Movies

A Esposa

Glenn Close comanda um time com brilhantes atuações em densa história com fragilidades no roteiro e na direção

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Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Pandora Filmes/Divulgação

Escrito por Jane Anderson, o novo filme do desconhecido (por aqui) diretor sueco Björn Runge retrata o casal de longa data Joe (Jonathan Pryce) e Joan Castleman (Glenn Close). Ele é um influente escritor, que acaba de ganhar o Nobel de Literatura. Ela, a subestimada esposa.

Desde o início de A Esposa (The Wife, Reino Unido/Suécia/Estados Unidos, 2018 – Pandora Filmes), quando Joe recebe a notícia de que ganhará o prêmio Nobel, é possível perceber a rica dinâmica do casal. Close representa uma forte mulher, oscilando entre seu amor pela família e seu reprimido desejo de reconhecimento, enquanto Pryce encarna um detestável escritor, evidenciando suas diferentes formas de tratamento das pessoas: o bom esposo, aos olhos externos, e o controlador e prepotente gênio da família. Num personagem difícil de conectar-se com a audiência, o aclamado ator se supera, numa clara demonstração de seu talento. O foco em Joan durante os eventos narrativos, sutil marca do diretor, possibilita que Glenn Close desenvolva as camadas de sua personagem sem a necessidade de longos e profundos diálogos. Os monólogos da também aclamada atriz se dão em seus olhos, não no discurso.

Outros personagens, porém, como o biógrafo Nathaniel Bone (interpretado pelo ótimo Christian Slater) e o filho do casal, Daniel (Max Irons), servem como facilitações narrativas. O ressentimento contido deste, porém, é trabalhada na trama de forma a adicionar elementos para a relação do casal protagonista.

A fotografia lavada produz belos planos no filme, sem escapar do realismo proposto na obra. A câmera fluida e inteligente, mesmo em zooms e dollies, sabe muito bem onde focar em que momento da trama, amplificando a imersão naturalmente entregue por Close. Infelizmente, a brilhante sutileza de Runge parece se perder completamente quando este embarca em flashbacks, com fotografia quente e diálogos óbvios e mal desenvolvidos. Toda a riqueza dos personagens idosos é reduzida em suas versões das décadas de 1950 e 1960, efeito de um roteiro simplista e expositivo e de atuações rasas.

Em uma demonstração do que Claire Foy brilhantemente citou em seu discurso no Critic’s Choice Awards deste ano, The Wife mostra ao seu público que o papel da esposa na cinematografia não é ser “a esposa”. Demonstrando muito bem a dinâmica de reconhecimento versus esforço da sociedade machista, a obra apresenta ricos personagens em oscilações de eventos bem e mal trabalhados. Sem escapar de certos clichês, o filme não explora todo seu potencial, ainda que suas atuações ricas salvem os cem minutos, entregando uma densa história ao espectador.

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