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Primal Scream – ao vivo

Show da banda em São Paulo é igual a aquele sapato que você não trocaria por pura preguiça de voltar à loja

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Texto e foto por Fábio Soares

A noite de 28 de fevereiro de 2018 prometia ser agradabilíssima. Tempo ameno em pleno verão paulistano. Sem chuva. Oportunidade de reencontrar velhos amigos antes de uma banda que mora em nossos corações há mais de 25 anos. Não sei para vocês, mas o Primal Scream sempre foi, para mim, aquele colega de ginásio que você não vê há anos e, por isso, não procura saber de sua vida devido à correria do dia-a-dia. Tão desinformado estava eu que desconhecia o fato de que a baixista da atual formação, Simone Butler, nem veio ao Brasil por problemas de saúde. Também era de se esperar que um show do Primal Scream, heroicamente trazido a São Paulo por uma gravadora/produtora independente (Balaclava Records), não contasse com a matadora formação do primeiro show que vi da banda (novembro de 2009, Festival Planeta Terra). A versão low coast do Primal 2018 que aportou por estas bandas, conta com o interminável Bobby Gillespie (vocais), Martin Duffy (teclados e gravações), Andrew Innes (guitarra) e Darrin Mooney (bateria).

Nunca imaginei ver o Primal Scream reduzido a Gillespie e mais um trio mas era o que tinha pra ontem. Com a ausência da baixista, playbacks, bases pré-programadas e computadores a dar com o pau tapavam o “buraco na defesa”. No palco do Tropical Butantã, o esforço da banda chega a ser comovente. No auge de seus 55 anos e com a mesma forma física de sempre, Bobby tenta entreter a plateia com seu tímido modus operandi escocês: um bater de palminhas lá, um “muito obrigado” em português acolá. Se estivesse com a formação completa, a banda, por si só garantiria os três pontos com o tradicional trator sonoro cheio de swing que permeou sua história. O show foi morno do início ao fim, com pouquíssimos momentos de empolgação. O antológico álbum Screamadelica até que teve boa execução durante o “recheio” do show, com “Slip Inside This House”, “Higher Than The Sun” e “Loaded”. Depois, voltando para fechar o pacote no bis, teve ” Movin’ On Up” e o único momento emocionante da noite: “Come Together”, cantada em uníssono pelo público mesmo após o término de sua execução.

Voltando à parte do “playback na caruda”, creio que a banda pecou em não ter escolhido canções mais dançantes. Já que a vaca já tinha ido pro brejo mesmo, o momento discoteca de “100% Or Nothing” foi muito pouco diante de um leque de possibilidades. Senti falta de “Some Velvet Morning”, com os deliciosos vocais de Kate Moss, ou de “Nitty Gritty”. A verdade é uma só: como um “traficante raiz”, Bobby Gillespie nos acostumou muito mal, com drogas da melhor qualidade e, na hora do “vamover” nos presenteou com um “bagulho” batizado, com qualidade diminuta e longe do ideal.

Faça a analogia com aquele sapato que você comprou errado e não retornou à loja para trocar por pura preguiça. Será a mesma coisa.

Set List: “Slip Inside This House”, “Jailbird”, “Can’t Go Back”, “Shoot Speed/Kill Light”, “Kill All Hippies”, “Trippin’ On Your Love”, “Higher Than The Sun”, “(I’m Gonna) Cry Myself Blind”, “100% Or Nothing”, “Swastika Eyes”, “Loaded”, “Country Girl”, “Rocks”. Bis: “I’m Losing More Than I’ll Ever Hate”, “Come Together” e “Movin’ On Up”.

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