregue aos deus-dará, inabitada desde que um catastrófico acidente na usina nuclear local ocorreu em 1986, quando a União Soviética ainda existia. Uma explosão seguida de incêndio lançou na atmosfera uma enorme quantidade de partículas radioativas, que chegaram as se espalhar por boa parte do continente europeu e do território asiático da URSS. Este foi o pior desastre nuclear de todos os tempos. Trinta e uma pessoas morreram na ocasião. Entretanto, o resultado da contaminação provocada – que leva até hoje ao câncer e a deformidades físicas – foi e ainda é incalculável. Toda a região, passadas mais de três décadas, foi desocupada, sem previsão de quanto tempo os perigos ainda permanecerão espalhados pelo ar de Chernobyl. As imagens do clipe do Suede tratam justamente disso. De como a vida vale ouro. Os versos melancolicamente por Brett Anderson – que é acompanhado por sua banda e ainda pela orquestra filarmônica da cidade checa de Praga – não servem apenas para ilustrar todo o horror acontecido e herdado pela cidade localizada na região de Kiev, na Ucrânia. Caem como uma luva para os tempos difíceis de doenças mentais que assolam boa parte da população mundial no Século 21. A letra, direta, simples e bastante eficiente, pode servir de consolo e estímulo para quem tem ansiedade, depressão, borderline, pânico e outras coisas. Servem para acender uma luzinha sobre a cabeça de uma destas pessoas para que ela perceba que não está sozinha no mundo, que fique calma e procure ajuda, que saiba o quanto é valiosa e o quanto poderá muito bem, em breve, vivenciar a sua ressurreição. Seja ela social, física, financeira, amorosa…

Music

Larissa Conforto + Vitor Brauer – ao vivo

Dois primos, repertório de quatro bandas, uma viagem de carro pelo brasil e uma Turnê Sem Sair na Rolling Stone

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Texto e fotos de Mayara Melo

Quem acompanha a pausa do trio carioca Ventre já está por dentro das coisas que estão acontecendo por aí. Uma delas é a volta de Larissa Conforto aos palcos. A baterista embarcou em alguns projetos e agora ao lado do primo, Vitor Brauer, pegou a estrada. A dupla toca e canta as músicas de suas respectivas bandas com um show de nome no mínimo inusitado: Turnê Sem Sair na Rolling Stone.

No últio dia 2 de agosto, Larissa e Vitor vieram a Curitiba para apresentar o show da dupla. Desembarcaram na Casinha ao lado da banda Fogo Caminha Comigo. Dentro do repertório, tinham músicas da Ventre e das outras três bandas do mineiro (Lupe de Lupe, Xóõ e Desgraça). Tudo isso ao som da melhor batera do Brasil e da melhor guitarra do brasil (segundo os próprios artistas!). Foram cerca de quarenta minutos de um set criado na hora pelos músicos, com arranjos mais crus e pesado que os originais e sempre se limitando ao material que já

E nessa loucura de sons, estilos, estados e cidades, os dois saem de carro por todo o país atrás de aventura, música de qualidade e bons amigos. A turnê, aliás, termina em 30 de setembro, em Petrópolis. Quem conferir se até lá eles irão passar por sua cidade (ou pelo menos por perto) deve consultar a agenda da dupla, postada no site oficial de Brauer (clique aqui). Tudo, aliás, sem sair na Rolling Stone…

Movies

Te Peguei!

Grupo de quarentões não mede esforços para manter viva anualmente a brincadeira de pega-pega da infância

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Warner/Divulgação

Te Peguei! (Tag, EUA, 2018 – Warner) é um filme que já nasceu para ser bobo. Bobo no sentido mais literal do termo Afinal o que esperar de um grupo de quarentões que faz questão de, sempre que chega o mês de maio, deixar em plano secundário todo o resto de suas vidas para cultivar um velho hábito de infância: brincar de pega-pega. Sim, aquela brincadeira em que todos saem correndo de uma pessoa e quem for tocado por ela é aquele que precisa correr atrás dos outros para reverter a situação e dar o “está com você” a qualquer outro. Como um desses amigos resume a certa altura da história, é um jogo onde não há vencedores, somente um perdedor.

Hoagie, Bob, Chili e Reggie formam este grupo de velhos amigos ao lado de Jerry – todos morando em uma cidade diferente depois da vida adulta. O último, porém, tem uma grande vantagem neste quinteto: ninguém nunca conseguiu alcançá-lo. Jerry tem como trunfos rapidez, astúcia, inteligência, habilidades físicas e um grande reflexo para se livrar de todos nem que seja atirando na direção contrária o que estiver pela frente. E é justamente em torno deste fato que gira o filme. Não importa quem tem de pegar os outros. Agora são os quatro que vão à caça do amigo invicto. Custe o que custar. Nem que seja atrapalhando todo o planejamento do casamento dele. E pior: carregando junto uma jornalista do The Wall Street Journal, louca para contar aos leitores uma história tão absurda como esta.

Por isso este é um filme bobo. Não é spoiler nenhum dizer que não existe qualquer empecilho (dinheiro, viagens, vexame em público, invasão de propriedade, vandalismo) para, apenas, a manutenção de um hedonismo infantil. Contudo, não significa que Te Peguei! seja uma comédia rasa e de baixa qualidade. Pelo contrário. O roteiro entrega de vem em quando situações e tiradas bem engraçadas. A edição frenética e muitas vezes utilizando o recurso da câmera superlenta (aquela em que cada milésimo de segundo é expandido, gerando maior dramaticidade a gestos, expressões e detalhes que seriam visualmente imperceptíveis em uma cena) também corrobora para o deleite do espectador.

Com experientes atores vindos de seriados de humor (como Ed Helms e Jake Johnson) e atrizes emergentes em Hollywood fazendo com que suas personagens acabem tomando a mesma força e importância que os homens nesta história (Isla Fischer, Annabelle Wallis, Leslie Bibb), Te Peguei! reforça a ideia de que um produto entretenimento pode, sim, carregar sagacidade, criatividade e humor inteligente. Nem que seja para mostrar um monte de marmanjo gastando seu tempo e energia em uma bobeira só.

Detalhe: o roteiro é inspirado em uma história real contada em uma reportagem publicada pelo mesmo The Wall Street Journal alguns anos atrás.