Com ótima química e belas atuações, elenco estelar encabeça as muitas qualidades do novo filme da diretora Greta Gerwig
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Sony Pictures/Divulgação
Greta Gerwig é uma das personalidades em maior ascensão no mercado de Hollywood dos últimos anos. Roteirista e atriz, ela cresceu vertiginosamente nos rankings da mídia de cinema americana desta década, principalmente com o mumblecore de Frances Ha e Mistress America, ambos coescritos por ela e Noah Baumbach, seu companheiro e autor do atualmente badalado História de um Casamento. Em 2017, Gerwig assumiu a cadeira de direção em seu primeiro longa, Lady Bird. Dois anos depois, chega com Little Women, baseado no romance homônimo de Louisa May Alcott. A história já teve diversas adaptações cinematográficas, sendo a mais famosa a de 1994, com Winona Ryder, Kirsten Dunst e Christian Bale. Pouco importa, pois, como de praxe, não tecerei comparações com quaisquer versões ou com a fonte original, o livro de Alcott.
A trama gira em torno das irmãs March: Jo (Saoirse Ronan), Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e Beth (Eliza Scanlen). Em uma narrativa bastante intimista e focada nas personagens, o longa detalha – em dois momentos distintos, com sete anos de diferença – o desenvolvimento de suas relações em família, bem como com vizinhos e companheiros. As irmãs constroem uma grande relação com Laurie (Timothée Chalamet) e seu avô, que se prova bastante importante. Ela se dá, bem como grande parte dos acontecimentos, porque todas as quatro têm um pé nas artes – Jo é escritora; Meg, atriz; Amy, pintora; e Beth, pianista.
E a direção de Gerwig faz questão de desenvolver a química de suas protagonistas, bem como de cada uma com sua arte. Ela é, de fato, o ponto alto da trama. É a condução de Greta que dá o peso necessário a cada acontecimento, feliz ou trágico, provando seu amadurecimento em comparação com o primeiro longa. A maleabilidade do elenco leva a uma atmosfera intensa – o espectador sente como se, de fato, as quatro jovens atrizes fossem irmãs, Laura Dern sua mãe e Chalamet seu grande amigo. A mise-en-scène transforma a história tão grandiosa quanto intimista. Sua câmera começa dinâmica e inquieta. Enquanto a história progride, o olho do público vai perdendo sua vivacidade – acompanhando a trama que desenvolve.
Greta também mostra como os conflitos de Adoráveis Mulheres, por mais importantes que sejam, tornam-se, por serem tão íntimos e subjetivos, “pequenos”, acompanhados por planos gerais, soterrados pelo mundo à volta de sua história. E isto não teria tanta magnitude se não fosse pela trilha sonora de Alexandre Desplat. Num de seus melhores trabalhos, se não o melhor, o compositor traz seu habitual tom onírico a uma história que se beneficia, permeada de ingenuidade e leveza. No entanto, quando em momentos de suma importância, seus floreios dão espaço a uma composição diferenciada, que amplifica a sensação que o filme transmite – novamente, seja ela feliz ou trágica. Há, infelizmente, um ou dois momentos em que a cafonice bem intencionada de Desplat passa do ponto, mas não causa estragos ao filme.
Porém, nada seria sem a excepcional atuação de todo o elenco, mas especialmente de Saoirse Ronan, Emma Watson, Laura Dern, Eliza Scanlen e Timothée Chalamet. Cada um destes tem seu(s) momento(s) para brilhar, seja por monólogos, diálogos intensos ou o próprio peso de seu silêncio. Ronan, que protagoniza boa parte do filme, está em um dos melhores papeis de sua carreira. Watson e Scanlen têm menos tempo de tela, mas trazem suas emoções com extremo naturalismo. Todo o resto, sem exceções, soma ao conjunto excelente que é Adoráveis Mulheres.
Ainda, vale citar a ótima fotografia de Yorick Le Saux, que confere a cada momento temporal (passado e presente) sua característica distinta, com uma mudança tonal grande, talvez até exagerada. Porém, nas pequenas cenas, diálogos e astutos movimentos de câmera – em especial com ela na mão –, Le Saux se sobressai. Junto dele, a edição de Nick Houy, que trabalhou em Lady Bird, é impecável, adicionando ritmo e criando espaço para cada performance em tela. A edição também é responsável pelo sucesso da trilha de Desplat, visto que é nas montages silenciosas que ambos têm espaço de brilhar.
Este é um filme ingênuo no melhor sentido, intimista, vivaz e muito poderoso. Greta Gerwig solidifica elementos de seu cinema que já demonstrava em seu debut, mas traz mais corpo ao caldo que é sua linguagem. Com sua marca cada vez mais distinta, a diretora projeta um futuro, no mínimo, animador. Adoráveis Mulheres é divertido, instigante e, por vezes, bastante emocionante. Tudo isso graças à boa mão de Gerwig e seu elenco estelar.